Acordo cansada no dia seguinte, pois eu e Ashley ficamos conversando até tarde noite passada. Olho pro relógio e vejo que são 10h45. Hoje é sábado, ainda não sei como o esquema do café da manhã funciona, mas faço minha higiene matinal, troco de roupa e resolvo sair. Deixo Ashley dormindo, ela é uma preguiçosa.

Pego as chaves, o celular e a carteira e coloco na bolsa. Chego no saguão e algumas garotas me olham torto. Sorrio pra elas, elas fingem que não viram e começam a cochichar. Ridículas. Procuro o comitê, mas eles não estão mais por aqui.

Vago por aí e acabo me lembrando que aqui tem uma cafeteria. É tipo um starbucks, mas com o logo da faculdade. Daniel me disse que é bem popular por aqui, então resolvo ir procurá-la.

Ando mais um pouco e acabo achando. É até bem grande pra uma cafeteria de faculdade. Ainda mais porque tem ainda o restaurante e tipo uma padaria, que é onde muitos tomam café, o qual não consegui achar. Vou até o balcão e peço para ver o que tem. O atendente (que se Ashley estivesse aqui, estaria dando em cima ou me empurrando pra ele) me entregou um cardápio com vários tipos. É, era tipo um starbucks disfarçado. Resolvo pedir um Frappuccino de caramelo à base de café. Ele me pergunta se vou tomar aqui ou vou levar na mão, e digo que vou levar. Ele prepara e em alguns minutos está pronta.

Pago e, quando estou saindo, ouço alguém me chamar. Olho pra trás e me deparo com Daniel sentado em uma mesa com mais dois caras, acenando pra mim. Ele faz um sinal para eu passar lá e vou, com reação neutra.

- Oi! - ele se levanta, provavelmente esperando um abraço, mas permaneço imóvel. Então ele troca de assunto. - Bom, esses são John e Lucas.

Olho pra eles e vejo um cara musculoso, cabelo castanho e olhos azuis. Ele é muito bonito. Então olho pro outro. O reconheço de algum lugar...

- Ei, eu conheço você! - ele diz.

- E-eu? - gaguejo.

- Sim! Ah meu Deus, você é aquela garota do avião, certo?

Fico quieta e penso. Claro! O garoto do avião! Que veio dar em cima de mim. Óbvio, como não pensei nisso? Deus deve me odiar.

- Se te ajuda a lembrar, sou o cara que deu em cima de você na frente do banheiro.

- É, eu lembro - falo, constrangida.

- Deu em cima? - Daniel pergunta, interessado (até demais) na história.

- Sim... Qual é, se você visse uma garota linda como ela no avião e tivesse a chance você faria o mesmo - Lucas se explica, sorrindo de canto.

- Eu falo com você depois - Daniel fala sério. - Então Cassie, senta - ele vai mais pro lado, me dando espaço pra sentar, porém me recuso.

- Olha Daniel, só porque você me mostrou o colégio ontem, não quer dizer que tudo esteja bem entre a gente. Você continua um idiota, e eu continuo brava com você - desabafo e respiro fundo. - Melhor eu ir agora.

Saio andando, mas consigo ouvir Daniel chamando meu nome e John falando "você fez bosta, cara". Ai, já gostei desse daí. Chego no lado de fora, mas Daniel agarra meu braço, e eu acabo me virando e topando com ele, me batendo em seu peito.

- Ai, porra! - exclamo, porque machucou meu nariz. - Que foi agora?

- Desculpa - ele diz, pausadamente. - Não só por isso, mas pelo que eu fiz. Eu fui um babaca - ele me leva para os fundos da cafeteria, onde não tem ninguém. - E tenho que te dizer, eu não tava te usando. Eu meio que... sentia... alguma coisa. Mas eu não sei o que era. Era uma atração.

- Atração física, Daniel. E só. Eu entendo, você sempre foi assim e sempre será.

- Não, não era só isso! Nesse momento ele agarra meus ombros me trazendo mais pra perto, e me fazendo encarar seus olhos.

Ficamos em silêncio por um instante, apenas ouvindo a respiração pesada um do outro. Daniel suspira e pisca os olhos.

- Me desculpa. Eu não sabia que tinha te causado tanto prejuízo.

Meus olhos começam a ficar aguados, e ele chega mais perto, me olhando fundo nos olhos. Sua boca roça na minha, me causando um arrepio. Suas mãos seguram minha nuca, me impedindo de sair. Então ele me beija. Um beijo rápido, de uns cinco segundos. E eu o empurro.

- Daniel, isso é errado. Você tem namorada e... - não consigo achar as palavras certas, por nervosismo. - E eu não quero isso com você.

Ele fica quieto e se afasta. Encara os pés por alguns segundos e retorna o olhar pra mim. Eu sorrio de canto, triste, e saio andando. De onde saiu a ousadia de me beijar? Que idiota. Se ele acha que eu vou ser sua "outra", ele está muito enganado.

Volto para o quarto, sem saber o que fazer. Ashley não está, então me atiro na cama e choro. Por que ele faz isso? Gosta de me machucar? Ele acha que sou o quê? Uma puta? Apenas mais uma idiota sem valor que ele pode usar e abusar? Pois saiba que não sou isso. Sou apenas mais uma romântica. Ou iludida, mas também não aceito menos que isso. Acredito no amor, e sei que nele esse sentimento não existe. Também nem sei mais o porquê de isso me afetar tanto. Mas tudo bem.

Alguns minutos depois, Ashley chega no quarto, na companhia de outras duas garotas. Elas estavam rindo, mas quando Ash me vê, muda completamente sua expressão facial. As outras meninas continuam na porta, sem saber o que fazer, enquanto Ashley vem até mim e me abraça.

- Meu Deus, o que foi? - ela pergunta.

- Ahm, vocês não precisam ficar aí, podem entrar - digo, entre soluços. Então elas entram e fecham a porta, sentando na cama de Ashley. - Foi ele de novo Ash, o problema é que dessa vez ele me beijou.

- E o que isso tem de ruim? - ela pergunta, sorridente.

- Você ainda pergunta? Ele tem namorada, eu sou a "outra" dele. Ele tá tentando me usar de novo.

- Aaaah... - lenta? Neeem. - Bom mas dessa vez você não vai deixar.

- Óbvio que não

- Então o que é que tem?

- Me machuca o fato de ele achar que sou apenas um objeto, ou sei lá, quando ele está entediado, é aí que eu entro. Entende?

- Mas você é mais que isso, e você sabe. Cassie, você é linda, legal, engraçada... - ela para e pensa. - Romââântica - nisso ela solta uns risinhos, arrancando alguns de mim também. - Só tem medo de mostrar isso. Resumindo, você é perfeita. Só precisa demonstrar.

- Obrigada, mas não sou perfeita, Ash. To longe disso.

- Ok, ninguém é perfeito! Mas não, você não tá longe da perfeição. E pra mim, você é perfeita. Às vezes eu quero ser mais como você... Ninguém fala de você pelas costas, todos que te conhecem te adoram. E você sabe se controlar.

- AW, ASH! Às vezes EU quero ser mais como você! Você não tem medo de ser quem é, não importa o que digam.

- SHHHH! TÁ QUERENDO QUE EU CHORE?

Nos abraçamos e ela limpa uma lágrima do meu rosto.

- Eu sei como você pode se vingar desse garoto.. - uma das meninas sentada na cama fala, sorrindo maliciosamente.

- Como?

- Bom, tem uma festa hoje à noite... Acho que você devia ir.