Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 59
Hunt 58 - Meaning




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– Fung, o que houve?



– Edge, Bran, Nina, Julie. Bom vê-los aqui. Quer dizer que os guiei bem o suficiente para entenderem o caminho. Precisamos conversar seriamente.



– Por que tudo isso, Fung? O que houve?



– Primeiramente, vamos conversar. Preciso entender algumas coisas e a ajuda de vocês é vital. Por favor, se aproximem.



– Você está estranho, Fung. Conte-nos, o que houve?



Fung estava sério. Havia retirado seus óculos e os olhava fundo nos olhos.



– Vocês se consideram bons? Do fundo do coração, consideram-se pessoas boas? Acreditam que suas ações são boas?



Edge não sabia o que responder. Parou para pensar e lá ficou. Pessoas, palavras, lugares. Tudo fluiu por sua mente em busca de uma resposta. Bran não hesitou.



– Não. Não me considero uma pessoa boa. Jamais fui, na realidade. Manipulei pessoas, matei muitas outras e cá estou. Não me considero bom, mas ao mesmo tempo, não digo que minhas ações são ruins. Minhas ações não me definem. Tudo o que fiz, fiz pelo que acreditava.



Fung então falou, com um ar solene:



– “A felicidade vem por meio de boas ações, sofrimentos são resultados de más ações,

Por ações, todas as coisas são obtidas, por inação, absolutamente nada é apreciado.

Se sua ação deu nenhum fruto, então tudo seria em vão,

Se o mundo trabalhasse através do destino por si só, seria inútil.”



E então completou:



– Será então que o sofrimento que todos vocês passaram é reflexo de boas ações? Será então que tudo o que fizeram, todo o sofrimento que tiveram, tudo isso é contra a ideia de ações boas. Vocês agiram por vocês mesmos, apenas. Tem um ponto de vista unilateral e agem como acreditam dever agir.



Edge retrucou:



– O meu sofrimento é só meu. Ele não depende de ações alheias. Ele é algo que eu carrego comigo. Já errei. Causei muitas mortes e uma crise na MAGNUM. Sou o culpado de tudo isso e carrego comigo esse sofrimento. Essas ações foram sim ruins, Fung, mas não me impedem de agir de acordo com minhas crenças!



A resposta veio novamente, solene:



– “Então, como um homem é de um jeito ou de outro,

De acordo como ele age e de acordo como ele se comporta, então ele será;

Um homem de boas ações vai se tornar bom, um homem de atos ruins, ruim será;

Ele torna-se puro por ações puras, mau por más ações”



Edge mordeu o lábio. Aquilo o tocou muito fundo, muito mais do que esperava. Fung então continuou seus questionamentos.



– Não existe inocência em seu lado, assim como não existe inocência no lado da DANTE. Os dois lados são opostos e ao mesmo tempo, a mesma coisa. Um grupo que age com base em suas crenças. Não hesitam em matar e em perseguir os opositores. São o mesmo lado da moeda.



Nina logo começou a falar, mas foi interrompida por Fung, com um olhar doce:



– Senhora Nina. Você é a pessoa mais pura dessas duas organizações. Não hesitou em matar, mas quando o fez, foi por amor. Não hesitou em ordenar, mas quando o fez, também foi por amor. Seria então o amor a força que a mantém como uma pessoa boa?



– Fung… Eu não sei dizer-lhe se sou uma boa pessoa. Não me cabe decidir. Eu, como todos os outros, faço o que acredito, nada mais.



E Fung retrucou novamente:



– “E aqui eles dizem que uma pessoa consiste em desejos,

e como é seu desejo, assim é sua vontade;

e como é a sua vontade, tal a sua ação;

e qualquer ato que ele faz, que ele vai colher.”



E completou:



– Então. O que querem? Quais são suas vontades, seus desejos?



A resposta veio em partes. Cada um falou, esperando sua hora.



– Eu faço tudo por Nina. Não me resta mais nada além dela. Com ela, perdi tudo o que acreditava, mas ao mesmo tempo, ganhei algo que é muito mais importante.

