Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 13
— Sølv For Ord




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Você sabe que eu morreria pela crença

E eu juro pela espada em minhas mãos,

Que a soma da dor e do sofrimento,

Não é nada comparada a

Riqueza obtida e o espírito de Deus pode se expandir.




O inverno havia assombrado todas as terras possíveis e visíveis, mas Rose tinha que admitir que aquele pequeno acampamento nas profundezas de uma floresta entre arbustos que, um dia, tanto escutara ser assombrada por maus espíritos que não tinham mais lugar naquele mundo de um Salvador, habitavam famílias. Agora, ela podia notar que eram estúpidas aquelas especulações sobre um mundo mau. Não havia aquilo… Aqueles bárbaros eram mais civilizados do que muitos civilizados que vira quando visitara Milzis.

E ela se sentiu bem ali. Sentiu-se acolhida enquanto andava lado a lado com Dimitri e Masha, que comentava animadamente sobre aquele lugar.

– Nós estamos criando um novo mundo, revivendo aquele que muitos deixaram para trás por medo – ela dizia, e a expressão contente em Dimitri fazia com que algo bom remexesse dentro da garota. Ele se sentia em casa, também. Talvez, até mais do que ela. – Tudo o que fazemos é proteger os nossos… Caçamos, servimos à Rod… Você entende, certo? Não queremos ser civilizados por uma igreja hipócrita. Eles… Bom… Eles pegaram algumas meninas e as violentaram! Levaram-nas como escravas! Como acreditar em um povo assim? Quando são realmente bárbaros!

Rose se sentiu espantada. Ela nunca compreenderia como pessoas como Padre Gerhard faria algo dessa forma! Pessoas que pareciam-lhe tão boas… Tão firmes em amar aos outros! Ela quase não acreditou… Mas alguma coisa, nos olhos de Masha dizia-lhe que era verdade. Dizia-lhe que havia muito mais daquilo… Quase como se a própria tivesse sido vitima de tal coisa e, ao olhar para Dimitri, soube que este pensou o mesmo.

Ele apertou o ombro de Masha suavemente, com um sorriso tão suave quanto.

– Bom – ela simplesmente exclamou em contentamento, escondendo para si aquela expressão e olhos tristes. Estes agora, seguiram até um grupo de pessoas, sentadas ao redor de uma longa fogueira, onde, no centro, assavam um javali gigantesco. Masha parou ali perto, apontando então para os dois novos convidados. – Estes são Dimitri e…

– Rose – a garota informou, um tanto acanhada.

– Sim… Rose! – Masha continuou, com uma felicidade invejável. – Dimitri e Rose são meus convidados… Eu espero que estes sejam seus também, que sejam bem vindos e que sejam respeitados. Eles ficarão conosco durante o tempo em que desejarem… Afinal, não abandonamos família.
Uma salva de exclamações receptivas soaram. Homens grandes, de cabelos gigantescos enlaçados ou trançados sobre seus ombros ou pelas costas, de barbas espessas e olhares que anunciavam que haviam matado mais do que poderiam contar nos dedos ou lembrarem-se. Estes soaram felizes… Estes soaram com uma receptividade encantadora.

Alguém levantou um caneco de sidra que cheirava forte naquela distância em que eles se encontravam dos outros e ofereceu a Dimitri e a ela.

– Sejam bem vindos! – este exclamou divertidamente. Era mais velho, um pouco mais velho que seu pai, Rose notou. Tinha uma longa barba loira e grisalha, trançada e presa com algumas fitas de couro. Aquele era todo seu cabelo. Uma cabeça sem nenhum fio, e uma sobrancelha que trazia uma cicatriz consigo, do supercílio à pálpebra e um pouco mais nas proximidades da têmpora esquerda. Ele parecia mau, Rose notou… Apenas um bárbaro malvado. Apenas parecia… Seu olhar tinha uma leve cinzenta doce e quente recepção. Quase como quem recebe familiares que não vê há muitos anos. Este
aproximou-se, enrolando um braço ao redor dos ombros de Rose e Dimitri, amistosamente. – Sou Górki! Sintam-se em casa, amigos!

