A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 5
Desconcertada


Notas iniciais do capítulo

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De todas as pessoas que eu esperava ver ele era o último, não tinha sentido ele vir me ver. Seu cabelo estava despenteado e caindo por cima do olho, estava usando a sua calça jeans e uma blusa branca lisa tão apertada que mostrava os traços do peito, ele tinha músculos tão definidos que cheguei a pensar no que ele não seria perfeito.

                Depois percebi que estava somente com uma blusa curta e fiquei sem jeito, quando percebi que ele estava me encarando.

                - O que foi Brian? – perguntei sem olhar para ele.

                - Acho que sei da onde conheço você, – ele olhou para o quarto, depois voltou a me encarar – já vai dormir?

                - Não estava conseguindo – ele não esperou eu ser educada para convidá-lo a entrar, já foi se acomodando na beira da minha cama. – ah claro, você pode entrar. – disse irritada.

                - Isso é muito corriqueiro, deixe disso. – agora ele estava encarando as minhas pernas, fiquei completamente sem jeito, com certeza tinha corado, sentei-me ao lado dele puxando a blusa o máximo possível – desculpe, não queria deixá-la sem jeito.

                - Então, não fique me encarando – só que eu mesma não conseguia parar de encarar o peito perfeitamente esculpido dele, desviei o olhar para seus olhos azuis, o que não ajudou muito, eram tão invasivos quanto o possível, como se procurasse algo dentro da minha alma – O que você queria me dizer?

                Ele demorou um pouco para responder num silêncio desconfortável, parecia que ele estava querendo ter certeza que estava certo, me encarando de um jeito estranho que eu tive que desviar o olhar.

                - Bem... – começou ele – não sei se lembra, mas a sua família foi para a Grécia há alguns anos atrás, vocês ficaram como hóspedes no hotel do meu pai, eu que levei você para conhecer meu país.

                Ele não podia ser aquele garoto, se fazia cinco anos desde que eu tinha viajado para a Grécia. Meus pais tinham brigado e eu comprei a passagem para melhorar os ânimos, eles firam irritados no começo, mas depois foram aceitando a ideia. Quando chegamos lá, eles não pararam de brigar, então, um garoto um ano mais velho que eu me levou para conhecer os lugares. Eu tinha uma quedinha por ele enquanto fiquei por lá, mas ele nunca tinha mostrado recíproca, foi difícil esquecê-lo depois, mas ele não podia ser Brian, era tão diferente. Somente, talvez, pelos mesmos olhos.

                - Não posso acreditar, você está tão diferente! – o garoto era magro e tão tímido, nunca me olhava nos olhos, pensar naquele frágil garoto como Brian, era impossível. Brian era totalmente o oposto.

                - Você não, por isso te reconheci,– ele parou e me encarou, isso para mim não foi um elogio, eu não era tão bonita naquela época, se eu não tinha mudado nada, então minha situação era mais precária do que eu havia imaginado – pensei que não a veria mais.

                - Nem eu, não me lembro de ter te dado explicações de quem era. – ele sorriu.

                - Eu também não perguntei – ele riu com a lembrança do frágil garoto que era – eu não era uma pessoa com estilo, se é que pode se dizer assim.

                - Certamente você era muito tímido. – olhei para os meus joelhos.

                - Você não, me irritava seu jeito explosivo. – ele riu e eu não pude deixar de descordar, isso não mudara com o passar do tempo.

                - Isso não mudou muito. – olhei para ele, estava com um sorriso torto nos lábios.

                - Eu vi isso, – ele parou e olhou para a janela – obrigado por me defender, eu teria ficado, se preciso.

                - Sempre bancando o herói, não é mesmo? – olhei para ele lembrando da floresta, de como ele queria ser o melhor. – não suporta a ideia de alguém melhor que você.

                - Trauma de infância, nada que merece ser lembrado. – aquela frase me provocou arrepios.

                - Meu pai sempre disse isso. – falei com certa tristeza.

