O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 18
Forca


Notas iniciais do capítulo

Olá, quero agradecer principalmente á Riven, que recomendou a fanfic. Tenho 4 recomendações com essa. Então, muito obrigada, minha querida. Bati meu record. Minha próxima meta é 5 recomendações. Muito obrigada também á: Gigi, Nephélibate e Caralo, que deixarem review no capítulo anterior. Além da Riven, claro, que também não deixou de comentar!



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Tudo estava relativamente calmo. Fora alguns pesadelos ocasionais, Ichigo e Rukia não tiveram problema algum. A vida seguia relativamente normal; enquanto Rukia ensinava Ichigo a ler e escrever, o menino a ensinava a lutar. Rukia tornava-se cada vez mais habilidosa, e possuía um talento surpreendente no manuseio de facas, um talento que apenas precisava ser lapidado como um diamante bruto.

No entanto, o modo como eles viam o mundo estava mudado. Era impossível olhar para uma sombra, para a floresta, ouvir uma história de terror, um mito, uma lenda, sem esperar algo mais. O conhecimento os sufocava. A ignorância era bem-vinda, mas impossível. O dano talhado em seu cérebro, o dano do conhecimento, era irreversível. E eles nada contaram para ninguém, mesmo que a ignorância dos outros, a inveja que eles tinham dessa ignorância, os irritasse.

Um clima horrível assolava o Reino Kuchiki. Ventos que quebravam árvores, chuvas torrenciais. Se já não tivessem saído no inverno, as neves também se fariam presentes, e nevascas castigariam a vegetação. Toda terra virava lama, as ruas estavam enevoadas, e tudo —absolutamente tudo —estava úmido. O sol já não se fazia presente há semanas, e o céu sempre estava repleto de nuvens. O reino nunca esteve tão cinza: cinza das pedras, cinza das construções, cinza da chuva, das nuvens e da névoa. O clima já estava agoniando os habitantes do reino, e as mulheres já estavam desesperadas, pois não havia como secar as roupas lavadas, ou molhadas pela chuva.

Ichigo e o pai começaram a receber cartas de Karin e Yuzu. Elas já haviam aprendido a ler —aquelas garotas, espertas e enxeridas, muito mais inteligentes do que Ichigo. Ele sentiu-se muito orgulhoso das meninas, assim como o pai que chegava a chorar, e muito empolgado pelas cartas. Elas o haviam motivado de aprender a ler mais rápido, para que ele pudesse ler sozinho as cartas das irmãs. Ichigo entendia uma palavra e outra, salteada nas letras redondas de Yuzu, ou nos garranchos retangulares de Karin, e Rukia o ajudava com o resto. No entanto, gostaria de ler para o pai, que esperava ansiosamente pela volta do filho para casa, para que ele explicasse o que diziam as cartas.

O cinza da fumaça e da fuligem da ferraria dos Kurosaki contribuía para o cinza total do reino. No entanto, tons quentes e luminosos de laranja iluminavam o rosto de Ichigo, as chamas que ardiam e lapidavam as lâminas, chamas puras e quase angelicais. Isshin varria o local, enquanto Ichigo tirava a última das espadas da fornalha. Faíscas saltitavam e dançavam no fogo, e Ichigo tirou a espada quente e mergulhou na água. A onda de fumaça que o atingiu —fumaça cinza para contribuir com o cinza do reino —foi enorme, mas quando ele tirou a espada de dentro da água ela estava perfeita.

Isshin disse que o trabalho de Ichigo estava encerrado, então o menino pegou o pano, limpando das mãos e do rosto a fuligem e as cinzas. Comeu alguma coisa —a situação deles melhorou visivelmente desde que chegaram ao reino Kuchiki —e foi se deitar.

***

Ichigo estava em um lugar totalmente branco. Branco e azul. Situava-se em um grande lago congelado, e montanhas de gelo erguiam-se ao longe. Ele não via nada, á não ser o branco. Andou e andou, as formas ao longe se tornando cada vez mais nítidas. E então ele discerniu uma figura humana no meio de tanto gelo. Estava de costas para ele, e o cabelo, o vestido e as asas eram brancas. Quando o anjo, uma figura feminina muito esbelta, virou-se para ele, o garoto viu os lindos olhos azuis gélidos que tanto combinavam com a paisagem. A criatura tinha lábios rosados, e os cabelos brancos castigavam seu rosto diante do vento. Não tinha a expressão serena que esperava de um anjo, mas parecia muito selvagem. No entanto, de sua presença irradiava um poder, uma bondade tão grande, que era opressora.

