Nossa História escrita por Maria


Capítulo 3
Capitulo 03 – Como lidar com a vida?


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram, espero que vocês continuem gostando da história.



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Era sexta-feira e eu tinha sobrevivido a minha primeira semana de aulas, entrei na sala para dar meus primeiros tempos de inglês, metade da turma já tinha chegado, eu sentei na mesa, literalmente na mesa e fiquei esperando o resto dos alunos, foi uma boa surpresa quando vi Rachel entrar na sala no colo de Artie, o menino levava ela de carona em sua cadeira e os dois riam de alguma coisa que conversavam. Rachel saiu do colo de Artie e sentou-se em uma cadeira na lateral da sala, colocou sua mochila na mesa ao lado e me deu um pequeno sorriso, Brittany chegou e sentou-se na mesa ao lado de Rachel que tirou sua mochila para a amiga colocar suas coisas, Finn sentou-se atrás de Rachel, como sempre ele colocou uma mão em seu ombro deixando claro que aquela menina tinha ‘dono’.

Assim como a semana passou de forma calma, os meses passaram, já fazia três meses que as aulas tinham começado, tudo já estava entrando em uma confortável rotina. Era domingo quando entrei na sala do coral, o colégio estava fechado e vazio, eu consegui a chave com o zelador, precisava treinar um pouco de piano, as luzes apagadas refletiam que não tinha ninguém ali, porém um fraco barulho de choro mostrava o contrário. Não tinha sentido alguém estar lá e ainda mais chorando, acendi a luz e pude ver Rachel sentada no chão e escorada na quina da parede, meu coração quebrou ao ver a menina encolhida, ela estava tão pequena e chorava tanto, não sei como cheguei até lá, porém quando dei por mim já estava agachada no chão a abraçando, ela por sua vez aceitou meu abraço e se aconchegou com sua cabeça em meu pescoço.

Rachel ficou mais de uma hora chorando e eu não sabia o que  fazer, minha vontade era perguntar o que a tinha feito chorar e resolver o problema, mas eu não iria forçar ela a me contar nada, me limitei a fazer carinho em suas costas enquanto ela desabava em choro, senti muito lentamente o choro diminuir, ficar apenas os soluços, depois, nem mais eles.

“Me desculpa senhorita Fabray, eu não queria ocupar seu tempo” Rachel se levantou apressadamente, seu rosto e seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

“Não tem que me pedir desculpas Rachel, na verdade eu posso te perguntar o que aconteceu? Talvez eu possa te ajudar?” Minha voz era serena “Sente aqui Rachel” Eu ainda estava no chão e fiz um movimento indicando ela a se sentar ao meu lado, ela me olhou hesitante, mas logo aceitou o convite e sentou-se ao meu lado “O que te fez chorar assim Rachel?” Perguntei calmamente a olhando, ela não me olhava, seu olhar era perdido em algum canto no horizonte.

“Minha mãe” Ela disse tão baixo que se o local não tivesse tão silencioso e eu não estivesse ao seu lado, não teria entendido. Se fofocas fossem algum sinal, o que eu sabia era que Rachel Berry era uma menina criada por dois pais, nunca ouvi falar de uma mãe, então para mim tudo tinha ficado mais sem sentido ainda.

“Ela brigou com você? É isso?”

“Ela voltou” Foi a resposta vaga que recebi, ficamos um tempo caladas até que ela se sentiu confortável para desabafar “Eu não tenho ninguém para falar, eu não posso falar com meus pais sobre isso, Finn não entenderia, Britt menos ainda, na verdade nenhum dos meus amigos vão entender o que estou sentindo” Ela não tinha me falado o problema, mas já era um passo para tentar entender.

“Rachel eu sei que sou só sua professora e que você não deve se sentir confortável falando certas coisas comigo, porém eu estou aqui e posso te ouvir e te ajudar, eu prometo que sou uma boa conselheira” Ela me olhou com seu olhar perdido “Que tal você me contar o que aconteceu?” A olhei nos olhos e ela piscou algumas vezes, estendi minha mão no ar e ela desviou o olhar para minha mão, continuei com a mão estendida por uma infinidade de minutos, Rachel continuava olhando minha mão, eu sabia no que ela pensava, ela pensava se deveria ou não me contar o que estava ocorrendo, foi então que ela levantou sua mão e entrelaçou com a minha, a mão dela era pequena, mas se encaixou de forma tão perfeita que eu sorrir, ela me olhou e sorriu também, nossas mãos entrelaçadas deixava nossos corpos conectados, naquele momento, éramos pela primeira vez, apenas uma.

“Você deve saber que tenho dois pais, certo?” Rachel perguntou avaliando até que ponto eu já ouvi sobre as fofocas em torno dela.

