O Castelo Dos Meninos escrita por Lady Padackles


Capítulo 18
Capítulo 18




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Sam se aproximou do quadro, porém estava escuro dentro da gruta, e ele  não pôde enxergar bem os contornos do rosto pintado. Segurando o pincel com a mão direita, e a tela com a esquerda, andou em direção à claridade. O menino sentou-se na areia e tomou fôlego antes de ter coragem de encarar sua vítima, que estava prestes a ganhar horríveis bigodes.

Sam olhou para o rosto que o fitava de volta sorrindo. Tinham os mesmos olhos claros. A expressão do agressor, entretanto, contrastava com o da vítima. Sam olhava estupefato, com os olhos arregalados, sem entender o que se passava. Ficara sem ação. A pintura sorria, exibindo as covinhas bem definidas, como a debochar dele. Parecia desafiá-lo: "E então, vai estragar seu próprio rosto? Quero ver quem vai ter coragem de pintar bigodes em mim agora..."

O menino então largou o pincel e estudou o quadro cuidadosamente. Dean não tinha um retrato dele, como podia conhecer cada mínimo detalhe de seu rosto? Os cabelos castanhos e revoltos, o nariz pontiagudo, o sorriso aberto... Nos olhos misturava-se tons azulados, esverdeados e salpicados de cor de mel, retratando de forma incrivelmente acurada a complexidade do modelo real.

Então finalmente Sam sorriu. Sentiu-se leve e feliz como há muito tempo não sentia. Toda a angústia se dissipou. Dean o amava, tinha certeza. Não poderia haver prova mais concreta. Cada detalhe daquela pintura lhe revelava isso, de forma comovente. E então, ainda sorrindo, ele chorou. Depois de contemplar o quadro por muito tempo, o colocou no lugar onde o encontrara, e guardou também o pincel. Sam subiu o despenhadeiro apreciando a beleza da paisagem e da vida.

A vida era um jornada incrível, cheia de surpresas agradáveis. Seu coração transbordava de amor. Estava escrito nas estrelas que seria feliz para sempre.

Talvez o louro estivesse apenas inseguro, achando que Sam não o correspondia... Talvez o idiota do Fred estivesse colocando minhocas em sua cabeça para tentar ficar com Dean para si. Incrível como as pessoas podem perder tempo apenas por não abrirem seu coração e não revelarem o que realmente sentem. Sam iria se declarar, e dizer a Dean quanto o amava. Logo estariam um nos braços do outro, como deveria ser. Viveriam um para o outro. Já podia ver Thomas e Justice sorrindo para ele novamente, gratos por terem sido ressuscitados.

Quando chegou à escola, Sam foi andando depressa em direção ao quarto de Dean.  Precisava dizer logo o que já estava entalado em sua garganta há muito tempo. Bateu na porta, mas ele não estava.

- Sam! - O menino olhou para trás e viu Castiel chamando por ele.

- Se veio falar com o Dean, ele não está... Ele foi lá para a biblioteca, deve estar estudando.

Sam apenas olhou o amigo, decepcionado. Não teria coragem de fazer sua declaração de amor na biblioteca, mas estava disposto a sentar ali na porta e esperar o tempo que fosse preciso.

- Sam, você saiu tão depressa aquela hora, que nem me deixou terminar de falar... - reclamou Castiel.

- Desculpa - O moreno respondeu baixinho.

- Olha o que eu tenho para você... - e dizendo isso, Castiel tirou da mochila o que parecia ser um saco de lixo cheio de folhas amassadas.

- O que é isso? - Sam perguntou sem entender.

- Não lhe disse que o Dean havia postado uma carta? Então... Antes dele voltar para o quarto eu dei um jeito de entrar e roubar o saco da lixeira. Quem escreve uma carta de amor sem primeiro fazer um rascunho? É provável que encontre o rascunho da carta aí...

- E você não olhou?

- Não... Bleargh... Eu tenho nojo de enfiar minha mão aí! Tem uma casca de banana...

 Sam riu. Como Castiel podia ser tão fresquinho... E o gay ali era ele... Pegou o saco, agradeceu, e correu para seu quarto. Iria dar uma conferida naqueles papéis antes que Dean voltasse da biblioteca.

Estava agora ansioso. Será que era mesmo uma carta de amor para ele? Conferiu sua caixa de correio antes de qualquer outra coisa, mas verificou que estava vazia. Ahh, ele estava ansioso demais para esperar. Que Dean o perdoasse, mas leria o rascunho mesmo...

Casca de banana...   Rascunho de trabalhos da escola... Papéis de bala... E... Uma carta! Sam desamassou o papel e começou a lê-lo atentamente. Não era endereçada a ele. Cada palavra que lia, enxia seus olhos de lágrimas. Ao final, já estava aos prantos. Totalmente entregue ás suas emoções, chorava copiosamente.

A vida era um jornada horrível, cheia de surpresas desagradáveis. Seu coração transbordava de tristeza. Estava escrito nas estrelas que seria infeliz para sempre…

Sam segurava o papel amarrotado nas mãos, e agora também molhado por suas lágrimas. Não podia acreditar naquilo. Releu as palavras que Dean endereçara ao pai:

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Querido pai,

Queria que soubesses o quanto o amo, e o quanto sou grato por ter nascido seu filho. Lembro-me com carinho e saudade dos dias felizes que passamos juntos ao lado de Josh e mamãe, antes da trágica doença atingir nossa família. Tenho certeza que carregarei esse sentimento para sempre, assim como mamãe e Josh o devem fazer, onde quer que estejam agora. Por favor, nunca se esqueça de nós e de quanto te amamos.

Pai, sinto que eles estão me querendo por perto agora. Nós sempre soubemos que esse seria meu destino. Agora estou doente, mas não estou sofrendo. Continuo decidido a não fazer tratamento algum, e seguir meu caminho em paz.

Com a proximidade do dia de visitas dos pais a escola, na próxima quarta-feira, não posso deixar de pensar que adoraria ver-te novamente. Sei, entretanto, do enorme sacrifício que é para ti lembrar de todas as tristezas que passamos juntos. Sei que que não gostas de despedidas. Então me despeço através desta carta. Tenho certeza que nos veremos algum dia de novo. Até lá, estarei orando pelo senhor e torcendo para que possa superar a dor e ser feliz. Te amo demais.

   Seu filho,

   Dean

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Era isso mesmo que entendera... Seu amado estava morrendo. A carta tocante que escrevera ao pai revelava tudo. Seria por isso que Dean não o queria por perto? Para evitar que sofresse? Claro, pois como o idiota do pai obviamente não queria estar ao seu lado nesse momento difícil, Dean achava essa uma atitude mais que natural. Para Dean, ninguém poderia querer compartilhar com ele esse momento final de sua vida. Mas Sam o amava, e queria estar com ele até que a morte os separasse, literalmente.

Não sabia entretanto qual passo deveria tomar. Haveria de ser cuidadoso, pois era um momento bastante delicado. Dean não fazia ideia de que ele sabia sobre a sua doença, então teria que fazer o louro lhe contar de alguma forma. Se declarasse seu amor agora, provavelmente dificultaria as coisas. Teria que engolir suas palavras mais um pouco.

No momento, não conseguia era engolir o choro. Teria que aguentar vê-lo doente e sofrendo. Seria forte pelos dois. Mas e depois, como poderia viver sem seu amor? Sentiu seu coração sendo arrancado do peito e chorou a perda dos filhos que nunca haveriam de ter.


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