Casais Improváveis escrita por Valerie Grace, Lady Salvatore, Hiccup Mason, Bess, Sherlock Hastings


Capítulo 83
Loki Laufeyson & Morgana Pendragon


Notas iniciais do capítulo

Ufa!
Se eu não me engano, esse é a maior one da CI PAKSPKAPSKAS
O que posso fazer, me empolguei. Esse é um dos OTPs supremos, pq fala sério gente, é muito power pra um ship só. Tô ligada que muita gente não vai ler por conta de preguiça (tá sussa, eu entendo).
Bem, essas notas provavelmente também vão ficar bem grandes aheuhaea.
Se você for ler e quiser escutar alguma música durante a leitura, eu recomendo:
Beethoven - An Die Freude (Ode To Joy)
HTTYD 2 - For the Dancing and the Dreaming (o cover do ThePandaTooth é melhor)
Trading Yesterday - Shattered
Peter Gabriel - My Body Is a Cage
Lana Del Rey - Once Upon a Dream
Woodkid - I Love You
Annie Lennox - Into the West
Peter Hollens - Into the West
E, é claro, Mumford and Sons - Sigh No More (toca no capítulo).
Bem, acho que é isso! Mais informações eu dou nas notas finais pra não soltar spoilers ahuehaea.
Bjss! *3*



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Tema: Morgana Pendragon e Loki Laufeyson

Fandoms: Merlin e Universo Marvel

Intrusos

Larsson caíra.

A segunda maior cidade sob o domínio de Loki fora invadida por Fandral, um dos generais de seu irmão Thor. Logo tudo estaria perdido, e Loki soube disso assim que as notícias de Larsson chegaram a seus ouvidos. Logo Lidan, a maior cidade dominada por ele seria pilhada, e toda a guerra acabaria. Na melhor das hipóteses, ele seria exilado como um pária em Midgard, na pior, seria morto assim que Thor pusesse suas mãos nele.

Começou a ponderar no que ainda podia ser feito, para amenizar a situação. Começou a repetir em voz alta os nomes de seus domínios, para chamar os pensamentos.

Lidan, Springrose, a Cidadela de Asgard, Tintagel, Serling, Iggulden, Caerleon...

Caerleon.

Caerleon, com suas paredes de pedra e suas amplas salas de jantar. Caerleon, retangular, plana, com poucas escadarias. Caerleon, com suas tapeçarias de ursos e cervos. Caerleon, abandonada por Uther Pendragon em prol de Camelot. Lar de Morgana Pendragon, no momento.

Loki evocara as memórias, e elas vieram desordenadas, cada uma voando como uma adaga dissolvendo veneno em seu coração. Apoiou-se na janela da torre, deixando seus olhos vítreos vaguearem pela noite afora enquanto as memórias desfilavam em sua frente. Sua mente estava a mil quilômetros de distância de seu corpo.

Era ainda primavera.

Odin fora tratar pessoalmente de assuntos com Uther, e assim a corte de Asgard foi junto do Pai de Todos até Camelot. E fora assim que ele a conhecera, Morgana.

Eram dois jovens que se sentiam deslocados, insuficientes, errados. Ela era branca como a neve e seus longos cabelos negros hipnotizaram-no ao esvoaçarem carregando o luar em seus fios. Ele era alto, esguio, seus olhos castanhos eram profundamente expressivos e seu sorriso tinha mil significados distintos para ela. Era primavera e havia músicas e danças, cavalos e torneios, caminhadas e discussões.

O irmão de Loki, Thor, reunira todos os homens nas redondezas para uma caçada. Depois de longas horas atrás de cervos e javalis, começara a chover e a caçada foi declarada imprópria, pois danos maiores poderiam ser causados aos participantes.

Loki se distanciara do grupo quando a chuva começara. Estava sozinho e perdido, num lugar que ele não conhecia, em meio a uma chuva torrencial e a barulhos estranhos, amedrontadores. Só se deram conta da falta dele quando de fato chegaram ao salão de banquetes de Camelot.

“Alguém viu meu irmão Loki?”

“Meu Bom Deus”, disse Uther Pendragon. “O rapaz ainda deve estar na floresta.”

Thor deu uma gargalhada.

“Deixe-o lá então. Ele deve aprender a voltar sozinho.”

“Senhor Odin, com todo o respeito, nós poderíamos perfeitamente mandar alguns guardas atrás do seu filho.”

“Não, Thor está certo. Loki deve aprender a ser mais responsável, a não precisar que alguém vá lhe resgatar.”

“Senhor Odin”, interviu a bela Lady Morgana, “a floresta é lamacenta e esse estado só deve ficar ainda mais evidente com as chuvas torrenciais dessa época do ano. Quando chove, as cobras saem de seus esconderijos, assim como outros animais predatórios, e elas devem certamente encontrar seu filho. Logo a noite cairá, e ele não estará mais seguro. Todo tipo de perigo pode acontecer. Ele pode escorregar no barro e levar uma queda feia, ser abatido por animais, cair de um barranco, até mesmo se afogar! Eu insisto para que nossos guardas sejam utilizados.”

“Eu aprecio a sua preocupação, Lady Morgana, mas Loki não pode mais ser um menino fraco.”

“Isso não tem nada a ver com amadurecimento, tem a ver com segurança e decência!”

“Morgana”, Uther cerrou os dentes e falou a ela de maneira ameaçadora, seus olhos lhe repreendendo veementemente. “O Senhor Odin já dispensou esses cuidados. Agora fique quieta e aproveite o restante da refeição.”

Morgana mirou todos com desprezo. Arthur, que se refestelava com o banquete, provavelmente não ouvira nem uma palavra da discussão. Uther, querendo tanto agradar os convidados se esquecia de que havia um homem desesperado no bosque. Thor, que parecia estar achando graça da sua irritação; era muito arrogante. Odin, que confundia morais e tentava ensinar uma lição de maneira errônea. Os pratos estavam polidos até brilharem, a comida estava quente, as labaredas da lareira crepitavam, mas não alto o suficiente para que Morgana pudesse ignorar o ruído das gotas de chuva chicoteando violentamente as janelas. Era um barulho que Morgana não podia deixar de escutar, ele estava sempre lá, no fundo de sua cabeça, lhe ditando o que fazer. A toda hora o vento abria as janelas e levantava as saias das criadas, deixando os rapazes extasiados com a vista e as bochechas das moças vermelhas. Os talheres tilintavam irritantemente, e a carne era devorada pelos presentes. Copos eram batidos à mesa.

Toda essa sinfonia enfureceu Morgana. Ela bateu sua taça na mesa e se levantou, arrastando sua cadeira. Isso lhe deu uma imensa satisfação, ela desejava muito ficar pra ver as caras estupidificadas dos presentes. Correu até o seu quarto, depois se lembrou de que Gwen tirara o dia de folga. Não importa, pensou. Desde quando dependo tanto de alguém assim?

