Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 26
Hunt 25 - Song




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Bran havia acordado extremamente cedo. Se levantou da cama, vestiu-se como de costume e saiu do seu aposento. Dirigiu-se diretamente ao laboratório que havia separado para pesquisar sobre as adagas de Edge. Observou-as durante um enorme tempo. Usou todos os aparelhos que dispunha, mas nada parecia ser eficaz. Tentou de várias maneiras, até que observou um pequeno resquício de uma das raízes em uma reentrância da adaga. Foi o que precisava. Deixou aquele fragmento para análise. Foi quando recebeu mais um chamado. Em uma cidade distante, pessoas estavam desaparecendo. Todas alegavam ouvir uma mesma canção em suas mentes antes de morrerem. Bran entendera. Era um Singer. Ouvira falar desse tipo de demônio quando era mais novo. Preparou-se para partir. Pegou sua cruz tranquilamente. Sua mente pesou ao pegá-la, mas sentiu um certo sentimento caloroso ao fazer aquilo.

– Emma...

Dirigiu-se ao meio de transporte designado para a missão. Uma moto. Sabia como dirigir uma. Prendeu sua cruz na lateral da mesma e saiu em direção à cidade.

Uma noite depois, Bran estava na cidade. Desembarcou logo na entrada da cidade, guardando sua moto numa área abandonada à leste do portão principal. Entrou na cidade calmamente. Em alguns becos, pessoas encontravam-se no chão, segurando as próprias cabeças. Eram sem-teto, em pânico. Poderiam ser os próximos. Choravam. Bran seguiu em direção ao contato. Marcaram um encontro em um bar nas proximidades, cujo letreiro era bastante chamativo. “Siren”, em letras consideravelmente grandes, entregava o nome do local. Entrou. Pessoas naturalmente o olhavam com um receio pequeno. Um forasteiro carregando um objeto grande como aquela cruz não era uma visão costumeira. Ignorou todos. Seguiu diretamente para o homem que servia as bebidas no local.

– O de sempre.

– Saindo!

E assim, recebeu um papel do homem suspeito que entregava as bebidas. Era seu informante. Saiu, leu o papel e o fechou. Sorriu. Tinha o endereço da última vítima. Seguiu para lá imediatamente. Era uma casa em uma área bastante pobre da cidade. Ninguém nas ruas. O ambiente era bastante diferente da outra parte da cidade. Embora mais sujo, as pessoas não pareciam ter tanto medo do que acontecia com o garoto. Bran se indignou com a resposta que obteve ao perguntar sobre o porquê dessa falta de medo. Ao que parecia, nenhum deles temia a morte pelo simples fato de não terem o que perder. Bran não conseguia aceitar aquilo. Carregava consigo o peso de tantas vidas, como aquelas pessoas podiam abrir mão daquilo tão facilmente? Bran não tinha essa resposta. Continuou indo em direção à casa do garoto.

– Emma. Você está aí?

– Bran? Olá. Abandone esse peso, já lhe disse!

Bran olhou para cima. Começava a chover. Emma podia ver o rosto dele. Não tinha certeza se o que caía de seu rosto eram lágrimas ou a chuva, mas sentia o sofrimento dele.

– Eu não posso abandonar isso. Pelo contrário. Devo abraçar isso, não é mesmo? Isso sou eu.

Bran continuou andando. A chuva piorava. Estava ensopado quando chegou à casa em que foi designado. Olhou ao redor. Ninguém. A casa parecia abandonada. Adentrou o local em passos perfeitamente silenciosos. Olhou discretamente em volta, virando-se suavemente. Nada. Alguns restos de comida, além de pequenas criaturas como ratos e baratas se esquivavam por entre os restos de móveis. Com um leve suspiro, subiu uma pequenina escada em direção ao segundo andar da construção. Chegando próximo da metade da escada, começou a ouvir uma voz rouca. Seguiu seu caminho tomando a voz como ponto de referência. No segundo andar, várias portas fechadas, mas apenas uma trancada, dando entrada para o que parecia ser uma suíte. Com um chute forte, a porta foi derrubada. Entrou, apenas para encontrar restos do que um dia foi um bonito quarto. O papel de parede havia sido arrancado. Ao que tudo indicava, marcas de unha e sangue. Continuou observando o local. No chão, pequenos pedaços de algo que parecia carne e pele. Olhou com um leve nojo para o ambiente e prosseguiu em direção à voz rouca, que parecia ter se trancado no banheiro. Arrombou também essa porta, apenas para se deparar com uma cena bastante aterradora.

Sentado em um canto, uma pessoa bastante ensanguentada e com os cabelos completamente desarrumados. A voz rouca vinha dela, que tentava balbuciar alguma coisa sem sentido. Os detalhes da pessoa que assombraram Bran. Ela não tinha nenhum dedo da mão esquerda. Agora fazia mais sentido. Ele havia arranhado as paredes com os próprios dedos. Em sua boca, ainda havia um pouco de sangue. Bran tentou evitar cogitar o que aconteceu, mas era impossível evitar. Aquele homem roeu a própria mão. E parecia estar disposto a continuar a se mutilar. Tentava com força evitar que os outros dedos fossem eliminados sentando em cima da outra mão, mas tremia tanto que era visível sua força de vontade. Sua boca continuava a balbuciar sons sem significado. Bran já havia lido sobre essa criatura.

