Wojownikiem escrita por liljer


Capítulo 12
— Nowy Dom, Stary Dom


Notas iniciais do capítulo

Estou viva! Ok, ninguém se importa ;3
Bom... Desculpem tia Ju pela demora. Estou com o tempo muito apertado... Incrível como 2014 tá passando tão rápido! D:
Mas enfim... Obrigada a todos pelo tempo de espera, desculpem-me também! Sejam bem vindos novos leitores, sejam re-bem vindos os antigos também!



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"Inverno está se aproximando

Tempo para ir ou ficar

Eu vejo jornadas de migrantes

Para um mundo distante

Refletido em águas negras e você

Torna prados verdes em cinzentos

Você pode sentir o inverno esperando?"

A neve encobria todo o solo daquele terreno, algo que deixou Ibrahim contrariado. Toda a neve não o havia ajudado em nada com seus negócios. As casas vizinhas ali, não estavam tão diferentes da dele, encobertas pela neve espessa e o cheiro quase fúnebre da falta de vida e alimentos, embora estas tivesse sido abandonadas. Muitos daqueles que habitaram aqueles casebres outono passado, agora haviam partido, pouco depois da volta de alguns cavaleiros da batalha assim como outros haviam ido apenas por causa do inverno.

Aquele era, realmente, um inverno rigoroso. Ele não se lembrava da última vez que vira um assim, onde houvesse boatos de corpos encontrados soterrados pela neve, sendo alimento de animais selvagens.

Alguma coisa chamou sua atenção, em sua visão periférica. Sentada na pequena varanda, ele avistou a filha enrolada em um xale grosso e quente, fitando as árvores congeladas e sacudindo-se na cadeira de balanço que ele havia feito anos atrás, quando a garota era apenas um bebê assustado, vindo da Turquia com seus pais e irmão.

Os olhos desta pareciam tristes demais. Quase como se toda aquela graça que estes haviam tido dias atrás desaparecesse. Ela estava realmente abatida e ele tinha que admitir que — embora não quisesse — sabia o real motivo para a falta de vida que estes olhos castanhos dela.

Ele havia expulsado Belikov de suas terras há alguns dias, ao avistá-los juntos, os dois de mãos dadas, e sorriso apaixonado espalhados em suas faces. A forma como o homem olhava para sua filha era quase que perturbadora. Porque ele sabia o que significava. Sabia que, muito em breve, a ideia de ambos fugirem e casarem-se surgiria, assim como surgiu entre Janine e ele. E ele não podia permitir. Principalmente, porque sabia o que aconteceria em seguida, em tempos como aqueles.

Era óbvio que Belikov não poderia dar muito a ela, não poderia dar-lhe uma vida boa, como qualquer pai almejava para sua filha. Ele podia ver os dois vivendo de uma pequena horta e um dia, Rose notaria o quão infeliz ela era. O quão pouco tinham para seus filhos.

Ele nem ao menos conhecia a história ou família do rapaz! E embora tivesse conhecido a terra deste, sabia o quão miserável esta era. O quão destruído as coisas provavelmente estavam por lá. Havia encontrado um velho amigo, dias atrás, vindo da Rússia que lhe contara detalhadamente, sobre como a pequena Baia estava em miséria. Em como as coisas iam de mau à pior.

Se ele se desse ao trabalho de contar ao rapaz a suposta miséria que sua família vivia, provavelmente este iria direto para casa, cuidar de sua família. Ajudá-la. Mas não podia… Não quando sabia o que sua filha faria; Não quando sabia que a possibilidade de Rosemarie fugir com ele para a Rússia era tão grande.

– Rose... – chamou numa voz arrastada, carregada pelo sotaque natal. A garota não olhou em sua direção, não se deu ao trabalho de mover nenhum músculo a favor do pai, apenas endurecera a mandíbula. – Você precisa olhar para mim! Não há remota possibilidade de eu permitir que você viva em miséria com este homem!

