A Deslocadora - a Rosa Negra escrita por BuriChan


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Jesse e revelações xDDDD



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Capítulo 5


 


         Recebi alta apenas no domingo, o que me fez perder os poucos dias de “férias” que eu teria. Assim que chegamos a casa, papai resolveu conversar comigo e com Justin, uma conversa que eu jamais esquecerei.


 


         Papai havia ido me buscar no hospital. Ironicamente logo na segunda feira ele começaria a trabalhar no mesmo. O caminho até em casa foi silencioso, o que só fez meu desconforto aumentar. Tinha tantas dúvidas e perguntas a fazer.


 


         Na sala de estar, Justin nos esperava assistindo televisão. Busquei qualquer vestígio da mamãe no aposento e não havia sinal azulado de fantasma.


 


         - Sente-se, Samantha. - Meu pai apontou para o sofá. Obedeci imediatamente. Ele sentou-se no outro sofá e nos encarou. - Temos muito sobre o que conversar. Sabe, sua mãe era uma deslocadora. Conseguia ver, tocar nos fantasmas e também se deslocar pelo tempo...


 


         - Legal! - soltei sem querer. Justin bufou e papai passou a mão pelos cabelos. - Quer dizer...  viajar no tempo deve ser...


 


         - Samantha, viajar no tempo requer sacrificar alguns neurônios. Então nem pense. - Papai foi logo cortando minha onda. Já não tenho muitos neurônios, então não posso me dar ao luxo de sacrificar os poucos que me restam. - Quando você nasceu e sua mãe morreu, foi um momento de muito conflito. Seria somente eu para cuidar de vocês dois. Claro que a Suzannah não nos deixaria... Mas ela teve que fazer isso quando descobrimos de uma maneira muito ruim, que os fantasmas que convivem muito tempo com os vivos acabam sem querer tomando aos poucos sua energia vital. Só descobrimos isso quando a Sammy começou a ficar doente e aparentemente sem motivo nenhum... - a dor no rosto do meu pai fez minhas lágrimas acumuladas rolarem descontroladamente. - Não podíamos fazer nada...


 


         Então finalmente eu confirmei o que suspeitava. A culpa de todo sofrimento deles era minha.


 


          - Vivos e mortos naturalmente não podem conviver... - Papai suspirou, enquanto Justin fazia com que eu apoiasse minha cabeça em seu ombro. - Não foi culpa de ninguém. Era o destino, sempre agradeço pela oportunidade que tive de conhecer a sua mãe. Ela mudou a minha vida, eu era um fantasma quando a conheci e...


 


         - Como? - Justin levantou-se abruptamente e eu despenquei que nem uma jaca madura no sofá. - Então podemos trazer a mamãe de volta?


 


         - Não podemos... - os olhos do papai ficaram mais negros do que já eram. - Se sua mãe não tivesse morrido, a Samantha não teria nascido, entendeu? Eu havia nascido séculos antes, e ninguém dependia de mim para existir, por isso nada mudou quando ela trouxe meu corpo “vivo” para esse tempo. Mas a existência da Samantha depende da morte da Suzannah...


 


         Não agüentei mais ouvir aquilo, corri escada acima e me tranquei no quarto. Chorei, chorei como nunca havia chorado antes. Então agora eu poderia ver minha mãe, mas não conviver com ela e eu havia sido a responsável pela morte dela.


 


         - Eu não me importaria de morrer novamente por você - ali estava ela sentada no banco da penteadeira. Funguei e chorei mais ainda. - Calma, Sammy, não foi sua culpa.


 


         Ela alisava meu cabelo, e eu me agarrei a ela com medo de que sumisse. Só conseguia murmurar pedidos de desculpas. Ela me acalentou até só restarem soluços baixos, secou minhas lágrimas e me olhou nos olhos.