“Certo”

“Meus pais se conheceram na faculdade de medicina, no primeiro dia de aula eles já ficaram juntos, algo como alma-gêmeas predestinadas” Eu olhava para Rachel com atenção, já ela, olhava para nossas mãos, eu estava 100% atenta a sua história, um sentimento me preencheu por dentro e eu me senti completa ouvindo sua pequena história de vida “Eles passaram a faculdade toda juntos, passaram o período da residência e após tantos anos resolveram que era hora de ter um filho, foi então que eles descobriram uma mulher que precisava de dinheiro e estava disposta a alugar sua barriga e seu ovulo, os três assinaram um acordo e depois do procedimento essa mulher ficou grávida, os espermatozoides foram misturado de forma que eles não tinham certeza de quem era o pai. Tudo ocorreu bem e eu nasci” Ela fez uma pequena pausa e vi que ela franziu a testa rapidamente, mas depois voltou para sua expressão normal “Eu nunca me pareci com nenhum dos dois, em nada fisicamente, sabe?” Rachel me olhou e eu movimentei meu polegar acariciando sua mão “Eu aprendi quando entrei na escola que minha família era diferente, todos os outros tinham uma mãe e um pai e eu tinha dois pais e nenhuma mãe, eu queria chegar em casa e perguntar sobre minha mãe, porém eu tive medo de deixar meus pais tristes, algo dentro de mim me disse que aquele era um assunto delicado. Mesmo eu tendo 6 anos, sabia que tinha coisas demais por trás daquela história” Não pude deixar de notar a maturidade dela, uma criança de 6 anos que tinha discernimento suficiente para avaliar situações desse tipo era algo memorável “Eu nunca perguntei aos meus pais sobre minha mãe, foi um dia após meu aniversário de 10 anos que eles me chamaram e me contaram sobre a inseminação e sobre essa mulher chamada Shelby que me gerou, eu queria perguntar como ela era, o que fazia, porém não tive coragem, não queria que meus pais pensassem que eles não me bastassem” Senti ela apertar um pouco mais forte minha mão “Então ontem” Ela se calou e eu sabia que agora viria a parte que explicaria o choro “Ontem eu fui com Britt, Finn e Kurt espiar os ensaios do Vocal Adrenaline” Ela me olhou como se esperasse eu brigar ou questionar, mas continuei calada esperando ela continuar a história, espiar o ensaio não era algo certo, mas certamente aquilo, naquele momento, era o de menos “Eles realmente eram bons, porém a treinadora deles não tinha gostado de algo, ela ficou no centro do palco e cantou, eu só ...” Rachel suspirou e sua voz saiu tremula “Eu só ouvi sua voz e sabia que ela era a minha mãe” O choro voltou, mas dessa vez menos desesperado “Eu me aproximei do palco e “ O choro ficou mais intenso “Meus Deus, tudo que procurei minha vida toda estava lá, aquela mulher era como eu, eu pude ver nela tantas características genéticas minhas” Eu aproveitei que tínhamos nossas mãos entrelaçadas e puxei o corpo de Rachel para perto do meu a abraçando, ela se curvou e colocou seu rosto escondido na minha barriga, o choro voltou a ser forte e eu voltei a acariciar suas costas, ficamos assim até que ela se sentiu bem o suficiente e voltou a sentar.

“Você falou com ela?” Perguntei vendo que ela estava perdida demais em seu mundo e não iria continuar a história.

“Falei, eu disse que meu nome era Rachel Berry e perguntei se ela sabia quem eu era. Então ela dispensou todos do ensaio e eu percebi que ela sabia exatamente quem eu era”

Rachel estava certa lá no inicio, quando disse que nenhum de seus amigos poderia lidar com isso, eu me questionei se eu poderia lidar com isso, uma menina de 17 anos não deveria ter tanto drama assim em sua vida, no máximo era para ela chorar porque brigou com o namorado ou com seus pais por não terem a deixado sair. Eu não sabia o que falar para ela.

“Rachel” Minha voz saiu falha e eu arranhei a garganta para conseguir falar com clareza “Você quer se reconectar com sua mãe?” Perguntei e logo em seguida me senti uma idiota, é claro que ela quer “Mas você está com medo dela não querer e dos seus pais entender essa sua vontade como falta de amor a eles, é isso?” Ela me olhou e fez que sim com a cabeça.

“Não é só isso, eu esperei 11 anos para ter uma resposta e agora eu posso tê-las, e eu não sei como lidar com tudo que estou sentindo, na verdade, eu nem sei, se sei lidar com as respostas que quero”

Mas uma vez Rachel demostrou sua maturidade, aquela menina que tinha comentários desconcertantes, tinha uma maturidade maior do que muita gente de cabelo branco.


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