Fechou a porta, tirou seu vestido de barra longa e colocou um mais curto. Depois procurou em seu armário e logo encontrou uma capa, que a protegeria da chuva. Ela era de um tecido raro e impermeável. Colocou a capa, achou uma maneira de esconder uma adaga em suas vestimentas e também dispôs de uma vela coberta por uma redoma. Caminhou com medo e com determinação pelos corredores, dando de cara com Gaius, o médico da corte, e Merlin, o criado de Arthur.

“Aonde vai nessa chuva, criança?”, perguntou Gaius.

“Gaius, não vou mentir pra você. Vou agora encontrar Loki, o filho de Odin.”

“Peço-te que não vá. Uther deixou bem claro que você deveria permanecer no banquete, e Thor e Odin disseram para deixá-lo lá.”

“Você sabe como é a floresta. Eu não posso deixar alguém perdido no meio da mata, enquanto chove. É muito perigoso.”

“Eu sei, Morgana... Mas e se você se ferir?”

“Eu prometo que vou tomar cuidado. Estou levando uma adaga pra me proteger. Mas eu não posso fazer vista grossa a isso.”

Gaius arqueou a sobrancelha. Vista grossa, ela havia dito.

“Eu vou com você, Lady Morgana”, ofereceu Merlin.

“Aceito a sua ajuda, Merlin. Mas você deve estar ciente das possíveis consequências com Uther.”

“Eu tenho certeza, Lady Morgana.”

Morgana e Merlin deram um jeito de escapar do castelo, e adentraram o bosque.

“O que fazemos agora? Procuramos juntos?”

“Eu não sei. Seria mais rápido, com certeza, mas perderíamos a comunicação. E se um de nós o achasse, o outro ficaria vagando pela mata. É melhor irmos juntos.”

“Você tem razão.”

E assim foi. Os dois com velas sob-redomas saíram noite afora atrás do príncipe.

“Ele pode estar morto agora.”

“Não diga isso.”

A chuva caía imperdoavelmente, o que dificultava a locomoção.

“Loki!” “Loki!” “Loki!”

Uma, duas horas se passaram, e nada do príncipe aparecer. Morgana e Merlin estavam encharcados, com frio, com lama até os tornozelos, mas não desistiram. Merlin já estava cansado, tivera um dia cheio...

“Loki!”

“Aqui!”

“Graças a Deus”, Morgana agradeceu. “Onde você está?”

“Estou ferido, aqui nessa árvore.”

“Continue a falar, vamos seguir o som da sua voz.”

“Ahn, aqui! Estou aqui ao pé dessa árvore”, ele mexeu seus braços, gesticulando pra ser achado.

“Achamos.” Morgana e Merlin andaram rápidos, porém cautelosos até o príncipe.

Morgana viu como ele estava todo sujo, enlameado, e em sua perna havia um ferimento horrível de se olhar. Estava inchado, e havia um corte bem feio. Loki havia cortado um pedaço da sua camisa e o tinha amarrado ao redor do corte para tentar estancar o sangramento, e isso havia funcionado, em parte. O tecido estava ensanguentado agora, e Loki estava com muito frio, uma vez que grande parte do seu tronco estava descoberta e sujeita à chuva. Mais algum tempo, e ele teria morrido.

“Você torceu a sua perna?”

“Sim, eu tive um acidente envolvendo pedras... Já podem ver o resultado.”

“Nós temíamos pela sua segurança, príncipe, mas já o levaremos de volta. Merlin, pegue esse lado e eu pego esse”, Morgana gesticulou. “Príncipe, eu tenho aqui a minha capa de chuva. Você precisa dela mais do que eu.” Ela tirou a capa e envolveu o corpo de Loki. Depois, depositou sua mão na testa dele, pra medir a temperatura, e aquilo lhe preocupou. Teve o cuidado de não dizer nada. Loki lhe foi profundamente agradecido.

Merlin e Morgana carregavam o príncipe de Asgard com dificuldade, uma vez que nas outras mãos ainda tinham de levar velas com redomas para iluminar o caminho. Depois de muito tempo, e de alguns perigos (estranhamente repelidos por algo que parecia com magia), os três finalmente conseguiram voltar sorrateiramente ao castelo. Foram encobertados por Gaius, que os ajudou a levar Loki diretamente para seus aposentos.

“Príncipe, você já pode deitar. Descanse. Merlin, vá buscar alguns cobertores. Também preciso de algumas medicações...”, Gaius orientou Merlin, mas esses sons se perderam para Loki. Estava deitado, só havia silêncio. Silêncio e o rosto preocupado da Lady Morgana.

Fechou os olhos e dormiu profundamente, sem sonhos, apenas borrões.

O borrão do javali que encontrara na floresta o perseguia. Chegava perto demais, com suas presas o aguardando. Suas mãos começavam a tremelicar, e no momento que o javali abriu a bocarra para o abocanhar, ele acordou gritando na cama dos pacientes. Estava suando frio, ofegante.

“Calma, calma...”.

Morgana veio para junto dele e o abraçou. Deixou ele abraçar a cintura dela, ainda com medo. Morgana havia declarado que ajudaria Gaius e Merlin no que se tratava de tomar conta de Loki. Os outros dois dormiam pesadamente, mas ela tinha um sono frágil, também habitado por pesadelos.

“Ele estava atrás de mim... Eu ia morrer...”.

“Foi só um sonho... Aqui, tome água.”

Loki pegou o copo e quase consumiu todo o conteúdo, mas Morgana tocou em suas costas e suas mãos.

“Pare, assim vai se engasgar.” Loki então largou o copo, depositando-o sobre a bancada. Uma gota escorreu de seus lábios pelo queixo, e ele a limpou com o antebraço.

“Respire. Respire”, Morgana comandou.

Loki a olhava fundo nos olhos, tentando se acalmar.

“Pronto. Já se acalmou?”

“Estou bem agora. Muito obrigado, você tem sido extremamente gentil comigo.”

“Não tem o quê agradecer, Sir.”

“Tenho que agradecer sim... Qual é o seu nome?” – Loki perguntou, sonolento, seus olhos insistindo em se fechar.

“Você nem vai se lembrar quando acordar. Durma agora.”

Loki assentiu e apoiou sua cabeça cansada no travesseiro de plumas, cerrando de vez seus olhos e tendo uma breve sensação de doçura.

Morgana voltou à sua cama e tentou dormir, mas foi tomada por inquietações. O que Uther e a corte pensariam de sua conduta, dormindo no mesmo quarto em que outros homens dormiam? E só por quê ela estava preocupada com Loki? Logo a acusariam de imoralidades e ela seria castigada. Não que Morgana realmente se importasse com o que pensassem dela, mas esta seria considerada uma indecência. Por isso, no meio da noite ela achou papel e pena, e escreveu um bilhete.

Gaius,

Eu estava convencida a passar a noite em seus aposentos, para o caso de ajudar em uma eventual emergência, mas parece-me que o príncipe está fora de perigo, pelo menos por hoje. Também me preocupou a possibilidade de especulações maliciosas na corte, uma vez que não são necessárias grandes fogueiras para que haja fumaça em Camelot.

