Abri os olhos. Tudo estava escuro. Primeiramente,pensei que o motivo da escuridão era a noite lá fora. Mas,na verdade,as cortinas que estavam fechadas. Me arrumei no banco,sentindo dor em cada milímetro do meu corpo. Olhei para o lado.

–Ah!-berrei.

Todos do helicóptero me olharam assustados. Dei um meio sorriso e voltei para Liam.

–Pode parar de me encarar enquanto eu durmo?-pedi,rindo.

Ele deu o sorriso torto que eu adorava. Seus olhos correram para minhas bochechas.

–Ah,qual é. É legal quando você fica vermelha.

Droga.

–Bom,eu...

Antes que eu continuasse,uma turbulência fez o helicóptero tremer. Quase cai do banco.

–Desculpem. Preciso achar um lugar seguro para pousar.-ao ouvir a voz do piloto,deduzi que já estávamos sobrevoando Londres,nosso primeiro destino.

Liam se virou para mim.

–Eu...tenho uma surpresa pra você.

Arqueei a sobrancelha.

–Surpresa?

Ele hesitou.

–Bem...enquanto você dormia, paramos nos arredores de Dublin...Lá tinha uma loja de armas.

Nesse momento,ele tirou de trás do banco um pacote fino e comprido. Era coberto por um papel de presente vermelho. Peguei o pacote de suas mãos e desfiz o laço. Liam havia me dado uma katana. Mas não era uma katana qualquer.

–O cabo é feito de...-meu arfar de surpresa impediu que eu terminasse.

–Ouro.-continuou,com um sorriso.

Passei os dedos pela katana. Era afiada e brilhava como se nunca ninguém a tivesse tocado,mesmo sabendo que Liam o fizera. Não me controlei e dei um beijo nele. Um beijo de cinco segundos que conseguiu expressar tudo o que eu pensava na hora. Ele sorriu,e todo o tremor que o helicóptero exercia cessou. Estávamos oficialmente em Londres.

Saí do helicóptero,sentindo um alívio enorme. O clima estava quente,mais quente ainda do que o uniforme. Apalpei o bolso de trás do mesmo e peguei o elástico que guardara ali. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e,quando terminei,Kris chegou por trás e bateu no meu cabelo.

–Ah,oi,Kris.-disse,sorridente.

–Oi. E então,como foi a viagem?-perguntou,soltando seu cabelo.

Vi pela primeira vez os

fios

de Kris soltos. Seu cabelo era preto e fosco,não muito longo.

–Foi ótima. Um pouco cansativa,mas valeu a pena.-respondi,indiferente.

Ela assentiu e chamou Laurie. A loira saiu do helicóptero ligeiramente tonta. Liam veio atrás,segurando minha katana.

–Prenda nas costas.-informou,na ponta de minha orelha,fazendo-me tremer.

Só então,passando a mão na nuca,que notei que haviam prendedores ali,também. Com certa dificuldade,coloquei a katana em um dos compartimentos. A mesma ficou presa à mim. Suspirei e fui em direção ao círculo de pessoas que se formava em volta de...Alexa. Ela estava séria,com as mãos na cintura e cercada de armas em todos os compartimentos imagináveis.

–O objetivo desta missão é o mais óbvio possível; matar walkers.

Ela continuou com o discurso,mas eu estava avoada. Passar todo esse tempo dentro do helicóptero,novamente,me fez querer me exercitar. No momento,a melhor maneira de fazê-lo era matar aquelas criaturas.

–Então vamos nos dividir.

Nesse momento,olhei curiosa para ela. Abri espaço entre Derek e Liam e entrei no círculo também.

–Quero que percorram a cidade toda. Sete para a esquerda,sete para a direita,sete para o centro. Eu vou sozinha. Podem se separar.

Liam veio até mim,parando ao meu lado. Me entregou uma arma longa e preta. Parecia ser uma Magnum. Coloquei a mesma no coldre da perna direita.

–Por onde vamos?-sussurrei,vendo as pessoas se esvairem.

Liam apontou para o lado direito. Para aumentar o grupo,chamei Kris e Laurie. As duas trouxeram novos integrantes;dois garotos e uma garota. Não me dei ao trabalho de explicar aos novatos o que tinha de ser feito. Se estavam no ranking,saberiam se virar. Comecei a caminhar ao lado de Liam,quando ouvi algo que dizia respeito à mim.

–Olha a exibida que ficou em segundo lugar...

Me virei. Atrás de mim,os dois garotos riam. Meus dentes trincaram. Meus punhos se fecharam. Eles ainda não haviam percebido. Continuavam falando. Exibida.

–Tudo bem?-em milésimos de segundos,já estava na frente dos garotos. Eles se assustaram e deram um passo para trás.

–Tudo ótimo.-disse um deles,rindo.-Como vai a matança? Está fazendo bem pra você.-Continuou,abaixando o olhar do meu rosto para meu corpo.

Esse foi o cúmulo. Senti meu rosto ficar vermelho. Os nós dos meus dedos se endureceram e eu parti pra cima dos dois. Mas não fiz nada que não tivesse conserto. Liam veio me segurar,assim que notou o ocorrido.

–Mich,pare! Pare com isso!-falou,com dficuldade,enquanto empurrava-o.

Cessei. Liam me largou e bufou. Em seguida,encarou os muleques no chão; um com o braço torcido e um com um soco na boca.

–Eu acho que me descontrolei um pouco.-murmurei,meus olhos vagando pela rua. Aquele barulho poderia ter atraído os mortos.

–Mich,você não é assim.-Liam passou a mão no meu rosto,como que para derreter toda a raiva que se apossou de mim.