A garota olhou-o, uma expressão próxima ao desprezo e desespero estampados ali. Abe quase desejou que esta não o tivesse feito. Ele então viu a lágrima escorrer pelo rosto, o que o deixou impotente. Ela levantou uma mão e enxugou esta, levantando-se em seguida. Abe quase repetiu que aquilo iria passar com algum tempo. Logo, ela iria encontrar um marido decente. Casar-se, ter filhos e viver plenamente; feliz.

Mas preferiu manter-se calado, enquanto assistia a filha distanciar-se deste, caminhando em direção a porta do casebre e desaparecendo por lá. Ele então notou que enquanto esta se fugia para dentro de casa, se distanciava ainda mais dele. E doeu.



[…]




Havia uma curiosa e triste movimentação em Milzis. O cheiro de que algo realmente grande estava por acontecer. O que fez Dimitri se afundar ainda mais naquele espaço pessoal e fúnebre que mantinha juntamente à sua cidra forte.

Ele desejava que Gerhard ainda estivesse ali nas proximidades, para que, assim, pudesse ajudá-lo da melhor forma que pudesse. Mas não estava. Aparentemente, o velho homem havia partido para Roma mais cedo do que o esperado.

Dimitri não sabia exatamente quantas canecas cheias daquela cidra forte havia tomado, mas não parecia ter sido o suficiente para fazê-lo apagar naquela maldita mesa. Levantou-se desta, jogando algumas moedas sobre o tampo de madeira rústica e afastando-se, em plena miséria.

Ele não conseguia entender completamente como havia chegado aquele estado. Simplesmente, uma hora, havia estado com Rose, sob o carvalho quase congelado das terras de sua família e outra, Ibrahim estava em cima dele, empurrando-o com força contra a árvore, afastando-o da garota. Ele ainda podia escutar o grito de horror que Rose esboçara ao sentir seu pai empurrando-a para longe e ir de encontro ao chão úmido e escorregadio.

– Maldito seja o dia em que seu irmão morreu! Maldito seja o dia ao qual eu permiti que este homem entrasse em minha casa! Que desonrasse toda minha família, meu nome! – Ibrahim gritara para a filha, enfurecido. – Maldito seja o dia no qual nascera, Rosemarie! Em que carreguei-a nos braços e prometi que seria uma mulher de fibra! Eu não vejo isso... Eu vejo miséria! Você está arruinando a si mesma! Está nos arruinando!

– Ibrahim! – a voz chorosa de Janine soara, enrolada em um xale, pálida e desesperada. De nenhuma maneira, a mulher sonharia em ver tal cena. E, principalmente, quando ainda chorando, Abe puxara de trás de suas costas uma vara de bambu, levantando seu braço, e lançando-o para frente, em direção a filha. Mas antes que alcançasse, Dimitri, instintivamente, agarrou seu pulso, segurando-o com força. Impedindo-o de continuar.

Os olhos de Rosemarie se tornaram pratos rasos de tão assustados e grandes. Seu pai nunca havia levantado-lhe a mão. Nunca. Até aquele momento.

– Por favor, Ibrahim! Pare! – gritou Janine, tomando a frente da filha, puxando-a para trás de seu corpo, para protegê-la.

– Largue-me! – o turco gritou para Dimitri, enfurecido. – A culpa é sua! Solte-me agora!

– Dimitri, solte-o... – Rose pediu, sua voz dura. Fria. Assim como o olhar que lançara em direção ao pai. E ele o fez após hesitar, embora este nunca fosse de hesitar.

Ibrahim demorou alguns instantes para recuperar-se. Não tornou a levantar sua mão para a filha que se encontrava abraçada a mãe, que chorava. Havia uma frieza tão profunda no rosto de Rose que impressionou até mesmo ao moreno, que apenas aguardou que esta se desesperasse e começasse a chorar. Mas não o fez. Em momento algum.