– Não nego. Faço tudo pela MAGNUM. Não me interessam questões morais e nada do gênero. Eu cresci lá e lá recebi todo o peso do mundo em minhas costas. Não quero que isso se perca. Nunca. Por tudo o que eu e todos os outros membros passamos, não deixarei que nada abale nossa organização!



– Eu… Eu fui arrastada para esse confronto. Até um tempo atrás, era apenas uma garota num orfanato sem esperança de futuro. Em pouco tempo, tive que aprender a crescer, a ordenar, a matar e principalmente, a entender. Eu quero entender o porquê disso tudo. Quero descobrir o porquê de toda essa situação e principalmente, o porquê de ter sido movida pelo destino a retornar a essa organização. O sangue Mynatt retornou à MAGNUM graças ao destino e quero saber o motivo.



– Fung! Você está estranho, parece até que não me conhece! Eu estou aqui por causa do meu irmãozinho! Sem ele, eu não estaria viva! Ele é uma pessoa boa, cuidou de mim desde então e nunca me deixou para trás, mesmo com tudo o que já fiz. Não tenho por que não confiar nele, não é mesmo? Eu confio nas decisões dele e estou aqui para apoiá-lo!



E com isso, Fung sorriu.



– Tsc. Vocês são todos uns idiotas. Eu não sei como pude duvidar da resolução de vocês. Mas a resolução de vocês não basta. Tenho algo a contar.



Fung olhou para o alto. A chuva começava a cair.



– Por favor, escutem bem. O homem que chamam de Fung, ele morreu. Morreu há certo tempo. Não existe mais nenhum Fung. Esse homem… Esse Matahariano, sangue de meu sangue, foi morto. Eu mesmo o matei muito tempo atrás. Pouco após a entrada dele na MAGNUM. O corpo dele me pertence, mas nada além disso. Tomei o corpo dele. Precisava disso. Não havia outra forma de me infiltrar na organização. Meu nome real é Kim Zhou. Sou líder da Ordem dos Assassinos de Matahari. Cresci aqui. Não sei se sabem, mas Matahari tem uma filosofia bastante elaborada sobre os conceitos de certo e errado. Tudo é encaminhado. Você é feito por suas ações e vice-versa.



– O que fez com Fung?! Por que isso?



– Espere Edge. Deixe-me terminar. Eu acredito fielmente no que lhes expliquei. Um homem é marcado por suas ações. Não sou um bom homem também. Eu matei um Matahariano e ocupei seu corpo para poder me infiltrar.



– Maldito! Por que fez isso?! Não ganhou nada com isso!



– Como sabe? O que eu ganhei é de valor inestimável. Eu pude finalmente ver as minhas crenças sendo colocadas à prova! Eu estive dos dois lados. Acompanhei tudo o que acontecia tanto pelo lado da MAGNUM quanto pelo lado da DANTE. Vi mortes e vitórias. Derrotas e sofrimento. Vi uma briga totalmente motivada pelos ideais diferentes, mas com um mesmo fim. Como acha que é saber que tudo isso em que acreditei se mostrou apenas uma parte da verdade? Desculpem-me, mas eu precisava dessa iluminação. É algo que eu deveria saber. Quando entrei na DANTE, minha ideia original era observar apenas. Não tenho outra função nesse local além de observador. Eu acredito na visão de ambos os lados, Edge. Nina, me desculpe.



– Por que está se desculpando, seu traidor! Não, você nunca foi um de nós!



Nina interrompeu:



– Edge! Já chega! Deixe-o falar! Eu… Eu consigo sentir o que ele tem a dizer. Deixe-o. É importante.



As lágrimas escorriam pelo rosto dela. Lembrava-se de cada momento com Fung. Ele havia sido mais que apenas um funcionário. Havia se tornado um amigo. Um amigo importante.



