– Que história é essa?! - o gato listrado resmungou, com a cicatriz bizarra em seu focinho se mexendo - era para a Chata Manchada estar morta! Sem uma curandeira experiente daquelas qualquer gato ferido iria morrer! Facilitando meu trabalho!

– Por que está brigando comigo?! Você deu essa missão à Cara Rasgada e Estrela Quebrada, não à mim! - a aprendiz cor de areia cuspiu.

– Me diz, você não quer o Inútil de Fogo para você? Essa gata vai estar no seu caminho, quero só ver o nomes dos filhinhos deles! Que tal "Idiota de Lava" e "Imundo Nevado"? - O gato ria enquanto zombava os nomes.

– Deixe de ser cérebro de camundongo, Folha Manchada é uma curandeira! Curandeiras não podem ter filhos nem namorar!

– Mas existem aquelas que quebram os códigos, tipo Presa Amarela.

– O que você está falando?! Presa Amarela é muito velha para ter filhos.

– Eu não sei quem é o filho ou filha dela, mas eu sei que ela já foi mãe, dá para notar se você prestar bastante atenção em seu olhar. Ela TEM um filho perdido, tenho que descobrir qual é. Mas isso é segundo plano, primeiro tenho que tirar Pata de Fogo, Estrela Azul e Folha Manchada do caminho. Pata Negra não é mais necessário, nem Rabo Vermelho.

– E a minha recompensa, ainda vale?

– Se você não falhar, sim! Terá aquele gato que não sei como você gosta dele todo seu.

A gata sorriu.

– Não vou falhar, Garra de Tigre, mas se eu conseguir Pata de Fogo sem completar a missão eu estou fora.

– Você que sabe, Pata de Areia, mas terá que manter tudo em segredo, ou seu sangue irá derramar.

A aprendiz engoliu em seco, parecia algo certo a fazer, mas não queria fazer o mal.

Ao anoitecer, dois gatos andavam em uma trilha na floresta, apenas com os últimos raios de Sol como iluminação.

Um aprendiz alaranjado andava lentamente ajudando uma curandeira ferida a chegar numa fonte de água.

– Ei, Pata de Fogo, me desculpe por interromper sua cerimonia de nomeação. Agora isso apenas acontecerá amanhã, eu sei o quanto você queria isso, me desculpe mesmo. - a gata se lamentou, ser nomeado guerreiro era um dos sonhos do aprendiz. Ela pensava que queria voltar no tempo para reviver um pouco mais tarde e não atrapalhar nada.

– Não se desculpe, ter você de volta é melhor que isso tudo! - o gato, também conhecido como Pata de Fogo, tinha um brilho nos olhos que mostrava felicidade, ele estaria agora chorando na toca dos curandeiros se Folha Manchada estivesse realmente morta.

Manchada sorriu, meio envergonhada, ninguém nunca havia falado de tal jeito com ela.

– Acho que chegamos - Pata de Fogo avisou, olhando para o rio que fazia fronteira com o território do Clã do Rio. - Foi mal por te fazer andar até aqui, eu esqueci de levar água ao clã...

– Não tem problema, foi até bom para mexer as patas - a gata sorriu e começou a beber um pouco da água que parecia mais calma - me sinto melhor. Acho que já dá para curar alguns gatos.

– Não não não não não, você tem que descansar, seus machucados podem apenas sangrar mais se você quiser curar alguém! - ele respondeu teimoso.

– Quem iria me substituir, então? - ela também respondia, teimosa.

– Presa Amarela, é claro!

– Fala sério, eu sei cuidar de alguns guerreiros feridos.

Pata de Fogo tinha um pouco de ciúme também, mas tinha medo que algo acontecesse a curandeira.

– Discutimos isso com Presa Amarela, - Pata de Fogo colocou a curandeira no colo. Folha Manchada notou que ele agora estava com o porte físico de um guerreiro, estava maior e mais forte, diferente daquele gatinho de gente que tinha conhecido tempo atrás - vamos voltar, aliás, Estrela Azul me deixou com o cargo de cuidar de você.

Folha Manchada sentiu o rosto queimar ao ouvir tais palavras.

Ao chegarem na toca dos curandeiros, Pata de Fogo colocou a gata no ninho confortável de musgo, ele olhava seu pelo manchado naturalmente de marrom e preto nas costas e nas laterais do rosto. A barriga, a calda e o resto do rosto eram brancos, uma orelha era marrom e a outra preta, e seus olhos eram castanhos. Ela era admirável, mas era uma curandeira. Por que uma curandeira? Ele podia querer, mas nunca iria ficar com ela.

– Algo errado? - a voz simpática de Folha Manchada ecoou na toca.

– Ah! Não não, só estava pensando um pouco, bem, até amanhã. - Ele lambeu seu rosto como uma despedida - qualquer coisa me chame!

– Boa noite Pata de Fogo, que o Clã das Estrelas esteja com você. - Ela deitou sua cabeça e dormiu, sem nenhum sonho estranho para atrapalhar-la.

Enquanto isso, o gato andava pensativo até a toca dos aprendizes, onde encontrou seu melhor amigo, Pata Cinzenta.

– Ei cara! O que rolou entre você e a Manchada, em? - aquele gato brincalhão sorriu com cara de quem pensou em coisas indecentes.

– Nada! Eu só levei ela para beber água! - O pelo alaranjado do gato agora tinha uma aparência mais avermelhada(isso é possível? provavelmente não).

– É gatinho de gente, o que aconteceu? - A gata cor de areia surgiu das sombras, pulando em cima do gato alaranjado - uma curandeira daquelas não merece você!

– Ei, saí de cima de mim! - Pata de Fogo a afastou com a patas traseiras.

– Não encoste nele, idiota! - Pata Cinzenta expulsou a gata amarelada - achava que você tinha nojo dele, falsa.

A gata desapareceu nas sombras, com o olhar fixo nos dois.

– O que deu nela? - Pata de Fogo deitou-se, confuso.

– Ciúmes, cara, ciúmes.

Continua...