Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 60
Hunt 59 - Burden




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Com um movimento de mãos, Kim mudou completamente o combate. Da vegetação alta ao redor, surgiram mais três assassinos como os primeiros. A luta havia se tornado muito mais complicada daquele momento em diante. Edge, Nina, Julie e Bran precisariam enfrentar dois oponentes por vez. Kim aproveitou o momento e fez outro movimento. Edge ficou abismado com o que viu.

Três fileiras de 10 assassinos também disfarçados como Kim surgiram da vegetação. Ficaram ajoelhados, de olhos abaixados e sem falarem sequer uma palavra:

– Desculpem-me por isso. É preciso.

Nina desviou do ataque de longe que o segundo assassino disparara contra ela com um pequeno movimento para o lado, preparando-se para enfrentar os dois ao mesmo tempo. Fechou os olhos e se concentrou. As adagas em suas mãos agora lhe pareciam extensões do próprio corpo. Mordeu o lábio para tentar voltar à sua concentração e parar de pensar sobre o que aquilo tudo significava. Tinha que fazer sua parte naquele combate e o faria com maestria.

Enquanto isso, Julie fora pega de surpresa pela chegada do segundo oponente. Tinha preparado uma armadilha para o primeiro mas não havia um plano de emergência para aquela situação. Dependeria de sua astúcia apenas. O primeiro oponente logo mordeu a isca. Dirigiu-se até o local de onde partira o som que Julie emitiu artificialmente e se deparou com um conjunto de peças de metal soltas pelo solo. Tentou recuar mas já era tarde demais. Assim que Julie o observou entrar no local, ela disparou o objeto brilhante em sua mão. Era um composto que ela havia criado um bom tempo atrás mas para o qual nunca tinha visto utilidade. Acabou por comentar, animada:

– Nunca largue nem um parafuso para trás! Ele pode ser útil depois!


E o foi. Com o arremesso, os outros objetos do solo começaram a se dilatar. Eram todos compostos extremamente densos, de forma a carregarem uma quantidade de matéria bem maior do que aparentavam. Com o lançamento daquele composto, a temperatura desses objetos aumentou drasticamente em questão de segundos, derretendo-os. A massa metálica ocupou o solo em que o assassino pisava, esfriando-se em pouquíssimo tempo. A condutividade térmica desses objetos foi trabalhada por Julie até o ponto em que ficou satisfeita com tal utensílio. Agora, seu oponente estava imobilizado. Restava apenas o outro que se aproximava lentamente pela fumaça.

Bran estava ocupado enfrentando um dos oponentes. Acostumara-o com os golpes pesados e lerdos de sua espada enquanto se defendia perfeitamente atrás da Purgatorio. Precisava apenas achar um espaço para avançar. Quando o segundo oponente chegou, ele decidiu agir. Precisava eliminar o primeiro rapidamente. Tinha tudo preparado. Avançou com a Purgatorio em mãos, preparado para um ataque. Rodou o cabo da arma e em questão de milésimos, ela já estava aberta e as espadas gêmeas em mãos. Avançou contra o oponente. Ele com certeza sabia da existência das espadas duplas, mas não teria como estimar a velocidade que Bran adquiria ao usá-las. Com precisão, ele passou através da defesa do assassino numa velocidade assustadora, deixando apenas um corte no mesmo, que caiu ao solo. Estava morto. Bran voltou-se então para o segundo, com uma das espadas apontada diretamente para ele. Disse apenas uma frase, num tom intimatório:

– Traga quantos mais quiser. Eu enfrentarei todos ao mesmo tempo se for preciso!