– Eu quero que vá embora das minhas terras! Agora! – Ibrahim disse, virando-se para Dimitri. – Eu não o quero próximo a minha filha. Eu não o quero perto de minha família... E se, realmente tem um misero de honra que mentira ter, saberá nunca mais voltar aqui. Nunca mais olhar em direção a ela!

Dimitri não soube o que dizer e, apenas olhou nos olhos castanhos e assustados de Rose, que implorava para que este não partisse. Para que não aceitasse tal coisa. Mas havia alguma coisa ali, alguma coisa na qual Dimitri não compreendia plenamente, que lhe dizia que o melhor a ser feito era partir.

Assentiu uma vez, apanhando do chão o xale escuro e grosso da garota e entregando a esta, ignorando ao homem que tremia de raiva ali. Lançou um rápido olhar em direção a Janine, como quem se desculpasse. Então caminhou para longe, não conseguindo olhar nos olhos da garota.

E até aquele momento, ele não sabia se realmente conseguiria.

Aquela sensação de fracasso fazia com que a vontade de se afogar em algo se tornasse ainda maior. A vontade de se deitar sobre aquela neve e ser coberto até que não pudesse mais respirar, não tivesse mais como. Ou como se a bebida fosse outra melhor forma de saída. Perguntou-se quando aquela sensação iria embora. Poucas vezes na vida sentira.

Ele havia falhado…

Balançando a cabeça com certo descaso, ele caminhou até seu cavalo negro, vendo seus passos marcarem o chão, grandes pegadas.

Acariciou a cabeça do animal, que reclamou do frio com uma baforada em seu rosto, o que o fez sorrir.

– Tenho sido bem negligente com você – comentou com o animal que o fitou, com olhos inteligentes. – Vamos arrumar um lugar para passarmos essa noite…

O animal pareceu concordar, logo, Dimitri montou-o e cavalgou até uma das velhas pensões ali. Uma que havia estado antes de ir para o casebre de Gerhard, na paróquia ali.

Não era muito mais distante da casa dos Dragomir, que parecia tão quieta e silenciosa. Perguntou-se como estaria Jillian. Como esta andava lidando com as coisas. Mas ele sabia que com ela, podia se surpreender.

Ao chegar à pensão, desmontou o animal na cocheira suja, amarrando-o ali e assistindo o animal servir-se de um pouco de feno. Logo, afastou-se com um rápido adeus. Alugou um quarto em seguida, um no final das escadarias ali.

O cheiro de neve e madeira velha enchiam o ar, assim como o mofo daquele lugar. Dimitri quase sentiu repúdio, mas ele sabia que aquele era o único lugar para dormir naquela noite. Mesmo que a janela daquele quarto entrasse ventanias e o assustaria durante o sono e sentisse animais passeando pelo quarto como inimigos e pequenos demônios que sua avó, Yeva, costumava atormentar-lhe na infância para que dormisse cedo e não levantasse da cama. Costumava funcionar perfeitamente com suas irmãs e ele.

Suspirando pesadamente, sentiu que o cansaço começava-lhe a atormentar profundamente. Precisava dormir… Embora arranjar alguma solução para seu problema fosse tão importante quanto dormir. Mas tinha uma pequena centelha de esperança de que os anjos ou demônios ou espíritos dessem-lhe alguma resposta durante o sono.

Deitou-se na cama, com um barulho pesado do corpo igualmente pesado sobre o colchão velho e fino. Desconfortável, pensou. Mas tão logo, estava dormindo.

Mais tarde, acordou com um leve arranhar em sua porta. Algo que seria imperceptível para qualquer um, mas não para ele. E tudo o que ele teve certeza fora que tratava-se de um ladrão. Levou sua mão para de baixo de seu travesseiro, agarrando prontamente um punhal de um pouco maior do que seu antebraço.

