Devil Hunter E - A inspiração de ChrysopoeiaRPG escrita por Cian


Capítulo 21
Hunt 20 - Knight




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Manhã seguinte. Acordaram todos. Edge e Bran não se levantaram. Apenas Nina havia levantado. Mais cedo que o de costume, ela foi para a cozinha. Preparou então um café da manhã para os dois feridos. Claro, ela se sentia culpada. Se não fosse ela, eles não teriam sido feridos. Aquilo a consumia lentamente por dentro. O que ela fez por Edge? O que ela podia fazer para ajudá-lo? Nenhuma resposta. Ela então tentou tirar essa ideia da mente. Subiu de volta para os quartos. Passou primeiro no de Bran. Ele ainda estava adormecido. Deixou a parte dele do café da manhã, e foi para o quarto de Edge. O estado dele era deplorável. Cheio de bandagens pelo corpo, ele estava recostado no travesseiro, sem poder se mover direito. Os ferimentos eram muitos. Mas ele ainda se recuperava num ritmo maior que Bran com ferimentos menores. O motivo, não é conveniente comentar agora. Edge estava acordado quando ela entrou. Olhos fechados, ele abriu levemente, e pôde vê-la suavemente. Era como um anjo. Esse pensamento passou pela sua mente algumas vezes, mas ele insistia em espantar tal pensamento. O pensamento voou longe de volta para a gaiola onde ficava preso a maior parte do tempo. Murmurou algo incompreensível. Nina se aproximou para tentar entender o que ele balbuciava.

– Você... Está salva. Que bom.

– Idiota! Olha o seu estado! Como eu vou... Como eu vou poder olhar pra você assim?! Como vou poder encarar isso?!

– Nina... Eu...Não quero que encare sozinha...

– Idiota!

– Desculpe...

– Idiota! Você não tem que me pedir desculpas! Quem tem que pedir sou eu!

Lágrimas caíam dos olhos de Nina, que lutava para segurá-las em seu lugar. Apertando sua mão contra o peito, ela sentia uma dor inconfundível. As feridas de seu amado, para ela, eram sua culpa. Ela sentia na própria carne a dor de Edge. Aquele seu poder era quase uma maldição. Sentia o sofrimento dele. A tristeza, a dor. Ele sentia também o sofrimento dela, mas não sabia o que fazer. Então, se lembrou do que acontecera enquanto estava resgatando-a. As palavras de Alex voltaram à sua mente.

– Nina... Posso te pedir um favor?

– Diga logo...

– Poderia me levar à Puritah, para ver aquele lugar onde encontrou sua identidade...?

– Está falando daquele quartinho perto do rio?

– Sim... Acho que é lá...tem algo que eu quero saber...

– Ok... Mas antes, trate de melhorar...