De qualquer jeito, eu voltarei para ajudá-lo pela manhã, assim que eu acordar.

Carinhosamente,

Sua criança Morgana

P.S. Agradeça a Merlin pelos seus esforços, já que eu mesma me esqueci de fazer isso. Ele é um rapaz muito valioso.

Deixou o pequeno papel na cabeceira do médico. Pegou sua capa, acendeu uma vela e se pôs a andar pelos corredores do castelo. A noite estava gélida, assim como seu espírito, tremendo de medo de ser abordada ou vista por alguém.

Felizmente, chegou ao seu quarto e fechou a porta de madeira, comemorando internamente a sua vitória. Depois deitou-se e, com o tempo, adormeceu.

Contudo, seu sono foi rápido. Ela não estava muito disposta a dormir, então acordou quando o Sol começava a clarear o céu.

Gwen ainda estava de folga, e a criada substituta ainda não havia chegado ao serviço. Morgana aproveitou um pouco essa liberdade: se lavou sozinha, depois colocou um vestido amarelo claro, arrumou seu cabelo do jeito que achava mais bonito, se calçou e voltou a perambular pelo palácio.

Quanto mais caminhava, mais se sentia alegre. Sentia-se tão leve, que com mais um pouco de esforço poderia voar. Cumprimentava todas as pessoas que via com um sorriso, oferecia ajuda àqueles que pareciam estar com dificuldade, até buscou alimento nas cozinhas para os guardas que haviam madrugado. Depois foi até os aposentos de Gaius, para verificar como estava Loki.

“Gaius? Está aí?”, Morgana entrou na sala cautelosamente.

“Olá, criança. Bom dia”, o médico respondeu, sorrindo.

“Vim verificar se você precisa de ajuda com o príncipe.”

“Merlin foi fazer seus deveres matinais, mas já deve estar de volta. Não se preocupe, menina.”

“Eu sei como Arthur é, ele vai torturar o rapaz até se cansar disso. Vamos, eu te ajudo, faz tempo que não faço isso.”

“Não posso bater o pé pra você.”

“E como está o dorminhoco?”, Morgana sorriu, satisfeita, e já entrava de uma vez no quarto quando uma coisa a fez arregalar os olhos.

“Eu estou muito bem, obrigada”, disse Loki, acordado, sentado em sua cama.

“Você não parece bem”, Morgana replicou, franzindo a testa e levantando as sobrancelhas.

“Já tive dias melhores.”

“Com certeza”, Morgana olhou para o chão e achou óbvio. Loki fingiu não entender e fez uma cara que indicava que ele não tinha achado graça. Gaius, por outro lado, olhou para um canto e tentou abafar o riso. Não ria, seu velho, disse para si mesmo.

“Então, o príncipe se recuperou da febre, e, incrivelmente, não pegou nenhum resfriado.” Gaius escondeu o fato de que Merlin havia feito alguns feitiços para curá-lo. “Enquanto ele dormia, fiz algumas cirurgias e preveni o risco de alguma infecção.” Tudo bem, talvez Merlin tivesse feito muitos feitiços de cura, mas nada que os denunciasse. “Estanquei o sangramento, estava costurando os pontos quando você chegou. Quanto ao inchaço na perna, alternei entre compressas quentes e frias pra estimular a circulação do sangue.”

“Ele está bem, então?”

“Sim, princesa.”

“Estranho. Ele parecia muito mal ontem.”

“Exato, eu também me assustei com as aparências dos ferimentos e com a febre, mas depois que fui analisar a situação não era tão grave assim. Pelo menos não está grave agora. Príncipe, você vai ficar em observação pelos próximos dias.”

“Tudo bem, mas eu particularmente não me sinto mal”, replicou Loki.

“Eu sei, mas as aparências podem enganar. Você pode ter uma recaída.”

“Concordo com você”, afirmou Morgana.

“São dois contra um, não é justo”, discordou o asgardiano.

“Três, e é mais do que justo”, Merlin entrou na sala sorrindo. “Consegui ser dispensado mais cedo, Arthur foi treinar com um escudeiro alheio. Lady Morgana, pode deixar que eu me encarrego de ajudar o Gaius agora”, Merlin ofereceu.

“Tudo bem então. Fui cruelmente expulsa da sala por um mero criado”, Morgana brincou num tom fantasioso.

“N-não Lady”, Merlin começou a gaguejar, nervoso com a hipótese de ter sido mal interpretado, mas Morgana o interrompeu.

“Você sabe que eu estou brincando, Merlin. O dia está lindo!”, Morgana saiu do quarto, depois começou a saltitar.

“O que ela tem?”, perguntou Loki quando ela saiu da sala.

Gaius e Merlin voltaram a costurar seu corte, e conversavam animadamente enquanto isso.

“É a Lady Morgana. Às vezes tem dessas de sair alegre pelo castelo, ajudando a quem puder”, Gaius explicava, concentrado.

“Sim, de fato. Alegria lhe cai bem”, Loki observou, pensando na excêntrica princesa que acabara de conhecer.

“A pobrezinha tem pesadelos, então é bom quando seu espírito se anima”, Gaius afirmou, lembrando-se dos sonhos de Morgana e dos significados que possuíam.

“Ela deve ter nascido numa hora feliz”, Loki fez a hipótese. Merlin reparou no seu interesse pela princesa e sorriu internamente, já que este Loki parecia ser uma boa pessoa.

“Não, pelo contrário. Nasceu em meio à tempestade e dizem que sua mãe muito chorou durante o parto. Seu pai Gorlois nunca a viu realmente, morreu na hora exata do nascimento em batalha.”

“Assusta-me que uma pessoa com esse histórico possa ser bondosa como ela é”. Merlin sorriu com todos os dentes, gostaria muito de ver esse par.

“E você mais do que todos pode dizer isso, certo príncipe? Ela foi lhe procurar ontem na floresta”, Merlin falou, enquanto passava uma gaze a Gaius.

“Então era ela?”, Loki ficou surpreso.

“Claro, príncipe. Quem mais?”

“Conte-me tudo. O que eu perdi?”, Loki pediu.

“Bem...”, Gaius ficou cauteloso.

“Não precisa ficar hesitante. Já sei que meus queridos parentes não quiseram mandar ninguém para me procurar. Deduzi isso fácil. Mas e depois?”

“Lady Morgana enfrentou eles no banquete. Ela insistiu para que mandassem guardas para te procurar, e quando eles não quiseram, ela mesma foi.”

Que mulher!, Loki pensou. Ela teve mais raça que Odin e Thor juntos.

“E você foi com ela me procurar, certo?”, Loki perguntou a Merlin.

“Certo.”

“E por quanto tempo me procuraram?”

“Por cerca de duas horas. Talvez duas e meia.”

“Todo esse tempo na chuva?”

“Sim, príncipe.”