Rose sorriu amplamente, contente pela recepção. Dimitri, todavia, permaneceu cauteloso, embora não fizesse menção de perigo, e esboçasse um leve sorriso.

– Devem estar cansados… A esta hora da madrugada, deviam estar viajando há um longo tempo. Venham – disse Masha, apontando por cima do ombro. – Vou levá-los a um aposento… Poderão descansar.

– Ou não – Górki soltou uma piscadela em direção a Rose, em uma dupla intenção. Rose corou, a ponto de abrir um leve sorriso envergonhado. Ao notar isso, Górki gargalhou divertidamente.

Rose enlaçou-se em Dimitri, quase que escondendo-se atrás do homem, enquanto seguiam Masha em um silêncio profundo.

Chegaram até um amontoado de barracas feitas de palha e bambu. Eram simples e bonitas — com toda a sua simplicidade. Masha apontou para dentro, sob uma cortina grossa de tecido que lembrava uma manta. Sorriu carinhosamente ao olhar para os dois ali.

– Espero que esteja bom para vocês… É simples, mas…

– Está perfeito – adiantou-se Dimitri. Rose concordou com a cabeça e um sorriso dócil.

– Boa noite – disse a loira, passando pelos dois de forma rápida, quase como se saltitasse.

Rose então virou-se para Dimitri, parecendo um tanto que exausta. Tirou sua capa rapidamente, pendurando-a sobre seu braço, caminhando pelo pequeno espaço da barraca, não era tão pequena quanto esperado, mas tinha suas limitações. Havia uma esteira de palha trançada ali, com alguns punhados de cobertores, uma jarra de água e um copo feito de argila. Rose seguiu até a esteira e sentou-se, depositando sua capa ali. Dimitri permaneceu em pé, olhando-a carinhosamente, e, após hesitar, aproximou-se da garota, sentando-se ao seu lado, enquanto tirava as botas e deixava estas em um outro canto, junto com sua espada e punhais, mas sempre os deixando por perto.

– Eles… Eles não têm problemas com dormirmos juntos? – a garota perguntou, acanhada. Dimitri levantou seu rosto, fitando-a com um leve sorriso, maior do que qualquer um que esboçara desde que chegaram aquele lugar.

– Eles não têm essa ilusão, Roza… Boa parte deles têm mais de uma mulher. E não é como se fossem casados como são em Milzis ou nos outros lugares… – explicou ele.

– Oh – foi tudo o que ela disse, ainda acanhada. – Vejo que você e Masha se conhecem há… bom, muito tempo…

Outro sorriso surgiu no rosto do homem, ainda maior.

– Sim – concordou. – Crescemos juntos em Baia. Ela é como uma prima, para mim… Como aquela que ensinamos a caçar, manusear uma espada…

– E o que aconteceu?

– Sua família foi levada de lá quando o rei proclamou sobre religiões. A Igreja chegou lá e sua família foi crucificada… Você sabe, eles não aceitaram ser domesticados e fugiram de lá… Depois disso, nunca mais os vi. Embora eu acredite que ela tenha ficado por lá por alguns anos antes de vir para essa região.

– Então acredita que ela tenha alguma notícia de sua família? – perguntou Rose. Dimitri a fitou, havia uma expressão profunda, quase beirando a esperança. Sim, ela notou. Ele tinha esperanças de que Masha pudesse lhe dar boas notícias sobre sua mãe e irmãs. Ela sorriu para ele, aproximando-se e beijando-o levemente nos lábios, acariciando os fios escuros de seu cabelo com amor. – Não tarde a procurar por notícias…

Este então sorriu, satisfeito pelo o que ouvira. Aproximou-se da garota, segurando-lhe a face com as duas mãos e beijando-a levemente, até que tornou-se mais firme do que o esperado por ela. Este a deitou sobre a esteira de palha, acariciando seu rosto e admirando-o com uma ternura sobrehumana.

