Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 29
Hunt 28 - Madness




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Lá estava ele, sentado em uma viela. A cruz estava jogada em um canto enquanto ele fumava. Parecia nervoso, tenso. O som em sua cabeça não parava. O tempo parecia passar muito mais lentamente do que deveria. Não tinha noção de quanto tempo se passara desde que fora acertado. Lembrava-se de ter caminhado até essa viela e lá ficado desde então. Segurava o cigarro com dois dedos enquanto lançava no ar uma névoa bastante densa. Fechou os olhos. Sentiu as gotas caindo do céu. Estava começando a chover. Parou e refletiu. Fora realmente descuidado. Mas justo agora que estava tão perto de conseguir o que tanto almejou... Era realmente triste. Soltou um suspiro.

– Ah. Eu mereço.

Sua mente foi tomada por pensamentos dos mais variados. Talvez merecesse mesmo ter essa morte horrível. Ser consumido pela própria loucura. Talvez esse fosse o destino. Destino. Essa palavra ecoou em sua mente por um tempo enorme. Parecia que o som aumentava com essa palavra, numa forma de deboche.

– Tsc. Porquê essa tortura não acaba logo?

Fechou os olhos. O som aumentava consideravelmente. Foi quando ouviu uma voz fraca em meio ao zumbido em sua mente. Ignorou, balançando a cabeça. Abriu os olhos e olhou para o céu. A chuva que caía deixava seu rosto molhado, escorrendo. Sentia todos os pingos separadamente e lentamente. Era como se o tempo tivesse parado. O zumbido aumentara um pouco. Começou então a ouvir novamente uma pequenina voz chamando seu nome. Reconheceu-a.

– Emma? Tsc. Veio se despedir?

Ele novamente fechou os olhos. Estava ficando cansado. A voz de Emma ecoou novamente em sua mente, dessa vez mais forte.

– Não se renda tão facilmente, Bran. Você é mais forte do que isso.

Ele sorriu. Era um sorriso estranho, trazia consigo uma tristeza enorme.

– Não. Eu nunca fui forte, querida. Eu sou apenas um fraco. Um covarde. Sempre fui.

Não era mais possível saber se Bran chorava ou se era apenas o céu chorando. Nem mesmo ele sabia. Olhou para sua cruz. Talvez fosse realmente a hora de deixar todo o peso para trás. Por um momento, aquilo o alegrou. Não iria mais carregar aquela culpa, aquele peso todo. Novamente, ouviu uma voz.

– Não pense que morrerá aqui, maldito. Você tem que sofrer. Tem que sofrer muito mais.

– Cless...? Era só o que me faltava.

E com Cless, outras vozes. Muitas. Era um eco. Um coro de vozes contra Bran. Toda aquela corrente de ódio, todo aquele sofrimento era jogado para fora por meio de frases que ecoavam na mente dele. Não tinha um momento sequer de descanso agora. De todos os cantos de sua mente, ecoavam ofensas. Ecoavam pedidos para que Bran sofresse mais. Ele não merecia morrer assim. Precisava sofrer muito mais. Viver e carregar aquele peso de todos que passaram por ele. Aquilo era o maior sofrimento que ele poderia ter. Uma morte apenas o livraria de tudo. Foi quando se deu conta.

– O som... Eu não o ouço mais...

O coro de todos havia se tornado muito mais alto que o som que deveria enlouquecê-lo. Não sabia se era algo muito melhor, pois tanto ódio acumulado em sua mente também não deveria ter um efeito muito melhor. Sorriu novamente, dessa vez com um tom mais sarcástico.

– Então é a forca ou a espada para mim?

Emma retornara em sua mente e com ela todos os que já passaram por Bran. Todas suas faces foram passando rapidamente na mente do homem que já não sabia aonde prestar atenção. O tempo fora de sua mente havia parado. O cigarro em sua mão já havia caído. Ele havia deixado de resistir. Deixou a maré de ódio vir e varrer tudo. Sua visão se escureceu e sua mente ficou negra. Nada mais era sentido naquele lugar. Foi quando sentiu um toque quente em suas mãos. Abriu os olhos e encontrou Emma. Ela segurava sua mão com um calor que a muito tempo não sabia definir. Sentiu dentro de si um calor enorme. Era como se ela o desse forças. Era algo que ele não sentia fazia um tempo considerável. Afeto. Sorriu e nem sabia o porquê. Acabou por comentar.

– Sua idiota... Mesmo. Eu...

