O Castelo Dos Meninos escrita por Lady Padackles


Capítulo 19
Capítulo 19




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/365628/chapter/19

    Naquela noite, após a leitura da carta, Sam não conseguiu se recompor e ir até o quarto de Dean como planejara. Em vez disso, intercalou momentos de choro e tristeza com momentos de reflexão, na tentativa de decidir como deveria agir diante àquela terrível situação. Pensou em abrir o jogo, e dizer a Dean tudo o que descobrira. Depois mudou de ideia, com medo de que Dean se zangasse com ele, e se fechasse ainda mais.

    De manhã bem cedo, após uma noite sem dormir, e com as emoções a flor da pele, sentia-se um caco. Ainda sem saber direito o que fazer, decidiu tentar resolver as coisas de uma vez por todas. Caminhou até o quarto de Dean e bateu na porta, sentindo suas pernas bambearem.

   Dean apareceu ainda de pijamas e sonolento. Pareceu surpreso ao ver que era Sam quem batia.

    - Sam? – Ele perguntou coçando os olhos. Após  três segundos olhando para o moreno, deixou-o entrar.

   Sam ficou mudo, não sabia o que dizer. Assim que olhou Dean nos olhos, sentiu uma imensa vontade de chorar. Não sabia se era a emoção em revê-lo, ou o medo de perdê-lo. O menino então apenas olhou para o chão tentando conter as lágrimas.  

   - Ahh, Sam, desculpa... – disse Dean suspirando. – Eu preciso falar com você. E dizendo isso, com um gesto, o louro convidou-o a se sentar.

   Sam ficou surpreso. Será que sua fada madrinha tinha olhado para ele e resolvido facilitar sua vida? Estaria Dean prestes a lhe contar tudo?

   Dean parecia envergonhado. Olhou para baixo também e começou a falar.

   - Sam, me desculpa ter agido assim com você... Eu fiz isso porque achei que fosse ser melhor, mas acho que me enganei. Eu não queria que você ficasse triste.

  Talvez o semblante cansado e o rosto ainda inchado de Sam tivessem interferido a seu favor. Dean provavelmente se sentia responsável por todo aquele sofrimento... O moreno olhou para o amigo encorajando-o a continuar.

  - Sabe, logo depois que você viajou com seus pais, eu fiquei doente... – O louro suspirou, e ainda sem coragem de encarar o moreno, prosseguiu – É a doença da minha mãe, não tem cura... E eu não vou fazer aquele tratamento horrível... Eu não sabia como te dizer isso... Mas não quero ninguém sofrendo por minha causa, por isso achei melhor que a gente parasse de se encontrar.

  - Dean... – Sam disse fracamente, ainda sem encontrar palavras. – Vamos encontrar uma cura...

  - Sam, não tem cura... – disse Dean tristemente. - Eu estou decidido, não vou fazer o tratamento. Ele apenas prolonga o sofrimento, e a morte é inevitável...

Sam ficou calado, segurando o choro. Dean então, após uma pausa, olhou para Sam novamente e completou:

    - Pronto, agora você já sabe. Não deixei de falar com você por nada que tenha feito, nem deixei de gostar de você. Vai pro seu quarto agora, ok? E não se preocupe comigo, eu vou ficar bem. – disse forçando um meio sorriso.

   Sam espantou-se. Do que ele estava falando? Então Dean continuava sem querer sua companhia? Aquilo pareceu despertar-lhe todos os sentidos e enchê-lo de energia.

   - Dean? Como assim? De maneira alguma! Nós somos amigos, e eu vou ficar com você!

   - Não,  Sam! – insistiu o louro – Será que você não entende? Eu não quero ver ninguém sofrendo por causa da minha doença!

   - Eu vou sofrer muito mais sabendo que você está enfrentando isso sozinho. Eu QUERO ficar ao seu lado, Dean!

   Dizendo isso, Sam olhou em volta e espantou-se ao ver que Ben não estava mais em sua caixinha.

   - Onde está Ben? – perguntou alarmado.

   - Eu dei ele para o Frederick... – Disse Dean em voz baixa.

   Sam não pôde acreditar. Dean amava Ben, porque ele haveria de fazer uma coisa dessas?

  - Por que, Dean? – ele então perguntou um tanto indignado e surpreso.

  - Eu vou morrer,  Sam! – O louro respondeu, dessa vez parecendo irritado com o julgamento do amigo. – O Ben precisa de alguém que fique com ele, que cuide dele. Como você acha que ele iria ficar se o dono dele morresse, hein? O Fred tem o Sócrates para fazer companhia ao Ben. E ele cuida direitinho dos dois.  

   Então era isso... Todas aquelas visitas ao quarto de Frederick... Dean estava acostumando Ben ao novo lar. E o dia em que Sam viu Dean sair do quarto dele chorando, coincidia com o dia em que Dean finalmente se despedira do ratinho, deixando-o aos cuidados de Fred.

  Dean queria a todo custo evitar que os outros sofressem por causa dele. Nem mesmo a companhia de um ratinho ele se dava ao luxo de ter, para evitar que o bichinho sofresse... Sam lembrou-se da carta que Dean escrevera ao pai e teve vontade de esganar John Campbell. O que aquele infeliz tinha feito para Dean dar tão pouco valor aos seus próprios sentimentos? Por que achava que tinha que enfrentar tudo sozinho, sem o apoio de ninguém? Indignado, olhou Dean nos olhou e vociferou.

