Acordo com um ruído de zíperes sendo fechados e abertos.

–Tia?O que está fazendo?-sento na cama e esfrego os olhos.

–Oh,Mich.Que bom que acordou.-ela falou sem olhar nos meus olhos,concentrada em enfiar vários pertences dentro de uma mala verde.

–O que?O que é essa mala?O que aconteceu?

–Mich,lembra daquela notícia sobre a tal da Umbrella...?-ela se esforçou para dizer o nome correto.

–Lembro...-me levantei.

–Bem,eu não queria ter de dizer isso,mas...-ela fez uma longa pausa olhando para o teto.-Olhe,eles...eles não conseguiram amenizar a situação.O vírus se espalhou e contaminou várias pessoas do outro lado da cidade.-uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo,eu a limpei.

–Isso é muito sério,temos que sair daqui!Agora!-gritei,correndo para o meu armário e atacando as coisas na minha mala recém-chegada.

–Mich,escute bem,eles estão fechando a cidade.Temos que sair antes que as fronteiras sejam bloqueadas!-nesse momento,larguei os tênis que segurava e paralisei.

–Fechando a cidade?-guaguejei.

–Sim,querida.Arrume suas coisas rápido.Vamos deixar a maioria das coisas aqui.Leve apenas roupas.-ela fechou o zíper pela última vez e se virou,passando a mão no meu rosto-Não precisa temer.Eu e seu tio estamos com você.-disse.

–Eu vou terminar minha mala.

–O.k.

Ela saiu do cômodo para a sala,onde meu tio esperava ansiosamente que eu terminasse minha bagagem logo.Coloquei mais algumas peças dentro da minha mochila e parti junto a eles.

–Oh,meu Deus!Como isso é possível?

Encaramos a rua na frente do prédio.Totalmente vazia.Nenhum carro,nenhum pedestre.Nem mesmo o porteiro se encontrava na portaria.O asfalto estava cheio de marcas de pneu na diagonal-motoristas desesperados para cruzar a fronteira-que marcavam todas as ruas em volta da nossa.Segurei minha mochila com força e tomei a frente dos dois.

–Temos que ir andando.Não há nenhum carro por aqui.

–Há algum perigo?-meu tio questionou.

–Bem,a infestação já começou.Mas eu acho que não tem nenhum contaminado aqui.

–Contaminado? Como eles são?-minha tia se apavorou.

–Não temos tempo para explicações.Vamos!

Todos fomos o mais rápido possível até a fronteira que ainda não fora bloqueada.Tivemos uma surpresa.

–Mas o que é isso?-minha tia gritou.

Não me surpreendeu seu pavor.A área estava lotada de pessoas.Lotada como se ninguém pudesse se mover um milímetro.Na frente do publico,duas enormes paredes de aço.Deviam ter mais de trinta metros.O público chocado se debatia tentando ir até a plataforma abaixo das paredes.Lá haviam seguranças e chefes da Umbrella.

–Nenhuma passagem será autorizada!O T-Vírus está sob controle.Ouçam!O T-Vírus está sob controle!-o homem alto anunciava em um megafone.

–MEU DEUS!-minha tia teve uma recaída e desmaiou.Sua pressão sempre atacava.

–Michaella!Michaella,me ajude.-meu tio,não aguentando segurar minha tia tentava mantê-la em seus braços.

Olhei para os dois.O único pensamento que invadiu minha cabeça foi de mortes acontecendo.O vírus não estava sob controle.Todos sabíamos disso.

–Escutem bem!-o homem voltou ao megafone.-Já temos registros de pessoas infectadas!Não podemos abrir a fronteira!Ordens do presidente!

Olhei para baixo.Minha tia estava escorada nos braços de meu tio,que se agachava.

–Michaella,não tem jeito,temos que voltar para o apartamento.-meu tio disse,quase tendo um ataque cardíaco.

Balancei a cabeça,tentando achar uma solução.As lágrimas já rolavam pelo meu rosto frio e eu me perguntava se,um dia,o mundo estaria assim.Infestado até ser dominado pelos...errantes.

–Eu tenho uma ideia.Mas vocês vão ter que fazer tudo o que eu mandar.-minha tia,já ligeiramente consciente,me encarou e balançou a cabeça.