– Obrigado, Nina. Deixe-me terminar. Originalmente, meu papel era apenas de observar os dois lados. Dava as informações que me eram pedidas e nada mais, ainda sim, com o mínimo de embasamento possível. Não posso ajudar nenhum dos dois lados. Não consigo me decidir qual lado é o certo. Ambos têm seus pontos bons e ruins. Não é tudo simples como imaginei. Preciso fazer isso, Nina. Você sabe o que vem agora, não sabe?



– Vamos. Temos que enfrentá-lo. Está na hora. Vamos por um fim a tudo isso, não é mesmo, Fung?



O homem olhou para Nina com um olhar penetrante, mas ela podia sentir uma tristeza crescente nele. Edge então se preparou. Com as pistolas em mãos, mirava no oponente. Do outro lado, Bran empunhava Purgatorio com um olhar atento. Nina tinha as adagas em mãos e Julie estava atenta. Afastada, ela analisava a situação do ambiente e passava adiante para os três pelos comunicadores. Os três avançaram contra Kim, que havia sacado uma arma bastante peculiar. Uma pequena foice presa a uma corrente. Na outra extremidade, um peso de metal afiado. Edge disparou contra ele que, usando a arma, defletiu os disparos.

Bran então tentou acertá-lo durante um momento de distração. Foi então que da vegetação, outra figura se levantou com uma arma semelhante em mãos, parando o golpe da espada. Era uma figura exatamente igual à Fung. Nina logo percebeu mais uma figura se levantando. Os três homens que viram em Matahari.



– São todos meus assassinos. Também os ensinei essas técnicas. São meus. Minhas ferramentas, meu próprio corpo. Dedicaram-se de corpo e alma para mim e cá estão para me servir. Espero que não se sintam mal, por favor, mas eu precisava manter a situação controlada.

O olhar de Kim era sério. Aproveitando-se, ele soltou o cabelo, desfazendo o penteado que Fung costumava usar. Agora, seu cabelo caía sobre a face, tapando um dos olhos. Era grande e longo. Logo depois também retirou a roupa que Fung costumava usar. Debaixo dela, uma roupa negra. De um tecido opaco e com os ombros à mostra, Kim estava totalmente irreconhecível. Havia levantado sua máscara, tapando sua boca e nariz. Uma faixa branca na cintura e uma espécie de gola bastante volumosa de pelos brancos.

Uma figura bastante peculiar. Logo após, as outras figuras fizeram o mesmo, ficando idênticas ao original. Até mesmo a voz era semelhante. Os trejeitos, tudo isso havia sido copiado perfeitamente pelas cópias que agora enfrentavam Bran, Nina e Julie. Era a primeira vez que a irmã de Bran se via ocupada com o combate, mas nem por isso era menos eficiente.

Seu irmão havia ensinado-a muitos truques e, sendo esperta, era capaz de feitos bastante relevantes. Assim que notou uma figura se aproximando, retirou uma pequena pedra do bolso e atirou contra o atacante. Tal pedra explodiu em fumaça, escondendo-a da visão dele. Em seguida, lançou um pequeno artefato em direção ao oponente. Assim que ouviu um leve apito, Julie sorriu. Em seu aparelho de mão, tinha a posição daquele oponente. A fumaça que criara duraria pelo menos trinta minutos, tempo suficiente para que bolasse um plano de defesa.

Enquanto isso, Bran avançava contra seu oponente sem dar trégua. Não poderia dar espaço para aquela arma, mas ainda sim, era algo complicado. O oponente combinava movimentos rápidos de artes marciais com o curto alcance da foice em mãos para golpes devastadores. Bran protegia-se com uma pequena dificuldade graças ao tamanho de sua arma e a agilidade do oponente. Atacava-o como podia, mas não parecia ter muito sucesso.



Nina estava em uma situação totalmente diferente dos outros dois. Era capaz de prever todos os golpes do oponente, evitando assim qualquer combate. Poderia ferir aquele homem a qualquer momento, mas se contentava em evitar o combate. No fundo, era um sentimento de tristeza. Não queria machucar aquele homem, mesmo que tudo fosse uma farsa. Sabia o que ele pensava e aquilo a machucava ainda mais. Não iria enfrentá-lo. Iria evitar qualquer combate direto com ele e torcer para que o melhor acontecesse.