– Eu estou feliz – comentou ele, de forma simples. – Independente do que aconteça, eu quero que saiba que fez de mim o homem mais feliz da face da Terra, Rosemarie...

– Fiz? – ronronou ela, dando espaço para os lábios de Dimitri que vagaram para sua garganta, beijando-a lentamente, de forma provocativa. Os dedos encravados da garota segurando as omoplatas dele, puxando-o para mais perto.

– Sim... – sussurrou ele, contra sua pele. – Deixe-me mostrar mais sobre isso...



[...]

O cheiro fresco de chá invadia a pequena tenda onde os jovens se encontravam enlaçados. Aquela era uma das poucas vezes em que Rose vira Dimitri dormir tanto. Sorrindo levemente, ela endireitou-se, cobrindo-o com um pouco de tecido de seu próprio casaco de couro e esta vestiu-se com sua capa.

Caminhando para fora da tenda, avistou Masha, sentada junto com algumas outras mulheres, ao redor da fogueira. Ela tinha uma expressão firme, coisa que Rose notara estar sempre em seu rosto, como uma máscara cravada na carne desta.

Ao aproximar-se, a loira sorriu amplamente, convidativa.

– Bom dia – Rose cumprimentou às mulheres ali, que corresponderam-lhe igualmente educadas, cada uma, carregada por seu próprio idioma ou sotaque. Masha deu um leve tapinha ao seu lado, indicando para que a morena se sentasse ali. E quando o fez, puxou-lhe uma caneca de chá fumegante. Rose a aceitou de bom grado, se perguntando como eles conseguiam lidar tão bem com o frio. Muitos ali vestiam apenas suas camisas de tecido fino e seus coletes de couro. As mulheres vestiam vestidos de couro, e cabelos presos em tranças bem feitas. Todavia, Masha não se enquadrava nisso.

Não que esta não fosse feminina — longe disso — Masha era feminina, de sua maneira. Essa tinha olhos grandes e azuis, de um profundo olhar de longos cílios loiros, quase esbranquiçados. Suas maçãs do rosto eram altas e bem feitas, e seu sorriso era perfeito em seus lábios finos.

Ela dava a impressão de que a beleza poderia ser exótica e perfeita. Vestia calças de couro e camisas com coletes, como os homens. Mantinha uma espada sempre perto e levava consigo braceletes de couro. Seu cabelo era desgrenhado e pálido embora fosse extremamente liso, solto ao redor do rosto e ombros, um pouco acima da quadril. Quase como um manto selvagem. Ela era profunda, uma guerreira e sua expressão e postura diziam isso claramente. Era ela quem comandava aquele lugar, era ela quem estava sempre a frente de batalhas e comunicados. Não era à toa que Rose e Dimitri estavam vivos; simplesmente, porque Masha era quem comandava aquele lugar, dava voz e vida. Ela era a personificação de uma deusa guerreira. E Rose quase invejou isso.

– Dimitri ainda dorme? – perguntou Masha, de forma tranquila, enquanto bebericava de seu chá quente.

Rose concordou, dando um tanto de atenção ao seu fumegante chá. Logo, levantou seu rosto, para fitar a loira ali.

– Para onde estão indo? – ao notar a expressão de Masha, reformulou. – Desde pequena, eu escuto que vocês são como nômades. Sempre em movimento, sempre indo e vindo, para proteger seu pessoal... Então, para onde estão indo quando este inverno não for o suficiente para protegê-los?

Masha sorriu, enigmaticamente.

– Não costumamos dizer para onde vamos, sinto muito, querida... – respondeu, levantando-se e fazendo um leve sinal para que Rose a acompanhasse. Compreendendo, a garota se levantou, seguindo a loira.

– Sinto muito, não... Não quis ser intrometida – desculpou-se.

– Estamos em tempos difíceis, Rose – disse, num sotaque semelhante ao de Dimitri. – Estamos todos em perigo aqui. Há sempre mortes por onde passamos... Meu povo está sempre em perigo... E eu sempre preciso protegê-lo.