 


         - Ninguém tem culpa. É como o seu pai disse, foi o destino. Acredite nele, ele tem quase 200 anos de vida. - Eu ri um pouco daquela piada. Afinal eu estava certa o tempo todo, papai é velho pra caramba. Ela acariciou meu rosto, seu toque era frio e carinhoso. - Sempre estive olhando para você e seu irmão. Vocês foram os presentes mais perfeitos que Jesse me deu. Não me arrependo de nada, e se pudesse voltar atrás não mudaria os acontecimentos.


 


         - Mas se eu não tivesse nascido, você e o papai estariam felizes juntos e... - ela cobriu meus lábios com a mão. - Mmmm...


 


         - Não quero que você fale besteiras, Samantha Simon! Logo que Justin nasceu, eu e Jesse decidimos que seria melhor criá-lo, e os outros filhos que vissem, longe daqui, tentar ter uma vida normal. O Padre Dom achou a idéia boa, e sempre nos visitava em Nova Iorque, mas ele foi ficando cada vez mais velho e isso o impediu de fazer longas viagens. - Ela suspirou, arrumou os cabelos castanhos atrás da orelha e sorriu. Ela era tão bonita e feminina. - Quando eu morri, ele foi um grande amigo apoiando o Jesse e a minha família. Foi nessa época que o Justin começou a ouvir os fantasmas durante o sono. Ele me ouvia cantar para ele... - seus olhos brilhavam com lágrimas contidas. - Bem... Eu queria ter estado ao seu lado no seu primeiro aniversário, queria ter levado você na escola, queria ter ensinado ao Justin como lutar briga de rua, mas infelizmente isso não aconteceu. Ouvi uma pessoa muito sábia dizer: Não adianta nadar conta à maré, um dia ela vai te vencer. É um bom conselho, sabe.


 


         Sorri de leve. Ela era como eu sempre imaginei, tão... mãe.


 


         - Então a senhora está sempre me olhando? - hesitei um pouco antes de perguntar.


 


         - Às vezes estou olhando o Justin ou o seu pai, alguém tem que cuidar de vocês. - Ela gargalhou, alisou o meu cabelo e me fez deitar na cama. Cobriu-me com o edredom e beijou a minha testa. - Agora durma. Amanhã é o seu primeiro dia no Colégio da Missão. Tenho certeza de que você vai se sair muito bem lá. Boa noite, filha.


 


         - Boa noite, mãe - foi então que eu reparei o quão cansada eu estava. Não demorou muito para eu cair no sono.


 


         Tive um sonho muito estranho, mas não conseguia me lembrar. Acho que foi alguma coisa com o fantasma do soldado e minha mãe. Não tive nem tempo de pensar, quando meu quarto foi literalmente invadido.


 


         - Acorda, Monstrenga! - Justin gritou.


 


         Puta que Pariu! Não dá pra acordar com carinho? Precisa gritar e acender a luz? Que miserável.


 


         - JUSTIN!!!!- Joguei um travesseiro nele, que desviou facilmente do objeto. - Que droga... Não grita, né!


 


         - Olha quem fala... O papai está fazendo café da manhã, vamos logo... O que deu em você? Era sempre a primeira a se levantar! - Justin falou antes de sair do meu quarto. - Anda logo!


 


         Certo. Eu tinha apenas meia hora para: tomar banho, escolher uma roupa decente, me arrumar, arrumar a bolsa e descer para comer, ótimo! [i]Eu nunca vou conseguir fazer isso tudo a tempo[/i], pensei. Corri para o banheiro e comecei a tomar banho.


 


         Enquanto tomava meu banho, fiquei refletindo sobre as drásticas mudanças na minha vidinha. Agora eu podia ver fantasmas, legal. Eu sou quase aquele pivete daquele filme velhão... O sexto sentido, esse é o nome.


 


Saí do banho e resolvi usar uma roupa normal, sem muitos atrativos. Agora tinha um novo objetivo de vida: chamar a mínima atenção possível. Mas se a Michelle apelasse, eu iria mostrar a ela com quantos paus se faz uma canoa.


 


         Separei um jeans novo, uma batinha folgada de estampa florida e coloquei uma sandália Boss rosa clara. Maquiagem básica, é claro, nada de superproduções hollywoodianas. E peguei uma bolsa de lado combinando com a sandália, tipo “tô totalmente básica”.


