Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 58
Hunt 57 - Lost




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Fung foi o primeiro a falar. Deu dois passos à frente, pedindo para que os outros esperassem. Edge então percebeu. O homem da embarcação tinha as mãos posicionadas próximas da cintura. Entendeu o que estava acontecendo em um segundo. Estavam sendo intimidados. Cercados. Fung percebera isso pouco antes e já havia começado a dialogar com a população. Sem hesitar, deu mais alguns passos. Aproximou-se do que parecia ser o líder do grupo e começou a falar na língua natal daquele povo. Algumas vezes apontava para os quatro lá colocados e voltava sua argumentação. A situação era tensa. Precisavam entrar de qualquer forma. Aquela missão era de máxima prioridade. Depois de alguns minutos, Fung se virou e chamou-os para perto.



– Eles permitiram a entrada de vocês, sob minha responsabilidade. Por favor, não quebrem nada e tentem evitar todo e qualquer tipo de problema. Estão em um ambiente que, acredito eu, perceberam ser bastante hostil com visitantes. Mas não se preocupem, eu cuidarei de vocês. Estarão de olho em vocês o tempo todo, deixo isso claro, mas é o máximo que consegui.



Fung então abriu caminho com os outros quatro por entre a pequena multidão. O homem da embarcação permaneceu parado, com a mão pronta para reagir. Os quatro não iriam causar problemas. Era uma questão diplomática acima de tudo. Precisavam investigar o que se passava naquele local tão diferente. Assim que passaram pelo arco de pedra, se viram numa cidade completamente diferente do que estavam acostumados. Ao invés de pontas, vitrais, arcos e estruturas verticais, um grupo de baixas casas com telhados triangulares e longos. Nas bordas dos telhados um revestimento de um material parecido com ouro. Não havia janelas nas casas, eram buracos na própria estrutura em formato quadrado. Ao que parecia, não havia violência dentro da cidade.

Edge e Bran vasculharam o local em busca de alguma força policial ou algo do gênero, mas não foram capazes de distinguir nenhuma. Continuaram andando cidade adentro e aos poucos foram se misturando àquele povo. As vozes ininteligíveis continuavam suas conversas corriqueiras até eles se aproximarem. Nesse momento, todos paravam de falar e os observavam atentos para, logo após sua passagem, voltarem à animada conversa que tinham. Seguiram por uma enorme praça em direção ao centro da cidade. Algumas pequenas tendas de pano vendiam alimentos frescos e pescados, uma das fontes mais comuns de alimento naquele local.

Os vegetais que lá eram vendidos vinham em pequenos transportes das áreas rurais de Matahari diariamente e de lá partiam para as casas e famílias da cidade. Andaram mais um pouco e se encontraram na praça central da cidade. Uma enorme área circular rodeada por prédios de estrutura semelhante, altos, contrastando com o resto da cidade. Fung então tratou de explicar.



– Cá estamos no coração de Matahari. Aqui é a praça das ordens urbanas, um dos locais mais importantes da cidade. Imagino que não saibam, mas nessa cidade não existe um líder definido. A cidade é regida por vários sistemas interdependentes, as ordens. Não existe um líder único na cidade, mas um grupo de vários líderes dos mais variados setores que, em conjunto, rege esse local. Existem três praças como essa. A praça das ordens Urbanas, das ordens Esotéricas e das ordens Incomuns. Como devem ter imaginado, nessa praça existem as ordens que cuidam da estruturação de Matahari como cidade. Aqui temos arquitetos, urbanistas, líderes dos setores de transporte e distribuição, além de banqueiros. Se olharem para os prédios poderão ver as insígnias que marcam cada ordem, como expliquei. Primeiramente acho que devemos seguir para a área de transporte. Precisamos descobrir quem entrou na cidade e como. Sigam-me, por favor!



E assim todos seguiram Fung para dentro de uma das construções. Na insígnia, o relevo de um barco em ouro. Assim que entraram foram recebidos pela segurança que, após uma pequena conversa com Fung, liberaram a entrada dos cinco até o alto-escalão daquela ordem. Adentraram por uma grande porta de metal e se depararam com um senhor de idade. Olhos semicerrados e uma expressão serena. Fung seria o tradutor daquele diálogo. Nina tomou a palavra.



– Senhor, estamos aqui para tratar um assunto de suma importância. Uma informação preocupante chegou até nós. Ao que parece, permitiram a entrada em Matahari de um grupo perigoso, conhecido como DANTE. Não tenho como tirar tal informação a limpo, mas peço gentilmente informações. É para o bem não só de Matahari, como de Albius também.



O homem deu um leve sorriso e seu olhar passou pelos quatro que não falavam sua língua. Sem hesitar começou a falar. Fung traduziu palavra a palavra.