– Pelo o que vi, faz um excelente trabalho – comentou Rose. Masha sorriu, como quem acha graça de algo e é educado demais para rir abertamente. Masha parou então, ambas próximas à árvores, talvez Freixo, Rose não sabia dizer, devido ao estado invernal da árvore. Masha era alguns pés mais alta do que Rose, o que fazia a garota ter de olhar para cima.

– Deixe-me ser sincera com você, Rose... – disse ela, de forma dura, tal como uma
líder. – Meu povo está morrendo... E eu preciso de aliados. Dimitri é um forte aliado. E eu preciso que ele esteja comigo nisso... Você entende?

– Sim – murmurou a garota. – Só não entendo o porquê de você não ir até ele esclarecer isso e pedir-lhe ajuda.

Masha sorriu então, o que fez Rose lembrar-se de um felino. Ela era uma predadora no final do dia.

– Eu irei – prometeu. – Mas eu preciso que me ajude nisso... Este é o povo dele, também. Mas Dimitri esteve tão concentrado em consertar erros que não foram exatamente dele, que esquece de uma outra luta. A real luta... Enquanto ele planta os joelhos no chão e reza para quem quer que seja que não irá escutá-lo, pessoas morrem. A família dele morre dia após dia. Nós não nos renderemos a uma religião que não é nossa e não desistiremos de lutar pelo o que é nosso... Viemos primeiro, é nosso lugar e estamos perdendo isso.

Rose ponderou, cruzando seus braços sobre o peito, impassível. Ela sabia que aquilo era verdade. Sabia que Masha tinha razão sobre as mortes de inocentes. Afinal, ela mesma havia visto isso antes, com vizinhos que tiveram a casa queimada apenas por não seguir a fé de outros. Via como sua própria mãe teve sua fé, de sua terra natal, arrancada de si. Rendeu-se à um deus desconhecido apenas por medo. Pessoas estavam fazendo isso... Pessoas estavam fazendo o bem apenas por medo. Medo de um castigo maior... Medo do que poderiam encontrar em seus caminhos. Medo de serem acusadas de bruxaria apenas porquê usaram um remédio vindo de plantas, receitas de família, gerações e gerações.

Isso era ser pagão? Isso era ser bárbaro? Querer seu lugar de direito?

– Eu não posso prometer-lhe nada – disse então. – Mas eu farei meu melhor para ajudar nisso... Para ajudá-los.

O sorriso vencedor que Masha abrira fora revigorante, fazendo até mesmo Rose sorrir. A loira parecia uma simples jovem, não muito mais velha que a própria Rose.

– Eu realmente agradeço isso, Rose!

[...]

– Como é? De jeito algum! – a indignação na voz de Dimitri era quase como um golpe. – Você tem ideia do que está me pedindo?

Rose remexeu-se, desconfortável. Claro que sabia o que estava pedindo a ele, só não sabia que receberia tal resposta. O russo andava de um lado para o outro no pequeno espaço entre aqueles carvalhos. Suas pegadas gravadas na neve sob eles. Punhos cerrados e olhos ferozes. Parecia que havia um animal pronto para ser libertado dali, e não havia nada de bom naquilo, notou ela.

– Eu não sou pagão! Eu não irei contra a Igreja... – ele disse, sua voz dura. Muito dura.

– É o seu povo! – Rose exclamou, indignada. – Eles pedem sua ajuda... E não é como se...

– Eu posso não ter sido o melhor servo ou ter me dedicado tanto assim a qualquer causa, mas eu não farei isso, Rose! Nem por você, nem por ninguém!

– E por você? – questionou ela. – O que ganhaste servindo a eles? O que ganhastes com todo o sangue que traz nas mãos? Você se esquece que todas as vezes em que fecha seus olhos lembra-se deles…

Dimitri fitou-a, e em um instante, Rose quase não o reconheceu. Havia uma raiva ali, uma tão profunda, tão pulsante que fez com que a garotas e encolhesse. Ele afastou-se, quebrando total contato visual com esta e fitando o chão. Seu lábio inferior tremia.

