Até agora não sei como eu deixei meu pai me convencer. Devia ser o sentimento de culpa que me invadiu.

Eu estava quase no castelo. E ia ver aquela louca de novo. Bem, eu ia deixar a cesta lá, com os doces que minha mãe tinha feito e ia pedir desculpas. Só isso. Nada de curvar.

Será que no castelo ela ia aproveitar para exercer todo seu poder de princesa? Bem, seja o que Deus quiser. Falei com um carinha que queria ver a princesa e ele não fez objeção nenhuma e nem perguntou quem eu era. Que estranho. Não deveria ser a coisa mais difícil de conseguir?

Eu fui levado ao salão principal do castelo e o rei estava lá me esperando. Agora lascou tudo. Ele vai mandar me enforcar!

Rei: Quem és tu, jovem rapaz, que pergunta sobre a princesa?

Jack: Meu nome é Jack e eu gostaria de falar com a princesa. Minha mãe mandou esta cesta de doces para ela.

Rei: Que bom. Venha até aqui meu jovem. Quais são suas intenções?

Jack: Intenções?

Rei: Sim. Veio pedir a mão da princesa em casamento?

Jack: O QUÊ?

Nossa! Cai sentado. Mas o que estava acontecendo com os adultos desse reino? Casamento? Com a princesa? Prefiro casar com uma rã!

Rainha: Fergus! Não assuste o rapaz.

Rei: Eu só queria saber se ele...

Rainha: Ele nada. Venha comigo. Vou te levar até onde Merida está.

Salvo pelo gongo. Que rei mais maluco. Agora já sabia de onde a princesa tinha tirado toda aquela loucura. A rainha me levou por um caminho que dava no jardim. Não foi difícil acha-la. Aquele cabelo se destacava no meio de qualquer coisa.

Rainha: Bem, ela está ali. Tenho coisas a fazer.

Curvei-me, não tinha jeito.

Jack: Alteza. Obrigado.

Respirei fundo. Bem que eu podia ir embora. Acho que ela não tinha contado nada para ninguém. Cheguei a dar meia volta, mas tinha prometido para meus pais. Então fui em direção a ela. O vento mais uma vez bateu em seu cabelo e fez a maior bagunça. Ela nem se importou. Era uma coisa que eu poderia olhar o dia todo. Ela estava olhando algum ponto fixo. Tentei olhar na mesma direção, mas não vi nada de diferente. Ela devia estar pensando em alguma coisa. Mas, parecia triste. Será que tinha acontecido alguma coisa?

Bem, não era problema meu.

Jack: Então é aqui que você se esconde?

Ela levou um susto. Ficou me olhando como se eu fosse um fantasma. Foi engraçado.

Merida: O que faz aqui?

Jack: Antes de falar o que vim fazer aqui, quero que saiba que fui obrigado. Estou aqui contra minha vontade.

Merida: Então pode voltar pelo mesmo caminho que veio.

Jack: Acredite, eu estou tentado.

Ela bufou.

Como uma criatura daquelas conseguia ficar tão bonitinha com as mãos na cintura?

Jack: Vejo que está sem sua arma.

Ela só me encarou e não disse nada. Eu quase queria... queria... Não!

Jack: Eu só vim aqui porque meus pais me encheram muito a cabeça por causa de ontem. Estão com medo de que seu pai nos expulse do reino.

Merida: E por que ele faria isso?

Jack: Porque quase saímos no tapa na floresta. E você é a princesa e tudo o mais...

Merida: Eu não faria isso. Eles não têm culpa do filho que tem.

Jack: O que quis dizer com isso?

Merida: O que você entendeu.

Jack: Não sei o que estou fazendo aqui ainda. Tome. Minha mãe mandou pra você!

Empurrei a cesta e quando ela foi pegar, nossas mãos se encostaram. Soltamos a cesta ao mesmo tempo e ela caiu no chão. E nos olhamos.

Merida: Olha só o que você fez!

Jack: Eu fiz? Você soltou a cesta. Coitado do seu marido!

Merida: Marido? Que marido?

Jack: Pelo que seu pai me contou, eles estão esperando um noivo para você.

Ela se sentou no chão e começou a pegar alguns doces que tinham caído para fora da cesta.

Merida: Ah, isso. Eles estão esperando ha mais de dois anos.

Por um minuto senti pena dela. Me abaixei para ajuda-la.

Merida: Não é que seja da sua conta, mais querem que eu me case e eu não quero noivo nenhum.

Jack: Meus pais também acham que está na hora para casar. O que está acontecendo com os pais desse reino?

Merida: Consegue se imaginar casado com alguém que não conhece? Que não ame?

Eu fiquei olhando aquele rosto triste.

Jack: Eu não sei por que isso acontece. Mas mesmo se eu quisesse me casar, não poderia.

Merida: Mas quando menos esperar, você vai estar casado. Seus pais vão ter arranjado pra você uma noiva.

Jack: Não é uma questão de escolha. Daqui a algum tempo eu não vou mais estar aqui.

Merida: Você vai fugir?

Jack: Não.

Eu ri da ideia.

Jack: É complicado. Você não ia acreditar.

Merida: Eu fico com muita raiva.

Jack: É por isso que passa tanto tempo na floresta?

Merida: Às vezes sim. Eu gosto de me sentir livre. Fazer o que eu quiser. Cavalgar, sentir o vento no meu rosto...

Eu só conseguia olhar pra ela. Ela era tão intensa... Ela gesticulava com tanto fervor... Eu fiquei hipnotizado por ela.

Merida: Ouviu o que eu disse?

Jack: Cada palavra.

Merida: Bem, me desculpe.

Jack: O quê?

Merida: Pelas flechas, você sabe.

Eu só consegui sorrir.

Merida: Do que está rindo.

Jack: Esse jeito pacífico não combina muito com você. Mas, eu também te devo desculpas por ontem.

Merida: Só por ontem?

Jack: Só por ontem sim. E fique muito satisfeita por eu estar aqui fazendo isso.

Merida: Então, já que acabou, pode voltar pra sua casa.

Jack: Sim, eu já acabei princesa.

Merida: E não vai se curvar?

Jack: Não!

Merida: Ora, seu...

Jack: Já estou indo.

Ela era uma chata mesmo. E eu tinha ficado com pena dela. Oras, ela não precisava. Rapidinho voltei pra casa. Minha mãe ficou me perguntando o tempo todo o que tinha acontecido. Resumi pra ela o que tinha acontecido, omitindo claro, os atritos. Mas, ainda assim, ela me passou o maior sermão. Ô dia que não acabava. Era melhor pegar minha irmã e sair para brincar um pouco. Senti saudades dos meus amigos guardiões.