                - Você acha que voltaremos para casa? – disse ele como se eu tivesse a resposta certa, como se ela fosse a chave.

                - Não sei, – sussurrei – não sei se acredito no que está acontecendo, não consigo acreditar...

                - Acho que temos provas o suficiente que é real. – bufou – Infelizmente.

                - Como em um sonho, tão real e tão distante da realidade. – bocejei sem querer, ele levou isso com um sinal para se retirar, ele se levantou hesitante e esticou as mãos para me ajudar.

                - Durma bem. – eu ajeitei a blusa e o guiei até a porta – senti sua falta na Grécia, era a minha única amiga.

                Senti uma culpa enorme por não ter deixado um número de telefone ou e-mail. Olhei nos seus olhos e, pela primeira vez neste dia, vi alguma expressão no rosto de Brian, ele realmente me tinha como amiga, eu não ia deixá-lo, acho que ele temia isso também. Vi algo no chão e me abaixei para pegar. Era um broche de uma flor de lótus, quando me levantei Brian estava tão perto que se quisesse me beijar seria a hora.

                Levei um susto quando era isso que ele estava fazendo. No começo pensei em hesitar e me afastar, mas depois pensei: não estava namorando, fui magoada, tinha direitos de beijar outros, e depois eu tinha deixado ele sozinho na Grécia, o que mais eu podia fazer, ele merecia, era somente um beijo.

                Eu estava magoada, arrasada, derrubada, assustada e traída, um beijo era tudo o que eu precisava naquele momento. E não foi um beijo comum.

                Num primeiro momento eu fiquei rígida, pensando se era mesmo o que eu queria, depois os braços dele envolveram a minha cintura me puxando para mais perto. Minhas mãos procuram aquele cabelo loiro perfeito, querendo senti-los, passei os dedos sentido cócegas. Foi uma sensação inteiramente única, tão forte, que estranhei a força com que aconteceu. Tão intenso, com se esperássemos por isso desde a Grécia, era um desejo interno que tinha deixado escondido por tantos anos.

                Ele segurou o meu rosto com as mãos e me olhou nos olhos, novamente sem grandes traços de emoção, me deu um beijo na testa e se afastou. Quase pedi que não o fizesse, algo dentro de mim não queria, mas hesitei e me controlei.

                - Até amanha. – ele sussurrou tão baixo que quase não era audível, depois sumiu no corredor escuro.

                Voltei para cama pensando no que havia ocorrido, talvez ele não tivesse gostado e por isso foi embora secamente. Deitei na cama e não tive tempo de pensar muito, apaguei no mesmo instante.

                Sonhos.

                - Ela está morrendo Jared! – o Rei gritava para o homem ruivo que estava ao seu lado. Jared usava roupas brancas e um par de óculos pendia em seu pescoço – Minha filha!

                - Não há nada que possamos fazer, - Jared tentava acalmar o medo do Rei, em vão – o coração dela nasceu com defeito.

                Eles estavam em um quarto muito luxuoso, mas com pouca iluminação, só via os dois conversando baixo num canto.

                - Há um jeito! – os olhos do Rei brilharam – Tragam-me o dragão de meu irmão.

                - Meu Rei, isso é loucura! Pode não dar certo. – o homem estava desesperado com a ideia do Rei, seja qual fosse – Os dois podem morrer!

                - Não importa, tenho que salvar minha única filha!

                - O dragão está a sua espera. – alguém falou no fundo do quarto.

                Acordei com um tipo do holograma do mago bem na minha frente, levei um susto tão grande que pulei da cama e quando eu vi estava dentro do holograma, voltei para encostar-me à cabeceira da cama.

                - Bom dia, meus hóspedes queridos! – pelo jeito que falava, aquilo parecia ser mostrado para todos, meu coração ainda queria saltar do peito.

                O rosto do mago estava iluminado por uma luz verde, ele sorria como se nada estivesse acontecendo. Seus olhos eram de arrepiar.