– Olá, minha senhora. Parece-me que talvez sua informação esteja correta. Não sei se é correto passar tal informação de maneira precisa ainda, afinal, sequer se apresentaram, não é mesmo?



Nina logo respondeu. Por dentro, sentiu-se mal por ter deixado um fato tão importante como apresentações de lado. Falhara nesse ponto.



– Claro, senhor. Chamo-me Nina Mynatt. Sou a líder da MAGNUM, uma organização de Albius que tem como função a proteção da população e eliminação de entidades sobrenaturais. Ao meu lado estão Edge e Bran, meus dois melhores soldados e Julie, a minha líder de tecnologia. Bem, o nosso tradutor, Fung, é o nosso chefe de inteligência. Espero que estejamos entendidos agora, e vamos então aos negócios. Creio que sabe da importância dessa informação, não é mesmo? Não costumam permitir estrangeiros aqui. O que motivou a entrada desses homens aqui?



– Minha senhora, o mesmo que motivou a entrada de vocês. Eles vieram com um Matahariano até aqui e pediram permissão. O que fizemos não difere nos dois casos. Eles não trouxeram tumulto algum, pelo contrário. Vieram e nos deixaram várias… Cortesias. Veremos então o que farão por aqui, não é mesmo?



Era uma atitude intimidadora. Aquele homem guardava alguma informação. Essas cortesias que ele mencionara incomodaram Nina profundamente. Bran cerrou o punho e tentou manter a postura como pôde. Estavam sendo tratados como uma força opositora por aquele homem e isso os feria demais. Fung traduziu cada palavra e observou atentamente as reações, tentando evitar um conflito real. Então, Nina falou.



– Sim, meu senhor. Não faremos nada demais, pode se tranquilizar. Garanto que será uma visita bastante agradável e aproveito e lhe faço o convite, caso queira conhecer Albius, será sempre muito bem vindo.

Falara aquilo com um sorriso enquanto cerrava o punho. Era uma humilhação considerável ter que seguir as ordens daquele velho, mas era algo que deveriam fazer. Evitar todo e qualquer conflito num ambiente hostil. Agradeceu a atenção daquele homem e saíram. Agora haviam confirmado. A DANTE passou por ali. E o pior, pareceu ter influenciado de alguma forma a cidade. Fung então os guiou para conhecerem melhor a cidade. Precisariam se hospedar em breve. Foram encaminhados então até uma pequena casa abandonada. Não haveria hotéis em Matahari, isso sabiam. Antes, passaram pelas outras duas praças das Ordens.



– Essa é a praça das ordens Esotéricas, consiste de todas as ordens que tratam de assuntos fora do aspecto humano. Existem várias ordens dos mais variados tipos por aqui, talvez seja interessante investigar esse local pela manhã.



Logo saíram dessa praça e se dirigiram à seguinte.



– Aqui é a praça das ordens Incomuns. Nesse local existem muitos locais desconhecidos até por mim. Apenas boatos circulam o povo comum que diz sobre ordens de assassinos, informantes, ladrões, entre outras ordens que não se encaixam nas outras categorias. Como podem notar até mesmo as classes mais baixas tem o direito a se manifestar em minha cidade natal. Somos todos um povo livre e unido.



Assim, deixaram aquele local. Edge e Nina perceberam certo ar de nostalgia em Fung. Estava em casa depois de um bom tempo. Nunca souberam nada sobre a família daquele homem. Seu passado era uma mancha em branco nas fichas da MAGNUM. Deixaram aquilo para outra hora e trataram de se prepararem para dormir. O local era bastante pequeno, mas todos conseguiram se arrumar bastante bem. Nina e Julie dormiram em um quarto enquanto Edge, Bran e Fung dormiam em outro. A noite passou tranquilamente embora o diálogo com aquele homem da ordem de transportes deixou todos bastante conturbados.



A manhã logo chegou para todos. Edge e Bran levantaram-se. Fung já havia saído do quarto antes, então trataram de ficar prontos o mais rápido possível. Nina e Julie também já haviam se preparado para sair. Encontraram-se os quatro.



– Onde Fung está?



– Espere. Ele não avisou nenhum de vocês?



Nina logo entendeu. Nenhum deles havia visto Fung sair. Não importa o que tenha acontecido, ele havia desaparecido. Aquilo os deixou desamparados. Estavam em um ambiente completamente novo e sem muitas informações. Julie logo começou a falar:



– Vamos atrás dele, oras!



Bran respondeu, sem muita paciência:



– Não podemos ir a um ambiente hostil, sem comunicação e que não conhecemos bem!



Nina então falou:



– Não é preciso conhecer bem. Eu consigo entender o que sentem, é um começo. Julie, fez o que eu te pedi?



