Minha mãe estava segurando o celular na mão esquerda, enquanto andava pelo corredor.

– Quem era? – Perguntei.

Ela sorriu.

– Kishan ligou só para dizer que estava bem. Eu ia passar o celular para você, mas ele estava com pressa.

– Hum...

– Então... Como vai a Kelsey?

– Vai bem.

Minha mãe se aproximou mais de mim.

– Você tem conversado com ela?

– Tenho... Espera... Por quê?

Ela deu de ombros.

– A trate bem.

***

Acordei no dia seguinte, Quarta, as 07h25min.

Levantei da cama, um tanto quanto grogue e cambaleei até a janela. Abri um pouco a cortina. O suficiente para que o meu quarto ficasse um pouco iluminado.

O ar estava abafado. Não chegava a ser sufocante.

Andei até meu armário e peguei uma troca de roupa.

Fui até o banheiro e tomei uma ducha gelada. Depois de um tempo, desci até a cozinha e me deparei com minha mãe manuseando a cafeteira.

– Já acordado? Eu fiz panquecas e, tem suco de maçã na geladeira. – Ela disse, quando reparou em mim.

– Você já comeu?

– Ainda não. Estava esperando você acordar.

– Por que não me acordou?

– Pensei que talvez você precisasse descansar.

***

Cheguei ao colégio às 08h00min. Sentei-me em uma das mesas do refeitório e tirei meu livro de História da mochila.

Eu tinha que ir bem naquelas provas.

Li o livro durante aproximadamente meia hora, quando fui surpreendido por três garotas que apareceram misteriosamente atrás de mim.

– História? – Uma voz conhecida perguntou.

Virei-me rapidamente.

– O que vocês estão fazendo?

– Observando você e o seu livro de História – Nílima respondeu.

Ela estava usando uma saia preta, camisa branca, botas escuras e um casaco jeans.

Yesubai estava um vestido preto e violeta, com um casaco e um salto alto escuro

Kelsey estava usando um vestido branco, um casaco e uma bota bege. Ela estava usando tranças e fitas, também.

– Quando vocês chegaram? – perguntei.

– Faz uns cinco minutos... Eu acho. Aí nós vimos você sentado aqui e viemos para ver o que você estava fazendo. – Yesubai respondeu.

– Eu estava estudando... As provas vão começar e, preciso estar preparado.

Nílima suspirou.

– Provas... Elas são uma droga. Da ultima vez que tivemos semana de provas tive que ficar acordada até umas cinco da manhã, estudando.

– Sinceramente, como estudar pode ser tão difícil? Ainda mais com essa matéria que o Sr. Kadam está passando...

– Difícil? – Kelsey perguntou – Como essa matéria pode ser difícil? É tão fácil...

Nós três olhamos para ela.

– Fácil? – Dissemos em uníssono – Como assim, fácil?

Ela deu de ombros.

– Eu acho essas matérias bem fáceis.

Continuamos encarando ela.

– Eu... Ãhn... Eu acho que tenho memória fotográfica... Ou apenas sou mais inteligente que todos vocês.

Ficamos em silêncio durante um tempo, até que Nílima pronunciou-se.

– Então... É por isso que você conseguiu responder aquela pergunta do Sr. Kadam... Sobre os pontos extremos da Índia!

– 6° 43' e 39° 26 'de latitude norte e 68°7' e 89°25' de longitude leste. – Kelsey sorriu.

Yesubai encarou-a, boquiaberta.

– Você... Bem que poderia nos ajudar nos estudos... – Ela disse.

Kelsey deu de ombros.

– Eu posso.

– Sério? – Yesubai perguntou, com os olhos brilhando, enquanto Kelsey assentia.

– É... Pode ser depois das aulas, se vocês quiserem.

As três sorriram.

– Ren – Nílima disse – Não quer estudar conosco, depois da aula, então?

– Pode ser – Respondi, sem mudar meu tom de voz, sendo que por dentro, eu estava pulando de alegria.

Kelsey POV

Saí do colégio às 13h30min, acompanhada de Nílima, Yesubai e Dhiren.

Decidimos ir estudar na minha casa, o que eu acho que não foi uma boa ideia, pois Mike e Sarah também viviam lá

Abri a porta e entramos em casa. Mike estava sentando no sofá, assistindo uma partida de futebol americano. Ele notou minha presença e olhou em minha direção.

– Eu... Ãhn... Eles, vieram comigo para estudar... Não vamos fazer barulho, estamos indo para o quarto.

Mike apenas voltou sua atenção para a televisão.

Subimos as escadas e fomos para o meu quarto, no fundo do corredor.

– Eu não tenho certeza se foi uma boa ideia eu insistir em virmos estudar na sua casa – Nílima disse, baixo.

– Tudo bem – Eu disse.

Entramos no meu quarto e as duas jogaram as mochilas em cima da minha cama. Dhiren colocou em um canto, no chão e eu coloquei em cima de minha escrivaninha.

