Eleanor e Adam não demoraram a se vestir. Mal haviam se secado e já pegavam as mochilas para irem atrás da garota.

Adam estava segurando a sua mochila, por ser mais pesada, e Eleanor levava a dela e mais a de Zoey, por conta de ser leve.

- Para onde vamos? – Perguntava Eleanor impaciente.

- Vamos lá em cima! – Apontou Adam, em direção ao topo da cachoeira, onde podiam avistar algumas árvores. – Teremos que arrumar um jeito para subir por aqui. – Estavam ao lado da rocha onde Zoey havia sido raptada.

- Já sei. – Respondeu Eleanor – Vai ser difícil, mas podemos tentar subir pelas pedras. – Um pouco ao lado de onde a cachoeira descia, tinha algumas pedras secas onde não era atingida pela água. – É o único jeito. – Adam confirmou com um aceno de cabeça, e foi até lá.

Começaram com um pouco de dificuldade. Quando a água da cachoeira batia com força nas pedras ao lado, uns pingos atingiam as pedras secas por onde subiam e deixavam-nas escorregadias. Em diversos momentos, Eleanor, que estava atrás de Adam, tropeçava, e ele parava para ajudá-la.

- Vamos, você consegue. – E ela assentia.

Quando finalmente Adam conseguiu chegar ao topo, ele respirou fundo. Estava numa pedra plana e já podia ficar em pé. Ajudou Eleanor a se erguer e ficaram parados ali, ao lado deles, a água que descia do rio mais acima despencava lá em baixo.

- Certo, não podemos perder tempo. – Deu as costas à cachoeira e estendeu os braços para cima, tentando encontrar a grama. Ao sentir algo firme sobre a terra, se segurou e projetou-se para cima. Novamente, ajudou Eleanor.

Ao se levantarem, olharam ao redor. Do lado deles, estava um rio que corria em alta velocidade, seguindo o caminho das pedras e caindo lá em baixo de onde os dois vieram. Do outro lado do rio, havia outras árvores.

- Que caminho tomamos? – Perguntou Eleanor.

- Vamos seguir reto desse lado, pelo que vi, o grifo prosseguiu nessa direção. Não virou para o outro lado. – E caminharam em passos rápidos. A cada momento que continuavam, mais árvores surgiam ao redor e deixavam-nos se sentindo presos.

Depois de quase uma hora caminhando reto, Eleanor parou.

- Adam.- Chamou ela. Ele se virou. – Olhe onde estamos. – Não importavam aonde eles olhassem, as árvores tinham-nos cercado. Teriam que ficar desviando delas se quisessem prosseguir. Adam pensou que já era noite, pois ao olhar para cima, estava escuro. As árvores grandes bloqueavam a luz do céu.

- Não podemos parar, Eleanor! Zoey pode estar em perigo! – Ela encolheu os ombros. Adam estava gritando com ela. – Não posso perdê-la assim!

- Desculpe-me, eu só.. – Ela se calou. Começou a olhar para os lados, com uma reação de horror estampada em seu rosto.

- Você só o que? – Perguntou ele, fitando-a.

- Você não está ouvindo? – Sussurrou ela.

- Ouvindo o que? – E de repente um alto grunhido ecoou pela floresta. Eleanor correu para o lado de Adam.

No mesmo instante uma árvore foi arrancada e saiu rodopiando pelo ar, passando em frente aos dois. Uma criatura enorme com mais de três metros e uma pele esverdeada se revelou ao local onde antes estava a árvore. Ele grunhiu novamente, com mais ferocidade. 

- Corra! – Gritou Adam, puxando Eleanor pelo braço. Os dois correram, desviando das árvores o mais rápido que pôde. Em alguns momentos, batiam a perna, a cabeça ou os braços nos galhos.

Logo atrás, o enorme trasgo florestal continuava a persegui-los. A cada passo que a criatura dava, fazia o chão abaixo deles estremecer.

Não pare! – Gritava Adam para Eleanor, que estava começando a se cansar. Parecia que estavam indo à direção certa, pois o número de árvores que os cercavam estava diminuindo, mas o trasgo continuava a persegui-los.

Então, chegaram a uma colina. O céu escuro e estrelado se revelou acima de suas cabeças. Eleanor caiu na grama de joelhos.

