A Batalha Do Labirinto - Brittana escrita por Ju Peixe


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Boa noite! Cap. gigante, mas importante. E obrigada pela recomendação!



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Após mais uma boa caminhada, chegamos a uma sala com várias cachoeiras. As paredes eram de pedra, com alguns detalhes mais escuros. Era bonita, de certa forma, mas ao mesmo tempo era medonha. A água escorria pelas paredes e caía diretamente em um poço, que eu não conseguira ver o fundo. Eu tinha a impressão de já ter visto este lugar, talvez em meus sonhos.

- Este poço vai direto para o Tártaro. – Briares choramingou. – Eu deveria poupá-los de tanto trabalho e ficar por aqui mesmo.

- Não seja medroso. – Marley cortou. – Joe arriscou sua vida para salvar você. Não ouse a fazer nada estúpido.

Arqueei uma sobrancelha ao ouvir a garota se pronunciar após tanto tempo. Briares se encolheu, mas parou de choramingar. Vi um pequeno sorriso no rosto de Quinn e seguimos em frente.

- E-eu não posso continuar. – Briares disse, parando repentinamente. – Desculpe, menino ciclope. Mas eu não tenho um dedo-revólver para ganhar esse jogo.

Dito isso, ele recuou até desaparecer. Joe ficou com o olho verde cheio d’água, e eu prontamente abracei seus ombros.

- Ei grandão, está tudo bem. – murmurei. Eu não era muito boa em lidar com pessoas, principalmente se elas estavam chorando.

Joe apenas fungou e assentiu. Continuamos a caminhar.

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Após cerca de meia hora, resolvemos parar para descansar. Parecia um local seguro o suficiente, mas ainda assim eu decidi que começaria montando a guarda.

Quinn foi a primeira a pegar no sono. Ela atirou a mochila no chão, deitou a cabeça no meu colo e em menos de dois minutos dormia profundamente. Joe ficou brincando com alguns pedaços de metal que tirou de sua mochila, com um olhar tristonho no rosto. Pensei em dizer alguma coisa, mas eu certamente acabaria piorando.

- Como está? – Marley perguntou, sentando-se ao meu lado.

- Bem. – respondi. – Só quero encontrar Santana logo. Este lugar me dá calafrios, não gosto da ideia de que ela está sozinha lá fora. E você realmente deveria dormir um pouco.

- Não se preocupe comigo, eu me viro. – Marley disse, dando de ombros. – E vamos encontrar sua namorada em breve. Sinto que ela está perto.

- Você sente o cheiro dela ou algo assim? – perguntei, arqueando uma sobrancelha. – Porque isso é meio estranho.

- Não. – Marley riu. – Eu só enxergo a trilha com mais nitidez. Você é estranha, Britt Pierce.

Dito isso, ela aconchegou-se na mochila e dormiu. Fiquei mais um tempo acordada, antes que o sono me vencesse e, mesmo contra a minha vontade, acabei adormecendo, caindo em um sono agitado mais uma vez.

Sonhei que estava de volta à prisão de Dédalo. Parecia mais como uma oficina agora. Mesas estavam cheias de instrumentos de medição. Uma forja queimava vermelho quente no canto. O garoto que eu vira no último sonho estava carregando o fole, exceto que ele era mais alto agora, quase da minha idade. Um estranho instrumento afunilado estava anexado à forja da chaminé, exalando fumaça e calor e canalizando-os através de um tubo no chão, próximo a um grande tampão bronze de bueiro.

Era dia. O céu acima era azul, mas as paredes do labirinto produziam sombras profundas pela oficina. Após horas no labirinto, eu não achei que houvesse algum lugar com vista para o céu. De algum jeito aquilo fez o labirinto parecer um lugar ainda mais cruel. Dédalo parecia doente. Ele estava terrivelmente magro, suas mãos calejadas e vermelhas de trabalhar. Cabelo branco cobria seus olhos, e sua túnica estava manchada com graxa. Ele estava inclinado sobre uma mesa, trabalhando em algum tipo de miscelânea de metal longo — como um tipo de cota de malha. Ele pegou um delicado anel de bronze e encaixou no lugar.

