Em sua casa, Alexia tentava continuar sua leitura, mas seu pensamento não a permitia. Lia e relia várias vezes o mesmo parágrafo, porém sua concentração estava muito estável já que sua mente a levava apenas para Dylan.

Como não pôde reconhecê-lo?

O que faria para pedir adequadamente o seu perdão?

Logo um sorriso despontou em seu rosto, iluminando-o. Largou seu livro em cima da cama e correu saltitante até a cozinha da casa. Lá, ela amarrou um avental em sua delicada cintura e com as pequenas mãos começou a procurar pelos armários certos ingredientes. Uma ideia havia surgido naquela pequena cabeça angelical.

Alexia acordou alegremente com o amanhecer do sol que raiava no céu.
Quando chegou na escola, logo avistou Dylan, o qual estava amoído em um canto. Ela correu em sua direção. Seria esta a primeira vez que ela vinha a seu encontro? Talvez.

Ajuntou-se para ele amistosamente e com um leve ar de timidez, oferecendo-o um pequeno embrulho que trazia nas mãos:

–Dylan, isto é para você! Eu lembro que quando éramos pequenos você adorava isto! - Ele pegou e abriu o pequeno pacote, dentro dele havia 2 pedaços de um bolo de chocolate que ela fizera. - Minha mãe ensinou a fazer ele, então pensei que você gostaria. Aceite-o como um pedido de desculpas.

Esta frase tinha vindo com o olhar suplicante da garota. Dylan olhava para o pedaço de bolo e para os doces olhos azuis da pequena. Não sabia o que fazer, estava sem reação. Na verdade, não era necessário aquilo, ela já havia a perdoado, era apenas um sentimento de mágoa que ele continha por pensar que ela não o reconhecera, mas estava tudo bem, afinal, ela ainda se lembrava dele.

Dylan engueu uma de suas mãos no ar, como que se fossem para Alexia tocá-la. Ao compreender a mensagem, Alexia bateu firmemente na mão do rapaz, um toque que se prolongou por um tempo enquanto Dylan dizia gracejando para ela:

– Sua bobinha! Você deveria saber que eu gostaria de mais pedaços de bolo! Até parece que isso irá me sustentar por muito tempo!

A menina deleitou-se com uma leve gargalhada, que foi rompida com o sinal para o início das aulas.

Alexia agora não levava mais um livro para ler na escola, já que tinha alguém com quem passar o seu tempo. Ela estava muito contente por tê-lo reencontrado, pois agora tinha um amigo para conversar.

– Dylan, onde você está morando agora?

– Na mesma casa. Minha família só tinha alugado-a... Por que pergunta isso?

– Ah... antigamente quando estudávamos na escola do bairro nós íamos juntos para ela... e agora? como você vem para cá?

– Meu pai me traz de manhã, já que eu não sei o horário certo para pegar o busão... e você vem do quê para a escola?

– Eu venho com o circular mesmo...

– Huum.. certo, que horas ele passa?

– Ele passa as 6:30 , no ponto perto do mercado... nós pegaríamos ele no mesmo ponto e poderíamos vir juntos!

Dylan olhou-a com um pouco de espanto e corou-se levemente.

–Ah...sim! sim... - disse ele sem jeito.

Enquanto eles conversavam, apareceu um grupo de amigos de Dylan que veio para perto dele.

– E aí Dylan! Tudo bem cara?! - disse um deles.

– E aê pessoal, bem?!

– Oi Alexia - falaram os garotos em um só coro.

– Olá..

Ingressaram-na na conversa após um tempo. Por que eles começaram a conversar com ela também? Não deveriam falar apenas com Dylan?! Após um tempo, ele percebeu o incômodo de sua parceira e despediu-se deles, levando-a de volta para a sala de aula.

– Então Alex, aqueles meninos realmente são intrometidos, não é?!

– Não.. tudo bem.. eu que não me acostumarei com qualquer tipo de pessoa me rodeando.

Alexia sentou-se e abaixou a cabeça na carteira. Dylan não falou nada. O que acontecera com aquela garota tão sorridente e alegre que ele conheceu? Por que ela estava tão fechada assim? Ele queria descobrir, mas não sabia por onde começar a perguntar.
***

Após uma semana da revelação de Jin, Alexia já não se importava mais com o que as pessoas diziam sobre ela estar conversando com ele, pois era o que ela queria. Tudo que ela tinha desejado nesses últimos anos era que Dylan voltasse, porque se sentira solitária.

No primeiro dia em que Dylan voltava para casa de ônibus circular, os dois estavam sentados lado a lado no ônibus enquanto Alexia olhava fixamente para a janela, com uma expressão concentrada. Ao vê-la mergulhada em pensamentos, Dylan tomou a coragem para perguntá-la o que tanto o incomodava:

–Hey Alex, eu realmente sou o único amigo que você tem aqui?

– Do que adianta ter amigos se estes não irão ficar com você?..

Ele encarou-a e viu os olhos tristes daquela garota retornando o olhar e continuando a dizer:

– Por que pergunta isso para mim se a resposta não é tão difícil assim... - prosseguiu a menina - os amigos nos abandonam, certo? todos me abandonaram... primeiro você, depois de um ano a Carol e quase no mesmo tempo o João... por que tiveram de ir embora? do que adianta criar mais amigos se no final sempre será apenas eu?..

Dylan olhou para ela atônito por tais palavras. Colocando suas mãos sobre as dela, ele olhou-a com um triste sorriso, dizendo:

– Mas eu voltei, não voltei?

Os olhos da garota encharcados por lágrimas queriam derrubar sobre o macio rosto dela aquele pranto, porém ela o segurou.

– As pessoas daqui me veem como uma estranha e anti-social que importa-se apenas com os seus livros. Por partes eu posso parecer assim, mas sei que não o sou, e a única que me enxergava diferente era a Claire... mas eu não posso mais ser amiga dela... pois as 'amigas' disseram-na que se continuasse a andar comigo elas a abandonariam.. então eu deixei a minha amizade por ela... mas isso sempre acontece, quando eu quero fazer um amigo novo parece que eu só vou trazer infelicidades para ele... e eu não quero isso para as pessoas, Dylan. Então se eu preciso ficar sozinha para fazer os outros felizes, então que seja para que eu fique só.

Aquela era a primeira vez em que Dylan aprofundou-se no coração da garota após reencontrá-la. Então era isso que acontecia? Isso era o que ela guardava no coração e a entristecia, afastando-na dos outros? Pobre garota.. quanto sofrimento ela tinha guardado para si para a felicidade dos outros.

– TONTA! - ele apertou as mãos de Alexia enquanto esbravejava - Sua tola! Por que você pensa assim!? Deixar de ser feliz para dar felicidade aos outros! Que meio de vida é esse?! Duvido que a Claire ficou tão feliz em perder a sua amizade! Alexia, viva para você e não para os outros!!

Finalmente as pequenas lágrimas presas em seus olhos caíram, mas logo deram lugar a um sorriso um tanto encantador que fez com que Dylan a apreciasse por momentos.

– Obrigada... - disse ela com um leve sorriso enquanto os dois de preparavam para descer.