“Sou imensamente grato a vocês dois”, Loki se sentiu um pouco emocionado. Thor e Odin não ligaram para a sua condição, mas dois desconhecidos em Camelot sim. Quão fantástico era isso?

“Não precisa disso, príncipe”, Merlin foi humilde.

Loki não estava muito acostumado a fazer agradecimentos, e, embora ele tivesse gostado, corou um pouco, depois mudou de assunto. “Mas uma tempestade que dura mais de duas horas, que incrível isso é.”

“Sim, isso é comum nessa época do ano aqui em Camelot. São terras tempestuosas”, Gaius disse, enquanto concluía sua costura. “Príncipe, terminei os pontos. Veja se consegue andar.”

Loki se levantou cuidadosamente, depois arriscou alguns passos pela sala.

“Consigo andar!”, exclamou sorridentemente. “Não é completamente indolor, mas preciso me acostumar com isso. Se algo acontecer, eu vou voltar aqui. Muito obrigado mesmo, Gaius. E também muito obrigado, Merlin.”

“Não há de quê, Vossa Alteza”, Gaius assentiu e fez uma reverência.

Loki saiu andando pelo corredor, contente. Ainda era um pouco difícil, mas ele iria conseguir. Tinha que se esforçar em Asgard. Alcançava seus objetivos, mas o reverenciado sempre era o outro.

“Príncipe!”, Merlin veio em seu encalço, o chamando.

“Pode dizer, Merlin”, Loki ordenou, ainda grato ao rapaz.

“A Lady Morgana também passou a noite aqui, pro caso de alguma emergência acontecer a você. Ela se foi pela madrugada, com medo do que poderiam falar a respeito depois, mas deixou um bilhete e se comprometeu a cuidar do senhor.”

Loki ficou quieto, ouvindo, tentando decifrar o significado daquelas palavras. Era muito maravilhoso para ser real.

“Achei que você gostaria de saber”, Merlin sorriu, como se soubesse de algo. Loki olhou curioso para o criado.

“Obrigado, Merlin”, disse, depois o jovem se foi de sua frente, muito rápido. “Esse povo de Camelot é realmente maravilhoso”, constatou, enquanto se virou em direção à luz dos corredores e caminhou em direção a essa luz. Viu um casal de criados deitados na grama, parecendo felizes. Repentinamente, uma voz arrogante, que ele conhecia muito bem, chamou-lhe.

“Irmãozinho!”, exclamou Thor. “Você se machucou na floresta”, observou, apontando para a perna ferida.

“Um acidente com pedras”, Loki sorriu sarcasticamente, depois voltou-se em direção ao corredor, ao caminho que estava seguindo, mas Thor avançou em sua direção e agarrou-lhe pelo colarinho.

“Está com roupinhas novas, não é mesmo? Aquele criado deve ter-lhe trocado. A mando da princesa, que foi embora ontem...”, Thor puxou Loki mais perto ainda, fazendo-lhe ficar com a visão turva de tão perto que estava. “Se eu souber que ela foi lhe buscar na floresta, eu vou te ensinar a ser homem de uma vez.”

“Nem imagino como deve ser isso, para os seus padrões”, Loki tentava se desvencilhar do aperto do irmão, mas o outro era muito forte.

“O que você está fazendo?”, uma voz enraivecida soou angelical aos ouvidos de Loki. “Largue-o agora!”

“Princesa, não quero ser rude, mas esse é um assunto entre irmãos”, Thor afrouxou um pouco o aperto e olhou para Morgana, querendo expulsá-la.

“Príncipe, não quero ser rude, mas ele está machucado e você pode piorar tudo”, Morgana respondeu.

“Não se meta em assuntos de família”, Thor mandou-a embora, mas Morgana não arredaria o pé dali.

“Não estou me metendo em assuntos de família, mas isso é uma intimidação e uma agressão. Não posso fazer vista grossa a um absurdo desses. Você é o irmão dele, deveria estar cuidando dele e o protegendo. Você”, Morgana apontou o indicador para Thor, “deveria ter ido procurá-lo ontem. E em vez disso, fica ameaçando ensinar a ele a ‘ser homem de verdade’. Acho que quem precisa aprender algumas lições aqui não é ele não.” Morgana ficava com cada vez mais raiva à medida que as palavras saíam de sua boca.

Thor soltou seu irmão, e Loki caminhou de cabeça baixa até Morgana.

“Você fica escondendo ele debaixo da sua saia, e ele só aprende a ser um covarde!”, Thor acusou. Loki não aguentou ser caluniado assim. Cerrou os punhos e deu um passo em direção a Thor, fervendo de raiva. Normalmente ele não era atacado por esses impulsos de raiva, costumava ser uma pessoa bem fria; mas não naquele dia, em que estavam em Camelot e na frente da Lady Morgana.

“Não faça isso”, Morgana lhe parou. “Ele merece, mas você vai perder a razão. Só dê as costas. Vamos”, a jovem lhe disse, pegando em seu braço, lhe puxando, lhe guiando.

“Perdão, eu não costumo ser impulsivo assim”, Loki se desculpou, enquanto imaginava Thor rindo às suas custas.

“Não precisa se desculpar, com um irmão desses, eu também seria assim.”

“Arthur e Thor são um pouco parecidos.”

“Verdade, mas sem querer ofender, eu gosto de Arthur.”

“Eu imaginei. Ele ainda pode se tornar um bom rei.”

“Ah, com certeza. Mas ele precisa matar o menino antes.”

“Perdão?”, Loki arregalou os olhos. Que ironia, Morgana sendo uma assassina.

“Não”, ela riu, surpresa com o engano, “me desculpe. Não.”, ela riu mais, fazendo Loki rir também, e ele riu com sentimento. Não era uma coisa que acontecesse frequentemente. “É uma expressão daqui, matar o menino e deixar o homem viver.”

“Ah, entendi. Por um segundo pensei que você fosse uma assassina ou algo assim.”

“Não, eu defenderia qualquer criança em apuros.”

“Eu sei”, os olhos dele brilharam um pouco, inconscientemente.

“E você, príncipe? Como é a vida em Asgard?”, Morgana perguntou. Os dois estavam de braços dados, caminhando pelos jardins floridos de Camelot. Era primavera, o céu, diferentemente do dia anterior, estava azul, com quase nenhuma nuvem à vista.

“Ah, não sei dizer se é boa ou ruim. É o que eu conheço, não tenho muitos comparativos. Eu gosto da minha mãe, sempre me dedico pra trazer orgulho ao meu pai, e Thor...”.

“Sua relação com Thor é difícil?”

“Não interagimos tanto assim.”

“Mas no fundo, você gosta dele”, Morgana afirmou decididamente, fazendo Loki se sobressair.

“Como você sabe?”, questionou curiosamente. Morgana soltou seu braço e virou-se de frente para ele, sorrindo, e os raios de sol fizeram seu cabelo brilhar.

“Intuição.”

“Você é uma criaturinha e tanto”, Loki disse, gravando a imagem de Morgana em sua mente.

“Você se parece com Gaius quando fala assim.”