Podia sentir a pequena personificação aproximar-se no escuro quarto, quase que se arrastando pelo chão de madeira. Era pequena e coberta por uma capa escura, cobrindo seu rosto. Dimitri manteve seus olhos fechados — esperando por qualquer ataque que sabia que logo viria.

Quando a personificação aproximou-se ainda mais, o suficiente para poder tocar-lhe o rosto ou acertar-lhe com o punhal, Dimitri puxou este, trazendo o corpo pequeno do invasor para perto da cama, puxando-o para baixo em um movimento preciso. Este fora imobilizado pelo corpo do russo, sem conseguir mexer seus braços, pernas, apenas a cabeça, que não podia chegar perto o suficiente para acertar-lhe qualquer golpe.

A cabeça encapuzada do agressor levantara, fazendo com que o tecido pesado e escuro caísse, deixando o rosto corado à mostra.

– Rose? O que faz aqui? – Dimitri ralhou, sua voz pesada. Ela torceu os lábios, em desgosto e dor. Notando isso, Dimitri afrouxou o aperto em seu corpo, fazendo-a jogar sua cabeça contra os travesseiros não tão macios. Os cachos escuros e desgrenhados desta caindo em cascatas sobre o tecido clado da cama.

– Eu escapei… – ela sussurrou, sua voz pesada. Dimitri não sabia o porquê, mas estava perto o suficiente desta para sentir seu cheiro e o cheiro dos seus cabelos e aquilo já lhe era alguma coisa.

– Eu pensei que… Que seu pai tivesse-lhe forçado a…

– Eu não podia ficar lá… Não quando não pertenço mais aquele lugar… Eu não… – ela suspirou de uma forma pesada, que soou mais como uma lamúria que surtiu certo efeito no homem acima dela, como se apenas aquele suspiro o fizesse ter noção de como seus corpos estavam próximos. Em como ela se parecia mais com uma ninfa do que uma garotinha de língua afiada e desobediente; e aquilo fez com que algo queimasse no estômago de Dimitri. Profundamente.

– Por que está aqui? – tornou a perguntar ele, sentindo-se relutante em deixá-la ir.

– Eu não quero viver sem você – ela murmurou. – Eu vi como você se sentiu covarde em ter de ir embora. E eu o odiei por ter ido. Mas meu pai estava certo sobre uma coisa: as coisas não podem continuar da forma que estão. E eu não quero que continuem…

– E o que você sugere? – Dimitri resmungou, numa voz dura, soltando a garota de qualquer aperto. Havia uma voz que lhe perguntava o por quê de estar fazendo aquilo; o por quê de não mandá-la de volta para casa e desaparecer para sempre. Porque ele sabia que Ibrahim estava certo em coisas… E embora tivesse havido um grande exagero da parte dele, havia razão ali. E aquilo o magoava, claro… Mas magoá-lo parecia mais certo do que magoar Rose.

– Não faça essa cara! – a garota exclamou, de forma dura. – Eu abandonei tudo lá. Eu não voltarei, Dimitri… Nunca. A não ser que esteja casada com você! Eu não quero estar casada com mais ninguém além de você!

Dimitri virou-se para ela, sua expressão profunda. Havia algo ali que ele não compreendia. A felicidade que enchia seu peito por escutar aquilo. Então, aproximou-se da garota, segurando seu rosto entre ambas as mãos, beijando-a docemente. Os lábios quentes de ambos se misturando em uma doce canção, como harpas vindas do céu.

Quando ele se afastou desta, beijando sua têmpora e encostando sua testa contra a dela, ele teve certeza, mais uma vez — como se já não tivesse certezas o suficiente — de que ali era onde devia estar. A palavra lar era algo relacionado a onde se deve estar, com quem se deve estar… E ele estava; estava com Rose.

A garota tornou a puxá-lo para outro beijo, desta vez, enlaçando seus braços ao redor do pescoço deste, puxando-o para cada vez mais perto. Seus dedos acariciando o emaranhado feito pelos lençóis que eram seus cabelos. E quando a respiração lhe faltou e os lábios doeram pela intensidade do beijo, ela dedicou-se a escorrer estes pelo rosto de barba mal feita do homem, tracejando beijos até sua mandíbula, escorregando até sua orelha, mordiscando esta levemente.