Pisquei. Aquela não era eu mesmo. Assim que Liam tirou a mão do meu rosto,segui em frente,logo atrás de Kris. Ela com certeza não ligou que eu tivesse acabado com os idiotas que tentavam se levantar a alguns metros de nós. Apartir de agora,estava concentrada no meu trabalho. Mesmo preferindo utilizar o termo "dever".

Estávamos no meio da rua. O calor havia cessado,deixando o frio da Inglaterra fazer com que meu corpo absorvesse a sensação. Porém,meu uniforme novamente se encarregou de me aquecer. Logo atrás de mim,os garotos murmuravam palavras de ódio. Ignorei. Quanto mais nos aprofundávamos da cidade,mais zumbis apareciam. Apenas eu e Kris estávamos atacando,enquanto Liam cuidava de ir pegar comida para o nosso helicóptero e Laurie ia com ele,como vigia.

Até que,enquanto eu andava tranquilamente pela rua,senti um tremor. Um barulho estridente de criaturas unidas para se alimentar. Era uma horda. Todos pararam,como estátuas em sincronia. Mas eles continuavam correndo até nós.

–Kris,cuidado!

Empurrei Kris para dentro de um beco,sabendo que a mesma estaria segura se subisse pelo cano que ali se prendia. Os garotos atrás de nós se desesperaram e fugiram para algum lugar que não me importei de saber onde era. Liam segurou minha mão e me puxou para a rua à esquerda. Tive de agarrar a mão da Laurie também. Eram muitos.

–Liam,estamos aqui pra isso!-parei,fazendo-o voltar.

–Está louca? São muitos!

Soltei meu braço do aperto da mão dele e corri de volta. Ali estava a Michaella que sentia prazer em matar. Saquei a arma e comecei a atirar em todos que conseguia. Estava privando minha katana,mas logo as balas acabaram e tive de usá-la. Mesmo assim,tentei matar todos apenas quebrando o pescoço. Eu achava que estava adiantando alguma coisa,mas tinha matado poucos comparado ao número que eu desejava. Quando me dei conta,eles estavam me cercando. Fui entrando devagar no beco para o qual empurrei Kris. Preparei a katana em minha mão direita. Finalmente cheguei à parede do beco. Por um momento,pensei que tinha chegado a minha hora. Entretanto,sabia que poderia resistir mais alguns minutos. Foi quando ouvi meu nome.

–Michaella!

Olhei para cima. Kris estava pendurada em um cano do prédio,esticando a mão para eu pegá-la. Mas os walkers estavam cercando-a,impedindo que eu chegasse perto.

–Kris...eu tive uma ideia.

Ela arregalou os olhos ao ver eu encostando-me na parede na qual ela estava pendurada no cano. Não sabia ao certo o que eu queria,mas eu sabia muito bem. Corri para a outra parede e estiquei o pé direito. O mesmo bateu com tanta força nos tijolos que eu voltei,à vários metros do chão. O impulso foi tão forte quanto imaginei. Mas o uniforme me impediu de sentir dor. Ao bater na parede de novo,consegui agarrar a mão de Kris. A mesma me puxou até que eu conseguisse me prender ao cano. Subimos e chegamos ao terraço do prédio.

–Ufa.-soltou,escorando-se nos joelhos.

–É,ufa.-concordei.

Ela me olhou,primeiro como se estivesse sonolenta e depois como se tivesse tido uma ideia. Desviei o olhar para seu coldre. Ela tinha uma metralhadora.

–Acha que é seguro?

Ela assentiu. Podia ver a vingança em seus olhos. Nos levantamos e ela sacou a metralhadora. Foi até a ponta do terraço e começou a massacrá-los.

–Você...deve ter muita raiva deles.-murmurei,vendo o prazer se manifestar em cada tiro.

Sua expressão se aquietou,mas ela não tirou os olhos dos walkers.

–Eles mataram minha família. Todos eles. Está na hora de dar o troco. Vou matar cada um com o mesmo prazer e a mesma fome que mataram meus pais.

Kris parecia querer chorar,mas continuava mirando como se o que ela disse anteriormente fosse algo comum de se ouvir. Se bem que,à aquela altura,deveria ser.

Ela parou de atirar. Não havia ninguém na rua-pelo menos,não vivo. Por um momento,pensei que Liam pudesse estar em perigo. Foi quando o mesmo apareceu atrás de nós,subindo pelo cano,também.

–Liam,está tudo bem?-perguntei,verificando se ele não possuía nenhum arranhão.

–Estou ótimo,mas os pirralhos...

Abaixei a cabeça.

–Não precisa dizer,já entendi.

De repente,Kris arfou de surpresa. Virei-me para ver o que ela via. Era um axeman. O gigante contaminado. Não sabia ao certo como era criado um axeman. O que me chamou a atenção foi que,como sempre,estava acompanhado de seu machado gigantesco,que poderia fatiar uma pessoa em segundos. Kris mirou nele, porém, o mesmo lançou seu machado. O mesmo veio com tal rapidez em nossa direção que pude ver as lâminas quase tocando a ponta de meu nariz. Liam me puxou para baixo.

–Oh,meu Deus.-murmurou,encarando o monstro.

Quando Kris estava pronta para começar a atirar,uma figura surgiu. Correu na direção do gigante como se o mesmo fosse um inseto inofensivo que ela pudesse esmagar. A figura era Alexa. A agente da CIA,profissional em massacres. Mas,depois do que vi,deixei de acreditar que Alexa era simplesmente uma lutadora qualquer que treinou muito para chegar aonde chegou.

Humana

ou não, Alexa não era normal.