A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 11
As luzes do destino atacam novamente


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o novo capítulo que foi pedido pela minha mais leal leitora, daughter of hades. Muito obrigado por seus comentários!

E não se esqueçam : TEM QUE LER AS CRONICAS DOS KANE e A PARTIR DE HOJE, EU POSTO OS CAPÍTULOS ASSIM QUE ME PEDIREM!



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ENQUANTO EU LIA MENTALMENTE MEU TESTAMENTO – no qual não possuía pessoas, ou coisas para dar a elas – o primeiro palhaço pegou meu pé que tocou o ácido, me levantando de ponta cabeça e me sacudindo feito um saco de batatas. Não é nada legal, principalmente quando você está com tanto sono que sua mente parece ter tomado voo e ido para bem longe.

Meu pé ardia com o ácido, e eu tentei me concentrar na dor excruciante pra voltar à minha mente. Eu ainda estava bem sonolenta, mas quando o palácio me largou e eu estava para beijar o chão, pude aterrissar com as mãos e me levantar com um doloroso pulo, mancando o mais rápido que eu podia na direção do bosque que contornava o cemitério enquanto eu ouvia engrenagens pulsando nos palhaços que corriam na minha direção.

Correr por um cemitério com a mente sonolenta, palhaços demônio do Ronald Mcdonald atrás de você e pedras, lápides e epitáfios dos mortos a cada dois metros é tão legal quanto assustador. Quando eu finalmente adentrei as árvores, uma pedra no meio do caminho me fez realmente beijar o chão e eu praguejei em grego enquanto dava tudo dos meus músculos aparentemente atrofiados para levantar. Os palhaços estavam se debatendo em uma árvore que rudemente ficava no meio do caminho, então eu consegui me apoiar nos galhos baixos de um pinheiro-bebê e voltar a mancar na direção da floresta.

Eu voltei à ouvir os palhaços quando atingi o que pareceu o pico de sombras da mata, e pela primeira vez tudo pareceu um breu de escuridão – aparentemente, os poderes de filha da noite não funcionam se você está física e mentalmente exausta. Apoiei-me em um tronco do que pareceu uma árvore velha de eucalipto e respirando pesadamente fiz uma prece para Nyx. Por favor – eu pedi ­– por favor, alguma ajuda.

Quase que instantaneamente, algo brilhou azul a alguns metros de mim, como uma chama de 10 cm de diâmetro azul controlada. Com alguns passos mancos eu fui em direção dela, e no momento que a toquei com a ponta de meus dedos machucados, ela desapareceu, e logo adiante uma trilha delas seguia um caminho obscuro pela floresta.

- Will’o-the-wisp – eu murmurei com uma ponta de esperança e segui a trilha de chamas brilhantes.

Após alguns minutos de caminhada (ou mancada?) exaustiva, os sons exagerados de engrenagens rangendo finalmente voltaram, como se os palhaços estivessem me seguindo. Eu não duvidei da possibilidade – sinceramente, minha sorte não é boa – e tentei aumentar a velocidade, o que resultou em fortes dores no meu pé em carne viva e uma menta cada vez mais sonolenta. Eu avancei e avancei em arbustos de nightlocks*, rosas espinhosas e urtigas, e finalmente cheguei ao que parecia uma clareira.

Eu só tive o tempo de me debruçar sobre uma árvore e respirar com dificuldade até eu perceber duas coisas extremamente notáveis. Primeira: eu não estava sozinha na clareira, e segunda: os palhaços estavam a menos que um raio do 5 m de distância de mim.

Tão rapidamente quanto possível nas minhas condições, eu virei a minha cabeça na direção da companhia não hostil, ou melhor, hostil mas próxima, já que tinha uma espada negra (e muito, muito afiada) na minha direção. Antes que eu pudesse olhar na cara do sujeito, os palhaços irromperam na clareira jogando ácido para todo o lado com aquele barulhinho de engrenagens batendo e rangendo, e aparentemente eu e o Sr. Espada-negra nos tornamos aliados.

Puxei Retaliadora e desviei do primeiro arremesso olímpico de ácido, que atingiu o tronco de uma árvore fina, porém alta, que caiu na minha direção. Me joguei para o lado cuidando para não aterrissar com o pé em carne viva enquanto ela atingia o primeiro palhaço na cabeça e caía, segurando o mesmo que fazia um barulho de curto-circuito no chão enquanto soltava fumaça. Eu me foquei no segundo palhaço, e vi que o outro garoto – eu supus que era um garoto – que parecia estar no controle de sua situação de desvantagem, atacando e desviando sem nunca surtir qualquer dano.