– Quero ser sua… Eu quero você… – ela escutou o baixo lamurio que lembrava-lhe um suspiro, vindo dos lábios entreabertos de Dimitri. Este afastou-se, acariciando o rosto da garota, colocando uma mexa atrás de sua orelha. Os olhos castanhos cobertos pela paixão viva, os lábios entreabertos e avermelhados, como se pedissem para serem provados.

– Você tem ideia do que está dizendo? – aquilo soou baixo, mas profundo. Havia incerteza ali, havia uma dor quase palpável. A garota assentiu uma vez, sorrindo levemente, acanhada.

– Estaremos casados em breve… – ela comentou, sorrisos largos brotaram em seus rostos, cúmplices. – Eu não quero esperar por algo que tenho certeza…

– Oh, Roza… – ele choramingou, enterrando seu rosto na curva do pescoço da garota, aspirando o cheiro ali, embriagando-se. Nenhuma bebida na qual provara mais cedo o fizera esquecer do mundo como o cheiro dela, como a forma em que ela o mantinha próximo.

Ele então tornou a beijar-lhe a garganta, de forma quase provocativa, fazendo então um leve suspiro escapar dos lábios desta. Os dedos trêmulos cravados nas omoplatas nuas dele.

Ele a puxou para sentar-se, desta vez, desatando o laço da capa que esta usava. O grosso tecido foi jogado no chão, enquanto suas atenções iam para o vestido verde escuro que ela usava. Os dedos dele deslizaram para as costas, desatando os laços dali, deslizando o vestido por sobre os ombros dela, deixando à mostra a camisola branca, de mangas compridas. Suas mãos então tornaram a empurrá-la carinhosamente de volta ao colchão, inebriada pelo contato e pela mágica do que estava preste a fazer.

Assistindo-a agora, Dimitri se lembrava da vez em que a vira desnudar-se, no celeiro da terra de sua família, a forma como assistira quase sem pudor expor suas pernas, em como se sentira ao ver. Em como tivera vontade de acariciá-la. Agora, ele se permitiu, tirando da garota as pequenas sapatilhas de couro e deslizar sua mão pela perna macia, coberta por finos e macios pelos. Ele aproximou-se desta, beijando sua pele quente, e assistindo ao rosto da garota enuviar-se com a simples carícia. Ele então tornou a tirar-lhe as peças que faltavam.

Excitado, deitou-se sobre a garota, equilibrando seu peso sobre esta, acomodando-se entre as pernas desta de forma simples, cautelosa. Seus lábios famintos procuraram pelos dela, num beijo furioso e provocativo.

As mãos que acariciavam-lhe os seios volumosos com uma malícia intoxicante e excitante foram as mesmas que lhe tocaram os cabelos, colocando-os para fora de sua testa e rosto. Os mesmos dedos que tracejaram carinhos pela espinha, quando livrara-se completamente de qualquer tecido, foram os mesmos que deram abertura ao sexo vil, grande que parecia rasgar-lhe inicialmente, mas que trouxera prazer depois, fazendo-a gemer e chamar seu nome de formas diferentes. Todas elas apenas aumentando a sensação de estar onde devia estar.

Quando terminaram, deitados em lençóis, suados e saciados, Rose por fim sentiu-se capaz de encontrar sua voz. Alguma coisa havia mudado completamente. Alguma coisa na forma como via tudo. Parecia certo…

– O que o prende a Milzis? – perguntou ela, apoiando-se nos cotovelos, para poder olhar o homem ali. Ele sorria, brincando com uma mexa do cabelo desta. Olhou-a, surpreso.