                - Espero que tenham tido uma boa noite de sono. Desçam a escada no corredor a direita, estou esperando para tomarmos café e dizer o que querem saber.

                De repente a imagem sumiu, mas eu ainda estava com a sensação de estar sendo vigiada. Olhei em volta e vi uma roupa deixada no final da cama, levantei ainda grogue e fui pegá-la. Era uma simples combinação de uma calça de coro, uma blusa branca, um tipo de corpete e um par de botas.

                Não me sentia a vontade de usar, afinal tinha as minhas roupas, que eu me sentia muito mais confortável. Mas quando eu olhei pela janela estava chovendo, uma brisa gelada veio ao meu encontro e eu me arrepiei, as minhas roupas não iriam adiantar. Segurei a muda de roupas relutantes e segui até o banheiro.

                Fui tomar um banho e quebrar a cabeça para descobrir como colocar aquele corpete, definitivamente esse mundo não era normal. Depois de muito tempo de relutância ele venceu e eu amarrei de qualquer jeito. Prendi meu cabelo em um simples rabo de cavalo, coloquei o colar e uma coisa estranha aconteceu: meus olhos estavam totalmente brancos no reflexo do espelho, pisquei rapidamente e quando olhei novamente estavam normais. Tirei a conclusão que estava pirando, com certeza pirando.

                Voltei aturdida para o quarto e peguei minha mochila e joguei minhas roupas lá dentro amassadas. Olhei em volta para ver se não faltava nada, foi quando vi o broche, brilhando no canto da cama. Não sei por que fui pegar, mas parecia algo precioso, peguei e o encarei, já que ontem a noite não deu tempo, mas dessa vez também não deu, alguém bateu na porta. Eu peguei uma capa presa em um gancho atrás da porta, guardei o broche e saí.

                Esperei que fosse Brian, queria vê-lo.

                - Sempre demorando, senhorita Kassie! – seu tom era de deboche.

                Lily estava vestida mais glamorosa que eu, como sempre, as mesmas calças de coro, que eram incrivelmente macias e elásticas, mas por cima usava um vestido florido, mas não como os outros que usava normalmente, estes eram mais vividos, quase como se as flores pudessem saltar do vestido. Usava botas menores que as minhas, com o vestido, seu colar chamava mais atenção que o normal, seus olhos estavam mais luminosos e seu cabelo negro estava solto, o que era uma novidade.

                - Fiquei presa com esse corpete idiota – bufei e apontei para o nó mal feito.

                - Está tudo errado. – ele riu e começou a arrumar.

                - Não levo jeito para isso. – ela deu uma puxada que me tirou o ar – cuidado! – adverti-a.

                - É assim mesmo. – ele tentou segurar a risada. – como passou a noite? – perguntou ela enquanto seguíamos pelo corredor.

                - Bem... – hesitei – Brian foi ao meu quarto ontem.

                - Serio? – ela parou e me encarou com um sorriso de ponta a ponta, sapeca – me conte tudo!

                - Nada de mais Lily, ele foi dizer que sabia da onde me conhecia e... – eu fiquei meio sem graça.

                - E o que Kassie? – perguntou curiosa.

                - Me beijou. – a lembrança me fez estremecer, meu corpo todo se arrepiou com a lembrança de estar nos braços dele, o que me fez desejar mais.

                - Ah! – ele soltou um grito e eu logo a calei retomando o caminho.

                - Fique quieta, ele saiu sem parecer que estava satisfeito.

                - Pare disso! Quem não querer você? – falou tentando me animar.

                - Frank. – disse secamente, andamos o final do percurso em silêncio.

                O hall estava do mesmo modo como da primeira vez, com uma grande mesa no centro. Todos já estavam lá, a minha espera, foi constrangedor. Mindy me fuzilava com o olhar esverdeado dela, ela estava usando o mesmo estilo que Lily, pela diferença do vestido inteiramente rosa e o cabelo preso no rabo de cavalo.

                Lily foi correndo sentar do lado do namorado, como sempre, o azar me perseguiu, o único lugar disponível era entre Brian e Frank. Meus pés grudaram no chão.