– O que está dizendo? – ele perguntou, sua voz sombria. – Você acha que eu não os vejo todos os dias? É como se estivessem comigo a todo tempo, que cada um que morreu me visitasse todas as noites, me amaldiçoando por estar vivo e feliz. Como se não tivesse direito disso… E eu não tenho, Rose. E simplesmente não posso abandonar tudo o que consegui daquele lado por conta de uma batalha que está perdida… Grupos como estes não irá render muito. Viverão sob a vista grossa dos maiores e quando menos esperarem serão mortos. Mulheres, crianças… Todos eles. Você me propõe que eu deixe você viver esse tipo de vida, deixar que tenhamos filhos assim? Eu não quero estar perto quando as coisas piorarem.

– Mas eu estarei – disse Rose, levantando-se. Uma audácia inspiradora, fazendo-a parecer mais velha, mais segura. – Eu permanecerei. Queira você ou não… Sabe a quanto tempo essas coisas vêm acontecendo? Quantas pessoas vêm morrendo? Não há lugar no mundo para eles… Para nós… Quando os Cavaleiros te encontrarem, eles manterão você vivo, mas e o resto?

Ele riu dessa vez. Sem nenhum humor, olhando além da garota, para as árvores congeladas e cobertas de neve.

– Acha que eles te manterão viva? – retrucou ele, numa voz ríspida, baixa. – Sabe o que eles fazem, Rose? Sabe o que farão conosco quando descobrirem que nem sequer casados somos e que eu servi, desisti de qualquer coisa para servi-los e então fugi com uma turca e vivo entre bárbaros? Se tivermos sorte, nos matarão rápido. Eu não teria de assistir você sendo violentada por cada maldito preso, assassino, monstro que eles aprisionam… Eu já vi isso antes, Rose… E eu não quero ver novamente. Não com os que amo.

Rose aproximou-se deste, levantando o rosto do homem entre suas mãos quentes, fazendo-o olhá-la nos olhos. Toda a fúria deu lugar ao amor e calor que ela sempre encontrava nos olhos deste ao olhá-la. Ela acariciou seu rosto, sobre a barba por fazer que crescia cada vez mais.

– Não irá acontecer novamente, Dimitri… Nós ficaremos juntos. Mas não deixe de ajudar a outros apenas por medo de não poder nos ajudar… – ela sussurrou. – A essa altura, temos uma boa tropa de homens mercenários contratados por meu pai com ajuda de até mesmo o diabo, nos caçando… Eu não estou desistindo de viver numa praia com você e nossos filhos… Eu só estou me certificando que possamos chegar vivos e à salvos lá.

Dimitri pôs suas mãos sobre as da garota que segurava seu rosto, apertando-as levemente. Não havia nada animador ou esperançoso em seu rosto, mas havia amor em seus olhos. E para a garota, era o suficiente.

– Por que não vamos agora? Se estivermos na estrada, um pouco depois do amanhecer, estaremos comprando uma pequena casa e algumas ovelhas. Poderemos ficar bem… Se alguma coisa acontecer a você, Rose… Eu poderia morrer.

– Eu amo você, compreende? – a garota murmurou, sorrindo um tanto emocionada. – Eu iria com você ao meu lado até mesmo para o inferno. Para o fim do mundo, desde que estivesse comigo…

– Você está concordando comigo? – ele sorriu, quase satisfeito.

– Sim – ela sorriu, pondo-se nas pontas dos pés, para então beijá-lo.

– Belikov? – uma voz soou, dura. Ali, encostado não muito longe do casal, estava um alto homem, o mesmo que empunhara a foice noite passada. Ele tinha profundos olhos azuis, perigosos como uma serpente. – Poderíamos falar um instante?

Dimitri olhou para Rose, como quem procura por concordância e essa, por vez, assentiu. A garota aproximou-se, pondo-se na ponta dos pés para sussurrar no ouvido do homem.

– Estarei pegando os cavalos – beijou-lhe a face suavemente e afastou-se, deixando que os dois homens ali conversassem.