Dimitri então ponderou sobre todas as coisas nas quais havia feito ali: em apenas poucos meses, havia noivado, quase casado-se com uma garota que fora vitima de mentiras de seu amigo; ajudara pessoas fantásticas, que lhe deram casa, comida e amor… Como uma verdadeira família faria; e, por fim, apaixonou-se perdidamente pela garota a sua frente.

Obviamente, não era preciso ser dito muito mais. Era óbvio para qualquer um.

– Você – a resposta foi simples e cheia de uma certeza tremendamente encantadora.

– Então vamos partir – ela disse. – Quando meu pai levantar notará que não estou em casa… Que escapei… Ele nunca me aceitará de volta. Nada me prende a este lugar, Dimitri… E eu quero partir… Talvez, um lugar ao mar.

– O mar? – ele murmurou, ignorando o peso que sentia por fazê-la desistir de tudo. Apenas sorriu, incapaz de apontar sobre a atitude tomada por ela. Principalmente, quando ela se encontrava em seus braços. Quando se encontravam tão felizes.

– Sim… – ela sorriu e logo suspirou. – Eu não lembro dele, mas lembro do cheiro… Eu quero estar lá… Eu quero estar lá, com você…

Dimitri endireitou-se, sentando-se na cama e encostando suas costas à cabeceira, para que assim, pudesse olhá-la melhor. E era a melhor visão que poderia ter. A visão de sua Rose. O que apenas o fazia ter mais certezas do quanto a amava.

– Você tem certeza disso? Você sabe… – ele hesitou. A garota aprumou-se na cama, com um sorriso fácil; preguiçoso como um felino. Mas independente de qualquer decisão, ele sabia que precisava ser sincero para com ela. – Bem, eu precisarei voltar para a guerra a qualquer momento… Você sabe que eu provavelmente irei morrer em um campo de batalha, que um dia eu não voltarei para você. Você tem certeza de que é isso o que quer, Roza?

O sorriso fácil, como o de um felino desaparecera dos lábios dela e uma expressão séria tomara conta do rosto delicado e amável. Rose agora parecia dez anos mais velha. Tanta certeza...

– Eu quero me casar com você... Eu quero ter uma família com você. Eu quero filhos que tenham o seu queixo, o seu nariz... Os seus olhos, que sorriam como você. Seu cabelo... Seu coração. Eu quero assistir eles brincando entre si, próximos à nossa casa junto à praia, eu quero contar a eles o quanto eu amo você. Eu quero que as coloquemos para dormir todos os dias, e após isso, façamos amor, e eu durma em seu peito, em seus braços. Que você sussurre para mim que eu sempre serei a única na sua vida. A única que sempre irá amar. Quero que nós envelheçamos juntos, e contemos para os nossos netos sobre nossa história.

– Mas…

– Eu não quero ter que rezar todos os dias para que você volte vivo de uma batalha – ela continuou, como se nunca tivesse sido interrompida. – Eu quero rezar a Deus para que fiquemos vivos por muitos anos, juntos. Que eu continue amando você da mesma forma como o faço agora. Mas que se você partir para a guerra, que volte. Que me aperte em seus braços e me diga que voltou por mim, Dimitri... Diga que me ama, e que sempre irá me amar. Porque se hoje eu acredito na existência de um Deus, é porque essa a única explicação de você estar comigo, nesse momento. E que eu te ame tanto quanto agora.

– Isso parece loucura… – embora sua voz fosse séria, havia um sorriso ali. Ele inclinou-se para frente, para então, beijá-la. – Eu te amo. Eu sempre vou amar…

[...]



Tudo o que podia-se ouvir eram os sons emitidos pelos cavalos e as respirações pesadas por conta da neve e ar frio de Rose e Dimitri. Os cavalos iam tão rápido que a qualquer momento, pensaria a garota que estes iriam voar.

Rose não sabia quanto tempo cavalgavam, mas sabia que era muito tempo. Todavia, quanto mais o faziam, mas parecia que a terra prolongava-se. Reprimiu a necessidade de pedir para que parassem.