–Vamos por aqui.

Ajudei minha tia a se levantar,mesmo com ela ainda estando tonta.Passei por trás da multidão e dei a volta.Havia uma plataforma bem ali.Ninguém notou,mas subi na escada de dois metros de altura até a plataforma,com meus tios observando e esperando pelo o que eu iria fazer.Ao chegar ali,fui brutalmente empurrada até a cerca que impedia os não-autorizados de subir.Por um tris eu não cai dos dois metros.

–Este lugar é apenas para autorizados,garota!-um homem forte e careca,de pele parda,me pegou pelo braço.

–Me solte!

Logo atrás dele,um homem magro e alto,de cabelos brancos,se pronunciou.

–Solte-a,John.Deixe a menina falar.

O tal do John me fuzilou com os olhos,e eu fiz o mesmo.Assim que me soltou,corri até o homem grisalho.

–O quer,querida?

–Olhe,eu sei que vocês não podem autorizar a passagem de ninguém,eu entendo,mas a minha tia tem problema de pressão.Ela pode ter uma parada cardíaca a qualquer momento.Eu tentei explicar,mas ela não quer me ouvir.Por favor,deixe-nos passar!Eu faço o que o senhor quiser.

–Desculpe,querida,mas não podemos liberar a passagem.Todos vão querer ir também e a situação aqui vai ficar pior.Sinto muito.-o homem sorriu,mas mesmo com o sorriso sendo verdadeiro,ele se virou e voltou para uma cabine qualquer na plataforma.Nesse momento,vi que John ia agarrar meu braço novamente e me expulsar.Não deixei.

–Volte aqui,menina!Seguranças!

John gritou,enquanto o driblei e entrei em uma cabine.Ela estava vazia,então tranquei a porta e comecei a inspecionar os botões rapidamente.

–Stop,Open,Fire Escape...Fire Escape?-sussurei comigo mesma.

Apertei "fire escape" e nada aconteceu.Mas eu sabia que algo estava acontecendo lá fora.

–Abra essa porta agora!-o som dos socos na porta aumentavam,me deixando assustada.

–Vai esperando.-murmurei.

Olhei para a parede da cabine,lá havia uma pequena janela circular.Calculei se eu passaria por ali;era provável que sim.Não esperei nem mais um minuto e pulei a janelinha,caindo diretamente no parapeito da cabine.Eram dois metros para serem pulados.Mas valia tudo para salvar quem eu amo.Então pulei,caindo de pé.

–Rápido,por aqui!-agarrei a mão da minha tia e de meu tio,que esperavam bem debaixo da cabine.

–Querida,o que está fazendo?-minha tia questionou enquanto corria.

–O possível!-gritei.

E então,cheguei numa pequena porta de aço,na parede gigante.Uma pequena passagem para que os seguranças pudessem fugir,sem o mínimo de caráter.A porta havia sido destrancada por mim."Fire Escape".

–Vamos.

Minha tia e meu tio passaram rapidamente pela porta e eu já estava com um sorriso estampado no rosto.No momento em que botei um pé pra fora do batente,senti braços fortes me segurando.

–É proibido passar!-John,desta vez mais exaltado,me puxou para dentro de novo.

–Michaella!-minha tia gritou.

Antes que um dos dois pudesse me socorrer,a porta se fechou.

–Não!-me soltei dos braços de John e me voltei para a sua direção.-Eu te odeio!-dei um tapa em sua cara com a maior força que consegui.Ele virou o rosto e colocou ele entre as mãos.

–Vadia!-ele urrou.

Nesse momento,sai correndo o mais rápido que pude.Corri,corri,corri.Estava quase desmaiando,mas não diminui a velocidade.Não conseguia processar aquilo.Tudo passava na velocidade de um trem-bala na minha mente.Michaella!Vadia!Sinto muito!Não!

As lágrimas rolavam cada vez mais rápido pelo meu rosto suado,me deixando ensopada de lembranças ruins do que havia acabado de acontecer.De repente,parei de correr.Não sabia onde estava.Minha visão falhava,sentia calor e sede.Me ajoelhei no chão e comecei e sentir um cansaço forte.Me encostei totalmente no asfalto.Por fim,fechei os olhos e apaguei.