—A criança de Masaki. —ela falou, com uma voz ao mesmo tempo baixa, mas também alta para que o garoto ouvisse de tão longe. Era tão doce, tão melódica, tão parecida com uma harpa. Tão parecida com a voz de sua mãe.

***

Ichigo acordou de repente, quente e suado. Os lençóis o haviam envolvido como se o amarrassem na cama. Ele estava tonto e desorientado, mas apesar da febre ele sabia que havia presenciado algo poderoso e belo.

♣♥♠

Rukia passeava pelo castelo de forma aleatória. Os corredores eram imensos, e ela duvidava que fosse encontrar com alguém neste labirinto. Tirando Ulquiorra e Halibel, vampiro e lobisomem respectivamente, os outros empregados eram humanos normais. Ishida sabia do mundo mágico, sendo que pertencia á uma família de caçadores muito amiga dos Kuchiki. Mas, ora, ela nunca falava com Uryuu. Não que não gostasse dele, ou algo assim, mas não tinha afinidade com o moço. E isso era igual para Halibel e Ulquiorra. Rukia precisava de alguém para conversar sobre o mundo mágico. Yoruichi e Urahara já haviam ido embora há meses. Hitsugaya e Neliel não sabiam. E Ichigo...

Ela não conseguia conversar com Ichigo de verdade desde o dia que se beijaram. Quer dizer, eles treinavam e estudavam juntos; mas aquilo era algo profissional! Conversar, do jeito que antes conversavam, isso não era mais possível. Ela se sentia errada, constrangida, envergonhada. Sentia-se angustiada, presa, jogada para morrer em um local escuro e fechado, desde que voltara de Faerie. Nada era mais igual. Até Neliel, que nada sabia, percebia isso.

Sabe qual era o melhor momento do dia de Rukia? Era quando ela acordava de manhã, e por um breve instante, ela não se lembrava mais de nada. Não lembrava que estava apaixonada por um camponês, mas que no entanto estava noiva de um homem que nem conhecia e já desprezava. Não lembrava que demônios existiam, e estavam-na caçando. E, a cima de tudo, não se lembrava da profecia. Quando acordava, não havia pressão sob seus ombros. Não era como quando dormia, fechava os olhos e via as cenas devassas da corte das fadas. Naquele instante, tudo era tão... leve.

Continuou caminhando, até que numa lufada de vendo, Ulquiorra apareceu. Parecia uma estátua de mármore: a pele branca, forte e imortal pelo tempo. Mas linda, apesar disso. Depois de séculos, bebendo sangue para sobreviver, ele ainda tinha uma aparência bonita e jovial.

—Princesa Kuchiki... —ele começou.

—Pensei que vampiros queimavam no sol. —ela disse de uma maneira brusca, mais grossa do que pretendia. —Eu já te vi no jardim de dia, e você não pega fogo.

—Yoruichi me fez um feitiço: ele ameniza os efeitos do sol na minha pele. Dói, mas eu ainda posso sair se necessário. —ele explicou. —Agora, você pode me acompanhar, por favor? O Mestre Kuchiki a espera na sala de estar.

Ele virou-se, já caminhando. Rukia o seguiu, correndo para acompanha-lo.

—Por que você é fiel á ele? —ela perguntou.

Ulquiorra pareceu confuso.

—Perdão?

—Por que você obedece meu irmão. —ela explicou. —É um vampiro, e não um caçador.

Ele olhou para o lado, parecendo pensar na resposta. As pessoas não costumavam fazer essa pergunta.

—Acho que, primeiramente, foi praticamente ele que me deu o poder de caminhar ao sol. A Condessa Yoruichi não o faria —e poucos outros feiticeiros sabem faze-lo —sem Byakuya pedir. Isso já é motivo suficiente para a maioria dos vampiros. —ele respondeu. —No entanto, eu também tenho outro motivo. Sabe, Princesa Kuchiki, nós, habitantes do submundo, principalmente os vampiros, não temos muita escolha. Ou participamos de algum clã, que geralmente são sanguinários, ou percorremos o mundo solitários como lobos. Eu sempre optei por andar solitário. No entanto, com essa profecia, e a possibilidade de os demônios dominarem esse mundo —e ele, com certeza, se transformaria em algo selvagem e sanguinário —eu resolvi ajudar o Mestre Kuchiki e a sua causa.

