Ficar no jardim do castelo me acalmava. Dali eu podia ver todo o reino. Eu via as pessoas andando para lá e para cá. Onde será que era a casa dele? Do Jack?

Porque será que eu nunca tinha encontrado com ele no reino?

Praticamente todos os caras do reino já tinham vindo pedir minha mão em casamento. E meu pai quase me embrulhava no papel de presente e me dava a eles. Eu sempre conseguia me safar. Mas pensar nele me deixava estranha.

Ontem, na floresta, eu tinha sentido algo que eu nunca senti. Era muito estranho. Mas ele me tirava do sério. Tudo bem que eu não tinha muita paciência para muitas coisas, mas geralmente eu irritava mais às pessoas do que elas me irritavam.

Mas ele tinha o dom de acabar com cada gota da minha paciência. E ainda assim, eu só conseguia pensar nele. E estava aqui agora, olhando longe, pensando onde ele poderia morar. Também se soubesse, o que eu ia fazer? Bater na porta dele e dizer: “Você me irrita, mas não consigo parar de pensar em você?”.

Tolice. Primeiro preciso entender o que se passa comigo. Mas eu gostaria de vê-lo mais uma vez.

Então como se meu desejo se tornasse realidade, ele se materializou bem do meu lado. Claro que eu fiquei surpresa. Por um momento fiquei até feliz. Mas durou pouco. Até ele dizer que estava ali obrigado.

E também, porque ele gostaria de mim? Eu só tinha feito coisas para que ele ficasse irritado comigo.

Mas como eu já esperava, logo começamos a discutir. Então ele me estendeu uma cesta, que disse que sua mãe tinha preparado para mim com doces. Eu adoro doces! E quando fui pegar, acabei pegando na mão dele. Assustamos-nos e soltamos a cesta ao mesmo tempo. Parecia que dávamos choques. E aí nos olhamos com os olhos arregalados. A culpa era dele que tinha soltado a cesta. E eu o acusei. E acabei mandando que ele fosse embora, mesmo querendo que ele ficasse ali.

Por um momento achei que algo tinha mudado, quando expus tudo o que eu pensava sobre casamento forçado. Ele parecia me entender. Mas como num passe de mágica tudo mudou.  Porque eu agia dessa maneira perto dele?

A verdade é que eu não sabia lidar com ele. E isso me apavorava completamente. Eu não era mais senhora de mim. Eu era...

Rainha: Minha filha! Eu quero saber de tudo!

Merida: Tudo o quê?

Rainha: Não se faça de boba. Quem é este rapaz que veio te ver aqui hoje? Ah, e ainda trouxe presente.

Merida: Foi a mãe dele que mandou.

Rainha: Ah, então você já conhece a família dele? Esperta.

Merida: Mãe! Não imagine coisas.

Rainha: Ele é um rapaz muito bonito.

Merida: É! Eu sei!

Rainha: É que você nunca tinha aceitado conhecer nenhum rapaz... E este já chegou aqui perguntando sobre você.

Merida: Mãe, esquece! Não vai acontecer!

Minha mãe conseguia ser a pior de todas neste quesito casamento. Eu não conseguia me imaginar casada. Ainda mais com ele. Casada com ele. Casada? Com ele? Imaginei-me de noiva. Droga! Não, não, não, não.

Rainha: Ficou ruborizada Merida. Então você não é indiferente a ele.

Merida: Não, mãe. Não sou. Mas ele me odeia.

Rainha: Ele te odeia? Por quê?

Merida: Porque eu quase o matei.

Rainha: Merida!

Aí tive que contar pra ela tudo o que aconteceu. Mas quanto mais eu falava, mais ela me olhava estranho. E sorria. Onde ela conseguia encontrar graça neste drama?

Rainha: Então ele é tão temperamental e impulsivo como você?

Merida: Como eu? Ele é mil vezes mais. E eu não sei como agir. Quando penso que ele não vai fazer nada, ele discute. Quando acho que vai gritar, ele sorri. Nunca sei o que pensar sobre ele.

Rainha: Talvez você devesse tentar conversar, sem brigar.

Merida: Fala isso pra ele! E também, não sei se vou vê-lo mais.

Rainha: Algo me diz que sim.

Merida: Virou vidente?

Rainha: Não minha filha, não virei. Mas entendi muito bem o que está se passando aqui.

E ela tocou no meu peito, do lado do coração.

Merida: Eu não entendi ainda.

Rainha: Você se apaixonou por ele.

Merida: O QUÊ? Espera aí que vou ali no muro me jogar lá em baixo. Ficou louca mãe? Apaixonada eu? Essa é boa. Aliás, é muito boa!

E ela ficou rindo da minha cara. Apaixonada eu... Por ele? Aquele ser mais irritante existente neste mundo inteiro?

Minha mãe me abraçou e beijou meu rosto.

Rainha: O amor é algo inexplicável. Ele simplesmente acontece. As pessoas não precisam viver sorrindo para as outras a todo o momento. Às vezes não brigo com seu pai?

Merida: Algumas.

Rainha: Mas isso não quer dizer que eu não o ame.

Dei um tapa na minha testa.

Merida: E quando esse papo virou amor? Que amor mãe?

Rainha: Então vamos lá. Quantas vezes por dia você pensa nesse rapaz?

Merida: E quem disse que eu penso nele?

Rainha: Filha, você é quase uma mulher. Isso ia acontecer uma hora. Não escolhemos um noivo para você, mas o seu coração está escolhendo alguém. Isto está te assustando. Porque é um novo sentimento.

Merida: Talvez até seja um novo sentimento, mas não tenho certeza de que seja isso.

Rainha: Tente apenas não agir com tanta impulsividade. Ouça também. Quando seu coração pular ao pensar nele, quando não conseguir pensar em mais nada, você vai entender.

Opa, como ela sabia?

Estava acontecendo tudo isso comigo. Mas era difícil admitir para ela. Ele estava povoando meus pensamentos há mais de um mês. Eu queria vê-lo novamente. Mesmo que fosse para brigar. E eu não queria brigar mais com ele. Eu queria vê-lo sorrir. Queria que ele me abraçasse e que ele me... Eu senti um aperto no meu peito. E meus olhos se encheram de lágrimas. Ele nunca ia gostar de mim. E a culpa era toda minha.

Rainha: Merida? O que foi minha filha?

Merida: Ele nunca vai gostar de mim!!!

E eu saí correndo da minha mãe. Corri para o meu quarto e chorei até anoitecer. Talvez eu estivesse realmente me apaixonando. Mas por que ele?

Vi que era noite de lua cheia. Ela estava linda.

Merida: Será que algum dia ele vai gostar de mim?

Como eu queria que a lua tivesse este poder para me responder. Eu realmente queria que ele gostasse de mim.