*Flashback

Tudo o que a ex curandeira podia ver era escuridão, tudo o que podia sentir era um vazio em sua alma, literalmente.

Depois da batalha contra a Floresta Sombria, diversos gatos tinham sido cruelmente assassinados, ela era um deles. Morta pela segunda vez por Bordo de Sombra em uma tentativa de proteger Tempestade de Areia. Mas dessa vez, nunca irá voltar, nunca mais irá visitar Estrela de Fogo em sonhos, o adorável aprendiz que ela conhecera à tempos atrás, será que ele havia sobrevivido?

Uma brilhante luz emergindo das sombras cegou seus olhos por alguns segundos, miados de gatos perturbavam seus ouvidos. E uma gata idosa de pelagem azul acinzentada surgiu.

–Saudações Folha Manchada, venho do Clã das Estrelas trazer-lhe uma missão.

–Mas eu estou morta! – exclamou a gata sarapintada, se surpreendendo ao ouvir sua própria vos novamente. Rapidamente reconheceu os olhos azuis que brilhavam em sua direção – Estrela Azul?

–Pensava que ia demorar uma lua para se lembrar – brincou a líder – bom, eu fui mandada pelo Clã das Estrelas para lhe avisar sobre uma nova profecia, onde de acordo com nossa análise os gatos da floresta sombria se revoltarão com a derrota, os novos vilões se aliarão e Garra de Espinheiro, Planar de Esquilo e os outros líderes e representantes serão mortos criando o caos total e a queda eterna dos clãs. – Folha Manchada permanecia paralisada – Nós te mandaremos de volta ao tempo, exatamente no momento em que Pata de Fogo e Pata Cinzenta serão nomeados guerreiros, você estará de volta. Mas não poderá contar sobre isso a ninguém sem a permissão dos espíritos, ou seremos mandadas de volta e você voltará a essa prisão. Você aceita?

–Eu aceito, mas, se eu não aceitasse?

–Acontecerá a queda definitiva ou poderemos mandar o gato errado que apenas piorará a situação.

A curandeira eriçou os pelos, não seria capaz de passar o resto da eternidade presa com peso na consciência.

–Eu aceito, eu realmente aceito.

–Certo, Manchada, -Estrela Azul sorriu – Quando você voltar e se recuperar eles irão lhe passar a primeira missão. Todos os gatos que antes estavam vivos irão contigo.

–Inclusive você?

–Inclusive eu, mas apenas eu e você teremos lembranças do Clã das Estrelas, da profecia e do outro futuro.

–Certo, quando vamos?

–Agora.

–A-agora?

–Claro, quanto menos tempos perdemos, melhor.

–Tudo bem, então.

Estrela azul se aproximava com o focinho a Folha Manchada.

–Só se lembre de uma coisa, não é apenas mudar o passado, pois vários caminhos dão em apenas um ponto. – Folha Manchada se sentiu em pressão, poderia falhar com apenas um passo dado da maneira errada.

Seus focinhos se encontraram, e tudo voltou à mesma escuridão.

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Essa era a lembrança que incomodava a mente da gata, enquanto estava sendo curada por uma idosa com o rosto coberto de cicatrizes.

–Está se sentindo melhor, Manchada?

–Sim... É... Acho que sim. – Folha Manchada se acomodou no ninho de musgo, se sentia incomodada, não tinha tanta intimidade com a velha curandeira, mas se lembrava dos grandes atos que ela fez. – Obrigada pelo apoio, Presa Amarela.

–Ah não precisa agradecer – A gata acinzentada pegou o resto de ervas com a boca e as separou – é o mínimo que posso fazer quanto a sua hospitalidade e generosidade de cuidar dos meus antigos machucados.

Manchada só foi se lembrar disso agora, quando viu as restantes cicatrizes em sua pata.

–A folha manchada está bem?! – Um aprendiz desesperado com o pelo alaranjado e eriçado pulou para dentro da toca, possuía uma presa fresca na boca, acompanhado de outro gato acinzentado que apenas olhava interessado.

–Está bem, pirralho, não a incomode, só você Pata de Fogo – Presa Amarela deu uma picadela sarcástica ao aprendiz, que envergonhou-se levemente. – Cuidem por um minuto dela enquanto busco mais ervas – ela deu outra piscada na direção de Pata de Fogo, que extava se sentindo mais envergonhado, enquanto Pata de cinza forçava-se a não rir.

–Trouxe para você, Folha Manchada. – Ele entregou a presa fresca.

–Obrigada. – Ela abocanhou um pedaço da presa, podendo saborear depois de luas o antigo sabor de um camundongo.

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De longe, um gato grande e malhado que possuía uma enorme cicatriz no nariz, acompanhado de uma gatinha frustrada de pelo cor de areia.

Continua...