“Não consigo me imaginar como médico da corte, por mais que me esforce.”

“Ah, eu gostaria muito de ser médica. Assim conheceria muitas pessoas.”

“As pessoas são ingratas”, Loki alegou, rancoroso, fitando uma flor amarela e simples, que se diferenciava das outras do jardim.

Morgana encarou o céu.

“Você se sente como um intruso, príncipe? Como se seu quarto não quisesse te receber. Como se todas as pessoas fossem estranhas. Como se você tivesse que ter vergonha de como nasceu. De ter que esconder quem você é.”

Loki arregalou os olhos e fitou Morgana.

“Eu me sinto exatamente assim. Parece que você me traduziu em algumas frases.”

“É assim que eu me sinto também. Devemos ser bem parecidos.”

“Mas você deve ser uma pessoa alegre, o dia está bonito.”

“Sim!”, Morgana sorriu resplandecentemente. “Ah, príncipe! O que faremos hoje?”

Loki ficou feliz em pensar que ela desejava passar o dia com ele.

“Sei que não quero voltar ao bosque.”

“Muito menos eu. Nós poderíamos ir até as colinas. Talvez pescar.”

“Eu nunca pesquei.”

“Mais um motivo para irmos então.”

E assim foi. Loki e Morgana voltaram rapidamente ao quarto dela para buscarem utensílios de pesca, e também para colocarem calçados mais confortáveis. Suas roupas já eram relativamente leves, o que era bom para um dia como aquele. Era um clima ameno, mas tendia mais para o calor do que para o frio. O Sol brilhava forte, mas havia brisa para diminuir esse calor.

Eram colinas verdejantes, e Loki e Morgana se divertiram ao reparar que, quanto mais se distanciavam de Camelot, menos pessoas os reconheciam. As roupas não os denunciavam, e era bom pensar que estavam longe das multidões.

“E onde está esse rio que você mencionou?”, Loki perguntou, já temendo que tivessem se perdido.

“Já estamos chegando, prometo. Veja, ele está bem ali”, Morgana apontou.

“Aposto que chego bem antes que você”, Loki disse, depois bateu nas costas de Morgana, e correu em disparada ao riacho. Morgana levou um segundo para absorver a informação, depois correu até Loki, tentando lhe alcançar.

“Isso não é justo!”

“É mais do que justo!”, ele gritou para ela, que estava bem atrás.

Ambos começaram a ficar ofegantes quando finalmente chegaram à beira do riacho.

“Ganhei”, Loki sorriu e arqueou suas sobrancelhas, exibido.

“Você é um trapaceiro!”

“O próprio”, Loki deu uma piscadela pra ela, ao passo que ela visualizou a cena perfeita. Sorriu maliciosamente, depois chegou próxima ao riacho, se inclinou, encheu as mãos em concha e, quando ele não estava olhando, espirrou bem na sua cabeça.

“Você não fez isso”, ele a ameaçou, cerrando os olhos. “Você vai ver só”, então ele espirrou mais água, e ela depois mais, e os dois foram rindo e trocando ameaças, cada vez mais próximos um do outro, para que pudessem se atingir com maior facilidade, até que ficaram os dois muito perto. Perto demais.

Eles congelaram, ficaram se olhando, até que Loki desviou o olhar e pigarreou.

“Vamos pescar, então?”, ele convidou.

“Vamos. Você sabe como?”

“Infelizmente não.”

“Vou ter que lhe ensinar. Mas você vai aprender com uma especialista no assunto! Uma aficionada na pesca, que já fez isso de fato duas vezes.”

Loki deu uma gargalhada.

“Desculpe”, ele disse, enxugando os olhos.

“Tudo bem”, ela sorriu, depois o ensinou a pescar. Ele ficou maravilhado e se esforçou, mas aquele rio não era especialmente rico em peixes, então ficaram muito tempo só observando a água correr, e a paisagem.

“Esse lugar é incrível”, Loki disse.

“Mais do que Asgard?”

“É diferente.”

“Diferente como?”

“Bem... Asgard é deslumbrante. O céu tem sempre cores diferentes de galáxias diferentes, milhares de estrelas podem ser vistas a todo o momento, e as nuvens se misturam ao local. Os salões são ricos e reluzentes, sem dúvidas. Asgard tem coisas lindas, mas viver lá faz você ficar acostumado.”

“Não consigo acreditar nisso! É muito bonito pra ser verdade!”

“Você deveria ir até lá um dia, pra ver com seus próprios olhos.”

“Eu gostaria imensamente.”

“Mas esse lugar... Ele tem a simplicidade que falta a Asgard. As coisas aqui são bonitas por demais. Nada é magnificente, digamos, mas é bonito sem exageros.”

“Eu ainda acho entediante.”

“É porque você viveu aqui a vida toda.”

“Você está certo. O jeito que as coisas são... É engraçado.”

Alguns dias depois, haveria um baile no salão do palácio. Tanto Loki como Morgana compareceram. Os dois estavam bem vestidos e maravilhosos.

Loki e Odin sentaram-se em seus tronos; Frigga do lado de Odin, num menor. Uma banda havia sido contratada para tocar as músicas do baile – segundo recomendações, a noite começaria com baladas mais inocentes, e, depois, outras mais adultas seriam tocadas.

Loki e Morgana ficaram se encarando, sorridentes, um de cada lado do salão. Thor e Arthur, além de outros, perceberam isso. Arthur teve um pouco de objeção ao que via, assim como Thor.

Uther se pôs de pé e anunciou aos presentes a abertura do baile.

“Em honra aos nossos amigos de Asgard, damos hoje essa noite de celebrações. Procuramos proporcionar a vocês a oportunidade de construir laços com os visitantes, e que nossa amizade seja sempre próspera. Música!”

Todos os pares se acertaram para a primeira dança. Loki e Morgana, de alguma maneira, acabaram juntos, mas não reclamaram.

O salão estava cheio, havia muitos casais, cheio de luzes, era uma boa visão. A banda começou a tocar seus instrumentos e os cantores a entoarem os versos de uma bela canção. Os pares iam e vinham, davam piruetas, se separavam, se deslocavam em círculos, depois tudo de novo.

Eles estavam juntos. Cada vez que suas mãos se tocavam, era como se seus corpos inteiros fossem entorpecidos. Loki estava cada vez mais sentindo os efeitos que o cabelo esvoaçante dela provocava sobre ele, e Morgana não podia evitar se perder em seus olhos, se perguntando quais pensamentos eles escondiam. Cada vez que ela entrava numa sala, não conseguia se poupar de vasculhar todos os cantos em busca dele. Cada vez que ele via aquela flor amarela dos jardins na decoração do castelo, um sorriso abobalhado preenchia seus lábios e aquecia seu coração.