- Feito. - ele anunciou. - Está feito.

Ele pegou o seu projeto. Estava tão bonito, meu coração saltou — asas de metal construídas a partir de milhares de penas de bronze interligadas. Havia dois conjuntos. Um ainda estava sobre a mesa. Dédalo esticou a armação, e as asas expandiram seis metros. Parte de mim sabia que aquilo nunca poderia voar. Era muito pesado, e não havia como sair do chão. Mas o trabalho artesanal era incrível. Penas de metal captavam a luz e refletiam trinta diferentes tonalidades de dourado. O rapaz deixou o fole e correu para ver. Ele sorriu, mesmo parecendo exausto.

- Pai, você é um gênio!

O velho homem sorriu.

- Diga-me algo que eu não saiba, Ícaro. Agora se apresse. Vai demorar pelo menos uma hora para afixá-las. Venha.

- Você primeiro. - Ícaro disse.

O velho homem protestou, mas Ícaro insistiu.

- O senhor fez isso, pai. Você deveria ter a honra de usá-las primeiro.

O rapaz atou um arnês de couro no tórax de seu pai, como um equipamento de alpinismo, com tiras que corriam dos ombros até os pulsos. Então ele começou a fixar as asas, usando uma vasilha de metal que parecia um enorme revólver de cola-quente.

- O composto de cera deve segurar por várias horas - disse Dédalo nervosamente enquanto seu filho trabalhava. - Mas temos que deixá-la fixar primeiro. E faríamos bem em evitar voar muito alto ou muito baixo. O mar molharia a cera…

- E o calor do sol poderia soltá-las. - o menino finalizou. - Sim, pai. Nós conversamos sobre isso um milhão de vezes!

- Cuidado nunca é demais.

- Tenho total confiança nas suas invenções, pai! Ninguém jamais foi tão inteligente como você.

Os olhos do velho homem brilharam. Era óbvio que ele amava seu filho mais do que qualquer coisa no mundo.

- Agora vou colocar as suas asas, e dar às minhas a chance para fixar adequadamente. Venha!

Estava indo devagar. As mãos do homem velho se atrapalhavam com as tiras. Ele tinha dificuldade em manter as asas em posição enquanto as selava. Suas próprias asas de metal pareciam pesar-lhe para baixo, atrapalhando enquanto ele tentava trabalhar.

- Muito lento. o velho homem murmurou. - Eu sou muito lento.

- Tome o seu tempo, pai. - o menino disse. - Os guardas não virão até…

BOOM!

As portas da oficina tremeram. Dédalo as tinha barrado por dentro com uma tora de madeira, mas ainda elas sacudiam nas dobradiças.

- Depressa! - Ícaro disse.

BOOM! BOOM!

Algo pesado batia nas portas. A braçadeira deteve, mas uma rachadura apareceu na porta da esquerda. Dédalo trabalhava furiosamente. Uma gota de cera quente caiu sobre o ombro de Ícaro. O rapaz estremeceu, mas não gritou. Quando a sua asa esquerda estava selada nas tiras, Dédalo começou a trabalhar na direita.

- Precisamos de mais tempo. - Dédalo murmurou. - Eles estão muito adiantados! Nós precisamos de mais tempo para o selamento aguentar.

- Vai ficar tudo bem, - disse Ícaro quando seu pai terminou a asa direita. - Me ajude com o bueiro…

CRASH! As portas arrebentaram e a cabeça de um aríete de bronze emergiu através da fenda. Machados desobstruíram o restante, e dois guardas armados entraram na sala, seguidos pelo rei com coroa de ouro e barba em forma de lança.

- Bem, bem. - disse o rei com um sorriso cruel. - Vai a algum lugar?

Dédalo e seu filho congelaram, suas asas metálicas brilhando em suas costas.

- Estamos indo embora, Minos. – Disse o velho homem.

Rei Minos abafou uma risada.