E então, ela se retirou. Suas lágrimas rolavam livremente agora. Ela encostou-se à parede ao lado da porta fechada do quarto de Degele desabou a chorar. Chorava desesperadamente. Ela não conseguia se sentir valiosa, nem nada. Ela se sentia um lixo. Então, deitou-se e foi dormir. Bran, que havia acordado, conseguiu escutar o choro da garota. Ele se sentia mais culpado ainda. Ele estava como Nina. Sentia o peso de ter carregado todos os ferimentos de Edge e o coração partido de Nina. Então, o tempo correu. A rotina de todos era a mesma. Nina os ajudava com os ferimentos, eles então tentavam se mover, e lentamente, foram melhorando. Nina fazia tudo isso com muita vontade. Ela queria se redimir pelo que, na mente dela, os fez passar. Eles se recuperaram logo. Edge, em uma semana, estava de pé. Cicatrizes pelo corpo, ele se mantinha firme. Algumas apenas, para constar. Já Bran, que apanhara menos, ainda carregava o mesmo número de cicatrizes que Edge. Essas cicatrizes eram como cicatrizes no coração de Nina. Ela logo os viu recuperados. Seu coração pôde se acalmar um pouco. As cicatrizes em seu coração permaneceram, mas agora não mais pareciam mergulhadas em sal e vinagre. Logo, ela se sentiu cobrada pela promessa. Quando ambos melhoraram, Nina logo relembrou Edge. Ele havia se esquecido da promessa naquele momento. Ele estava preocupado demais tentando afastar a ideia de Nina e ele juntos. Ele também se sentia culpado por Nina. Foi um descuido enorme. Uma falha horrível. E ele pagava essa falha com seu sofrimento, em saber que ela sofria por ele. Ele sofria por ela, e assim continuava esse ciclo vicioso. Logo, ela e Edge se prepararam para a viagem. Bran iria ficar na M.A.G.N.U.M. para monitorar as coisas. Eles saíram cedo. Era uma viagem longa, mas eles estavam dispostos a fazer no menor tempo possível. Edge, por curiosidade. Nina, por medo. Medo de algo desconhecido. Algo que ela sabia que não era bom. Tentou deixar a sensação para trás enquanto seguiam viagem. Carro, estrada vazia, e um casal com um vazio no coração vagando por ela. Com um destino certo, mas sem certeza do que encontrariam, eles seguiram até Puritah. Chegaram lá, e trataram de ir direto para o local que Nina descrevera. Estava exatamente como foi encontrado. Edge adentrou a pequena porta, destrancada como sempre. As estantes de livros, recheadas e as armas estocadas em paredes. Edge ficou pasmo com aquele lugar. Incrivelmente, ele sabia como era aquele lugar. Ele então, por instinto, seguiu para uma das prateleiras. Abriu um livro que encontrara. Ele parecia um livro científico, com algumas runas e envolto em misticismo. Uma mistura de ciência e mitologia. Folheou o livro. Para seu espanto, parou numa página aproximadamente na metade do livro. Era algo que se assemelhava a uma runa de pedra, pequena. Ele a retirou de lá e seguiu para a parede das armas. Algo lá o chamava. Era uma espada grande, colocada de pé na parede. Estranhamente, ela estava presa a essa parede de madeira. Não havia força em Edge para tirá-la. Ele então notou algo surpreendente. Um orifício. Ele não teve dúvida. Colocou a runa lá e esperou. Então, como mágica, o que talvez fosse a espada começou a brilhar. Em alguns instantes, a espada brilhava com uma intensidade enorme, todo o cômodo sumiu diante de tal luz. Logo, ela falhou, e foi se apagando. Então, num passe de mágica, eles estavam em um lugar totalmente diferente. A biblioteca antiga sumira. Agora, algo muito aproximado de um local da Magnum podia ser visto. As paredes, exatamente iguais as daquele lugar. Era como uma dimensão paralela. Então, Edge recebeu uma ligação no seu celular. Era Bran. Ele tinha plantado um rastreador neles, por precaução.

– O quê estão fazendo aqui?

– Onde?

– Na Magnum! E que lugar da Magnum, exatamente? O que é isso tudo?

– Como assim?

– Você estão aqui... Ou não, não estou entendendo, a Magnum não tem essa área aqui no mapa!

– Espere aí.

Edge precisava conferir. O novo local era mesmo parte da Magnum. Pôde observar, em um canto, o símbolo da M.A.G.N.U.M, eles estavam mesmo lá. Então, Nina notou algo à esquerda deles, uma enorme porta. Abriram a porta, e encontraram, logo atrás, uma tela enorme. Era uma sala de vídeo enorme. Pelo que parecia, tinha um filme pronto. Eles então, se aproximaram. A curiosidade de Edge se manifestara ainda mais agora. Ele sentia que precisava ver aquilo. Era algo fora do comum, um desejo primário, nada que viesse de sua mente. Ele então procurou onde ligar o vídeo na tela enorme. Ele então a ligou, o botão se encontrava do lado direito, em uma salinha. Ele adentrou-a e apertou o botão. Então, tudo mudou novamente. Era um lugar totalmente diferente visto dali. Misteriosamente, surgiram pessoas lá. Eram cientistas. Aparentavam ser, pelo menos. Um deles, trabalhava em algo num vidro distante. Envolto em um líquido negro, um corpo pendia lá. Era impossível de se ver dali. Ele então pôde ouvir uma voz falar em um tom autoritário.

– Quero ver esse protótipo pronto logo! O senhor Mynatt ficará muito desapontado com vocês se não conseguirem!

Aquelas palavras tocaram Edge. Senhor Mynatt? Então, Nina teria ligação com a Magnum? O que era tudo isso que passava em sua mente? Ele então decidiu sair da cabine. Deixou-a, e tentou falar com eles. Nada. Eles o ignoraram. Tentou tocá-los, mas ele passou através deles. Eram hologramas. Algum tipo de imagem em três dimensões, eles falavam, era como se ele fosse um fantasma visitando o passado. Ele caminhava por entre eles. O corpo emerso no líquido negro pairava quieto lá. Medidores de todo tipo por toda parte. Ele se virou então, de súbito. Olhou para um dos monitores. Ele monitorava algum tipo de sinal de vida. Era um sistema para verificar a saúde de alguém, ou algo. Ele logo deduziu. Deveria ser o corpo imerso no líquido. Estava vivo, ao que tudo indicava. Ele sentiu algo estranho passar pelo seu corpo. Um sentimento ruim, quase um pressentimento, o atravessara. Ele se afastou lentamente de lá. Conseguiu ouvir algo antes de voltar para a cabine.