Deus, me ame e me conserte

Este não é o fim

Vivíamos intactos, éramos amigos

E sinto muito

Sinto muito

Não suspire mais, não mais

Um pé no mar e um na areia

Meu coração nunca foi puro

E você me conhece

Você me conhece

Mas o homem é uma criatura inconstante

Oh, o homem é uma criatura inconstante

Oh, o homem é uma criatura inconstante

Oh, o homem é uma criatura inconstante

Amor não irá te trair

Desanimar ou escravizar, irá te libertar

Seja mais como o homem que você foi feito para ser

Existe um projeto, um alinhamento, um desejo

No meu coração para ver

A beleza do amor como foi feito para ser

Por isso, quando a dança terminou, ele se viu segurando o braço dela com firmeza. Puxou-a para um canto, depois sussurrou em seu ouvido. “Preciso falar com você”, ele disse.

“Tudo bem. Agora?”, ela perguntou, em resposta.

“Quando você achar melhor. Não quero te atrapalhar.”

“Pode ser agora”, ela sorriu, e os dois saíram na noite estrelada, até os jardins vazios de Camelot.

“Pode falar agora. Ninguém está nos escutando”, Morgana o encorajou.

“O que eu preciso lhe falar é que... Bem. Eu acho que não tem mais como esconder isso. Acho que você mesma já deve ter percebido. Eu te amo. Essa é a verdade. Se você não gostar disso, me diga de uma vez, e eu não voltarei a te incomodar. Se esses sentimentos forem muito repulsivos, eu irei embora e você nunca mais terá que me ver. Agora, se você também sentir isso por mim...”, ele hesitou.

“Vá em frente!”, ela disse, pegando em sua mão. Isso lhe deu a coragem que faltava.

“Nada me faria mais feliz do que você concordar em ser minha esposa.”

“Eu aceito! Aceito!”, Morgana exclamou, e então ele envolveu-a num grande abraço, que queria dar havia certo tempo. Depois de um minuto abraçados, ele selou seus lábios num beijo carregado de ternura, e, à medida que as horas passavam, eles ficavam cada vez mais próximos. Na manhã seguinte, a própria Morgana foi lavar sua roupa de cama no riacho, pois estava suja de sangue; e o próprio Loki lhe ajudou a costurar uma camisola rasgada.

Mais tarde, Loki chamou seu pai, Odin, para conversarem a respeito dos seus planos de casamento.

“Pai, peço a sua permissão e o seu apoio para desposar a Lady Morgana. Eu já conversei com ela, e temos os dois os mesmo sentimentos.”

“Você está brincando, filho?”, Odin deu risadinhas de desdém.

“Não, pai. Nunca fui tão sério”, Loki se irritou um pouco.

“Você deve estar fora do seu juízo normal. Esqueça essa tolice e eu fingirei que não escutei”, Odin começava a se enervar.

“Por que meus planos são motivo de risada para você?”

“Porque eu falei com o Rei Uther ontem e nós decidimos unir Thor e Morgana em casamento!”

A revelação deixou Loki sem chão. Suas pernas tremeram, ele empalideceu e começou a suar frio. Não podia ouvir isso, não podia imaginar. A única mulher que se importara com ele, a única que ele amara, ela não podia se casar com Thor. Não ela. O irmão já tiraria tudo o que ele desejava, e agora isso, a mulher que ele amava. Não, afastou esses pensamentos. Seu pai entenderia e conversaria com Uther. Ele tinha que fazer isso.

“Não há como mudar isso? Por favor.”

“Já selamos o contrato, não há mais volta. Mas não se preocupe, você é jovem, paixões são passageiras. Mas não posso desculpar o fato de que você foi muito tolo. Realmente não viu que isso sempre esteve na minha mira?”

E então tudo fez sentido para Loki. Porque toda a corte se deslocou para Camelot. O desejo dos dois reinos de criarem laços e celebrarem a amizade. Amizade uma pinoia, Odin queria aliados no caso de uma guerra vir à tona, e então ele selara um contrato de casamento forte o suficiente. Não poderia ser ele a casar com Morgana, nunca poderia. Uther precisava da garantia de que Morgana seria rainha de Asgard algum dia, ela era muito preciosa pra ser desperdiçada num segundo filho.

Todo aquele plano enojava Loki. Odin e Uther só eram calculistas e nunca se importariam com os sentimentos que as pessoas poderiam cultivar, porque elas não eram pessoas aos seus olhos, eram objetos e moedas de troca.

“Loki, você vai superar isso! Ela vai ser a sua cunhada! Loki! Loki! Loki...”, Odin o chamava, mas Loki não o escutava e não olharia para trás. Estava saindo do salão, depois começou a andar como se fosse um fantasma vagando por aí. Distraído, desanimado, olhando para baixo. Quando Morgana o viu naquele estado, ficou imediatamente preocupada.

“Loki? Você está bem?”, ela perguntou.

“Sim... Sim”, ele mentiu, e ela soube na hora.

“Realmente?”

Ele olhou para ela. Os olhos dela eram misteriosos, bonitos. Olhos que ele não poderia encarar mais.

“Não. Odin e Uther... Fizeram um contrato de casamento... Pra selar a aliança entre Albion e Asgard... E você... Vai casar com Thor.”

Morgana não entendeu a princípio, depois quando ela achou o sentido daquelas palavras, começou a chorar. Mas isso foi de passagem. Ela sentiu uma fúria tremenda, e foi atrás de Uther.

“Uther, eu não sou seu brinquedo! Você não pode me prometer a um homem daqueles!”

“Cuidado com a língua. Você é minha protegida, mas eu sou seu rei e você minha súdita. Eu estou ordenando que você se case com ele.”

“Não ele, Uther! Ele não!”

“Isso é preciso. A guerra está chegando, eu sinto nos meus ossos.”

“Por que não pode ser Loki? Por que Thor?”

“Loki? O filho mais novo de Odin?”

“Você nem ao menos sabe o nome dele.”

“Ele é uma peça inútil. Nunca terá o trono de Asgard. Você vai ser rainha, Morgana. Alegre-se.”

“Eu nunca liguei pra coroas, só queria ficar com Loki.”

“Loki será seu cunhado agora, e você vai ser fiel ao seu marido”, Uther cerrou seus dentes.

“Nunca!”

“Vai sim”, Uther se levantou do trono, caminhou pesada e rapidamente até Morgana, depois apertou a garganta dela. “Porque eu estou mandando.”

Morgana estava sem fôlego, mas ainda arranjou forças para reunir saliva e cuspir na cara do rei. Ele a soltou.

“Eu lhe perdoo por isso, você é uma jovem obstinada. Mas aviso-lhe para que pare com essa rebeldia.”

“Você não pode me casar com Thor. Mesmo se quisesse.”

“O que você quer dizer com isso?”

“Eu já conheci a companhia de homens.” Uther avançou e lhe deu um tapa no rosto, com muita força. O impacto foi tão grande que ela caiu no chão. Seu rosto ardeu vermelho, se misturando com lágrimas que rolavam em suas bochechas.

“Nunca imaginei que você fosse uma libertina! Mas de qualquer forma, isso não importa. Odin não se interessa pela sua virgindade, e sim pelo seu nome.”

