A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 12
Conversa militar e promessa de morte


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo :)

Por favor, comentem para que eu possa saber o que melhorar na história >.



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POR MAIS IMPOSSÍVEL que possa parecer, eu sonhei naquela noite.

Meu sonho foi primeiro um labirinto de névoa, onde eu deslizava como se meu corpo fosse feito de nuvens negras no meio de uma colina enevoada. Depois de um tempo, a escuridão e a névoa se separaram, e eu me vi em lugar lindo: uma espécie de clareira no meio da maior floresta de todas onde eu podia ver grandes montanhas ao longe, o oceano em uma beira, lagos cristalinos onde cachoeiras e cascatas desaguavam para então desaguar no oceano. A noite era silenciosa, exceto pelo barulho do vento nas árvores e de água.

Do céu, surgiu uma sombra que lenta e graciosamente pousou no chão para então tomar forma – Nyx. Ela continuava com a mesma pele LCD das estrelas, longos cabelos negros até os joelhos atados em tranças laterais até as costas da cabeça e sua roupa continuava uma espécie de fumaça negra nítida, só que em vez de um moletom negro com capuz e jeans rasgados ela usava uma roupa grega negra que tinha detalhes azul escuro com um capuz negro maior do que ela, que eu notei ela apenas se mostrando agora por estar abaixando o capuz.

Nyx olhou apreensiva, porém séria e confiante para a clareira.
- Irmã? – ela chamou.

Então a grama pareceu se levantar até a altura comum de uma mulher, e se movimentando rapidamente como aquele alienígena do filme MIB 2*, se formou em sua aparência – lá estava Gaia, com seus cabelos sujos castanhos, sua pele pálida vestindo barro e seu olhar cortante com olhos entre verde e castanho...

... abertos. Se eu tivesse um corpo no sonho, teria tido calafrios por que Gaia acordada exalava tanto poder quanto Nyx.
- Querida irmã – disse Gaia com um sorriso falso que não pareceu enganar Nyx – você veio.
- Seja direta, Gaia – disse Nyx com um olhar cortante – você me chamou, aqui estou. O que você quer? – Gaia suspirou.
- Você sabe o que eu quero, irmã. A sua aliança.
- Eu já falei com você sobre isso. – cortou Nyx – Eu não vou lutar com você essa guerra.
- Por que?! – explodiu Gaia – Você estava do meu lado contra Urano, aquele maldito! Você mesma deu a foice para Cronos! Qual o problema agora, querida irmã? Zeus persuadiu-a com seus encantos? – Nyx não mudou sua expressão.
- Você sabe muito bem por que eu não lutarei essa guerra com você. Não se lembra, querida irmã, que eu mesma dei o elmo à Hades como dei a foice para Cronos? Não se lembra que eu mesma disse à Poseidon para distrair ele enquanto Zeus o fulminava depois de Hades desatar as pregas de sua armadura e roubar suas armas? Não se lembra que eu mesma cedi o mundo inferior para Hades?
- E eu ainda não compreendo o porque! – gritou Gaia, o que resultou em um tremor no chão. Nyx também não se surpreendeu – Você não tem escrúpulos, irmã? Cedeu seus domínios para aquele moleque, afim de cair nas graças de Zeus! Está sempre do lado vencedor, não é?
- Você que pensa. – ela rebateu – O lado vencedor que está sempre comigo. Você nunca pensou que eu poderia ter ficado calada enquanto Urano te maltratava ou enquanto Cronos comia seus filhos? Todos os reis que cometem erros, Gaia, acabam por provar da minha fúria.
- Você não pode... – respondeu Gaia.
- E quando Zeus tiver ganho a guerra, e fizer algo de mal para com os mortais ou seus filhos – disse Nyx, seus olhos LCD faiscando com o brilho das estrelas – eu mesma irei dar as armas para aquele que se voluntariar a mata-lo. – Gaia olhou para Nyx como se não a conhecesse, como se aquela fosse a sombra do que uma vez fora Nyx.
- Você me decepcionou irmã. – ela disse por fim, sorrindo maliciosamente – Você tem mais escrúpulos do que eu pensei, na verdade. Então está certo, não fique do meu lado nesta guerra. Faça o que pensa que é certo, eu me vingarei de você, querida irmã.
- Você não pode me atingir. – disse Nyx – Eu estou além do seu domínio. – Gaia se limitou a sorrir.
- Sim, você está. – ela disse, então a grama estalou em seus pés e ela começou a rachar como pedaços de terra seca – Mas aqueles que você ama, se é que você é capaz disso, estão sobre minhas raízes.
- Você não tem poder sobre os meus filhos.
- Não tenho. – disse Gaia então, fechando os olhos enquanto a terra estralava com as rachaduras – Mas tenho sob o seu marido.

