Pulei em seus braços.

Estava sentada na areia.As marolas se quebravam na ponta dos meus pés,molhando levemente a barra da minha bermuda.O sol estava escondido atrás de nuvens foscas e cinzentas.Dei um passo à frente.De repente,minha mãe chegou por trás e me puxou.

-Michaella!

Eu senti todo o nervosismo passar.Estava segura e feliz.Aquele abraço recompôs todas as feridas que a morte da minha irmã mais velha abrira.Lágrimas começaram a escorregar,molhando o casaco malva dela.

-Eu quero ela de volta,mamãe.-murmurei,entre soluços.

-Eu sei,querida.Mas temos uma à outra,certo?

Assenti,tentando sorrir.

-Estaremos sempre juntas.

Nesse momento,as vozes da vida real e dos meus pensamentos se juntaram.

-Michaella!-ela disse,com sua voz familiar e doce.-Não acredito que está aqui!

Tentei encontrar as palavras certas.

-Não acredito que está viva!

Apertei-a com mais força.Saí de seus braços e comecei a limpar as lágrimas.Ela me acariciou.

-Mich,quero que me conte tudo.Quero que me diga como chegou.Com quem chegou.Quero...-um barulho a interrompeu.

O ranger da porta fez com que nos virássemos.

-Emily!-minha mãe exclamou,soltando mais algumas lágrimas.

-Oi,tia!

Elas se abraçaram por alguns instantes e fomos sentar no beliche.

-Eu...eu nem sei o que dizer.-minha mãe disse,enxugando as lágrimas.

-Nós sabemos.-Emily sorriu.

Em seguida,Em começou a tagarelar de um modo que nem eu mesma entendia.Contou sobre tudo o que aconteceu na Umbrella,no helicóptero...então pediu para que eu contasse a minha versão.Afinal,vivi muitas coisas que ela não viveu.Agradeço por isso.

-Então vocês passaram por tudo isso só para chegar na base?-minha mãe indagou,incrédula.Assentimos.-Ah,agora eu não vou desgrudar de vocês!

Ela nos abraçou,quase esmagando meu pulmão.Mas era bom.

-E...quem são Liam e Blair?-ela perguntou,sorridente.

Olhei para Emily.

-Liam é o namoradinho dela.-Emily disse,caindo aos risos.Comecei a rir também.

-Oh!Em pleno apocalipse você arranjou um namorado?-disse em tom engraçado.

-Na verdade...foi ele que me arranjou.

-Falando de mim?-uma voz masculina e familiar invadiu o cômodo.

Liam e Blair entraram com uma cesta de mantimentos.Blair,como sempre,tímida.

-Mãe...Liam e Blair.-apontei.

Não demorou muito.Em menos de quinze minutos,todos nós estávamos conversando.Me joguei no canto da cama superior do beliche e apenas fiquei rindo das conversas descontraídas entre nós.A tarde passou e logo era noite.Liam trouxe a lista de instruções (horário das refeições,local dos vestiários e área para exercícios físicos,entre outros...) e deixou colada na parede do quarto.Eu estava radiante,pois minha mãe havia gostado de Liam.E ele achava ela uma "mãe loucamente legal".Nos organizamos nas camas para ouvir as instruções que minha mãe dava.

-Bem,agora são oito horas,hora da janta.Parece que o refeitório fica no térreo,no fim do corredor perto do balcão número sete.-ela disse,concentrada.

Saímos e descemos as escadas.Estava incrivelmente cheio,agora.Pessoas vivas.É bom vê-las de novo,e em grande número.Enquanto caminhávamos até o refeitório,notei a diferença entre algumas famílias.Umas estavam de luto,outras comemorando por estarem vivas.Algumas estavam quietas e um pouco assustadas.Olhei para trás e vi a minha família.Minha mãe,Emily,Liam e Blair.Dei um sorriso discreto enquanto sentava na mesa de seis lugares.Do meu lado esquerdo estava Liam,do direito minha mãe,e dividindo o espaço à minha frente,Emily e Blair.Conversamos normalmente à mesa,como outras famílias faziam.Quando olhei para o lado,um homem alto e magro de uniforme cinza estava colocando uma bandeja no centro dela.Ele saiu,deixando algumas garrafas de água e suco ali.

-Adoro frango.-disse Emily,degustando seu prato.

Dei uma garfada enquanto entrava nos famosos devaneios.Quando algo me ocorreu.

-Mãe...-disse,como uma criança que pede um pirulito.-Onde está o papai?

Ela me olhou pot alguns segundos.Eu estava ficando arrepiada com aquele olhar.Ao mesmo tempo,preocupado e infeliz.

-Filha...ele...

-Não precisa!-disse,tampando os ouvidos.Apoiei os cotovelos na mesa e comecei a chorar.Senti que alguém puxou o prato debaixo de mim.

-Filha,vamos subir.

E assim nós voltamos para o quarto.Tentei esquecer.Esquecer à todo custo.

-Boa noite.-todos disséram à todos em uníssono.Mas Liam e minha mãe me beijaram.

Liam piscou antes de ir dormir no colchão do lado do meu beliche.Vários flashes da minha infância passaram pela minha mente.Sem dor e sem choro.Eu estava segura e feliz.Feliz de pensar no meu pai.Ele escapou do inferno.Adormeci rápido.