“E Thor? Você realmente acha que ele não se importará com isso? Você vai me entregar a um casamento infeliz! Quem me fez isso foi o irmão dele!”

“Eu sabia que ele tinha feito isso. No momento em que me contaram que você foi lavar sua roupa de cama, eu soube. Mas isso foi em vão. Não me concerne o que seu noivo fará com você ou se serão felizes.”

“Você é um monstro!”

“Eu sou um REI!”

Morgana se levantou do chão e foi correndo pro seu quarto. Chorou tudo o que tinha pra chorar. Soluçava até não poder mais. Seu rosto ficou desidratado, seu travesseiro muito molhado. Ela, casada com aquele brutamonte. Por que não o irmão dele? O irmão que ela aprendera a amar?

Estava ainda chorando, quando ouviu um ruído de porta rangendo. Ergueu o olhar e viu Loki, por um segundo. Ele fechou a porta, ficou encarando-a. Ela parou de chorar, mas ainda soluçava um pouco. Depois se cessaram os soluços. Ela levantou-se e foi furiosamente até ele, ele resolutamente até ela, então, sem nenhuma palavra, lançaram-se nos braços um do outro. Só havia paixão e saudade.

Horas depois, Loki teve uma ideia. “Amanhã. Tem de ser amanhã.”

“O quê?”

“Vá amanhã até Caerleon. Depois nós vamos até Asgard, e de lá através da Bifrost iremos até Midgard. Mas não a Midgard de agora, a de... Depois.”

“E viveremos lá?”

“Sim. Nós vamos viver normalmente.”

“Mal posso contar as horas até amanhã. Por que não agora?”

“Agora não iríamos muito longe. Há guardas por todo o castelo, guardando as saídas. Mas amanhã todos estarão no torneio. Você finja que está passando mal, peça pra se retirar. Depois pegue um cavalo e cavalgue até Caerleon. Eu vou dar um jeito de ir também. Se eu não estiver lá quando você chegar, me espere. Espere-me, Morgana. Entendeu?”

Ela assentiu. Ele a beijou mais uma vez, depois foi para o seu quarto.

No dia seguinte, Morgana usou um vestido de mangas longas e gola. Preparou uma bolsa com moedas de ouro, lenços, toalhas, capas e casacos, caso precisasse disso mais tarde. Foi até o torneio, viu Loki. Eles não trocaram nenhum gesto, para que ninguém desconfiasse deles. Passada uma hora desde o início das justas, Morgana simulou um ataque de tosse, já que estava do lado de Uther.

“Você está bem, Morgana?”

“Estou”, depois tossiu mais um pouco.

“Tem certeza?”

“Sim”, ela fez sua voz falhar propositalmente, depois tossiu mais um pouco. “Só estou com um pouco de frio.”

“Você deve estar com um resfriado. Vá pro seu quarto descansar um pouco.”

“Tudo bem.”

Ela trocou olhares com Loki e ele fez um gesto de assentimento. Ela foi até seu quarto, colocou uma calça que pedira a um dos criados, uma camisa de linho, sua capa, agarrou a bolsa com os mantimentos que prepara e reuniu o restante de ar que lhe faltava. Corajosa, escapuliu pelas portas do fundo do castelo, que estavam vazias.

Lá, achou seu cavalo. Selou-o, depois o cavalgou até Caerleon. Sabia esse caminho de cor, muitas vezes tinha ido até lá por diversão. O castelo de Caerleon havia sido abandonado por Uther Pendragon, favorecendo Camelot. Atualmente, ele ainda era mantido por Uther, mas servia mais como uma estalagem aos peregrinos. As paredes eram de pedra e as salas de jantar eram amplas, decoradas com tapeçarias de ursos e cervos. Era retangular, plana, com poucas escadarias. Os quartos ficavam nos andares superiores.

Morgana começava a ficar nervosa. E se Loki se perdesse? Ele não havia ido a Caerleon tantas vezes desde sua chegada a Albion, fora apenas quando Uther liderara as excursões. Ele traria algum guia? Algum criado? Merlin?

O tempo começava a mudar, e a mente de Morgana corria desenfreada, assim como o cavalo. O céu nublado começava a sucumbir aos ventos e a derramar as primeiras gotas da garoa. Não, não, não, por favor, hoje não. Aquilo era o anúncio de uma tempestade, ela sabia muito bem. Poderia estragar tudo. Poderia... Não, ela afastou os pensamentos. Vai dar tudo certo.

Minutos depois, ela se veria enfurnada num quarto das alas superiores. Fechou as janelas, e ouvia o barulho da chuva caindo, lhe preocupando. Decorara mentalmente cada detalhe das paredes. Tentara se distrair, deitada na cama, mas os minutos se passavam e ela ficava cada vez mais apreensiva. A tempestade podia ter atrasado Loki, ou o feito desistir de tudo. Muita coisa podia ter acontecido. Um insulto na última hora, uma briga, um impedimento, ele se perdendo na floresta. E ela começava a se sentir nauseada. Um barulho de papel raspando o chão lhe arrancou dos devaneios. Levantou-se da cama e checou o perímetro do quarto: um bilhete fora deixado embaixo da porta.

Ela imediatamente abriu-o, seus olhos devoraram cada palavra.

Morgana,

Receio que você nunca poderá tomar conhecimento da minha identidade. No entanto, sou alguém que lhe quer bem. Alguém que sabe da magia que circunda Camelot e teme por você. Tomei conhecimento do seu envolvimento com o príncipe, e vim lhe alertar das consequências que ele pode trazer.

Profecias foram feitas a seu respeito, Morgana. Agora você deve escolher qual delas seguir.

Se você prosseguir no seu plano de fuga com Loki, serão felizes por um tempo. Entretanto, a morte há de levar um dos dois – e o outro causará uma guerra que vai transformar tudo em ruínas.

Se você decidir seguir o plano de casamento de Odin e Uther, viverá uma vida longa ao lado do seu marido, longe de Loki. Ele será exilado.

A escolha é sua, Morgana. Eu dei a você, porque sempre foi uma jovem valiosa – e gentil comigo.

Morgana abriu a porta e checou os arredores, no entanto, ninguém estava lá.

As escolhas que devia fazer martelavam sua mente.

Enquanto isso, Loki se viu amaldiçoando essa terra que era Albion. Maldita tempestade! Sempre trazia infelicidade a ele. Deixara-o vagando pelos bosques de Camelot, sozinho, perseguido pelo javali, até que ela veio. Agora, a tempestade poderia impedi-lo de ficar com ela.

O seu cavalo escorregara na lama e quebrara uma pata. Que agonia, que agonia! Ele sabia que Morgana não o esperaria por muito tempo. Precisava chegar rápido, mas como fazer isso com um cavalo manco? E se, pior do que isso, não estivesse no caminho certo? Não, pelo menos nisso ele tinha certeza de estar certo. Fizera aquele caminho de madrugada, para ter certeza.