Havia alguma coisa latejando em sua mente, desde que partiram da pequena pensão em meados da madrugada, com seus cavalos e poucos suprimentos, que algo estava por acontecer. Ela apenas pedia internamente para que não passasse de uma impressão boba.

Ela sentia seu corpo doer, suas coxas reclamarem profundamente pelo tempo sobre o cavalo e o tempo na cama com Dimitri. Sabia que tinha uma marca roxa ali, mas preocupava-se mais com o fato de chegarem a qualquer destino, sãos e salvos.

Intimamente, ela se perguntava se seus pais já haviam se dado falta dela. Esperava que não, já que logo teria certeza de que estes mandariam pessoas atrás deles, caso o próprio Ibrahim não partisse em busca dos cavalos e deles. Ela sabia que, caso seu pai os encontrasse, as chances de manter Dimitri vivo eram baixas. Ele o mataria, sem nenhum remorso e aquilo a entristecia profundamente. Isso se o próprio não a matasse.

Embora amasse seu pai e soubesse que este a amava infinitamente, sabia que a necessidade de honrar seu nome e mantê-la digna era mais importante para ele do que sua felicidade. O que vinha a ser engraçado, já que seu pai quem sempre a mimara e fizera todas as suas vontades. Aquela era a prova de que as coisas não eram sempre como pareciam ser.

Ela ainda se lembrava nitidamente da mãe dizendo-lhe entrelinhas para que fugisse e fosse feliz. A que ponto as coisas foram chegar?

– Está tudo bem, Roza? – a voz de Dimitri infiltrara-se nos devaneios dela, puxando-a de volta para a estrada congelada. Como resposta, ela apenas assentiu, com um leve sorrisinho. – Estamos perto… Logo pararemos, descansaremos de verdade, ok?

Embora ela não tivesse respondido, Dimitri sabia perfeitamente que não era sobre cansaço que a deixara deste jeito. Sabia que, na realidade, era por causa de sua família. Ele alcançou sua mão, apertando-a levemente.

Eles podiam sentir que logo o sol nasceria. Podiam sentir que estavam perto… Tão perto. E essa sensação era tão boa… Próxima ao alívio… Só que não total. Perto não era lá. Perto não era à salvos.

Foi quando viraram um cruzamento de árvores, em direção a uma pequena clareira cheia de morugens, madressilvas, pequenas aveleiras em crescimento e musgo, que Dimitri notara alguma coisa. Não sabia dizer o que era. Um leve assoviar do vento, um leve farfalhar de folhas e galhos no chão. Alguém pisando-os, notou.

– Rose… – silvou ele baixo, em direção a garota que o olhou atenta, quase aterrorizada. – Temos companhia… Quando eu disser para correr, vá…

– Mas… – ela abriu a boca, mas se calou sob o olhar firme do homem. Por fim, assentiu em concordância. Ela tinha noção de que as chances dele escapar eram mais altas do que as dela. Ela não tinha nenhum tipo de preparo como o dele, mal sabia manusear uma espada. Era melhor com arco-e-flecha, mas não havia nenhum ali.

Ela assistiu Dimitri alcançar um punhal em seu bolso e passá-lo sorrateiro para ela, que o guardou sob a capa, apertando-o firmemente. Por fim, este alcançou sua espada, segurando-a pronto para empunhá-la.

E então, aconteceu. Mais rápido do que o imaginado, cerca de oito pessoas surgiram na frente destes, trajando vestes de couro e um longo cabelo trançado até abaixo de seus joelhos, sob o capuz negro, escondendo seu rosto, um alto homem empunhou uma grande espada, diferente de qualquer uma que Rose tivesse visto. Era grande. Muito grande. Sua ponta era curvada para o lado, como uma foice.

E então, outro alguém pulou sobre o cavalo de Rose, sob suas costas, puxando-a para trás, pressionando uma pequena faca, do mesmo formato da espada em forma de foice do homem ali na sua frente. Ela podia sentir o quão afiada essa faca era.