– Qual vai ser a primeira matéria? – Perguntei, enquanto me sentava na borda da cama.

– História – Os três disseram, em uníssono.

Pegamos alguns livros e começamos a ler. Tínhamos que estudar sobre a Grécia Antiga. Li por no máximo, cinco minutos, e então, fechei meu livro e observei os outros.

Dhiren olhou para mim, confuso.

– Por que você fechou o seu livro?

Dei de ombros.

– Já sei de tudo: Geografia da Grécia Antiga, Os períodos da Grécia Antiga... Grécia Antiga...

– Você nem leu o livro direito!

– Mas eu já sei! O Sr. Kadam explicou tudo durante as aulas, eu me lembro de absolutamente tudo!

– Quais foram os períodos da Grécia Antiga? – Ele perguntou, tentando provar se eu sabia ou não.

– Pré- Homérico, entre 2000 e 1.100 a.C, Homérico, entre 1.100 e 700 a.C, Arcaico, entre 700 e 500 a.C, Clássico, entre 500 e 338 a.C e Helenístico, entre 338 e 146 a.C.

Ele, Nílima e Yesubai me encararam, um tanto quanto boquiabertos.

– Como você faz isso? – Yesubai perguntou.

– Como faço o quê?

– Decorar tudo!

Dei de ombros.

– Sei lá.

Nílima ajeitou a postura e disse:

– Fala alguma coisa que talvez, possa nos ajudar nos estudos.

– Tipo...?

– Uma mini aula?

Suspirei. Por que eu concordei em ajudar eles?

***

– Ter uma boa noção da geografia da Grécia é fundamental para o estudo da história da Grécia Antiga, pois há uma relação entre a geografia e a historia grega. O estudo foi organizado em períodos, pois a história grega é muito longa. Ter a clareza das características que marcaram cada período é muito importante para nos localizarmos no contexto histórico. Não se trata apenas de decorar datas, porém temos que ter clareza dos acontecimentos históricos na sequencia correta.

Os três escutavam e anotavam o que eu dizia, atentamente.

– O mapa da Grécia antiga era divido em três partes: A parte continental, de terra firme, situada ao a sul das regiões atuais dos Balcãs e fazia fronteira com antiga Macedônia. A parte península formado principalmente pelas penínsulas: do Peloponeso e a Ática e a parte insular formada pelo conjunto de ilhas com destaque para a ilha de Creta a maior das ilhas.

Ficamos nisso durante umas três horas, até acabarmos completamente os estudos.

– Você é muito nerd – Yesubai disse, sentando-se em minha cama, enquanto abraçava meu travesseiro.

Nílima concordou com a cabeça e então, disse:

– Hum... Kells, mudando de assunto... Posso te fazer uma pergunta?

Assenti com a cabeça, enquanto guardava alguns livros.

– Como você consegue usar saias curtas, sem parecer vulgar?

Dei de ombros.

– Eu não tenho coxa grossa para fazer a saia parecer vulgar, quadril, muito menos traseiro para encurtar a saia atrás.

E então, eu escutei alguém engasgar.

Virei-me imediatamente e vi Dhiren tossindo compulsivamente. Eu, Nílima e Yesubai começamos a dar tapinhas em suas costas.

– Por que você engasgou? – Perguntei, quando ele finalmente parou de tossir.

– Eu acho que vocês se esqueceram da minha presença quando começaram a conversar sobre esses seus assuntos femininos.

Nílima voltou a se sentar em minha cama.

– Enfim... Você tem sorte. Eu e Yesubai não conseguimos usar esse tipo de saia sem parecermos vulgares – Ela disse, ignorando completamente o fato de Dhiren estar ali.

Ele suspirou.

– Vocês realmente não ligam para a minha presença?

– Não – Yesubai e Nílima disseram, em uníssono.

Eu ri.

– Hum... Já são 16h40min – Nílima disse, enquanto olhava a tela de seu celular – Seus pais adotivos não se importam?

– Contanto que nós não façamos barulho, acho que não.

– Eu estou com fome – Yesubai disse – Podemos ir comer em algum lugar?

Apoiei-me na escrivaninha.

– É uma boa ideia.

Nílima concordou.

– Dhiren? O que acha? – Perguntei.

– Por mim tudo bem.

***

Entramos em um Starbucks.

Nílima pediu um Cappuccino e um Muffin de chocolate, Yesubai um chá gelado com leite e um Brownie de chocolate com doce de leite, eu pedi um chocolate quente clássico e um pão de queijo recheado (que na verdade era um sanduiche) e Dhiren pediu Caramelo Macchiato e um Toast de Presunto e queijo.

Sentamos-nos em uma mesa vaga.

A mesa era quadrada. Nílima e Yesubai ficaram uma do lado da outra. Dhiren ficou do lado de Nílima e eu fiquei do lado de Yesubai e Dhiren.