Edge enfrentava Kim sem muitas dificuldades naquele momento. Os golpes de longe do oponente passavam apenas perto de Edge, que os evitava com uma movimentação rápida. Disparava sem hesitar, mas todos seus tiros eram facilmente defletidos. Era um impasse naquela luta. Nenhum dos dois era capaz de avançar mais do que aquele ponto. Edge então decidiu enfrentá-lo com as adagas. Sacou-as e partiu para cima num ataque completamente frontal. Kim executou um giro lateral, esquivando-se do golpe e acertando Edge de raspão no braço com a foice. Era um golpe forte o suficiente para fazê-lo sangrar, mas não chegava a ser um corte profundo.



Julie observava tudo com atenção. Tinha a presença do inimigo e esperava pela sua movimentação. Tinha em mãos mais alguns objetos bastante diferentes. Pequenos objetos dos mais variados formatos. Um deles, luminoso, chamava atenção. A foice veio no meio da fumaça e quase a acertou. Ela teve tempo de jogar um dos objetos adiante. Ao cair, ele emitiu um som bastante inesperado. Era a sua própria voz, num grito de dor.

Aquilo era uma armadilha preparada. Jogou outros objetos e aguardou por uma reação. Ainda tinha em mãos o objeto luminoso. Bran por sua vez decidiu atacar sem pausa. Avançou contra o oponente e desferiu dois golpes seguidos de um chute. Os dois golpes foram esquivados com certa facilidade enquanto o chute jogou-o para trás, caindo no meio da folhagem. Nesse momento, os outros dois se abaixaram também, sumindo de vista. Uma voz ecoou pelo local.



– Edge, Nina, Bran, é preciso. Espero que não me julguem mal por isso.



E com isso, três foices vieram de lugares completamente diferentes da posição original dos oponentes. Os três tiveram uma dificuldade enorme de esquiva, sendo pegos de raspão pela lâmina, cortando novamente a pele superficialmente. A vegetação se movia um pouco enquanto os três oponentes percorriam-na. Edge não sabia exatamente como aquilo era feito, mas eles estavam muito próximos do chão. Próximos demais para serem visíveis pela mata. Os trovões continuavam a rugir ao fundo enquanto eles duelavam. Bran perdeu a paciência e arremessou Purgatorio através do campo.

A espada cortou boa parte da vegetação, revelando os oponentes. Corriam praticamente na horizontal, abaixados. Era uma técnica completamente desconhecida por todos eles, mas muito eficaz. Um fato preocupava Edge. Ele não sabia mais qual daqueles homens era Kim. Ele precisaria descobrir e rápido. Todos compartilhavam até os mesmos pensamentos. Haviam sido treinados para serem exatamente como Kim, não apenas copiá-lo. Eram como clones.



– Kim! Pare com isso. Se for para nos enfrentar, que o faça seriamente! Pare com essas brincadeiras e lute de verdade!



Edge, Bran, Nina e Julie não acreditavam estar enfrentando Kim e sim Fung. O olhar não os enganava. Todos aqueles homens eram como Fung. Não queriam enfrentá-lo. Inconscientemente, Bran estava mais lerdo. A mira de Edge estava bastante errada. Julie não tinha experiência de combates reais, mas estava sendo capaz de enfrentar de igual para igual um assassino treinado. Nina dominava o combate, mas não era capaz de atacar corretamente. O combate estava em um impasse e não havia como resolver tal situação.



Kim então disse, com um olhar melancólico.



– Como quiserem, meus caros. Se é um combate sério que desejam, é isso que o terão. Desculpem-me pela inocência. Foi uma falha que não irá se repetir novamente.

Ele realmente acreditava no que dizia naquele momento, Nina pôde sentir.


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