– O protótipo sofreu algum tipo de avaria, senhor! Há algo errado com ele! - Chequem de novo! Não é possível!

Foi o que tiveram tempo de falar. O vidro que prendia o corpo se rachara ao meio naquele instante. O líquido vazou pelo chão, deixando uma visão assustadora para Edge. Era ele, de pé, frente a frente, consigo próprio. Um súbito mal estar. Uma náusea, enquanto ele olhava aquele corpo, idêntico ao seu, sair por entre os cacos de vidro, e, sem receio, atacar os cientistas. Todos, dizimados. O sangue de todos eles se misturava ao negro líquido da cápsula. Os que ainda estavam vivos, por pouco tempo, imploravam por salvação. Em cada um, mutilações grotescas. Braços arrancados pelo solo. Eles jaziam mortos, enquanto o corpo em estado de euforia destruía tudo ao redor. Edge ainda conseguiu sair de volta ao local onde jaziam os cadáveres recém-destroçados.

Ele correu, procurando por respostas sobre isso, qualquer coisa que fosse. Procurava uma resposta para essa situação estranha. Revistou cada um dos computadores, destruídos com a fúria daquele ser, e enfim, achou um pequeno computador. O acessou. Ele abriu uma pequena janela de acesso. Requeria senha. Ele então saiu de lá, e foi procurar alguma informação. Procurou em cada um dos lugares dali. Enquanto isso, ele ouvia, ao longe, o som das coisas sendo despedaçadas. Aquele local não era, de jeito nenhum, um lugar em que ele queria estar de verdade. Especialmente por que, por dentro, ele talvez soubesse o quê acontecera. Devagar, vozes preenchiam sua cabeça. Ele relembrava, desse dia. Aquilo não era uma gravação qualquer. Era sua memória de um tempo atrás. Agora, ele tinha mais uma lacuna da sua memória, mas aquilo não era o bastante, não fazia a ligação entre tudo o que ele viu, e a sua memória de infância. Ele então não hesitou, foi atrás do causador dessa destruição toda. Ele próprio. Saiu daquela sala, e foi em direção ao barulho que ouvia. Antes que pudesse se aproximar, ele notou algo que lhe chamou a atenção. Parecia um arquivo de informações. Começou então a ler. Seu coração permanecia acelerado. Eram muitas informações. Parou então em uma parte. Sentiu seu sangue ferver, e logo, sua mente congelou. Não sabia se sentira raiva, medo, ou algo mais. Sentira-se muito mal. O relatório que lera o deixara em estado de choque. Como nunca antes, lágrimas se alojaram naqueles olhos rubros, e despencaram sem parar. O relatório contava tudo. Tudo o quê ele sempre procurara. Sabia quem era agora. Sabia o quê fazia ali, sabia tudo. Há um longo tempo atrás, quando Nina ainda não tinha nascido, o seu pai, Albiore, era o chefe do departamento de pesquisa da Magnum. Nesse departamento, depois de várias baixas de soldados, surgiu um projeto. O projeto, denominado Knight, era de alta tecnologia e visava quebrar um tabu. Ele queria recriar humanos. O projeto logo teve alguns resultados. Conseguiram um avanço razoável. Mas foi com o uso de algo muito mais antigo que eles conseguiram o que queriam. Alquimia. Os cientistas, utilizando de alquimia, junto com a tecnologia, conseguiram criar o primeiro ser artificial. O primeiro homúnculo. Era ele então, um protótipo, com falhas. Não seguia a comandos, apenas podia ser induzido. O seu maior defeito era ter alguma liberdade de pensamento, e não poder ser controlado. Ele então fora rejeitado. Colocado em uma câmara criogênica, ele permaneceu adormecido lá por um longo tempo. Outros protótipos foram surgindo, mas todos eram falhos em algum ponto. Até o dia em que criaram o melhor entre todos. Denominado por todos os cientistas, crentes em seu potencial, de Edge. Apenas não contavam com uma coisa. O homúnculo que criaram era muito mais inteligente do quê pensavam. Logo, ele descobriu exatamente a sua posição. Esse modelo Edge entrou em frenesie destruiu o laboratório inteiro. Edge havia matado todos no local, sem exceção. Então, se encontrou com Labore. Ele, ao notar o que criara, entrou em desespero. Não houve outra coisa a fazer, a não ser reprogramá-lo. Não conseguiu totalmente. Edge o matou pouco depois e desapareceu.