E assim, ela impediu que ele continuasse falando. Deu um sorriso e o entregou algo que parecia um enorme laço. Com isso, os cabelos da garota se soltaram. Ela não estava mais suja e machucada como no dia em que se conheceram e tinha um ar extremamente quente ao seu redor. Era uma garota muito bela, quase um anjo. Ela acabou por falar.

– Nem aqueles que o odeiam querem que se vá. Não é sua hora. Bran, vai ter que esperar mais um pouco para me ver, desculpe-me.

– Tsc. E justo quando eu achei que poderia descansar tranquilo...

Deu um sorriso. Estava triste e alegre ao mesmo tempo, numa sensação controversa, mas bastante boa. Abriu os olhos. A chuva tinha acabado. O som também. Em sua mão, uma fita bastante longa e completamente branca. Ouviu novamente em sua mente.

– Nós o tiramos daí. Ele deve estar por perto.

Bran sorriu. Todos os crimes que cometeu, todas as vidas que tirou... Aquela loucura era dele e apenas dele. Não aceitaria outra loucura. Já tinha seu próprio inferno, aquela criatura não iria conseguir criar outro.

– Vocês todos... Vocês todos que me perseguem... São todos uns idiotas. Porquê não me deixaram ir em paz? Agora vou ter que continuar com isso. Pelo menos vou conseguir terminar o que queria fazer. Obrigado.

A última palavra saiu num tom bem mais baixo que o devido. Bran se levantou. O silêncio era uma benção naquele momento. Pegou em sua cruz. Ela ainda estava leve, graças à Emma. Olhou em volta. Ouviu um barulho considerável vindo do final da viela. O Singer se encontrava lá, atônito. Nunca ninguém havia conseguido escapar de sua tortura mental. Bran achou a cena consideravelmente engraçada. A criatura parecia confusa e atordoada. Fora uma descarga de ódio e sentimentos extremamente alta por parte de toda a mente de Bran, o que fez com que a criatura se desorientasse.

– Eu sou louco demais para você, é isso? Venha. Tente me levar à loucura. Ou será que eu te levarei primeiro?

Bran acabou por rir. O que estava falando? Talvez estivesse realmente louco. O pensamento logo passou por sua mente. Emma surgiu novamente em sua mente.

– Não precisa se aproximar. Escute. Tente amarrar essa fita na base de sua espada.

Bran obedeceu prontamente. A fita ficou exatamente na base, amarrada. Incrivelmente, a espada ficou ainda mais leve. Assim que fez isso, entendeu exatamente o que ela queria dizer. Teve uma ideia fantástica. Concentrou seus pensamentos em todas as frases que escutara e executou um movimento com a cruz de baixo para cima, acertando-a de leve no chão. Uma pequena onda negra surgiu do local aonde a espada atingiu. Bran deixou de sorrir, mas por dentro estava bastante animado.

– Eu vou usar o ódio de vocês muito bem, obrigado. Que esse ódio acabe algum dia. Até lá... Será bem útil usar vocês, malditos!

E com isso, segurou a espada com mais força. Preparou-se novamente e lançou outro corte vertical de baixo para cima. Dessa vez, a onda negra tomou um tamanho bem maior. Arrastando-se pelo solo, ela foi em direção à criatura, que tentou se esquivar. A onda energética a seguiu, atingindo-a em cheio. A criatura lançou um enorme guincho de dor ao ser destruída. Bran sorriu. Viu em sua mente Emma sorrir também. Bran deduziu tudo. A faixa o protegia do ódio que vinha de todos os espíritos que assombravam sua espada. Eles estavam lá, presos. Segurando a espada pela fita, Bran era capaz de aumentar essa energia protetora para a espada, fazendo com que os espíritos fossem atirados para fora, lançando uma energia tão negativa que tomava uma forma física. Era uma onda de ódio puro e se dirigia sempre ao alvo de Bran, usando-se de qualquer ódio que ele venha a nutrir pela criatura para rastreá-la. Seria algo muito útil para o caçador dali em diante. Suspirou, cansado. Sorriu. Olhou para a mensagem em sua espada. Havia mudado. Agora, lia-se em letras garrafais “Purgatorio”. Ele riu. Era um título aceitável. Seguiu para fora da viela. Colocou a Purgatorio em suas costas novamente. O sol ainda estava forte naquele momento. Olhou para cima e agradeceu. Sua loucura era apenas sua, assim como sua vida. Iria carregar aquele peso. Por si mesmo e por Emma, que sacrificou tudo por ele. Sorriu como a muito tempo não fazia.

– Agora preciso encontrar aqueles dois. Temos muitas coisas a conversar.


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