– Se mover um músculo, a garota estará morta – o homem com a grande foice disse numa voz profunda.

E de repente, todos os animais ao redor fizeram silêncio absoluto. E então, ouviu-se o som da espada ser puxada de dentro da bainha. Não fora Dimitri. Fora Rose e esta trouxe contra seu agressor, desviando-se dele pela surpresa que causara.

Esta pulou do cavalo, pisando em falso ao alcançar o chão. Dimitri sentiu-se quase orgulhoso, se não soubesse que aquilo havia sido estupidez. Em resposta, fez o mesmo, puxando então o pequeno homem que havia pressionado uma faca contra a garganta de Rose. Este soltou um leve lamurio em uma língua desconhecida para a garota.

– Não deveria ter feito isso… – outro resmungou, este segurava um arco-e-flecha, apontando-o para a garota. – Abaixe seu capuz! – gritou para Rose, que ainda segurava a espada de forma defensiva.

– Por que eu faria isso? – exigiu ela, em um resmungo.

– Porque se não o fizer, acertarei você – respondeu-lhe.

– Abaixe… – a ordem veio de Dimitri, dura. Ela então o fez, exibindo seu rosto e a raiva deste.

– Você também! – gritou o grande homem de trança longa e foice gigantesca. Hesitando, ele o fez com uma mão, ainda segurando o pequeno homem com a outra e pressionando uma adaga contra a garganta deste, de forma precisa. Mais precisa do que o mesmo havia feito. – Seu rosto é familiar… De onde vem?

– Não lhe diz respeito – retrucou o russo, rudemente. O sorriso sob o capuz do alto homem brilhou, divertido.

– Matem-nos! – ordenou este, como um simples bom dia. Rose sentiu seu corpo tremer levemente, amedrontada. Sabia que se este grupo quisesse matá-los, o faria. Bárbaros que seus pais tanto quiseram e evitaram. Sua família fugira da Turquia para esconderem-se destes e agora morreria por eles.

– Parem! – uma voz soou, uma feminina. Uma mulher surgiu de dentro dos arbustos, empunhando uma foice como a do homem de longas tranças, exceto que menor. Ela tinha uma postura de líder e Rose quase suspirou em alívio. Quase.

A mulher caminhou até a frente do cavalo de Dimitri, uma expressão curiosa sob o capuz. Então, esta o abaixou, revelando grandes olhos azuis e longos cabelos loiros, quase tão longos quanto os do homem ali. Ela sorriu para Dimitri, apoiando sua foice sobre o ombro, numa postura despreocupada, medindo-o.

– Olhe só… Se não foi realmente os ventos de Dolja quem o trouxe! Dimitri Belikova! – exclamou ela em contentamento. Uma sobrancelha se ergueu em desconhecimento, uma expressão curiosa de Dimitri. – Por Rode! Não se lembras de mim, certo? Masha! Masha Volkodav…

Reconhecimento brilhou nos olhos castanhos do russo e este então soltou o pequeno homem que pressionava uma faca contra a garganta. Um largo sorriso brilhou no rosto deste, e em seguida, pulou do cavalo, em direção a mulher que deixou a foice de lado, para abraçá-lo fortemente.

Quando afastaram-se, mediram-se, dos pés a cabeça. Um sorriso satisfeito nos lábios de Masha.

– Venham… – ela disse, apontando em direção a Rose, com um sorriso cordial. – Vocês são meus convidados.

Dimitri caminhou até Rose, colocando seu braço ao redor de seus ombros, em um meio abraço, pegando as rédias dos cavalos ali e levando-os logo atrás deles. Rose riu nervosamente. Um instante atrás, teve certeza de que morreria e agora, era convidada de bárbaros. Eles seguiram aos outros, em direção a arbustos, para então, um extenso acampamento engoli-los.


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