Oblivious escrita por Return To Zero


Capítulo 6
Caco de Vidro


Notas iniciais do capítulo

"Sentido-se desolada e traída, a princesa marchou até seu quarto e de lá nunca mais retornou. Observando aquela pessoa da janela, derramous suas lagrimas cheias de raiva e ódio."



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A residencia dos Thompson não era nem tão grande, nem muito pequena. Um sobrado espremido entre outros dois, feito de tijolos vermelhos, porta e janelas brancas. Um pequeno jardim com algumas flores amarelas e grama verde.

A sala era arejada e confortavel. Dispunha de um sofá branco, mesa de centro e aparelhos modernos, espalhados pela estante de cor escura. A cozinha era em tons roseos e alegres, que transmitiam uma sensação aconchegante.

No meio da sala, uma escada de marmore frio levava para o segundo andar, composto por um corredor, três quartos e um banheiro. A senhora Thompson bateu com o nó dos dedos em uma das portas e anunciou:

"Esse é o seu quarto."

Charlotte observou a mãe anunciar as palavras com certo desanimo, e não esboçou emoção alguma. A senhora Thompson disse mais algumas palavras para o seu marido e marchou até seu quarto. O pai de Charlotte beijou-lhe a testa, e seguiu sua mulher.

Uma placa de madeira entalhada enfeitava a porta. "Charlotte". Era seu quarto. Ela lembrava do quarto. Lembrava que era amarelado, e transmitia alegria. Lembrava da colcha cor de creme e dos travesseiros fofos. O armario branco, um pouco velho. O piso de madeira que rangia um pouco aqui e ali. Ela se lembrava de tudo. Mas aquele quarto não era dela.

Despiu-se, pendurando o vestido no porta-casacos perto da porta. Analisou o corpo que se escondia sob a fina roupa intima que vestia. O seios redondos, o quadril largo e as pernas roliças. Bem diferente de dois anos atrás, ela pensou. Correu os dedos pela pele aspera, e resolveu tomar banho.

Depositou o restante das roupas no cesto que havia no banheiro. Ligou o chuveiro e a água estava morna.

Deixou que a água escorresse por seu cabelo, mesmo sem a intenção de lavá-lo. Mas se sentia fraca demais para fazer qualquer outra coisa que não foss ser dominada pela água.O vapor subia, fazendo a temperatura se elevar, e sua pressão cair gradativamente. A cabeça girava e doia, enquanto ela puxava, com toda força, suas memorias. Memorias que provariam que aquela vida era a sua vida. Mas não deu certo.

Desligou o chuveiro e pousou os pés no tapete. Eles ardiam um pouco, nada que a incomodasse muito. A toalha, amarela e felpuda, ao redor do corpo chupou parcialmente a água.

Jogou-se na cama, molhando a colcha e os lençóis. Sua mãe provavelmente ficaria brava com isso. Odiava quando fazia isso.

"Mas ela não é minha mãe." resmugou para si mesma. "Nem eu sou a filha dela."

Charlotte acabou adormecendo. Da janela aberta, a grande lua ainda a fitava, como naquele dia, esperando que a garotinha a alcançasse. Zombeteira como sempre.

Na manhã seguinte, Charlotte despertou sentindo um grande impacto em seu rosto. Abriu os olhos e descobriu sua mãe perante ela, louca de raiva, gritando palavras e mais palavras que Charlotte nunca ouviria.

Perto da porta, seu pai segurava Bartholomeu firmemente, como se quisse protegê-lo de tudo o que acontecia.

Ela piscou, e sentiu outra tapa ser desferido contra o seu rosto, fazendo-a girar na cama. Suspirou por não entender os motivos da violencia.

Mais alguns gritos e sua mãe se foi, junto de seu pai e Bartholomeu. A Charlotte que ainda mantinha as lembranças daquele local acabou chorando, mas se recompôs muito rapidamente, ao sentir o cheiro de torradas vindo da cozinha.

Bocejou e analisou a face avermelhada no espelho do banheiro. Não fazia diferença. Aquele corpo era da filha deles. Aquele corpo estava morto.

Abriu o armario e apanhou uma roupa qualquer, descendo as escadas em seguida, enquanto ajeitava o cabelo. A mãe fez uma cara feia quando ela sentou, e o pai fingiu não estar ali.

Apanhou uma torrada e comeu os ovos moles e o bacon quase cru que sua mãe havia posto no prato. A comida tinha um gosto pessimo, e ela fez questão de mostrar isso, fazendo uma careta ao engolir.

A mãe continuava e dizer palavras e mover seus labios. Na maioria das vezes, coisas ruins sobre Charlotte e sobre a mesma ser surda e inutil. Nada que a atingisse, obvio.

E assim, os dias se estenderam. O pai mantinha-se completamente neutro, observando de longe os golpes que a mãe desferia sobre o corpo de Charlotte e os momentos em que, incidentalmente, a queimou com um ferro por não saber passar a roupa corretamente.

Até que, por ironia do destino, uma tarde, Charlotte sentiu certa urgencia em sua cabeça. Não sabia muito bem o que era. Saiu de seu quarto e caminhou pelo corredor, até o quarto dos pais. A luz estava acesa, e o comodo vazio. Algo dentro do berço se movia.

Aproximando-se, Charlotte viu a pequena criatura fazer caretas e espernear. Sabia muito bem que ele estava chorando, e parecia que há muito tempo. Perguntou-se porquê não o pegaram ainda.

"Calma, calma. Você não está mais sozinho." murmurou para a criança, pegando-a no colo "Eu fico aqui com você, então não precisa chorar."

"Eu não sei o seu nome, mas o meu é Charlotte." o bebê parou de chorar e, pla primeira vez, Charlotte sorriu. "Você parece ser um menino. E é bem bonito também."

O bebê também sorriu, balançando os braços, porque finalmente, seu pai havia ouvido seu choro.

Charlotte se virou, com seu largo sorriso juntamente com seus olhos mortos, lhe dando um ar assustador.

Seu pai ordenou-lhe que colocasse Bartholomeu de volta no berço. A garota deu uma risadinha baixa "Olha, eu fiz ele parar de chorar. Se não fosse por mim, ele morreria chorando."

O homem piscou, possesso, avançando sobre a garota derrubando-a no chão. Como consequencia, o pequeno Bartholomeu escapou de seus braços, chocando-se contra a madeira do piso.


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Notas finais do capítulo

Esse capitulo ficou grande e chato, meh... Acho que não saiu como eu queria.



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