Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 57
Hunt 56 – Matahari




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Edge acordou. Haviam se passado apenas dois dias desde seu combate. Pensou se queria realmente se levantar daquela cama e acarretar com todo o peso que passou a carregar. Suspirou e se levantou, vestindo-se. Embora os ferimentos fossem profundos ele havia se curado em um tempo bastante curto. Sua vontade de viver aliada à sua constituição cuidou para que tivesse uma recuperação anormalmente rápida. Passara pela porta e decidiu seguir diretamente para se encontrar com Nina. O sabor amargo da derrota ainda ocupava sua boca enquanto seguia para lá em passos calmos. Estava tudo bem desde aquele ataque.

Provavelmente teria uma missão em breve, uma retaliação pelo ataque. Nina precisaria levantar novamente a moral de todos os membros e não havia maneira mais efetiva que convocar os membros para uma missão. Adentrou a sala aonde Nina provavelmente estaria e se viu surpreso. Ela estava sentada em seu trono e logo abaixo dela, Bran, Fung e um conjunto de membros estavam ocupados. Fung parecia explicar algo para todos com muito empenho e vontade enquanto Nina assistia a tudo e prestava atenção em cada detalhe. Ao notar que Edge entrara, seu olhar o percorreu. Ele sorriu e teve outro sorriso de volta como resposta. Ela então falara.

– Fung. Por favor, dê um resumo do que tem a contar.

– Sim, milady. Senhor Edge, vamos começar. Eu observei seu último combate e notei uma coisa incomum. Como sabem, não sou daqui e sim de um pequeno local ao sudoeste daqui. Nasci lá e cresci com parte dos costumes antes de me realocar para esse continente, então ainda tenho lembranças daquela doce época. Como era um local isolado, não desenvolvemos essa cultura que existe aqui, somos um povo diferente. Eu abri mão dos costumes do meu povo para me integrar a essa sociedade e participar dessa organização. Sou de Matahari, algum de vocês conhece tal local?

Bran logo falou, com um olhar nada surpreso:

– Nunca fui até lá, mas ouvi muitos boatos. Matahari é uma gigantesca cidade que ocupa uma grande ilha ao sudoeste desse continente. Tem uma cultura totalmente diferente da nossa. Toda a economia desse povo é isolada apenas para a ilha. Posso até dizer que é um grupo isolado nesse mundo.

– Uma definição bastante precisa. O conselho que cuida de Matahari não aceita estrangeiros facilmente. Tenho em minha mente gravada a frase que simboliza tudo isso. “Não deixaremos que nossa cultura se corrompa”.

– Certo, Fung. Mas no que isso pode se relacionar ao meu combate?

– Calma, Edge. Tenho muito mais a contar. Tenho informantes lá, colegas de infância e pessoas com quem mantive um contato distante, mas existente. Eles me contaram fatos estranhos que irei repassar aqui. Em primeiro lugar, houve uma entrada de estrangeiros, um fato que é completamente incomum. Nosso povo é completamente fechado em si mesmo, para permitirem a entrada de algum grupo de fora é preciso muito esforço ou serem pessoas de importância realmente alta. Em segundo lugar, disseram-me que existem boatos circulando por entre os moradores relacionados às pessoas adquirindo resistência e poderes acima do comum. Alguns dos meus contatos estavam até assustados, acreditando ser alguma espécie de sinal divino. O fato é, essas pessoas estão sendo tratadas como divindades e se escondem do público em algum lugar de Matahari.

– Certo. Então o que diz é que uma base de pesquisa foi colocada lá?

Bran interrompeu novamente:

– É uma jogada extremamente bem pensada. Como é uma cidade isolada, é também bastante segura. Uma vez lá dentro, para que uma força opositora se aproxime será preciso passar pela aprovação do povo de Matahari e por todos os processos acarretados por isso, incluindo até a violência, caso necessário. Além disso, vistos como enviados divinos e passando tais técnicas adiante, eles ganham um grupo de seguidores maior. Mal sabem essas pessoas que provavelmente morreriam nesses experimentos para adquirir tal habilidade. Mas uma coisa fica clara nisso. Existem mais como você por aí, Edge.

– Sim, exatamente, senhor Bran! Em terceiro lugar, eu consegui um pequeno vídeo que me chamou a atenção. Observem cada detalhe e entenderão o que quero dizer.

Fung saiu da sala e voltou em poucos minutos trazendo um projetor. Retirou do bolso um pequeno filme e o colocou na máquina, apertando um botão logo em seguida. Um facho de luz foi disparado por um pequeno buraco naquela estrutura de metal, lançando imagens contra uma parede branca. Após ligar, Fung apagou as luzes e a imagem finalmente ficou clara. Edge podia ver uma multidão considerável enchendo as ruas. Era uma cidade com uma estrutura diferente.

As casas eram interligadas por arcos e não havia nenhuma cobertura de asfalto nas ruas. As roupas daquele povo eram muito parecidas com as de Fung, um corte reto e simples, mas muito elegante. O dialeto lá falado não era entendido por ninguém na sala além de Fung, que estava em silêncio atento às imagens. Um pequeno grupo começou a se mover por entre as pessoas daquele local. Era um grupo diferenciado pelas roupas, embora Edge não fosse capaz de ver quase nenhum detalhe através da multidão.