Antes que Nyx pudesse atingi-la, Gaia virou pó e foi levada pelo vento.

-

Eu acordei com um som de passos, o que foi provavelmente o melhor despertador depois que eu saí em missão. Abaixo de mim, eu sentia a grama fofa e meio úmida pela alvorada, assim como as ataduras no meu pé e a minha mochila sob minha cabeça, um travesseiro improvisado que eu mesma poderia ter feito...

... se não fossem as vergonhosas memórias da última noite. Eu senti leves cócegas sob minhas bochechas e instintivamente escondi o rosto o colocando contra a mochila. De alguma forma, eu liguei uma coisa à outra e percebi que deveria ser o sentimento de estar corando.

Isso mesmo – corando.

Eu cerrei os meus punhos e lentamente me comandei a me acalmar, o que funcionou até o momento que eu consegui me levantar me apoiando sob um galho e olhei para o garoto, que me fitava com uma expressão divertida enquanto comia um McLanche feliz sentado em um tronco caído.

Se você tivesse tido a mesma vista que eu, também teria perdido a calma – o garoto era, com falta de uma palavra melhor, lindo. Ele tinha um cabelo preto bagunçado mais longo do que a maioria dos cabelos masculinos, seus olhos castanho-escuro estavam divertidos, o que levemente mascarava o rio de tristeza por trás deles e o deixava de certo modo encantador. Eu não vou gastar mais que quatro linhas descrevendo a perfeição da sua pele oliva tão pálida quanto a minha, ou o modo legal que a jaqueta de aviador caía para ele assim como os jeans pretos e camiseta com esqueletos felizes de um feriado mexicano, ou a fofura do molho de churrasco do Mcdonalds que estava em uma mancha pequena no canto de sua boca. As simples palavras podem defini-lo – ele estava maravilhoso naquela manhã.

Eu desviei o olhar certa de que estava corando novamente.
- Bom-dia. – ele disse – Ou devo dizer boa tarde?
- Cala a boca. – eu disse na falta de uma frase melhor. Cruzei os meus braços e fitei meu pé enfaixado, realmente nervosa. Eu estava tão acostumada com monstros, cães infernais e deuses que uma simples interação social com outro ser humano estava me deixando encabulada (ou pelo menos eu esperava que fosse isso).
- Você quer um? – ele me perguntou, gesticulando para uma caixinha vermelha com aba dourada do McDonald.
- Um McLanche feliz? – eu perguntei, olhando para ele.
- Não reclame – ele disse, sério – dinheiro não dá em arvores.
- Tecnicamente – eu disse, caindo na tentação de pegar um hambúrguer do McDonald’s – ele dá e árvores, por que é feito de papel e papel é feito de madeira que dá em arvores. – ele assentiu.
- Sim, olhando por esse lado... – eu dei uma mordida de monstro no meu hambúrguer e alternei entre mordidas de monstro e pegar um punhado de fritas, ele ficou me olhando com cara de pasmo.
- O que? – eu perguntei.
- Você come como um monstro. – ele disse, mordendo lentamente seu hambúrguer.
- Uh – eu murmurei, abocanhando as minhas fritas sobreviventes – eu estou com fome.
- Percebe-se. – ele disse sarcasticamente. Eu revirei os meus olhos e me levantei.