                - Vamos, minha querida, todos estão esperando você. – ele fez um gesto para me sentar, ele estava usando as mesmas roupas.

                Segui quieta para meu sórdido lugar. Evitei Frank e olhei para Brian. Ele estava vestindo uma calça de coro como a nossa, um pouco diferente, e uma blusa branca simples, por cima usava um colete azul com preto, esta lindo, como sempre. Quando ele olhou para mim sorri, mas ele ignorou completamente e voltou olhar para Mindy e sorriu. Aquilo magoou, ele tinha ido ao meu quarto ontem, tinha meio que se aberto comigo, TINHA ME BEIJADO, agora estava me ignorando, com qual motivo?

                Como se por instinto olhei e sorri para Frank, tentei mostrar que não me importava, eu não me importava, só um pouquinho talvez. Frank estava vestido exatamente como Brian, só que sua blusa era azul e seu colete branco, parecia ironia, mostrar o quanto eram opostos.

                - Está linda. – ele disse e sorriu.

                - Não precisa fingir. – não sorri, mas ele sim, isso me fez derreter, querendo vazar pela cadeira ou pular em seus braços.

                Voltei-me para as panquecas postas no prato e ataquei, comi e bebi até ficar cheia, parecia que eu não comia há dias. Depois Frank disse:

                - Sempre morta de fome. – ele esperou que eu retrucasse, mas quando eu não o respondi, chegou mais perto de mim – Sinto sua falta Kassie, você não sabe o quanto lamento por tê-la feito sofrer. – ele sussurrou – Eu quero voltar a falar com você, quero voltar a te ver, mas entendo se não quiser.  – ele esperou uma resposta – Só quero que saiba que mudaria tudo se fosse possível, não sei o que vi em Mindy para deixar você.

                Meu corpo tudo ficou arrepiado, como eu esperei o momento em que ele pediria desculpas e se arrependesse, mas depois de tanto tempo, não fazia mais sentido.

                - Olha está tudo bem, Frank, já faz um ano, deixe disso, já esqueci. – menti.

                É claro que eu não havia esquecido, mas queria que pensasse que sim. Ele me olhou e sorriu, depois de um tempo esticou a mão.

                - Amigos? – hesitei, mas depois apertei.

                - Sim.

                - Muito bem! – gritou o mago – Vamos ver... – ele me encarou – o que querem saber, meus jovens?

                - Como voltar para casa, é claro! – Brian disse debochando da cara do mago.

                - Como fazemos isso? – perguntei encarando o Brian em reprovação, mas ele logo desviou girando os olhos.

                - Bem... Para entrar em Pórfiron ou sair é muito difícil. – ele bufou – antigamente tínhamos Liron, o Mestre dos Portais, mas ele contraiu uma doença e não tem forças para o mesmo.

                - Morreu? – interrompeu Mindy.

                - Ainda não querida. – ele sorriu gentilmente para ela – Mas está muito fraco, só a um jeito de reavivar forças por aqui. – ele olhou para todos por um longo tempo – Vocês têm que pegar três presentes, muito difíceis de encontrar: O Cálice de Fogo, A Flor de Lótus do Oráculo e O Olho da Morte, - aquele último me deu calafrios – dêem isso a ele, e, em troca, ele levará vocês para casa.

                - Onde conseguimos isso? – perguntou Liam, que estava quieto até então, quando o encarei ele estava com olheiras, deduzi que não havia dormido muito bem. Ele também estava vestido como Frank e Brian, mas com um colete marrom.

                - Por toda Pórfiron! – ele sorriu girando os braços.

                - Está maluco? – Lily perguntou. – Como vamos rodar tudo isso? – ele imitou o movimento do mago.

                - Dragões, é claro. – ele deu um sorriso tão malicioso quanto o possível, se aquele mago já era de se arrepiar, imagine-o falando sobre dragões. – Vamos ver seus novos amigos. – então tudo começou a tremeluzir.


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