Enquanto comiamos e conversávamos, Nílima e Yesubai às vezes conversavam entre si, baixinho.

Temi que elas estivessem tramando algo.

– Ãhn... Kells, podemos ir ao shopping? – Yesubai perguntou, depois de um tempo.

– Por quê?

– Preciso comprar um salto novo.

– Você não pode ir sozinha? Ou... Sei lá, ir com a Nílima?

Ela deu de ombros.

– Posso, mas... Sabe? Nós três, juntas. Deve ser mais divertido.

Suspirei.

– Okay, mas... E o Dhiren?

– Ele pode ir junto com a gente... Se quiser, é claro.

Olhamos para ele.

– Eu vou... Não tenho nada para fazer, mesmo.

Nílima e Yesubai tentaram disfarçar um sorriso.

***

Caminhamos por entre as lojas.

– Que tipo de salto você quer comprar? – Perguntei para Yesubai.

– Um violeta.

Revirei os olhos. É claro que ela iria querer um salto violeta.

– Eu pensei que você já tivesse milhares de sapatos dessa cor – Dhiren disse.

– E roupas – Acrescentei.

Yesubai revirou os olhos.

– Eu tenho milhares de sapatos e roupas dessa cor, mas qual o problema de ter mais alguns?

Suspirei.

– Nenhum, problema nenhum.

Continuamos caminhando. Nílima e Yesubai estavam cochichando e dando risadinhas. Temi que elas estivessem planejando algo.

Yesubai acabou entrando em uma loja de sapatos e nós a seguimos.

Depois de um tempo, ela começou a experimentar milhares de sapatos. Violetas, pretos, prateados.

– Meu Deus! Pra que tantos sapatos!? – Nílima exclamou.

Yesubai mostrou a língua pra ela.

– Eu gosto de sapatos, okay?

No fim, ela levou somente um par de saltos violetas.

Continuamos caminhando pelos corredores infinitos de lojas.

– Hey, vamos entrar aqui - Nílima disse, apontando para uma loja de roupas com alguns manequins.

Nós entramos.

Nílima e Yesubai começaram a observar e examinar as fileiras e fileiras de cabides, enquanto eu e Dhiren ficávamos sentados em umas poltronas.

– Elas são maníacas por compras, ou algo do tipo? – Ele perguntou.

– Eu não sei, mas parecem.

– E você?

– O que?

– Você é uma maníaca por compras, ou algo do tipo?

Eu ri.

– Não. Eu não compro muitas roupas ou sapatos... Na verdade... Acho que eu não compro muitas coisas. A não ser livros.

Ele me olhou.

– Livros?

– É... Eu gosto de ler. Você gosta?

– Um pouco... O que você normalmente lê?

Pensei um pouco.

– Livros do Rick Riordan, Shakespeare, Suzanne Collins, J.K Rowling, Cassandra Clare e mais alguns outros. Você conhece algum deles?

– Conheço a maioria... Quem é Cassandra Clare?

– Autora de Instrumentos Mortais e As Peças Infernais... Não conhece?

Ele negou com a cabeça.

– Eu posso te emprestar os livros.

Ele sorriu.

– Okay.

Yesubai me chamou. Caminhei até ela.

– O que foi? – Perguntei.

Ela empurrou alguns cabides para mim.

– Experimente essas roupas.

– Por quê?

– Achamos que combinava com você – Nílima respondeu, se aproximando – Experimente e depois, nos mostre como fica, certo?

Assenti com a cabeça e fui para o provador.

Dhiren Pov.

Kelsey saiu do provador um tempo depois, vestida com uma saia curta e algo parecido com um top azul.

– Por que exatamente vocês escolheram isso? – Ela perguntou.

Nílima e Yesubai a ignoraram.

– Realmente... Você não fica vulgar – Nílima observou.

As duas começaram a cochichar.

Eu tentei, mas não pude evitar olhar para a Kelsey.

Depois de um tempo, ela trocou de roupa e saiu.

Nílima e Yesubai entraram no provador, carregando milhares de cabides minutos depois de Kelsey sair.

Eu estava de pé, apoiado em uma parede. Ela caminhou em minha direção

– Sua trança não está mais tão firme – Avisei

Ela levou a mão ao cabelo quase que automaticamente.

– É...

– Prefiro ela assim – Disse, sorrindo

– Por quê?

– Fica mais bonito.

Ela sorriu

Havia um vaso de flor encostado na parede. Orquídeas.

Nós dois a observamos.

–São muito bonitas de se olhar. Isso, você tem que admitir.

– Eu também sou.

– Você é muito convencido – Ela respondeu

– Ninguém nunca tinha me dito isso antes de você.

– Continue comigo e esta não será a ultima vez.

Era esse o motivo para eu gostar dela? Ela me dizia coisas que ninguém nunca havia me dito antes. Ela tinha coragem o suficiente para ter me dado um soco. Ela era única.