- Não.. consigo.. mais.. – Dizia ela. Cada palavra saindo após um suspiro.

- Eleanor! – Mas já era tarde de mais. O enorme trasgo de pele esverdeada saiu do meio das árvores, e num movimento rápido, atingiu Eleanor com sua enorme mão maior que o corpo dela, e fez a garota voar no ar, caindo de costas a alguns metros de Adam.

- Seu monstrengo desgraçado! – Disse o garoto, enquanto retirava a varinha do cinto. – Estupefaça! – Um lampejo avermelhado surgiu da varinha dele, na direção do trasgo e atingiu-lhe o peito. A criatura olhou na direção que o lampejo explodiu em faísca e soltou uns grunhidos estranhos, semelhantes a uma risada.

Adam se assustou e começou a dar passos lentos para trás.

- Saia de perto de mim! – A cada passo que ele se afastava, o trasgo prosseguia na sua direção.

- Dina, proteja o garoto! – Gritou uma voz suave ao longe. E logo um pássaro avermelhado com um longo rabo que projetava pequenas faíscas alaranjadas rasgou o céu e voou em direção a criatura enorme. Perto dele, a fênix parecia inofensiva.

E começou ali, na frente de Adam, uma verdadeira guerra entre o enorme trasgo e a pequena fênix. O pássaro, com muita rapidez levou suas garras douradas num dos olhos grandes e sonolentos do trasgo e fincou. Ele grunhiu e começou a balançar a cabeça para todos os lados, tentando se livrar dela.

- Érc! – Gritava o trasgo. Agora, remexendo todo o corpo, como se estivesse numa coreografia de uma dança maluca. Ele se jogou de joelhos, e fez a terra vibrar. De repente, jogou a cabeça com toda velocidade para frente, a fênix se soltou e voou no ar, e o trasgo bateu a cara no chão, e adormeceu.

- Trasgos são tão burros. – Disse Adam em meio a uma gargalhada e logo se interrompeu. Quase se esqueceu que Eleanor estava ferida. – Ah, não! – Disse ele, correndo para sua direção. O corpo da garota estava caído sobre a grama.

- Ela vai ficar bem. – Disse a mesma voz suave que tinha gritado pela fênix - Dina vai cuidar dela. – E assobiou. Adam olhou para trás. A garota era alta, com longos cabelos acobreados. Olhava para ele com um largo sorriso no rosto.

Ao ouvir a dona assobiar, Dina voou até a grama e parou em frente à Eleanor.

- Você sabe o que fazer. – Disse a garota. A fênix balançou a cabeça como se estivesse concordando, e aproximou o rosto ao de Eleanor. Uma lágrima brilhante brotou de seus olhos amarelados e caiu sobre o rosto de Eleanor, que aos poucos foi acordando.

- Eleanor? – Chamou Adam.

- Sim? – Ela abriu os grandes olhos azulados. – Estou me sentindo tão bem.  

A fênix levantou vôo até a dona e pousou em seu ombro.

- Muito obrigado! – Disse Adam a ela.  

- Beatrice. – Respondeu ela.

- O que? – Perguntou Adam, confuso.

- O meu nome. Eu me chamo Beatrice Kennilworthy. – Ela sorriu.

- Ah, claro.

- E você é o Adam.

- Sim, sou. – Ele concordou. – Mas, como sabe meu nome?

- Aquela garota engraçada que disse. – Ela abriu um largo sorriso. – Ela chegou um pouco assustada por lá, estava gritando seu nome, mas depois se acalmou. Agora está em repouso.

- Zoey? – Ele se encheu de alegria. – Onde está ela?

- Ela não disse se o nome dela era Zoey. – Respondeu Beatrice – Mas está lá conosco. Na cabana de repouso. – Ela percebeu a expressão de alegria e preocupação em Adam – Não se preocupe, ela está bem. Jason e outros garotos foram até a cachoeira procurar vocês. Foi onde a garota disse que estava quando Jason a pegou. Eu aproveitei e saí da cidade também. Fiquei curiosa para conhecê-lo. – Ela sorriu.

- Leve-me lá. – Adam pediu. Eleanor já estava em pé ao seu lado.

- É claro! Venham. – E subiram a colina.