Não haviam mais registros além daqueles. Haviam também registros sobre Nina. A garota foi submetida a testes psíquicos, e acabou desenvolvendo uma sensibilidade para auras, para captar a essência de uma pessoa. Isso a tornou um objeto nas mãos de toda a organização. Ela, filha do diretor, fora exilada da mãe, o único parente vivo. Vivia apenas para os testes e para ampliar seu poder. Ela só se viu livre quando sua mãe secretamente conseguiu fazê-la escapar. O resto dos registros estava apagado. Edge não pôde ler. Mas agora, ele entendera tudo. Não havia um fato sequer na sua vida que fosse realmente dele. O seu único sonho, com seus pais, fora nada mais nada menos que implantado em sua cabeça, como uma forma de gerar um ódio por demônios. Ele fora induzido, desde o começo, a seguir esse caminho. O mesmo aconteceu com o sonho em que vira Nina. Estava tudo programado em sua mente. Sua mente trabalhava contra ele esse tempo todo. Ele nunca foi humano. Nem por um momento. E havia acabado de perder sua errada liberdade. Agora, se sentia um escravo, preso por cordas, correntes e amarras. Não tinha futuro. Sua vida despencara em um momento.

– ISSO NÃO É POSSÍVEL! Por que!?

As lágrimas não paravam de escorrer dos olhos do jovem. Não tinha mais nada para fazer a não ser chorar. Não se conteve. Gritou como nunca gritara antes, um grunhido de fúria e desespero. Não tinha ideia alguma sobre o futuro. Estava arrasado. Logo, a realidade virtual se encerrou. Edge permaneceu estático. Ele fora criado para proteger aquela garota, desde o começo.

– Edge? Está tudo bem?

– SE AFASTE DE MIM!

Edge a empurrou, atirando-a ao chão. Colocou-se então a correr. Correu por todo o local, até achar a saída. Sua mente estava confusa. Seu coração doía. Nina não estava nem um pouco melhor. Via a pessoa que tanto amava em prantos, a tratando assim, não lhe fez bem. Ela não hesitou. Enquanto isso, Edge continuava a correr. Colocou-se então perto de uma árvore. Não continha sua raiva. A socava com uma intensidade nunca antes imaginada para ele. Nunca sentira algo tão ruim, mas ao mesmo tempo tão forte. Ele ficou por horas naquela mesma árvore. Esmurrou tanto a árvore, que suas mãos já estavam cobertas de sangue. Foi quando Nina chegou. Chorando, ela o entregou seu colar, e disse apenas:

– Vá.

– O quê?

– EU ESTRAGUEI SUA VIDA! SAI LOGO DAQUI! SE EU NÃO TIVESSE NASCIDO, VOCÊ NÃO TERIA PASSADO POR NADA DISSO! EU...! EU...! E-

Edge não conseguiu tomar outra atitude. A abraçou com todas suas forças. A criança não tinha culpa de nada. Ela era mais uma vítima. A abraçou como nunca antes o havia feito. Agora, seu coração doía mais que tudo, mas não conseguia negar esse abraço.

– Nina, eu... Eu não sou...

– Não diga mais nada. Se você não é, o quê nós somos?

– Você é humana. Eu não.

– Você tem certeza disso? Eu discordo. Eu sinto, aqui, que você é humano.

Edge sentira um calor, uma esperança tomando seu corpo. Sentira que, talvez, por um momento, o quê ela dissera pudesse ser verdade. Aproximou-se do rosto dela, e com delicadeza, ia juntando ambos os lábios com os dela, quando parou. Ele não podia. Não era nem humano. Afastou-se, com muito cuidado. Ela não hesitou. Com cuidado, puxou-o de volta e o beijou. Edge não resistira mais. Estava envolvido naquele momento. Logo após o beijo, eles deram as mãos.

– Se eu fui feito para te proteger... Quer dizer que você é a coisa mais importante pra mim, querendo eu ou não. Pode ser que eu tenha sido programado pra isso... Programado para cuidar de você, mas...

– Isso não é algo que se diga depois daquilo, é?

– Bom. O quê eu estou tentando dizer é...

– Não diga. Não ainda.

– Mas vamos passar por isso juntos. Prometo-te isso.

E assim, eles seguiram para dentro do carro, e foram embora. Ambos com o coração em migalhas. Mas agora, tinham um o coração do outro. Foram marcados para se encontrarem, desde o começo. Seria então, isso o quê Edge sentia? Ele tinha dúvidas em sua mente, dúvidas demais. Fora lá para saber quem ele era. Agora, deixava aquele lugar um Edge sem nome, sem ideias, sem futuro. Ele recuperara seu passado, mas ao custo de todo seu presente, e de sua liberdade.


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