Edge sorriu ao ouvir aquilo. Bran parecia estar bastante centrado em derrotá-los. Enquanto isso, Edge enfrentava Kim diretamente. Os movimentos de todos os assassinos eram extremamente apurados e refletiam Kim de maneira excepcional, mas Edge era capaz de ver a diferença entre eles. Na verdade, era capaz de sentir. Sabia qual era o verdadeiro e se focava apenas nele. Disparava sem parar contra o mesmo numa tentativa de encontrar uma falha, mas ele era bastante rápido. Esquivava-se com uma facilidade considerável. Na verdade, não era apenas isso. Ele conhecia os movimentos de Edge. Sabia como ele reagia às mais variadas situações e aquilo lhe dava uma vantagem enorme. Com um movimento, Kim avançou e acertou Edge no estômago com um chute, arremessando-o para trás. Era um golpe forte, mas nada que impedisse o combate de continuar. Novamente de pé, o caçador avançou contra o oponente num movimento rápido, se aproximando e preparando um disparo. O oponente por sua vez apenas moveu a cabeça para o lado, prevendo o disparo. Avançou também então e atacou novamente Edge, dessa vez com um soco. Estava claro que a leitura de movimentos do oponente era extremamente apurada, talvez pelo convívio durante tanto tempo.

– Edge, desista. Não tem como você me vencer. Eu já lhe conheço bem demais e posso afirmar que não irá conseguir sequer me ferir.

Aquilo o deixou bastante frustrado. A sensação de impotência retornava aos poucos enquanto era dominado pelo oponente que sequer utilizava sua arma, apenas seu conhecimento prévio. Respirou fundo e observou a batalha ao seu redor. Bran digladiava-se com dois outros assassinos, evitando ser atingido pelos seus golpes à longa distância e avançando aos poucos. Nina enfrentava três, mas sequer era atingida. De olhos fechados, a líder era capaz de impedir qualquer golpe de atingi-la com uma leveza fora do normal. Era como tentar se mover no gelo.

Os golpes deslizavam pelas adagas e erravam o corpo dela por questão de centímetros, mas a expressão na garota era a mesma. Uma tristeza. Seus olhos estavam lacrimejando fortemente enquanto ela lutava. Segurava o choro como podia. Julie havia sumido na nuvem de fumaça, mas provavelmente teria fugido ou preparado mais um plano, aquilo o deixava tranquilo. Enquanto isso, enfrentava apenas um oponente e era subjugado facilmente. Um sentimento lhe cobriu da cabeça aos pés, sentia-se novamente impotente. Os rostos daqueles que enfrentou passaram em sua mente em um segundo. Via Alex com Nina em mãos, levando-a embora. Lembrou-se do que ouvira. Lembrou-se que era fraco, e com isso, finalmente percebeu algo que não se lembrava desde muito tempo atrás.

Nunca fora forte. Jamais havia sido alguém em que pudessem depositar total confiança e que seria infalível. Suas falhas estavam por todo canto e, ainda sim, estava lá, de pé. Um pensamento fluiu em sua mente, mas ele o deixou de lado. Talvez, não precisasse ser forte. Avançou novamente contra Kim, com as pistolas em mãos. Preparou um disparo que naturalmente foi evitado, mas Edge tinha algo mais em mente. Após isso, não recuou como de costume, mas desferiu um chute no queixo de Kim, lançando-o também para trás. Não deveria lutar mais com a superioridade e a segurança. Deveria ali deixar seus instintos e sua fraqueza comandarem a situação. Algumas vezes é preciso ser fraco para se entender como derrotar alguém forte, logo pensou. E com isso, preparou-se para o combate novamente. Kim se levantou, sério.

– Nada mal, senhor Edge! Continue assim!

A voz de Fung ecoou em sua mente. Já havia ouvido essa frase anteriormente proferida por aquele amigo perdido. Tentou afastar mais esse pensamento e voltar ao combate. Estava agindo sem pensar, apenas reagindo como podia. Seus tiros deixaram de ser precisos e focavam qualquer parte do corpo do oponente.

A previsibilidade de seus movimentos graças às habilidades fez com que Kim fosse capaz de prever seus movimentos e até os locais aonde dispararia. Os disparos sem tanta precisão, embora não causassem um dano considerável, eram imprevisíveis, pelo menos até aquele momento.

