A Deslocadora - a Rosa Negra escrita por BuriChan


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Revelações de Justin x.x...



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         Abri os olhos com a certeza de que tudo não havia passado de um pesadelo muito louco. [i]Oh, não! O teto é branco, ou seja, estou no hospital, [/i]comecei a tagarelar comigo mesma. [i]Isso aqui tem cheiro de hospital.[/i] Sabe aquele cheiro de remédio? Pronto, é esse mesmo.


        


         Toc Toc


 


         As batidas na porta me tiraram dos meus devaneios.


 


         - Entre... - minha voz saiu com mais coragem do que eu pesava ser capaz.


 


         Era o meu irmão. Ele não hesitou nem um segundo, foi logo entrando como se fosse o dono do quarto.


 


         - Como você está, hein, Monstrenga? - Justin como sempre estava praticamente todo de preto, e suas olheiras estavam mais acentuadas, sinal de que não havia dormido. - Fiquei preocupado com você. Ainda bem que você é cabeça dura.


 


         - Hahaha... Muito engraçadinho você. Não dormiu bem, Zumbi?


 


         - Não consegui dormir... - ele ficou levemente pálido, passou a mão pelos cabelos negros, como papai faz quando está nervoso. - Sam... - ele hesitou antes de afirmar - Papai disse que você é igual à mamãe.


 


         Certo. Do que infernos esse zumbi está falando? Às vezes eu não entendo esse meu irmão.


 


         - Igual à mamãe como, Justin?


 


         - Sabe, no lance de ver fantasmas... - Ele parecia bem preocupado. Sentou-se ao meu lado na cama e pegou uma das minhas mãos. Ele estava frio. - Papai também vê. Ele é um mediador, mas você e a mamãe parece que são deslocadoras ou algo assim. É uma viagem muito doida. – ele respirou fundo, seus olhos não mentiam. Justin realmente acreditava nos fantasmas.


 


         Tô bege. Então não era brincadeira? Pegadinha do malandro?  


 


         - Justin... - hesitei um pouco antes de perguntar. - Você também vê fantasmas?


 


         Ele arregalou os olhos por um segundo e caiu na gargalhada, uma gargalhada quase sombria, o que me deixou indignada. Ele tava tirando uma com a minha cara.


 


         - É claro que não. Se eu os visse, talvez fosse melhor. - A melancolia invadiu o rosto do meu irmão. - Eu os ouço.


 


         - Ouve? – Eu ainda estava pasma. Ele soltou um suspiro de cansaço. -Isso é ruim?


 


         - Ruim?! É péssimo! Você não sabe pelo tormento que tenho passado nesses meus 18 anos de vida. Sempre tem alguém falando, pedindo, gemendo, gritando do meu lado, é um horror!


 


         Tá, agora eu estava com pena do Justin, afinal o coitado não tem culpa de ser anormal. Quer dizer, não existe ninguém normal, mas isso é demais, e se eu vejo fantasmas, então logo eu também sou anormal. Legal. Eu sempre achei que precisaria de um psicólogo, afinal essa minha mania de querer que todos gostassem de mim não era normal. Mas agora eu achava que precisava de um psiquiatra, isso sim. Talvez todos da minha família.


 


         [i]Talvez se eu bater a cabeça de novo tudo volte ao normal,[/i] pensei. [i]Mas isso iria doer.[/i] Odeio a dor física.


 


         - Você tá fazendo aquela cara, Sam! - Voltei a mim com a voz de Justin.


 


         - O quê?


 


         - Sempre que você faz essa cara, é porque está pensando besteira. Como daquela vez que você decidiu pintar o cabelo de rosa, porque a Marillyn tinha pintado.


 


         Qual é? Eu só tinha 11 anos na época, e a Marillyn era uma cantora de pop muito famosa. Hoje ela é uma viciada em drogas, que vive cometendo loucuras que a mídia adora publicar, mas isso não vem ao caso. Não sou só eu que tenho um passado negro. Ele também tinha e decidi jogar na cara.