- Eu estava curioso para ver até onde você chegaria com este pequeno projeto antes que eu frustrasse as suas esperanças. Devo dizer que estou impressionado.

O rei admirou suas asas.

- Vocês se parecem frangos de metal. - ele decidiu. - Talvez devêssemos depená-los e fazer uma sopa.

Os guardas riram estupidamente.

- Frangos de metal. - um repetiu. - Sopa.

- Calem-se! - disse o rei. Então ele se virou novamente para Dédalo. - Você deixou a minha filha escapar, velho. Você levou minha esposa à loucura. Você matou o meu monstro e me fez ser motivo de piada no Mediterrâneo. Você nunca irá escapar!

Ícaro agarrou o revólver de cera e atirou no rei, que recuou surpreso. Os guardas se apressaram a frente, mas ambos receberam um jato de cera quente na cara.

- A abertura! - Ícaro gritou para seu pai.

- Peguem-nos! - ordenou o Rei Minos.

Juntos, o velho homem e seu filho abriram a tampa do bueiro, e uma coluna de ar quente explodiu do chão. O rei assistiu, incrédulo, enquanto inventor e filho se lançavam para o céu em suas asas bronze, transportados pela corrente de ar.

- Atire neles! - o rei gritou, mas seus guardas não tinham trazido arcos.

Um jogou sua espada em desespero, mas Dédalo e Ícaro já estavam fora de alcance. Eles voaram acima do labirinto e do palácio do rei, então zuniram pela cidade de Knossos e passaram pelo litoral rochoso de Creta.

Ícaro riu.

- Livre, Pai! Você fez isso.

O rapaz abriu suas asas totalmente e subiu com o vento.

- Espere! - Dédalo chamou. - Tenha cuidado!

Mas Ícaro já estava sobre o mar aberto, mirando o norte e se deliciando na boa sorte deles. Ele subiu e assustou uma águia para fora da sua trajetória de voo, então mergulhou em direção ao mar como se tivesse nascido para voar, saindo do mergulho no último segundo. Suas sandálias roçaram as ondas.

- Pare com isso! - Dédalo chamou. Mas o vento levou sua voz para longe. Seu filho estava bêbado na sua própria liberdade.

O velho homem lutava para acompanhar, planando desajeitadamente atrás de seu filho. Foram quilômetros desde Creta, ao longo do mar profundo, quando Ícaro olhou para trás e viu a expressão preocupada de seu pai.

Ícaro sorriu.

Não se preocupe, pai! Você é um gênio! Eu confio no seu trabalho…

A primeira pena de metal se soltou de suas asas e rodopiou para longe. Depois outra. Ícaro oscilou em pleno ar. De repente ele estava soltando penas de bronze, que rodopiavam para longe dele como um bando de pássaros assustados.

- Ícaro! - Dédalo gritou. - Plane! Estenda as asas. Fique o mais estável possível!

Mas Ícaro movimentou seus braços, desesperadamente tentando voltar ao controle. A asa esquerda se foi primeiro — flutuando para longe das correias.

- Pai! - Ícaro gritou.

E então ele caiu, as asas despojadas para longe, até que ele era apenas um menino usando um arnês e uma túnica branca, seus braços estendidos em uma inútil tentativa de planar.

Eu acordei suando frio, sentindo como se estivesse caindo. O corredor estava escuro.

Com os constantes gemidos do labirinto, eu pensei que podia ouvir o angustiado grito de Dédalo chamando o nome do seu filho, enquanto Ícaro mergulhava em direção ao mar, mais de noventa metros abaixo.

Minha respiração estava acelerada. Quinn acordou comigo e abraçou-me rapidamente.

- O que foi, Britt? – ela perguntou, enquanto tirava minhas mechas suadas da testa.

- Eu odeio esse lugar. – murmurei. – Eu quero a minha Santana. E eu quero ir embora.

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Na manhã seguinte, acordamos sem saber se já era dia. Como eu disse, não havia sol no labirinto.