Ela assentiu, e virou-se para o lado. Ficou observando as tapeçarias na parede, que contavam a história de guerreiros corajosos que enfrentavam monstros. E então, ela de repente percebeu, que essa era a história dos caçadores. Ficou pensando se, quando a sua batalha contra o Diabo acabasse, Ichigo e ela teriam uma tapeçaria também.

Ah, Ichigo!, ela suspirou. Repreendeu-se por estar nutrindo esse tipo de sentimento por ele; mas o garoto era tão bonito, tão forte, tão determinado. Lembrou-se de quando ele chorara, lembrou-se de quando ele aceitara a sua missão de bom-grado, lembrou-se de seus lábios macios e com gosto de mel. Momentos, lembranças. De fraqueza, força, coragem e desejo. Era de momentos que a vida do ser humano era constituída, afinal. Era de lembranças que o legado humano era constituído. Era de sentimentos, um misto de força e fraqueza, que o ser humano era feito. Ichigo era tão perfeito, no entanto tão imperfeito... essa era a mais pura essência humana. Egoísmo e solidariedade, amor e ódio, bondade e maldade, coexistindo em um só coração, em um só corpo, e em uma só alma.

Percebeu que havia chegado à sala de estar. Ulquiorra a conduziu até um sofá, e depois foi embora. A lareira estava acesa, e Byakuya estava em pé na frente do fogo. As mãos para traz, o rosto melancólico e pensativo.

—Irmão, aconteceu alguma coisa? —ela perguntou.

Ele continuou a olhar as chamas por mais algum tempo. Rukia sempre se fascinara com a postura do irmão: o corpo tão rijo e elegante, a cabeça erguida, os ombros para trás, a barriga encolhida e o peito estufado. Para isso, Rukia precisava de mais treino, um livro e um espartilho; mas Byakuya fazia parecer tão fácil. No entanto, a cabeça estava baixa agora, o que a amedrontou completamente.

Ele acabou de observar as chamas e sentou-se na poltrona, de frente para ela. Parecia cansado; sua aparência estava impecável, mas havia algo em seus olhos, um cansaço que só ela, que também estava cansada, podia ver.

—Irmão? —ela chamou, vendo que o homem a olhava tão fixamente, mas ao mesmo tempo tão distantemente.

—Lembro-me quando você era uma menina. E era a primeira vez que vinha aqui. Hisana já havia morrido, e logo depois eu achei e cuidei de você. Era uma garotinha impetuosa, devo dizer! —ele riu. —Mas, agora, olha para você: continua tão determinada quanto antes, mas já tão crescida. Uma mulher. E ainda uma mulher muito bonita. Por anos, prolonguei sua mocidade, recusando vários pedidos de casamento de outros candidatos dignos, por não querer ver que você já estava crescida, e não mais a minha irmãzinha. No entanto, agora lhe obrigo a casar com alguém que não deseja, e tão pouco seja digno de você.

Rukia vê uma sala toda escura. Há um ponto luminoso. São degraus.

—Tudo bem, Nii-sama. —ela fala.

Ele parece prestes a chorar, e Rukia suspeita que continuou a falar, dessa vez muito mais rapidamente, para evitar as lágrimas que cairiam.

—Rukia, está chegando na hora de fazer o combinado. —ele diz. Na cabeça de Rukia, ela sobe os degraus. É um altar, enfeitado com rosas brancas. De repente, ela vê todos os seus amigos. Alguns olham-na felizes, outros tristes. Ela vê a si mesma, com um rosto infeliz. Vê o rosto de Ichigo, decepcionado. Vê até mesmo o seu noivo, com um rosto sem nenhuma feição. —Irá para o Hueco Mundo daqui a dois dias, conhecer seu noivo. A data do casamento será marcada lá.

E então, na sua cabeça, uma corda desliza até ela, pendurada no teto. Ela tem um laço de forca, para que Rukia ponha a sua cabeça. E ela põe. Olha para todos uma última vez. “Diga sim.” A voz do padre ecoa por sua mente.

—Sim. —ela responde para Byakuya.

Sua voz ecoa por toda a parte. O chão cede, e ela cai. Fica sem ar, pendurada pela corda. Todos a olham, mas ela não luta. Rukia fez a sua escolha, e agora é hora das consequências.


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Notas finais do capítulo

O.k. Esse capítulo é a última chance de vocês chutarem quem é o noivo da Rukia. No entanto, quem acertar quem é o anjo (é uma personagem feminina de Bleach), e se ela é inimiga ou amiga, pode escolher a imagem do próximo capítulo (não precisa ser de Bleach, mas por favor não avacalhem!).
Bye!