 


         - E você, que daquela vez tentou se jogar do telhado, hein? - Isso não foi legal, agora ele tinha ficado mais pálido que antes.


 


         - Eu tinha 7 anos e ouvia vozes estranhas, Sam. Tentar me matar era a solução aparentemente mais fácil. Ainda acho isso, mas a mamãe vive me vigiando - a sinceridade na voz dele me deixou pasma.


 


         [i]Nombre de Dios![/i]


 


         Meu irmão é um pseudo-suicida e eu não sabia disso. Que raio de irmã eu sou? Eu só me preocupando comigo mesma todo esse tempo e o Justin pirando. Sempre o achei deslocado e anti-social, e agora eu descubro que ele tinha motivos para ser assim. Então eu pensei: [i]Droga, tô começando a chorar! Eu sou uma irmã inútil! [/i]


 


         Detesto chorar, é tão deprimente.


 


         - Ei! Qual é, você não vai chorar! Pára com isso, Monstrenga. - Ele deu um soco no colchão e bufou. – Olha, realmente eu já me acostumei com isso. E só acontece quando estou dormindo, por isso eu durmo tão pouco. Sempre tiro cochilos perto do papai, porque ele consegue afastar os fantasmas de mim...


 


         - Justin... - tentei começar a me desculpar, mas as batidas na porta do quarto me interromperam.


 


         Quem quer que fosse havia chegado no momento errado. Era um padre, ele deveria ter uns 80 ou 90 anos, vestia batina e seus olhos azuis estavam protegidos pelos óculos arredondados. Ele sorriu de leve para mim. Fala sério, eu não preciso da extrema unção. 


 


         - O senhor errou de quarto, é o vizinho que ta morrendo - falei zombeteira, e o padre caiu na gargalhada.


 


         - Como dizem: filho de peixe, peixinho é. - Ele entrou no aposento e se aproximou de nós. - Muito prazer Samantha, sou o Padre Dominic. Da última vez que nos vimos, você era uma bebezinha de 1 ano e o Justin, de 2 anos.


        


- Oh! - olhei para meu irmão e ele deu os ombros, sinal de que não entendia nada também. - Muito prazer Padre, eu acho...


 


         - O senhor era do colégio onde nossa mãe estudou, não é? - Justin é um gênio nato, enquanto eu tenho que me matar de estudar, droga! - É o famoso Padre Dom, mediador.


 


         Ah, não! O padre também? Acho que é tanta gente que dá pra montar uma associação. Já pensei até em um nome “Aberrações da Natureza Power”.


 


O padre era mesmo sorridente. É o tipo de pessoa que, só de você olhar, já saca que é “bonzinho”.


 


         - Isso mesmo. Seu pai pediu para eu vir conversar com vocês dois sobre o nosso dom. No caso do Justin, ouvir as almas necessitadas, e no caso da Samantha, poder ter contato direto com elas – Pe. Dominic disse e depois se sentou na poltrona. Ele parecia tão frágil!


 


         Os olhos de Justin estavam sombrios. Não posso negar que esse papo de “dom” é uma droga. Que dom o quê, isso deve ser um inferno! Já imaginou ficar vendo defuntos por todos os lados? Só de pensar, me arrepio toda. Nós somos a família Adams, com certeza.


 


         O padre Dominic riu.


 


         - Vocês são mesmo filhos de Suzannah Simon. Devem estar pensando “Esse padre está gagá. Dom, isso não é um dom!”


 


         Pronto, tô feita. Ele também lê mentes.


 


         - Não é por nada, padre, mas agora o senhor está me ofendendo. - Justin falou entre dentes. Estava irritado com a história do “dom”. - Ouvir esses miseráveis não é nada de dom!