Não quis conversar sobre o meu sonho. Ele realmente havia me apavorado, e a única pessoa que eu queria que soubesse disso no momento era Santana. Quinn não insistiu, mas eu sabia que ela estava mantendo um olho em mim. Isso, de certa forma, me tranquilizava.

Marley nos guiou por uma abertura, e quando me dei por conta, estávamos em um campo aberto com árvores. O sol me cegou ao primeiro contato, mas logo me acostumei com a luz solar. Até que vi uma vaca. Mas era uma vaca vermelha, como uma cereja.

Arqueei uma sobrancelha para Quinn, mas ela apenas deu de ombros. Marley continuou a andar até que paramos em frente a uma casa. Era de madeira, com as aberturas descascando e as paredes pintadas de um amarelo chamativo. Entramos sem pensar duas vezes.

O meu primeiro impulso foi sorrir mais do que eu conseguia. Santana estava sentada em uma cadeira, de cabeça baixa. Mas assim que vi as cordas em suas mãos e o corte profundo em sua bochecha, meu corpo foi tomado de raiva. Corri na direção dela, soltando-me do braço de Quinn que me prendia antes. Levantei seu queixo, fazendo-a olhar para mim.

- Oi. – murmurei desamarrando suas mãos.

- Britt? O que você… como…

- Longa história, meu amor. – respondi, beijando seus lábios com vontade.

Ela parou alguns segundos e sorriu contra meus lábios. O resto de meus amigos já havia entrado e desamarravam os demais. Soltei Santana da cadeira e ela levantou-se, esticando o corpo. Sorri para ela e abracei sua cintura, puxando-a para mais perto e em seguida tomando seus lábios. Ela me beijou de volta, agarrando meu pescoço e depositando sua cabeça ali segundos depois. Eu estava tão feliz de reencontrá-la viva que havia me esquecido de um pequeno detalhe.

- O que ela está fazendo aqui? – Santana perguntou tencionando o corpo.

Virei-me e encontrei Marley que ajudava Finn a levantar-se. Ela sorriu para Santana e deu um breve aceno.

- Britt! – Finn baliu, pulando em cima de mim.

- Ugh, Finn, você vai me esmagar assim. – respondi, com falta de ar.

Ele se afastou e eu procurei a mão de Santana, mas ela a afastou de mim. Olhei em seus olhos e pude ver o ciúme estampado em seu rosto.

- Responda minha pergunta. – ela disse friamente.

- É uma longa história, e a ideia foi absolutamente da Quinn. – falei rapidamente. Santana fuzilou a loira com os olhos, e ela apenas se encolheu atrás de Rachel. – E além do mais, ela nos ajudou a te encontrar. Nós podemos falar sobre isso depois? Sinto que devemos sair daqui.

- Ok. – ela disse por fim, apertando minha cintura. – Eu amo você. Mas eu quero ouvir melhor essa história, e nem pense em ignorar a parte em que vocês fugiram do acampamento, e ainda por cima levando uma mortal. Vocês quebraram pelo menos umas cem regras fazendo isso! Britt, você pode ser expulsa.

- Eu sei. – respondi. A verdade é que eu não tinha me importado muito com essa parte. – Mas eu não consegui dormir sabendo que você estava aqui. Eu precisava ver você, eu precisava garantir que estava bem San!

Ela sorriu e inclinou-se para beijar meus lábios. Perdi-me nela por alguns segundos, até que recebi um cutucão nas costelas.

- Brittany, é melhor irmos. – Kurt disse, sorrindo para mim.

Assenti e puxei Santana pela cintura até a porta. Mas antes que eu conseguisse abri-la, um homem gigante apareceu, segurando um garoto com cabelos desgrenhados encaracolados pela gola da camiseta escura.

- Vão a algum lugar? – ele perguntou, com um sorriso cínico no rosto.

Rachel afastou-se de Quinn e veio mais à frente, aproximando-se do monstro. O garoto levantou os olhos, e imediatamente reconheci o rosto jovem sujo de terra.

- Blaine?


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Notas finais do capítulo

E ai, o que estão achando?



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