Péssima ideia! – eu gritei internamente enquanto o peso no meu pé esquerdo me fazia gemer e eu rapidamente me sentei no tronco de novo.
- UGH – eu disse, então coloquei o pé ferido em cima da minha outra coxa e delicadamente desatei as faixas de gaze, revelando uma queimadura não tão ruim quanto a noite passada, porém muita mais feia: em alguns pontos no ferimento saía uma crosta gosmenta de... ugh, pus.
- Eca – eu disse, ele concordou.
- O que aconteceu com o seu pé? – ele disse.
- Aqueles palhaços... eles jogaram ácido em mim enquanto eu estava caída... –eu disse, mordendo o lábio. Boa parte da minha energia (incluindo a parte de ser foda) tinha ido embora quando eu tentei em vão viajar para a Casa da Noite.
- Como você caiu? – ele perguntou.
- Bem, eu... tentei viajar nas sombras sem sucesso. – eu disse, me sentindo boba. Eu talvez teria ficado exausta de qualquer modo mas se não tivesse pulado no nada não teria caído no chão. Para minha surpresa, ele não riu ou fez algo do tipo, apenas assentiu novamente.
- No começo, é muito difícil e você raramente entra na escuridão, quanto mais chega onde quer. Muito provavelmente por que só te deram uma explicação básica como chame as sombras e pense em um lugar.
- Foi exatamente essa explicação. – eu disse.
- Cães infernais – ele balançou a cabeça como se dissesse tsc tsc tsc – de qualquer forma, você precisa colocar um pouco de néctar nisso aí, e enfaixar de novo.

Minhas ínfimas tentativas de um bom curativo foram barradas por Nico, que bufando com a minha falta de prática tomou o gaze de mim e enrolou ele mesmo o meu pé, como tinha feito na última noite. Eu tentei não ficar feliz com as perspectivas de ter um bom enfermeiro por perto.

Depois ele me perguntou oque diabos eu estava fazendo no meio da Califórnia, e eu respondi sinceramente aproveitando o momento para contar a minha história – eu ser filha de Nyx, ter que ir derrotar o ex-marido da minha mãe no mundo inferior, topar com um cão infernal no meio do caminho e aparentemente ter que chegar à um lugar chamado a casa da noite antes de visitar o velho tio Hades. Nico ouviu silenciosamente.
- Então, você pode me ajudar? – ele me observou por alguns segundos.
- Eu poderia – ele admitiu – mas essa história não parece muito provável. – eu o encarei por um longo momento.
- Você – eu disse – está me chamando de mentirosa?
- Eu não disse isso. – ele respondeu – Eu quis dizer que Nyx não é do tipo que manda uma garotinha para parar um gigante sozinha, e manter seu ex-marido dormindo.
- Eu não...
- Eu quis dizer – ele me interrompeu – que ela não é burra, Eeve. Ela sabe que você não pode matar o gingante sozinha, é impossível matar um gigante sem a cooperação entre deuses e heróis. – eu olhei para ele por outro longo momento, minha mente funcionando como se tivesse engrenagens empoeiradas. Lentamente cheguei em uma triste conclusão: Nyx me mandara numa missão suicida.
- Ela... – eu comecei, tentando dizer que Nyx não faria uma coisa dessas, mas então parei. No fim, aquela era minha mãe, a impassível deusa da noite. Aquela que deixara o meu pai morrer, que me abandonara. Aquela que me enviara sozinha para salvar o mundo. Eu cerrei os dentes para ele – Sim ela faria isso. – eu disse – Ela pode não se preocupar se eu estou viva ou morta, mas acho que ela se preocupa se Érebo está acordado ou não.

Ele me encarou, avaliando a minha resposta por um momento. Eu não desgrudei os olhos dele, tentando manter a minha expressão tão séria quanto possível.
- Você – ele disse por fim – está realmente disposta a dar sua vida para salvar o mundo? – ele perguntou, sua expressão tão séria que parecia maldosa.
- Sim. – eu disse sem hesitar. Ele me avaliou por mais um momento, então sua postura voltou à ser casual.
- Certo, estou convencido. – ele disse, indo até o tronco e pegando sua espada.
- O que você está fazendo?
- Nós não temos que ir ao mundo inferior? – ele me perguntou com um sorriso irônico.

Por um momento, me perguntei se estaria mais segura sem do que com ele.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por ler, e por favor, comentem para que eu saiba que vocês gostam da história e saiba o que está bom e o que está mal :)