 


         O padre respirou fundo e expirou. Coitadinho... Mas eu tinha que concordar com o Justin, isso não é dom. Dom é saber pintar com maestria, ter uma voz maravilhosa, dançar bem ou ter um cérebro turbinado. Ver fantasmas não é DOM! Não é!


 


         - Devemos ajudar as necessitados, Justin - a voz do padre era carinhosa. – Sabe, os fantasmas ainda são seres humanos, são dignos de piedade e...


 


         - E eu padre? Não sou digno da piedade divina?! - Justin se descontrolou. Eu tinha que fazer alguma coisa, então resolvi dar um peteleco forte na testa dele, que o acertou em cheio. - Sua Monstrenga!


 


         - Justin, ele não tem culpa da nossa anormalidade. Ele é só um padre! - bufei de raiva. Odeio injustiça. - Não me venha dar uma de rebelde. Você já passou dessa idade. Agora você já deveria estar na fase da aceitação. Eu ainda posso me revoltar, mas não o farei. Não vai dar em nada... é como nadar contra a maré. Um dia ela vai te vencer.


 


         Fui cruel, mas essa é a verdade. Devemos aceitá-la. Meu irmão abaixou a cabeça e apertou o punho, enquanto eu continuei deitada, imóvel e pálida.


 


         - Isso é tão... - Justin não completou porque a porta do quarto foi aberta bruscamente.


 


         Michelle. A última pessoa que eu gostaria de ver nesse momento de turbulência emocional. Brad e meus tios estavam logo atrás da loira platinada. Brad segurava um grande buquê de flores do campo.


 


         - Como está minha querida prima?


 


         - Ainda não morri. - Sorri e estendi a mão para Brad, que me entregou as flores. - Obrigada.


 


         - Ficamos muito preocupados com você, querida - minha tia Margaret falou amavelmente. Não sei não, nunca fui muito com a cara dela.


 


         - Um baita susto, hein, Sam? - Tio Brad riu, e depois parou para falar com o padre. - Padre Dom, veio visitar ou dar a extrema unção?   


 


          - Ha... ha... ha.... Agora morri de rir.


 


         - Bradley Ackerman, Sra. Ackerman, Michelle e Brad Jr. É sempre bom ver uma família unida. - Padre Dom sorriu. Questionei-me:[i] Quando esse homem não sorri? Isso é lobo em pele de cordeiro. Tenho certeza que quando ele fica irritado, vira o cão. No bom sentido, é claro.[/i] - Só passei para desejar melhoras a Samantha e aproveitar para lembrá-la de, assim que as aulas começarem, na semana que vem, ela passar na minha sala.


 


         Peraê! Ninguém disse que o vovô era o diretor do colégio. Ótimo. Sermões e mais sermões. Eu mereço.


 


Meu irmão prendeu a respiração. Eu sabia como ele estava se sentindo, porque eu também estava assim.


 


         - Sammy vai adorar o senhor, padre, e a Missão também. - Brad Jr. sorria.


 


         - Loucamente... - murmurei para Justin, que sorriu torto. Por que ele fica sexy com um sorriso torto e, se eu fizer isso, não conseguirei o mesmo resultado e ainda vão achar que eu sou uma deformada? Eu já disse que isso é tão injusto?!


 


         Visitas e mais flores chegaram ao decorrer da tarde.


 


         O resto do dia foi só para receber visitas dos familiares, flores de desconhecidos, etc.; Uns amigos dos tempos de colégio da mamãe me mandaram quase uma roseira inteira, Adam e CeeCee McTavish, todos desejando melhoras. Meu pai não tinha vindo me ver. Foi melhor assim, estava muito confusa ainda.


 


Assim que anoiteceu, eu simplesmente capotei e dormi. Pela primeira vez que eu cheguei à Califórnia, dormi um sono tranqüilo e sossegado.


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Notas finais do capítulo

Deixar Reviews NÃO mata!!! xDDDDDD
Brigada povo ;*****



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