– Claro! Pratiquei ontem tudo o que ouvi, acho que aprendi algumas coisas. Vamos lá.



E assim, saíram. Andavam juntos por meio da multidão. Primeiramente, foram atrás de informações. Julie conseguiu se comunicar de maneira quase aceitável com a população. Um pequeno grupo de mercadores disse ter visto uma pessoa com a descrição exata de Fung se encaminhando para a praça das ordens Incomuns. Ele estava sozinho e se encaminhava com pressa e um olhar sério. Vagaram pela cidade até conseguirem encontrar a praça. Chegando lá, não encontraram ninguém conhecido. Todas as portas estavam fechadas e nenhum Matahariano demonstrava a menor vontade de ajudá-los. Estavam desamparados naquela enorme cidade. Julie então entregou um pequeno pacote para cada um dos outros três.



– Peguem logo! São os transmissores que eu guardei para nós nos comunicarmos em um caso assim. Como estávamos juntos até agora, não vi necessidade. Nesse caso, é melhor nos separarmos e procurar separadamente pela cidade. Eu irei com Nina, só por garantia. Seremos três grupos. Edge, você irá para a praça das ordens Urbanas. Bran, você tem que ir até a praça das ordens Esotéricas. Eu e Nina iremos checar os arredores dessa praça. Qualquer coisa nos informem!



E assim, eles se dividiram. Edge se localizou em pouco tempo e chegou até a área demarcada para si. Rodou sem parar por entre as ruas. Não sabia como se comunicar então tratou de procurar visualmente por Fung. Ele poderia andar pelas ruas a qualquer momento. Era uma figura deveras comum, mas ainda sim, Edge poderia reconhecê-lo. Andou por várias ruas até finalmente encontrar algo favorável. No meio de uma multidão, Fung caminhava rapidamente. Não olhava para trás e seguia sem parar pelas ruas. Edge tratou de seguir a figura e comunicar aos outros.



Bran chegou aproximadamente ao mesmo tempo na praça. Em silêncio, vagou por todas as ruas que cortavam a área circular cercada por estruturas. Seguiu então diretamente norte, procurando entre vielas. Encontrou-se em uma multidão e não conseguiu ver mais nada. Seguiu o fluxo até que percebeu uma figura mais à frente. Fung estava pouco à sua frente. Conseguiu aos poucos abrir espaço para se locomover. Correu em direção à Fung, mas apenas conseguia ver sua figura se perdendo na multidão à frente. Estava indo atrás dele sem hesitar e comunicou todo o grupo.



Nina e Julie caminharam rapidamente pelo local de busca. Comunicaram-se com a população como podiam. As ruas estavam lotadas e havia pouco espaço para se movimentar. Perguntaram de pessoa em pessoa por alguma informação e o máximo que conseguiram foi uma indicação fraca de uma rua próxima. Havia alguém com essas características recebendo um pacote estranho numa rua próxima. Seguiram para lá correndo. Viram a figura no final da rua, se misturando à multidão. Abriram a boca para avisar aos outros dois quando foram interrompidas pelas duas vozes ao mesmo tempo.



– Nina! Fung está aqui, estamos seguindo-o!



Julie ficou levemente assustada. Permaneceriam seguindo a figura que viram e iriam até o fim atrás dela. Os outros dois podiam estar enganados, mas Nina tinha certeza. Aquele era Fung. Julie retirou um pequeno aparelho de um bolso e o ligou. Em pouco tempo, na tela esverdeada que ocupava um terço do aparelho surgiram três pontos luminosos. Um deles era Edge, o outro, Bran. Eles estavam caminhando por entre as ruas e seguiam cada um a figura que acreditavam ser Fung. Julie então percebeu um padrão. Perguntou a uma senhora que se encontrava ali perto e ela, com um ar bastante grosseiro, respondeu que naquela direção estava o campo aberto de Matahari, uma área de vegetação rasteira e que ainda não havia sido explorada decentemente.



Todos caminhavam para o mesmo lugar. Nina logo comentou tal informação para os outros dois que, assustados com tal situação, trataram de continuar seguindo cada uma das figuras. Edge viu aquele homem virar à esquerda e o perdeu de vista. Virou-se naquela direção apenas para encontrar Bran e Nina recém-chegados. Era um cruzamento de quatro vias. Eles vieram de três vias separadas, restando apenas uma não explorada. Após um breve diálogo sobre o que viram, seguiram para o descampado. Andaram por um tempo considerável em uma área silenciosa. O sol havia se escondido atrás de nuvens pretas e a chuva ameaçava cair a qualquer momento. Finalmente, avistaram uma figura no meio do descampado.



Era Fung, de pé, esperando pelos quatro.


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