Alexander observou se afastar, olhos atentos como de um predador e isso incomodou Dimitri. Ele coçava a barba rala com as pontas dos dedos, tinha uma expressão tão compenetrada e cautelosa que — instantaneamente, pôs o russo em estado de alerta.

– O que quer? – perguntou o moreno.

– Masha falou comigo… – começou o loiro, umedecendo os lábios rachados pelo frio. Se não soubessem melhor, poderia até dizer que Alexander e Masha tinham algum tipo de parentesco.

O russo cruzou os braços, esperando pela continuação das palavras do bárbaro. Quase esperava que este puxasse sua foice e apontasse para Dimitri. Ele não confiava em Alexander e era claro que era reciproco.

– Sobre o seu problema e o fato de você ter estado na guerra com aqueles… – mordeu a bochecha por dentro, em claro sinal de desgosto. – Bom… Você ser um templário…

– Ex-templário – Dimitri corrigiu, ainda cauteloso. – Eu só não entendo porque isso é um real assunto de discussão.

– Você poderá nos ajudar a lidar com isso! Você, melhor do que ninguém entende o que se passa lá… Acredito que Masha tenha lhe dito sobre as coisas que acontecem para com as mulheres… As crianças…

– Sim – concordou Dimitri. – Mas eu não faço mais parte desse universo… Eu estou fora completamente.

Alexander soltou uma gargalhada fria, uma que Dimitri compreendia. Sabia bem o que o loiro viria a dizer.

– Não te contaram que nunca realmente sai desse mundo? – Dimitri olhou ao seu redor, procurando por vestígios de Rose. Nenhum.

– Não preciso que me diga. Eu entendo, todavia... Eu saí. Tenho outros problemas para me preocupar do que com o fato de que deixei minha espada e servidão à Deus.

– Meu irmão era um templário... Como você – Alexander levantou um dedo, apontando aleatoriamente enquanto caminhava em pequenos círculos, sentando-se enfim sobre um tronco de alguma árvore atormentada pelo inverno. Incapaz de mostrar suas folhas e frutos. – Ele morreu, sabes? Mas bom... Não porque foi para a guerra e morreu lá como a maioria... Alguns anos depois de caminhar para Jerusalém com os outros, Yvan foi capturado por alguns templários como ele... Eles caçaram-no... Por toda a Jerusalém e até a Rússia. Mataram-no na minha frente. Eles disseram claramente, quando chegaram em sua casa, derrubaram sua porta e viram sua esposa e filhos... Eles disseram-no que ninguém nunca deixava a Cruzada por conta de uma vida normal, boa... Eles mataram sua esposa e filhos, na sua frente. E isso me faz pensar em que tipo de deus eles servem... Me faz pensar sobre o quão perverso o homem é... Apenas com pouca autoridade, eles
matam e estupram mulheres e crianças e velhos...

Dimitri descruzou seus braços, de uma forma cansada e defensiva.

– Não são todos assim... Existem pessoas boas lá. Pessoas realmente boas.

– E onde elas estão? – reclamou Alexander. – Porque eu vaguei por toda a Europa, matando homens maus, homens que machucaram crianças... Moças como sua Rosemarie... Eles não tiveram piedade alguma.

– Estavam sendo mortas por vocês, também – retrucou Dimitri. – O irmão de Rose, mesmo... Foi morto em batalha, não teve oportunidade de provar se era bom ou não.

Claro, devido aos últimos acontecimentos sobre a história de Mason, Dimitri se tornava suspeito em dizer sobre qualquer coisa que viesse ao nome dele. Mason, até onde ele conheceu era bom... Este mesmo Mason havia amado Jillian, como mesmo havia alegado milhares de vezes, mas... No entanto, esta mesma Jillian havia alegada ser estuprada pelo homem que a amava. O que fazia Dimitri pensar — milhares e milhares de vezes ao ir dormir — sobre o quão tenuê é a linha entre o bem e o mal.

