A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 4
Enlouquecendo




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Foi tudo tão rápido que não deu tempo de discernir muita coisa, momentos depois eu já estava de volta à floresta. Meus olhos deviam estar arregalados, pois todos olhavam para mim.  Tentei me recompor e entender o que estava acontecendo, definitivamente não era meu melhor aniversário.

                - Deixa eu entender o que está acontecendo... – encarei Robert – se você estiver certo e se nós fomos a família real, desse tal lugar... Pórfiron, o que fazemos agora? Como voltamos para casa?

                - Não existe muitas maneiras de entrar ou sair de Pórfiron, mas existe um meio, mais difícil talvez. – ele procurou algo na bolsa presa no cavalo, depois trouxe um papel e me entregou – Nós estamos aqui, - ele apontou para uma clareira. No mapa, a floresta que estávamos não era muito amigável, nem um pouco convidativa. – siga essa direção, a mais ou menos meia hora, encontrará a Vila Daque. Bem... Lá mora um velho mago, ele conhece muitos segredos, ache ele e poderá voltar para casa.

                - Obrigada Robert – queria dizer a ele que era maluco, mas acho que eu que iria parecer maluca, ele era tão convicto com tudo, parecia até real, magos? O quão era impossível? – Qual é o nome desse tal mago?

                - Roterford, ele é meio maluco.

                - Claro, pode deixar, nos ajudou bastante.

                Ele se despediu e nós fizemos o mesmo, ninguém se atreveu a dizer nada, acho que todos tínhamos a esperança que fosse só um sonho, só um sonho.

                Seguimos o caminho que ele me indicou, Brian fez questão de ir à frente, era impossível não sentir raiva dele, tinha uma pose confiante demais, era irritante, parecia que nada o abalava. Foi ficando escuro enquanto andávamos, a floresta ficou mais sinistra, era assustador andar lá. O caminho foi ainda mais irritante por ficar sozinha, Mindy não deixava de falar com Brian em nenhum momento, como ele não se irritou? Liam, Lily e Frank estavam embalados em um assunto, não queria atrapalhar.

                Não era acostumada a andar, e foi bem cansativo e frio. Eu só estava com um short e uma camiseta, nunca que eu imaginária que isso ia acontecer, achei que seria mais um aniversário normal, como todo anos: minha mãe faria um bolo de sorvete, meu favorito, chamaria a Lily e ficaríamos acordadas até tarde vendo filme antigos de zumbis, ganharia algo que eu queria, que sempre era um livro, assim o dia terminava.

                Quem pensaria em passar o aniversario de 16 anos andando em uma floresta sinistra, com pessoas que estavam tão interessadas em outras coisas menos em você, não que eu gostasse de ser o centro das atenções, mas era meu aniversário... Não contava?  Meus pais deviam estar malucos à uma hora dessas, eu não havia chegado em casa na hora, com certeza já estaria de castigo.

                Meu pai era a concentração das coisas certas, sempre fazia o certo, não me lembro dele ter feito alguma besteira desde que nasci, ele me encarava sempre com aqueles olhos vibrantes azuis, sempre achei que ele tinha algum remorso no passado, nunca falava da sua família ou amigos, sempre disse: “Nada que merece ser lembrado, k”, eu não forçava é claro.

                - Chegamos! – Brian disse, ele estava perto de mim, tão perto que dava para tocá-lo uma vontade de abraçá-lo passou por mim, afastei assim que chegou.

                A Vila Daque era linda, o chão era feito de ladrilhos de vários tons de azul, as casas eram postas uma do lado da outra, com uma cerca branca fazendo  divisão, era de tons que variavam de verde ao azul, tinha um chafariz gigante com uma sereia cintilante no centro, as pessoas andavam normalmente, algumas roupas eram vestidos da Idade Média. Parecia que este lugar tinha parado no tempo, as mulheres carregando baldes na cabeça e as crianças segurando o vestido da mãe.

                - O que estamos esperando? – Mindy estava limpando o sapato, de todos nós acho que ela é a que mais queria ir embora.

                - Vamos? – Brian olhou para mim, seus olhos azuis eram muito vivos.

                - Vamos – confirmei.