Corri – só modo de dizer, na verdade manquei desesperadamente – na direção dos dois, e quando cheguei à uns cinco metros da cena o garoto fez uma coisa impressionante – ele apontou a mão para o chão aos pés do palhaço e este instantaneamente rachou, abrindo uma cratera larga. Teria sugado o palhaço em cheio para os confins do mundo inferior se ele não tivesse se jogado na minha direção.

Quando o palhaço encostou em mim, eu institivamente coloquei as mãos para frente largando Retaliadora e tentado preveni-lo de alcançar o meu rosto, o que foi de fato muito estupido já que ele deu com tudo nas minhas mãos. Quando eu pensei que seria esmagada pelo impacto dele contra o meu rosto, ele simplesmente parou sob minhas mãos. Simples assim, parou e ficou olhando para mim com aquela cara feliz congelada, e então eu percebi que no lugar que eu tinha encostado nele um ferrugem cresceu, cada vez se expandindo mais pelo palhaço até que ele havia virado pó.

Eu olhei para minhas mãos então, que estavam misteriosamente molhadas.

- Você – disse o menino, com uma voz que teria me dado arrepios à alguns meses antes de meu diretor ter virado uma galinha flamejante. Eu olhei para ele e me deparei com um par de olhos castanhos escuros. Eles me olhavam seriamente, livrados de qualquer emoção. Por alguma razão – talvez fosse a tonalidade de marrom, ou as olheiras muito escuras ao redor dos olhos – eu me vi completamente desarmada diante daquele olhar, mergulhando em um rio castanho escuro feito de pura tristeza que me afogava. Quando eu pisquei para ele, percebi que aquele rio tratava-se não da minha tristeza, mas da tristeza escondida atrás dos olhos.

Talvez fosse o meu estado emocional de quase-experiência-de-morte, talvez fosse meu cansaço físico e mental, talvez fosse por que eu vi o fantasma do meu pai mais cedo – mas quando eu pisquei novamente para os olhos do garoto, estava afastando lágrimas.

Isso, lágrimas. Eu, Eevelyn Forbes, filha da noite e do mais destemido escocês de todos os tempos estava chorando. De repente tudo foi de mais para mim – a missão solitária, o peso da salvação mundial nas minhas costas, a morte do meu pai, as frequentes experiências de quase morte, a minha avó indiferente, o preço da minha cabeça na sociedade dos monstros, os mistérios a respeito da espada, do fantasma do meu pai, das minhas mãos inexplicavelmente molhadas, a espada apontada pro meu pescoço – e eu escondi meu rosto com as mãos calejadas, enquanto lágrimas desciam pelas minhas bochechas e caiam no chão como gotas de chuva, algumas alcançando meus lábios com um gosto salgado.

Se você acha que eu estava em uma situação ruim, devia ter visto a cara do garoto – ele instantaneamente guardou a espada no cinto na cintura olhando para mim com uma expressão entre dúvida e desespero. Logo que eu pude controlar os soluços que me assediavam frequentemente, limpei o rosto na manga da minha jaqueta e dei um longo, pesado e demorado suspiro. Ele então piscou para mim, como se me perguntasse gentilmente se eu já tinha acabado. Sua expressão era tão encabulada que eu sorri para ele, o que deve ter parecido muito estranho já que a menos de dois segundos eu estava chorando como uma china velha**.
- Você está machucada? – ele me perguntou suavemente, ou tão suavemente quanto podia, percebi. O garoto parecia estar acostumado a ser obtuso (não me pergunte como, eu simplesmente deduzi por sua postura). Não confiando em minha voz, eu assenti para ele. Seus ombros caíram, ele parecia um pouco mais aliviado. Então sua expressão rapidamente voltou a ser séria – Você estava mancando. – ele observou, e olhou para o meu pé.

Eu fiz o mesmo, pela primeira vez tive tempo para encarar o ferimento no meu pé esquerdo e me arrependi assim que fiz isso – o coturno simplesmente se desintegrou onde o acido tocou, deixando um bocado de pele do meu calcanhar até a metade do lado interno do pé livre para ser queimada, o que, naturalmente, aconteceu. Toda essa área mostrava-se como uma coxinha de galinha recém-saída do forno – com áreas douradas, vermelhas, rosas e verdes. Eu podia até ver uma veia roxa que mostrava-se pulsando com dificuldade. Como diabos eu tinha caminhado com aquilo?