– Não foi só isso que veio dizer, afinal – apontou Dimitri então, procurando pela mudança do assunto. Alexander esboçou um sorriso enigmático.

– Eu não sabia se contava a você ou não... Mas... – deu de ombros – Há um homem procurando por você, por toda a região e tabernas. Procura por você e a garota... Mas procura mais por você. Ele até me ofereceu algumas moedas para dizer onde você estava...

Dimitri congelou quase que completamente. Qualquer máscara escorregou de seu rosto.

– E o que fizeste? – perguntou.

– Nada – exclamou Alexander, parecendo ofendido. – Eu não o venderia por miseras moedas de prata. Eu só…

Dimitri não se conteve. Imaginar que Ibrahim poderia apanhá-los, imaginar que ele poderia matá-lo ou matar Rose era terrível. Independente de que esta fosse sua filha… Havia coisas que não podiam ser remediadas depois de feitas e um ato assim era um deles. Por mais arrependimento que Ibrahim pudesse sentir depois. Ele era sombrio e astuto, ele era perigoso… Aquilo sempre esteve exposto em seus olhos frios — tais como os de Dimitri. Porque, Dimitri sabia o que ele era capaz. Assim como sabia que por muito menos, bárbaros venderam outros.

Antes que pudesse policiar qualquer atitude, ele avançou sobre Alexander, segurando-o firmemente pela gola do colete de couro. Um gosto amargo em sua boca e uma amarga sensação queimando em seu peito.

Simplesmente, ele soube onde procurar. Talvez porque a sacola de couro estivesse pesada demais em seu cinto, sob a camisa de pano grosso. Ele levantou seu punho, jogando-o firmemente com muito peso sobre a face de Alexander, fazendo com que a cabeça deste fosse para trás em um ângulo estranho. Mas ele se recuperou bem, embora ainda estivesse atordoado. E então Dimitri o socou outras vezes, repetidamente.

– Oh, Deus… – a voz de Rose soou horrorizada, principalmente, ao ver o sangue escorrendo por toda a face do loiro ali, quase desacordado. Ela se aproximou, segurando então Dimitri pelo braço, tentando afastá-lo do homem. – Por favor… Dimitri! Pare!

Este não a respondeu, parecia entretido demais e chacoalhar o homem e gritar-lhe coisas desconexas, em um idioma desconhecido para ela.

– Pare! – continuou gritando, sacudindo-o em vão. Até que em um desses momentos, Dimitri tentou soltar-se do aperto da garota, empurrando-a para trás. Fazendo esta cambalear até cair sobre a neve.

Como um balde de água fria, Dimitri então parou de chacoalhar Alexander, soltando este para cair sobre a neve, desacordado. Ele virou-se para Rose, desesperado.

– Rose? – ele chamou-lhe, segurando a face delicadamente. Parecia outra pessoa. Aquela na qual Rose conhecera, só não sentia-se totalmente segura novamente. – Roza? Me perdoe…

Ela fitou-o, seus olhos rasos de lágrimas. Seus lábios tremiam, devido às lágrimas e o frio.

– Me perdoe… – ele tornou a pedir, sua mão coberta de sangue, tocando-a levemente. Rose reprimiu um gemido de dor e medo. – Está tudo bem… – ele puxou-a para mais perto e esta abraçou-o apertadamente, cravando seus dedos e unhas em suas omoplatas. – Está tudo bem…

– O que… O que aconteceu? Por que…? – ela começou, mas suas palavras se calaram quando então escutaram o som dos cavalos não muito longe. Nas proximidades do acampamento. Uma gritaria soou.

Então Dimitri soube que Alexander havia dito-lhe tarde demais. Ibrahim provavelmente o havia encontrado e não estava sozinho.




Eu descanso meus olhos

Em campo aberto

Uma linha prateada

Para os portões do paraíso

Minha mente é vaga.

É um estado, eu sei.

Um local sagrado

Onde tudo o que eu vejo é ódio

Fortaleço a minha mente

Para reter minha ira

A força selvagem

Que vive dentro de mim.


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