                Perguntamos a primeira pessoa que vimos, quem era o Roterford, ela nos encarou, olhou a nossas roupas e riu, depois de um tempão rindo e fazendo perguntas, a menina que devia ter uns 20 anos ruiva, nos levou a uma mansão no meio da cidade. Era bem grande, verde mar e tinha algas marinhas na frente, batemos na porta de madeira branca e, em mesmo de segundo, o velho abriu a porta.

                Ele era baixo e gordo, tinha a aparência de uns 50 anos, cabelo branco e usava um manto por cima da roupa, era azul escuro e tinha ondas prateadas como detalhe. Ele nos olhou e sorriu.

                - Que bom que chegaram a salvo – ele fez um gesto para entrarmos – entrem, entrem, as trevas não esperam.

                Não resisti a tentação e entrei. O hall era lindo, tinha um candelabro que pareciam ser gotas de chuva, a sala tinha quadros de pessoas estranhas, nunca tinha visto nada igual. Não tinha sofá ou qualquer indício de tecnologia, somente uma grande mesa no centro com dez lugares ao todo e um grande arranjo no meio. Tinha uma escada que levava ao andar de cima a esquerda e um corredor intrigante a direita.

                O mago seguiu até o centro do hall e balançou as mãos em um movimento estranho, disse palavras em alguma língua e de repente a mesa não estava mais no hall, no lugar havia um grande sofá em forma de um semicírculo. Eu não fui a única a soltar um ruído se espasmo, Mindy segurou no braço de Brian que não pode deixar de dar um sorrisinho sarcástico.

                - Pelo visto nunca viram magia antes – ele deixou escapar um ruído, que deveria ser uma risadinha – sentem-se, por favor. – ele tinha um sotaque, não sei dizer ao certo da onde era, mas puxava bastante o “R”, era engraçado.

                - Desculpe senhor, mas não vamos demorar, só que... – antes de poder terminar, Mindy passou por mim e sentou, não, se esparramou no sofá.

                - Estava precisando disso! – ela arfou e tirou os saltos.

                - Mindy, não acho que...

                - Tudo bem querida. – acho que eles gostaram de me cortar quando falo – Sei o que vieram fazer aqui, sou um mago! Como não saber? – ele riu.

                - Senhor Roterford, queremos falar algo sério com o senhor. – Frank tentou.

                - Depois de um chá! – ele estalou o dedo e um cardápio surgiu na sua mão – gostam de camomila? Ajuda a diminuir o estresse.

                - Adoro camomila – Mindy se animou.

                - Mindy! – Lily a advertiu.

                - O que? Só quero o chá, que esse bom moço está me oferecendo – ela olhou para o mago – com bastante açúcar, por favor.

                - Perfeito então. – ele bateu palmas – chá para todos.

                Então, na mão de cada um surgiu uma caneca branca com chá de camomila, tinha um cheiro ótimo e convidativo, me segurei para não beber, tinha coisas mais importantes.

                - Temos que voltar para casa, o guarda real Robert disse que você saberia como. – forcei a resposta.

                - É, eu sei querida, mas o que eu ganho eu ganho em troca? – ele lançou um olhar desafiador.

                - Não temos nada, viemos para aqui por engano. – queria que ele acreditasse na história.

                - Nada é engano, não em Pórfiron, aqui o destino é a coisa que move tudo, sua história já está escrita. Vocês estarem aqui não engano, é o destino, uma hora vocês teriam que voltar para casa.

                - Casa? – Brian perguntou.

                - Vocês poderiam deixar um de vocês – ele ignorou a pergunta de Brian, que certamente era a de todas. – Que tal o bonitão loiro ali? – ele apontou para o Brian

                - O que? – ele perguntou indignado.

                - Você quer o Brian? – Frank perguntou meio enojado – sério mesmo?

                - Qual é o problema meu rapaz? – ele perguntou como se fosse a coisa mais normal possível, e não era, eu não deixaria ele ficar com Brian – O garoto é forte, pode me ajudar na casa, fora que é do Fogo! Esses são os melhores, não acha Kassie? – ele me lançou um olhar provocativo. – ele fica e vocês vão, acordo feito?

                - Feito! – Brian disse.