   - Dean, olha, eu não sei de onde você tirou essa ideia, mas as pessoas que não são covardes enfrentam os momentos difíceis junto com seus amigos e parentes. Eu não vou te deixar sozinho nessa! Não pense você que o melhor para mim é me afastar, porque não é!

    Quase escapou um “eu te amo”, mas Sam se conteve. Aquela não era hora para declarações de amor. Se Dean soubesse de todo aquele sentimento se sentiria ainda mais responsável por fazer Sam sofrer.

     Dean olhou para Sam assustado, e seus olhos marejaram. Sam então aproximou-se do louro e apertou-o em um abraço.

    - Vamos enfrentar isso juntos! – completou, enfaticamente.

    Sam disfarçou as lágrimas que lhe escaparam sem querer, e notou que Dean fazia o mesmo. 

    - Sammy, eu não quero que você sofra por minha causa... – Dean então disse em um fio de voz.

    Sam apenas apertou-o com mais força. Ele também não queria sofrer, e muito menos queria que Dean sofresse...

    Quando o abraço se desfez, e o clima pareceu ficar mais leve, Sam finalmente resolveu indagar sobre a tal doença, que afinal ainda era um mistério para ele. Sam notou que Dean estava tossindo um pouco, mas fora isso parecia perfeitamente bem.

    - Dean, você está se sentido mal? Digo... Por causa da doença? – o moreno perguntou.

    - Não... Agora estou só com um pouco de tosse. Antes foi pior, tive febre, dor no corpo... Mas os sintomas vão e voltam...

    Sam olhou espantado.

    - E como sabe que está com a doença da sua família? Um médico lhe deu um diagnóstico?

    - Não, não precisa... São os mesmos sintomas, é a mesma doença... – Dean suspirou tristemente olhando para o chão.

    Um sorriso brotou nos lábios de Sam. Seria apenas uma gripe? Dean parecia bem traumatizado com a morte de sua mãe e irmão, talvez fosse hipocondríaco e estivesse criando fantasias mórbidas em sua cabeça.

    - E não poderia ser uma gripe? – O moreno indagou em um tom suave. Depois completou:     - Lembra da tempestade que caiu sobre nós? Eu também fiquei doente, Dean...

    - Não, não é gripe... São os mesmos sintomas, mas eu sinto que agora é diferente. Não tem mesmo jeito, Sammy...

    Dean continuou cabisbaixo e Sam teve vontade de gargalhar, chama-lo de tolinho, coloca-lo no colo e enchê-lo de beijos. Estava tudo bem, Dean não iria morrer! Teve pena do seu amado por estar sofrendo em vão, mas estava imensamente aliviado. A doença verdadeira devia ter sintomas muito piores, que o desgraçado do pai escondera de Dean, gerando toda aquela confusão na cabeça do menino. Sam teve vontade de esmurrar John Campbell de novo por fazer seu filho sofrer... Infelizmente não adiantava insistir com o louro de que ele não tinha a tal doença terminal, pois ele era teimoso. Com o tempo ele mesmo haveria de perceber que estava enganado.

    Sam olhou pela janela e um belo sábado ensolarado sorriu para ele.

    - Vamos aproveitar esse lindo dia? – sugeriu o moreno, tentando disfarçar a felicidade imensa que sentia.

    Dean sorriu fracamente.

    - Claro... por que não? – respondeu.

    - Praia? – sugeriu Dean.

    - Piquenique? – sugeriu Sam.

   Dessa vez Dean pareceu animar-se e riu com vontade. O tempo estava firme e sem chance de chuva.

   Os meninos compraram muitas coisas gostosas, colocaram tudo em uma cesta, dobraram uma toalha por cima, e seguiram alegremente em direção à praia.

    Sam estava tão feliz... Dean pareceu esquecer-se também de sua sentença de morte e mostrava-se animado. Desceram o despenhadeiro, arrumaram a toalha com as guloseimas, e começaram a comer e conversar animadamente como se nade houvesse acontecido desde o último piquenique que fizeram. Um tempo que Sam gostaria de esquecer... Mas agora, após um piquenique bem sucedido sob um delicioso sol de inverno, tudo haveria de ficar bem.

    Sam se perguntou se Dean lhe mostraria a nova pintura, mas isso não aconteceu. O menino notou quando o louro rapidamente entrou na gruta e guardou a tela no baú, para que ela não despertasse a sua curiosidade. Tudo bem se Dean ainda não estava pronto para se declarar... O momento era mesmo um pouco delicado... Mas graças ao bom Deus, eles teriam ainda muito tempo para trocar juras de amor.

     Depois de comerem e beberem até se fartar, sentiram-se sonolentos. O sol fraco aquecia seus corpos, e a brisa fresca acariciava seus cabelos, relaxando-os por completo após todos aqueles dias tensos em que estiveram separados. Sam sentia um peso infinito sendo retirado de seus ombros. Imaginou que Dean, apesar da ainda pensar que estava morrendo, deveria estar se sentindo muito aliviado também. Afinal Sam, seu amor, estava agora ao seu lado. Ele não iria abandoná-lo como fazia seu pai. Dean não precisaria mais enfrentar aquela doença sozinho...

      Deitaram-se lado a lado na sombra e aconchegaram-se um no outro para uma gostosa e merecida soneca. 



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Castelo Dos Meninos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.