Bran estava começando a se acostumar com os movimentos dos oponentes. Mantinham a distância quando podiam e evitavam se aproximar após terem visto o que aconteceu com o primeiro deles a enfrenta-lo. Estava preparado para continuar o combate quando dois dos assassinos sumiram de seu campo de visão. Restava apenas um. Estava concentrado em ataca-lo e depois pensar nos outros. Avançou com uma espada focada nele, preparando um ataque rápido. Foi quando duas pequenas foices cruzaram seu caminho, vindas da vegetação. Os outros dois haviam se escondido e preparavam um contra-ataque contra ele. Ele sabia que tais táticas seriam usadas, então não foi pego completamente de surpresa. Defendeu-se com a segunda espada uma das armas, mas fora atingido no ombro pela segunda, ricocheteando em sua armadura.

Recuou e decidiu se concentrar. Não conseguiria usar sua onda de energia com força total naquele ambiente. Embora o combate fosse crescente, não havia sentimento algum naquilo. Os assassinos lá estavam por ordem de seu mestre. Até mesmo ele, enfrentando Edge, não parecia sentir ódio ou sequer raiva. Parecia sentir dor. Voltou à luta e preparou-se para atacar. Tinha algo em mente, mas precisaria de um pouco de sorte.

Edge conseguiu avançar contra Kim, lentamente ganhando espaço no combate. Alternava seus movimentos precisos com movimentos completamente sem planejamento prévio, dificultando ainda mais a leitura que Kim havia feito sobre ele. Finalmente, o oponente empunhou novamente a sua arma. Rodando a foice pela corrente enquanto segurava firmemente no peso, preparava-se para um ataque. Com um movimento, disparou a lâmina contra Edge numa elipse. Ele se abaixou, esquivando por pouco. Antes que pudesse reagir, o oponente já havia retraído a foice e agora lançava o peso afiado, numa tentativa de perfuração. Com uma reação rápida, Edge conseguiu disparar e alterar por pouco a trajetória do peso com o impacto da bala, mantendo-se a salvo. Kim então começou a falar, sem pressa:

– Edge. Já percebeu? Eu te defino aqui e agora. Seus atos estão aqui, na minha mente. Eu sei como você é. Sei quem você é. Sei o que costuma fazer. Por isso, lhe julgo. Você é uma pessoa ruim. Por suas ações digo-lhe quem é. Um assassino, um matador. Seu passado te condena, Edge.

– Não me importa o que diga! Meu passado é um peso apenas meu! Não devo ser julgado por alguém que sequer teve participação nisso tudo!

– Realmente, o seu passado é somente seu. Mas e o futuro? Quantos futuros você tirou daqueles que matou? Quantos sonhos não enterrou naquele incidente?

– Pare com isso! Eu… Eu não posso ser culpado por algo que eu não tive controle!

– Você não teve controle sobre si mesmo. Não tem como negar que a culpa é sua. Ninguém além de você assassinou. Ninguém lhe mandou fazer isso. Você simplesmente foi lá e causou tudo aquilo. Ainda consegue dizer que não é sua culpa? Que não é uma pessoa ruim?



– Fung, isso não é justo. Não é justo me acusar por isso, você sabe muito bem! Eu… Eu daria tudo para poder evitar tudo isso. Tudo mesmo. Se for culpado de tudo isso, assumo. Não tenho como negar. Mas é meu peso e não cabe a mais ninguém julgar!

– Então diz em seu egoísmo que todas aquelas pessoas que morreram não importam, desde que você se sinta bem?

Edge fez uma pausa. Seus olhos por um momento se encheram de lágrimas, mas ele as segurou.

– Não. Você não entende. Elas importam muito mais do que qualquer coisa que imagine. Eu não importo, mas cada uma delas me é importante agora. Cada uma delas me trouxe até aqui. Não agradeço por isso, de forma alguma, mas sem elas, não estaria onde estou hoje. E é por elas e por Nina que eu sigo adiante. Se eu desistisse, estaria descartando todas aquelas vidas que tirei como se fosse algo trivial. Não posso desistir. Depois de tudo o que eu fiz, não posso falhar.