                - Não Brian! Não vamos deixá-lo! – disse irritada, como ele poderia querer ficar? Era loucura.

                - Ela está certa, Brian pense direito. – Liam falou.

                - Então não terão a minha ajuda, desculpe jovens reais. – ele levantou os ombros e soltou despreocupado, tomou um gole do seu chá e me olhou, talvez querendo que eu fizesse alguma coisa.

                - Não importa! Chegamos juntos e voltamos juntos, se não gostou mago então não importa, procuramos outro, só não vamos deixar ninguém para trás! – eu estourei tudo de uma vez, até eu me perdi – você decide se vai nos ajudar ou não, não nos importa!

                - Kassie... – Brian começou, mas foi interrompido rapidamente.

                - Bravo! É isso que eu queria ouvir! Igualzinha a seu pai, que bonito, ele estaria orgulho. – esse não era meu pai, esse cara só poderia estar delirando, meu pai faria exatamente ao contrário, iria embora, porque era o certo a fazer. – claro que vou ajudar vocês! Tem tanta coisa que desconhecem!

                - Você certamente não bate bem da cabeça. – Lily fez uma careta.

                - Agora vão para seus quartos, devem estar cansados e com fome. Tomem um banho e depois comam o que eu vou deixar no quarto de vocês.

                Então todos sumiram, inclusive o hall, agora estava em um quarto, tão simples e bonito. Tinha uma cama no centro, com lençóis brancos e sedosos, tinha uma janela revestida por uma azul e fina cortina de ceda, havia um armário no canto e uma porta no canto a esquerda.

                - Gostou querida? – o mago pareceu do meu lado depois seguiu para sentar na beira da cama.

                - Cadê os outros? – olhei em volta a te perceber que estávamos sozinhos.

                - Estão em seus respectivos quartos, espero que gostem, não sou acostumado a receber visitas. – ele me olhou e sorriu – mas vamos falar de coisas sérias... – ele fez uma pequena pausa, pensativo – feliz aniversário, primeiramente.

                - Obrigado.

                - Não se assuste com esse mundo, ele é esplêndido.

                - Eu me recuso a acreditar que é verdade, parece tão surreal – desabei na cama ao lado dele – é muito confuso, demais para alguém como eu.

                - Destino minha querida! Seu mundo não é aquele que você acha que é, não aquele com maquinas barulhentas. – ele fez uma careta.

                - O que está acontecendo? – perguntei enfim.

                - A hora chegou, e as trevas estão muito perto. – ele olhou para a janela, na escuridão da noite. – todos nós só queremos paz.

                - Nós?

                - Chega de prosa, vá tomar seu banho para receber sua visita de aniversário.

                Não tive tempo de perguntar o quem era, mas ele sumiu com um estalar de dedos. Depois, ainda fiquei encarando o quarto, quando voltei a mim fui até o armário e achei uma blusa branca de pano, tinha que servir como camisola. Fui até a porta a esquerda e tomei um banho perfeito, parecia que esperava por isso fazia muito tempo. Depois do banho esclarecedor voltei ao quarto, e uma pequena mesa estava posta no quarto.

                Segui até ela e vi que era comida, um hambúrguer junto com uma Coca-Cola, ele tinha acertado. Junto com a comida havia um bilhete:

                “Há mais coisas dentro do seu coração do que você imagina, você já está ligada carnalmente a alguém, seu coração não é só seu. É o destino querida.Durma bem, Roterford.”

                Meu coração não é meu? Aquele cara era realmente maluco ou totalmente certo, prefiro acreditar na primeira. Depois do lanche tentei dormir, mas eu não consegui. Peguei meu celular e tentei mexer, me distrair ou tentar sinal, mas a bateria tinha acabado. Fui até a janela e esperei ver alguém, não era tão tarde, mas não havia ninguém na rua.

                Fiquei pensando quem viria me ver, será que era Frank? Tentando se desculpar por tudo, por ter me traído com a Mindy, por ter me feito sofrer. Ele nunca mais me procurou depois daquilo, somente me deixou. Alguém bateu na porta e eu corri para atender.

                - Oi! – deixei escapar um sorriso.

                - Oi. – ele também sorriu.


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