Passaram-se vinte minutos. Loki tentava a todo custo reparar os estragos na pata do cavalo, mas nada adiantava. O cavalo se recusava a cooperar. Loki ficou tão enraivecido que quase caiu na tentação de puxar sua adaga e matar o animal, mas ainda precisava dele.

Ah, ele precisava dizer tantas coisas a Morgana. Tantas coisas. Precisava ficar com ela, precisava chegar logo, aquela angústia, aquela raiva, tudo o preenchia e fervilhava dentro de si. A chuva continuava a cair, raios e trovões tornavam a situação mais urgente.

“Ei parceiro! Problemas com o cavalo?”, e foi um milagre. Um carroceiro parara, a fim de oferecer ajuda a Loki.

“Sim, na verdade sim! Eu preciso chegar a Caerleon imediatamente. É uma questão de vida ou morte, mas meu cavalo quebrou uma pata.”

“Vida ou morte, você diz?”

“Sim.”

“Eu posso lhe ajudar. Estava indo agora até Dustinville, mas posso perder quarenta minutos pra te levar até Caerleon.”

“E esse cavalo?”

“Deixe-o aí.”

Loki subiu na carroça, agradecendo muito ao senhor simpático. Entretanto, ainda precisava chegar. E logo. Seu tempo estava se esgotando.

O senhor era compreensivo: foi a toda velocidade até o castelo. Vamos, vamos, vamos.

Quando finalmente Caerleon despontou no horizonte, o coração de Loki pulava sem parar. Morgana, Morgana, por favor, esteja aí. Espere-me.

O carroceiro parou à porta do castelo, e Loki disparou correndo para dentro. Quando começou a subir até a ala dos quartos pelas escadas da esquerda...

...Morgana começou a descer as escadas da direita.

Eram catorze quartos naquela ala. Só havia uma porta aberta, e Loki entrou nesse quarto. Estava vazio, mas tudo remetia a Morgana. O jeito que a cama estava desarrumada, as janelas fechadas, o papel sobre a escrivaninha.

Ele agarrou o bilhete, e então entendeu. Curvou-se à janela, e viu uma figura de capa vermelha subindo em seu cavalo.

Nunca correra tão rápido na vida. Ele era a tradução do desespero, da necessidade. Ele chamava pelo seu nome, chamava sem parar, e ele duvidava que ela não estivesse escutando.

Mas Morgana nunca sacrificaria vidas alheias para ser feliz. Não causaria a possível morte de Loki, acima de tudo. A profecia não havia deixado claro qual dos dois morreria, e ela não deixaria que ele padecesse. Ele seria exilado, mas ainda estaria vivo. E todas as vidas que ela podia poupar fazendo aquilo...

Morgana correu de volta a Camelot. Loki não conseguiu fazê-la parar, ele só ficou de joelhos na chuva, chamando seu nome, desejando morrer. Ela havia acabado com qualquer felicidade que eles poderiam ter juntos, mas deu uma chance à vida.

Ela sabia que nunca seria alegre da mesma maneira depois que se casasse com Thor. No entanto, era seu dever.

Loki sentia um pedaço de papel arder no bolso de seu casaco.

Querida Morgana,

Essas são as palavras de um homem louco para chegar até você. Fico imaginando como será a nossa vida em Midgard – eu estudei aquele lugar. Podemos comprar uma casa, e você deixará crescer aquelas flores amarelas que nos são tão queridas.

Estou chegando. Espere-me.

Do seu,

Loki

As gotas da chuva faziam a tinta borrar, e ele não se importava mais. Rasgou o bilhete, todos os seus sentimentos.

E agora ele se lembrava disso, depois de tanto tempo.

Apenas esperava a guerra terminar. Não havia mais saída.

Sua mente voltava a Caerleon, às chuvas. Agora o inverno havia chegado. Quisera ele ter se apaixonado num inverno seco do que numa primera chuvosa. Talvez as coisas tivessem sido diferentes.

Quando fizera a guerra contra Thor, a primeira coisa que fizera foi conquistar Caerleon. Depois tomou a Cidadela de Asgard, e mandou Morgana, sua cunhada, até o antigo castelo, sem lhe dizer nenhuma palavra.

Ao menos aquilo ele havia feito por amor. Ele a havia salvado de toda a guerra, ruína e morte que trouxera a Asgard. Logo tudo estaria acabado. A profecia não havia indicado o que aconteceria depois do seu exílio – outra história, causada pela sua descoberta de ter sido adotado. Ele podia muito bem morrer. E não sabia bem se merecia viver: começara a odiar, odiar de verdade o irmão. Não um ódio qualquer, um ódio cego, repleto de inveja. Depois, ficara cada vez mais e mais obcecado pelo poder. E tudo o levou à posição em que estava agora.

Tentou se concentrar. Pensou nos cabelos negros banhados pelo luar, nos olhos misteriosos, nas flores amarelas sob o céu estrelado...

Ah, se ao menos pudesse ver Morgana de novo...


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Notas finais do capítulo

Entãããããão...
Eu não consegui ver um final feliz pros dois PAKSAKSPKOA
Simplesmente pq se tivesse, n seria Loki e Morgana, os dois ficariam bonzinhos forevermore, e essa n era a intenção.
Mas fora isso, eu espero que tenham gostado, sla hahahaha.
Foi muito inspirado no filme Minha Amada Imortal (high five em quem já viu ou vai ver depois dessa recomendação :3), que conta a história da vida do Beethoven, é mais ou menos isso. Tem no Netflix.
Também levei muito em conta os vídeos Morloki do Youtube (os melhores são do canal ForsakenWitchery, essa menina manja). São muito vício :B
Então amoras, os nomes dos lugares vieram dos primeiros nomes que eu vi HAEUHAUHEA. Caerleon tem no livro das Brumas de Avalon; Larsson foi por causa do Stieg Larsson (muito bom); Lidan foi por causa de um livro que eu li agora chamado Tristão e Isolda, Lidan é um nome de um lugar lá, daí tem o Dinas, um fofo; Serling veio de um filme PFT chamado Coragem Sob Fogo (mais uma vez, tem no Netflix hahaha); não lembro de onde veio Springrose; Tintagel era um lugar mesmo que aparece nas Brumas de Avalon e em Tristão e Isolda; Iggulden veio do nome do autor do livro que eu estou lendo agora, Conn Iggulden (o livro é Guerra das Rosas - Pássaro da Tempestade).
Não sei porque tô falando tudo isso, só queria compartilhar mesmo :3
Ah, quem deixou o bilhete? *SUSPENSE*
Eu quis deixar isso pra vocês imaginarem :3
Mas deixei uma pista de quem realmente foi. Nesse bilhete, o remetente chama a Morgana de "jovem valiosa". Se estiverem tão desesperados assim pra descobrirem quem era, releiam o primeiro bilhete dessa one, o que a Morgana escreveu no começo. Dá pra perceber! Se ainda assim não descobrirem, eu conto pra vocês nos reviews ahuehauhea.
Acho que é isso!
2BJS :* :*