Uma criatura “mental”, alguns costumavam dizer. Ela tinha uma forma física por um tempo muito curto, no qual tem uma aparência bem peculiar: Uma criatura de aparência simples, parecem-se com pequenas hienas totalmente negras, opacas. Seus olhos têm as mais variadas tonalidades. Sua pelugem extremamente dura se assemelha à agulhas enquanto seu sorriso gigantesco e escancarado na face dá uma visão consideravelmente macabra. Pelo menos, era assim que aqueles que sobreviveram retrataram aquela criatura. E só sobreviveram porquê não foram o alvo primário. Uma vez mordidos por essa criatura, ela deixa de existir no mundo físico e passa a existir apenas na mente daquele que atacou. Lá dentro, ela começa a emitir um som constante e terrível. Alguns dizem que é uma canção antiga, mas o fato era bem claro. Essa canção era aterradora, levando aquele que ouve constantemente à loucura. Uma vez que a mente do alvo deixa de ser sana e a loucura reina, o Singer então escapa da prisão mental do alvo, tomando novamente uma forma física e o devorando por completo. Essa criatura que se alimenta de loucura gera a própria comida através de um mecanismo extremamente cruel. Alguns diziam que a canção na verdade eram apenas a criatura rindo do destino cruel que aguardava o portador da mesma. Não importava, uma vez infectado, o alvo era fadado à loucura e finalmente à morte.

Aquele homem que encontrara já estava praticamente morto. Embora resistisse bravamente à loucura, chegou ao ponto da automutilação, aonde Bran acreditava não ter volta. Era deprimente ver algo assim. Sua mente pensou finalmente no fato de ter pensado uma vez em uma atitude assim levando em conta o que viveu. Se orgulhou de sua escolha. Tentaria viver. Não cederia à loucura e ao desespero. Por um momento sorriu, mas logo foi tomado por um sentimento de arrependimento. Se sentiu um hipócrita. Tratou então de tentar aliviar a dor do homem que lá estava. Preparou-se para mata-lo quando a criatura acordou. O homem soltou um grito de dor enquanto seus olhos explodiram em sangue. Um sangue negro. Desse sangue negro atirado no solo, uma criatura pequena emergiu. Crescendo rapidamente até atingir um tamanho considerável de 70 cm do solo. A criatura olhou em direção à Bran e ao corpo do homem. Ignorou inicialmente o caçador, indo em direção ao cadáver. Bran então sacou sua enorme espada. Com um movimento, colocou-a entre o monstro e o corpo. Não queria que aquele homem passasse por mais nada. O Singer eriçou sua pelugem, ganhando um pouco de volume. Sua boca ainda sorria em direção à Bran, que se mostrou levemente apreensivo.

Bran segurou firme em sua espada. Precisaria de espaço. Naquele quarto apertado, não teria como combater uma criatura desse tipo. Olhou ao redor e vislumbrou o que parecia ser uma parede velha. Não hesitou, arremessando a espada contra esse local. A parede se desfez, revelando o ambiente externo. Bran saltou para fora logo após a espada. Como estavam em um ambiente afastado da cidade, a única “presa” possível para aquele Singer era o próprio Bran, então ele sabia que a criatura viria atrás dele. Saltando do segundo andar, executou um rolamento e se levantou, parando do lado da espada cravada na parede de uma construção oposta à casa. Fez um tranco com a mão direita e retirou a espada de lá sem mais demora. A criatura saltou logo atrás dele. Chutou a criatura que vinha aérea em sua direção com um chute giratório para a esquerda. Ela caiu para o lado num baque. Bran arrumou seu sobretudo, tirando a sujeira da queda. Deu um leve suspiro e preparou-se. A criatura logo se levantou e rosnou. Embora parecesse nervosa, ainda tinha aquele sorriso macabro no rosto. Colocou-se então numa posição de ataque, abaixando as patas da frente e preparando-se para um eventual salto. Caso Bran sofresse um golpe, estaria perdido. Preparou-se com cuidado. Atacaria com sua arma tradicional. Perderia em mobilidade mas ganharia em defesa. Não podia arriscar um golpe. Recuou ou pouco, trocando a espada de mãos. Posicionou seus pés separados por uma distância aceitável. Segurava a espada com atenção. Seu olhar era fixo na criatura, que agora começara a se mover, circulando-o. Bran permaneceu atento. Quando a criatura avançou, Bran inverteu a espada, colocando a ponta no solo e segurando-a por cima. Apoiou-a em seu ombro e empurrou a criatura para trás, fazendo-a colidir com a parede de metal que era a espada e jogando-a novamente ao solo. Bran então aproveitou o momento, trocou a forma como segurava a espada e em um movimento giratório de seu torso, girou a espada e desferiu um golpe vertical focado exatamente no meio da criatura. Ela não ofereceu resistência. A espada a cortou no meio facilmente mas ela não emitiu um ruído sequer. Apenas pareceu fazer algo próximo de uma risada.

Bran então sentiu sua nuca quente. Em toda sua atenção não parecia ter notado um fato primordial. Havia um Singer em seu pescoço naquele exato momento. Estava ferido. A criatura que matara desapareceu de sua vista. A outra, em seu pescoço, simplesmente sumiu num piscar de olhos. Foi quando começou a ouvir um zumbido em sua mente.

– Droga...


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