Foi então que ele percebeu dois rostos conhecidos. Um frio correu pela sua espinha enquanto observou aquelas duas pessoas cruzarem a visão da câmera. Não era uma resolução boa o suficiente para confirmar suas suspeitas, mas Edge já tinha certeza. Ele sabia o que vira. Fung o observou logo, notando sua reação.

– Senhor Edge? Está tudo bem?

– Sim, está. Quando partiremos para Matahari, Nina?

– Edge? Hm. Ainda hoje. Prepararei tudo o que puder para facilitar nossa entrada. Fung, ajude-me no que for capaz, por favor.

– Claro, Milady! Irei providenciar tudo o que for possível, mas já adianto que não será fácil.

Todos haviam se preparado para a viagem. Edge carregava consigo todo seu armamento em uma pequena maleta. Bran, por sua vez já estava pronto desde o momento que lhe foi anunciada a viagem. Nina carregava consigo tudo o que considerava importante, especialmente alguns livros para continuar seus estudos. Julie logo foi chamada para participar dessa operação. Sua habilidade com veículos e sua inteligência seriam necessárias naquele ambiente novo.

Ela tentou até preparar um pequeno dicionário com palavras que Fung a ensinou de última hora, mas acabou desistindo na metade. Iria aprender aquela língua nova apenas com sua mente, sem nenhuma outra ajuda. Talvez aquilo impressionasse Edge, mas ela já o havia superado. Na verdade, simplesmente percebeu que era apenas bobagem de sua mente. Ainda sentia vontade de provocá-lo, assim como seu irmão adotivo, mas guardaria isso para uma hora oportuna.

Estava pronta ao lado de Bran quando Nina chegou. Acompanhada de Fung e Edge, ela estava o mais formal possível. Seria uma longa viagem. Saindo de Puritah, passariam por Belvoir, Southbarrow e finalmente chegariam a Ravenfield. De lá pegariam um transporte naval que haviam conseguido diplomaticamente com a cidade para chegarem a Matahari. As horas se passaram rapidamente enquanto Edge relembrava cada um dos locais pelos quais passara.

Ravenfield era sua lembrança mais forte dessas três. Lembrou-se do sanatório e da ascensão de Nina, deixando de ser apenas uma garota a ser protegida e passando a ser uma parceira extremamente importante. Sorriu e se voltou aos pensamentos. A viagem demoraria.

Uma coisa estava presa em sua mente. Agora existiriam outros como ele. “Como ele”. Essa frase o machucava por dentro. Aquilo só o relembrava que não era como Nina e todos aqueles membros. Ele era especial. Ele era diferente. Aquilo por si só acarretava momentos estranhos com membros novos da organização. Olhares estranhos sempre aconteciam, mas ele era capaz de ignorá-los.

O que o incomodava era a forma como se referiam a ele naquele momento. Edge sabia que não era nenhuma tentativa de ofensa, mas aquilo o incomodava. Tentava esconder o máximo que podia, mas a frustração o perseguia. Tentou parar de pensar nisso, mas não conseguia. Até o momento em que Nina o observou e disse, calmamente.

– Edge. Não se sinta assim. Por favor, confie em si mesmo. Confie em mim.

Aquilo acalmou seu coração. Ela sempre sabia o que falar na hora certa. Ele confiava completamente em Nina. Sorriu e ficou quieto, em paz. O tempo logo passou. Chegaram até o transporte naval bem antes do prazo esperado, graças à direção de Julie. O preço por tal adiantamento foi o enjoo de Fung, que gerou comentários por parte de Bran:

– Fung, não imaginei que fosse tão fraco. Você bebe, por acaso?

Mais tarde, ele não resistiu:

– Fung, você está um pouco esverdeado. Deve ser o transporte. Julie, acelere! Temos que chegar logo para que ele fique bem!

Isso gerou olhares por parte de Fung, mas ele logo relaxou e se divertiu com aquele momento raro de descontração proporcionado por Bran. Ele mesmo ficou silencioso depois daquele momento. Havia deixado passar um momento de fraqueza, um momento em que sua máscara caíra diante daqueles com quem convivia há tanto tempo. O clima parecia bastante bom para todos naquele local.

Chegaram finalmente na embarcação. Todos logo estavam a bordo. Fung conversou com o Matahariano que os levaria até a cidade. Era um homem alto, de olhos finos e uma atitude fechada. Sequer tentou se comunicar com qualquer um além de Fung e ainda sim só usando sua língua própria. Os outros quatro se mantiveram quietos e tranquilos. O tempo passou. O mar que rodeava o continente era bastante agitado, fato esse que evitava que muitos tentassem tal travessia.

Edge observava atento o mar agitado. Dentro de si as águas que há pouco se debatiam tão violentamente quanto a que observava agora haviam parado. Ele estava em um estado mais tranquilo. Sua mente ainda guardava as duas figuras que achou ter visto no vídeo, mas não queria alardes falsos. Iria confirmar tudo com seus próprios olhos. Finalmente, avistaram Matahari. A embarcação se aproximou da costa lentamente, como que esperando uma reação. Nada aconteceu. Ancoraram no porto mais próximo que encontraram. Estava praticamente vazio. Desceram finalmente e encontraram um grupo os esperando, com um olhar sério e nervoso.


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