Oblivious escrita por Return To Zero


Capítulo 5
Ataduras


Notas iniciais do capítulo

"A princesa confiou sua vida àquela pessoa.
E com todas as suas forças, num tiro certeiro, ela a traiu."



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/371767/chapter/5

Uma semana havia se passado desde o incidente. Charlotte havia passado por varios exames que comprovaram que sua visão, seu tato e fala estavam 100% recuperados. Sua surdez foi constatada como permanente.

Certa de que um corpo morto não precisa se alimentar, rejeitava as refeições todos os dias. Aguardava pacientemente, olhando pela janela, a visita do rapaz de cabelos claros.

Duas semanas depois, percebeu que ele não viria mais. Desistiu de esperá-lo. Seus cortes não estavam muito bem cicatrizados, e era um pouco dificil caminhar, de modo que ela sempre se encontrava na cama, com um olhar frio, mirando as coisas.

Em um dia desses, a maçaneta de seu quarto girou. Da porta, surgiu o médico seguido de uma mulher vestida de vermelho, e um homem enfiado num terno preto.

Ambos tinham as expressões graves, e o médico parecia levemente preocupado. Seus labios se moviam com urgencia, e seus olhos se encontravam com os olhos glaciais de Charlotte.

"Então, ela simplesmente acordou?" perguntou a mãe "Acordou sem mais nem menos?"

"Senhora Thompson, entenda que isso é um milagre!"

"Ela acordou tarde demais, se quer saber." disse, olhando para os olhos castanhos da filha "Alias, Charlotte Thompson morreu dois anos atrás. Essa garota que acordou, não é minha filha."

Mirou a garota uma última vez, e saiu do quarto. Senhor Thompson e o médico trocaram algumas palavras. Charlotte estaria pronta para deixar o hospital em um mês, no maximo. Eles deveriam buscá-la na data marcada.

Já no carro, a senhora Thompson parecia estar emburrada. Havia esquecido do peso que estava dormente no hospital, e havia levado uma vida sem pesares ou preocupações.

Por outro lado, o pai continuou pagando as despesas e crente que, mais cedo ou mais tarde, sua Charlotte se levantaria. Não fora muito bem como esperava, mas ela estava ali. Surda, mal-cuidada e aparentemente morta, mas estava ali.

Dirigiram até a residencia dos Thompson sem pronunciar uma única palavra. Assim que o carro parou, o silencio fora quebrado pela criatura que estava no banco de trás: O pequeno bebê chamado Bartholomeu Thompson.

________________________________________

Um mês havia se passado para Charlotte. Estava com olheiras profundas, e levemente desnutrida. Talvez um ou outro enfermeiro tenha forçado-a a comer, sem muito sucesso. Seus cortes haviam se cicatrizado muito antes, mas ela, no fundo, ainda esperava que o rapaz de cabelos claros escalasse sua janela e viesse lhe visitar.

No começo da tarde, a enfermeira de sempre entrou em seu quarto e, com delicadeza, colocou-a de pé. Charlotte entendeu que já podia caminhar. Ajudou-a a tomar banho e a se vestir. Os sapatos que estavam ali eram liláses e confotaveis. A garota soltou um suspiro de alivio, ao sentir a maciez da palmilha. A enfermeira sorriu, esperando ver uma expressão de contentamento no rosto da paciente, mas nada fora do usual havia ali.

Assim que a garota estava trocada, saiu em busca do médico, para alguns detalhes finais. Vendo-se sozinha, e com a habilidade de andar de volta, caminhou até as portas de vidro do jardim. Respirou fundo, abriu-as, e descobriu o jardim vazio.

Correu até um determinado ponto, sentindo os pés latejarem ainda. Tomou folego por alguns segundos, antes de dizer em tom um pouco alto "Ei, eu estou indo embora."

"Eu não sei quem você é. Ou o quê. Mas, eu não lhe verei mais. Estou indo embora, mesmo não estando completamente recuperada. Talvez eu nem me recupere. Mas eu não me importo."

Girou em torno de si mesma, contemplando os bancos e árvores. "Você deve estar por aqui. Talvez esteja falando comigo, mas eu não posso lhe ouvir. Queria lhe agradecer por ter me feito companhia."

Por trás das portas de vidro, quatro pessoas fitavam a garota que girava para lá e para cá, movendo seus labios de modo hesitante, proferindo palavras para o nada.

"Queria... Ter lhe visto uma última vez... Hoje..."

Pela primeira vez, no fundo de seu coração, algo despontou. Percorreu todo seu ser, provocando um arrepio. Virou-se para as portas. Sentiu dois grandes olhos castanhos que a miravam de modo furioso, ou algum outro sentimento que Charlotte não pôde discernir.

O medo rapidamente escapou por seu olho, e escorreu por sua bochecha. Depois sumiu, como se nunca houvesse existido.

Sentindo-se abandonada pela última vez, deu seu primeiro passo a caminho de um pressentimento terrivel.

Sem medo, ou ansiedade. Nada pode matar o que já está morto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Creio que estamos no meio da historia já, e espero que tenham gostado desse capitulo! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Oblivious" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.