Kim parou. Ficou estático por um momento. Seus olhos percorreram por completo o rosto daquele seu oponente. Podia ver as lágrimas se formando em seus olhos e a força que o homem mantinha para segurar tudo aquilo. Edge então continuou:

– Acha mesmo que meus sonhos são bons? Sonho com esse evento constantemente! São lágrimas, dor, gritos, pânico, confusão… Tudo me invade e eu sou levado de volta àqueles momentos. Levado novamente para aquele inferno que eu causei. É minha culpa. Eu carregarei isso para sempre, pode ter certeza. Mas isso não pode me impedir de seguir adiante. Se todas aquelas vidas foram perdidas, farei o máximo que puder delas. É o mínimo. Nunca poderei me desculpar totalmente com todos aqueles do passado, mas posso proteger meu novo futuro!

Kim estava paralisado. Nunca havia visto Edge dessa maneira. Ele sabia que o homem não mentia pelas lágrimas em seu rosto que tentava de toda a forma manter a seriedade. Ele carregava um peso que Kim jamais soube. As boas ações definem um bom homem. Aquele homem à sua frente perdera a dicotomia entre bem e mal. Havia se tornado cinza, um estado indefinido que beirava ambos, mas não se acolhia em nenhum. Kim sabia na realidade em qual lado Edge estava. Sentia isso, mas era tarde demais. Voltou à sua posição, mas não sem antes gritar uma frase em Matahariano. Nina não entendeu a frase mas decifrou o sentimento. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas não tinha tempo para isso. Os assassinos avançaram contra ela de maneira rápida, mas ela os evitou com graça. O grito teve um efeito completamente inesperado pelos quatro. Os assassinos recuaram. Formaram um círculo ao redor de Edge e Kim. Ajoelhados, de cabeça baixa. Estavam esperando pelo final do duelo. Kim ainda gritou para os outros três:

– Nina, Julie, Bran. Esperem aí. Isso é apenas entre nós dois.

Bran e Julie tentaram avançar, mas foram parados por Nina. Com um gesto, eles entenderam tudo o que acontecera. O duelo continuava finalmente. Edge havia se recomposto, evitado as lágrimas e estava finalmente concentrado novamente. Desligou-se de seus pensamentos por um momento e percebeu então o que acontecera. O duelo havia se tornado pessoal. Edge finalmente avançou contra Kim que, silencioso, evitou o disparo. Em questão de segundos, Edge havia guardado uma de suas pistolas e carregava agora a adaga. Concentrou-se muito e preparou um contra ataque. A foice veio pouco tempo depois em sua direção, voando.

Com um movimento, Edge concentrou sua energia na adaga e a lançou contra o solo, na direção da arma de Kim. Esperou o máximo que pôde e então, ativou seu poder. O cristal emergiu da adaga, formando uma grande pedra da altura de Edge. A arma do oponente já havia ultrapassado a marca da adaga e sua corrente atravessada no cristal. A foice ficou presa de um lado do cristal, com sua corrente atravessando-o e Kim do outro lado. Inutilizara parte da arma de seu oponente. Após isso, Edge avançou, pegando a segunda adaga.

Finalmente, alcançara Kim que, ainda silencioso, receberia o ataque. Não era um golpe fatal, mas o deixaria em um estado crítico. Foi quando então uma figura surgiu à frente dele. Um dos assassinos pulou e entrou na frente de seu mestre, sendo atingido de maneira fatal pela posição em que estava. Morreu em questão de segundos no solo, ao lado de Edge. O choque foi grande, paralisando-o por um segundo, tempo suficiente para Fung enrolar a corrente que restava ao redor do pescoço do caçador. Enforcava-o sem dó. Edge tentava em vão conter a corrente, mas não conseguia. Iria morrer a qualquer momento ali, enforcado por um traidor. Não, não podia deixar que algo assim acontecesse. Precisava reagir.

Juntou suas forças e colocou sua mão sobre a corrente. Tentou sem sucesso criar um cristal a partir dela, perdendo as esperanças. Foi então que uma pequena brecha surgiu. Kim havia soltado levemente a corrente, mas Edge não era capaz de ver o porquê. Aproveitou-se disso e o repeliu para longe com um chute. Respirou fundo e observou o oponente no solo. Ele se levantou e avançou contra Edge sem hesitar nem falar nada, atacando-o de frente. Ele defendeu-se tranquilamente e percebeu finalmente o que havia acontecido.


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