 


         Dessa vez eu desci a escada com cautela. Melhor prevenir do que remediar. Encontrei papai e Justin tomando o café da manhã, o cheiro de waffes fez meu estômago roncar. Não havia comido quase nada no dia anterior.


 


         - Bom dia, Cariño. - Papai me sorriu. – Vamos, coma logo, senão vai se atrasar.


 


         - Certo, isso está cheirando bem... - quase babei em cima dos waffes. - Mmmmm... Delícia! Papai, já disse que te amo?!


 


         - Você ama qualquer ser humano que colocar alguma coisa comestível na sua frente. - Justin ironizou. Nem liguei e continuei a comer. - Vou escovar os dentes. Quando descer, espero que ainda tenhamos comida na dispensa...


 


         - Engraçado você, sabia? Já pensou em se candidatar à vaga de palhaço no circo?


 


         - Até tentei, mas ela já havia sido ocupada por você, Montrenga! - dizendo isso ele subiu a escada correndo, porque eu estava prestes a jogar o pote de margarina na cabeça dele.


 


         - Vocês dois se amam mesmo. - Papai riu, dobrou o jornal e começou a me encarar. - Você quase não está comendo...


 


         Ele sabe que, quando eu não como, é porque tô muito mal.


        


- Só estou sem fome - deixei o garfo no prato e comecei a me levantar.


 


- Não se preocupe. Logo essa dor passa e vai ficar tudo bem, Sammy.


 


         Ouvi meu pai dizer enquanto eu subia a escada olhando para baixo. Será que ficaria realmente tudo bem? Uma parte de mim não acreditava, e a outra desejava desesperadamente que aquilo fosse verdade. Entrei no quarto e me deparei com uma figura azulada deitada na minha cama. Era o soldado britânico. Ele parecia totalmente à vontade na MINHA cama; detesto pessoas folgadas.


 


         - Epa! Essa cama é minha - falei entre dentes.


 


         Ele abriu os olhos (e que olhos) claros como o céu. Pareceu parar e refletir como deveria agir diante da minha acusação. Não moveu um milímetro sequer, somente sorriu de lado e disse com aquele sotaque sexy.


 


         - Isso é relativo, Lady.


 


         Relativo? Relativo uma carambola! O quarto é meu, afinal de contas, e alguém tem que avisar o defunto (e que defunto, hein?!). Ele aparentava ter uns 25 anos por ai. Eu admito, tenho uma quedinha por homens mais velhos.


 


         - Olha aqui, esse quarto é MEU e eu não vou dividi-lo com um soldado! - bufei raivosamente, e sabe o que ele fez? Ele riu, que cínico. - Por que você está rindo? Por um acaso eu tenho cara de palhaça?


 


         - Não, Lady, jamais ofenderia uma linda donzela. É apenas o seu comportamento que me pareceu engraçado. Observo as moças do seu tempo e muito poucas tem todo esse... pudor - falou isso enquanto se levantava. -Mas se a incomodo, aparecerei por aqui apenas quando não estiver. Afinal, eu sempre estive aqui.


 


         Que inferno. Ele sempre esteve aqui uma ova. E esse sorriso cínico dele. Parecia que sabia de alguma coisa que eu não tinha ideia. Resolvi dar o ultimato (é isso?).


 


         - Quando eu voltar do colégio, não quero vê-lo NUNCA mais por aqui, entendeu?


 


         Não esperei a resposta. Saí do quarto e bati a porta com força. Justin estava na porta me olhando de maneira estranha.


 


         - Nem pergunte, vamos logo - o empurrei na direção da escada. - “Fantasma cínico!”


 


         Pegamos carona com o papai. Estava ansiosa para meu primeiro dia de aula. Como me tratariam, quem conheceria, tudo isso me deixou com um frio na barriga. E enquanto o carro se movia, meus pensamentos estavam fixos em um lugar, ou melhor, em uma pessoa: no soldado britânico.


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Notas finais do capítulo

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