Eu arfei dando um passo para trás o que mudou o peso do meu pé direito para o esquerdo que provocou uma onda de dor que me fez dobrar sobre meus joelhos e perder o equilíbrio. Rapidamente o garoto me pegou pela mão, me impedindo de beijar o chão de novo e me puxando levemente para que eu pudesse ficar em pé. Assim que se assegurou que eu podia me manter sozinha, seus dedos gelados deixaram minha mão e ele me empurrou sutilmente na direção de um tronco caído – felizmente, não aquele que tinha esmagado o primeiro palhaço – e fez menção para que eu me sentasse.

Ele me perguntou se eu tinha ambrósia ou néctar, e eu assenti. Enquanto eu revirava o conteúdo da minha mochila, ele pegou do nada um rolo de gaze branca e me pediu o néctar, que eu demorei alguns segundos para encontrar e alcançar para ele.
- O que você vai... – eu disse, mas então ele derramou um pouco sobre a minha ferida já virada para cima, o que provocou o melhor dos alívios e uma sensação calorosa no meu pé. Ele me devolveu o vidro rapidamente e enrolou o meu pé com o gaze, o que me deu uma sensação melhor de proteção na ferida. Mesmo que eu já me sentisse muito melhor, ele insistiu que eu comece um pedaço de ambrósia. Eu não achei necessário, mas como ele parecia ser muito mais experiente que eu no assunto de se machucar e se curar com o que você tem, eu fiz como ele disse.

Enquanto o sabor suave do molho Greavy se dissolvia na minha boca junto com uma sensação de melancolia e sono, ele se sentou ao meu lado. Nos olhamos por um longo momento antes que qualquer um de nos tivesse a coragem de se comunicar.
- Meu nome é Nico di Angelo – ele disse, me estendendo sua mão. Eu a apertei, me lembrando deprimente da menção à esse nome por Amélia ou Annabeth – Prazer em conhece-la.
- Meu nome é Eeve Forbes. – eu disse automaticamente. Ele sorriu para mim de um jeito que eu desejei que tivesse mais luz na clareira – Você é italiano. – apontei – Por que você não parece um? – sua falta de semelhança com italianos era a única coisa clara em sua aparência além da estatura e dos olhos castanhos.
- Você é escocesa – ele replicou – por que não tem cabelo laranja?

Essas palavras foram como socos no meu estomago adormecido – durante toda a minha vida quando eu confirmava que era descendente direta de imigrantes escoceses as pessoas me perguntavam por que meus olhos não eram azuis (eles de fato são azuis, mas tão escuros que as pessoas confundem com castanhos), ou por que eu não tinha sardas ou, principalmente, por que meu cabelo não era ruivo. Eu sempre me sentia triste, desde pequena, com isso, já que considerava meu pai muito bonito com sua estatura larga, sardas, olhos claros e cabelo alaranjado. Agora, eu podia dizer com toda a frequência que parecia fielmente com a minha mãe, embora comparar Nyx comigo fosse como comparar uma lamparina com o brilho das estrelas.

- Você ganhou essa. – eu disse com um bocejo. Era a primeira vez desde que eu me lembrava que estava com sono.
- Você é do Mundo Inferior. – observou ele – Filha de Hades?
- Nyx. – corrigi, tentando manter meus olhos abertos – Filha de Nyx. – ele piscou para mim e arregalou os olhos por um momento, então voltou à sua postura normal.
- Sim, claro. – ele parecia... aliviado? Eu não poderia dizer com a névoa que se tornou minha visão – Você está...

Eu não pude ouvir o resto, por que então senti minha cabeça cair e então ser segurada. Eu pisquei por alguns momentos antes de poder enxergar ele de novo me segurando pelos ombros.
- Você é filha da deusa da noite, e está morrendo de sono às oito e meia da noite? Aconteceu algo antes de você chegar aqui? – eu bocejei por um longo momento.
- Uh... o cão infernal... Nicolas... – eu disse, ou pelo menos espero ter dito – eu tentei... fugir dos palhaços, como ele disse... algo como... viajem nas sombras...? Não deu... certo. – eu murmurei, e então caí em um sono profundo.


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Notas finais do capítulo

Gostaram do capítulo? Agora, por favor, comentem para que eu me senta mais feliz a escrever e postar mesmo que seja apenas um "oi gostei"!