O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 17
O Lado Bom Da Vida


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos á:

Néphélibate
Senbonzakura Kageioshi
Luh chan

LEIAM AS NOTAS FINAIS!



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"Através dos passos alternados de perda e ganho,

silêncio e atividade, nascimento e morte,

eu trilho o caminho da imortalidade."

Deepak Chopra

Ichigo’s POV

Talvez eu tenha ficado perturbado pelo que tinha acontecido. Talvez não; eu realmente fiquei perturbado com o acontecido. Sentir que toda a sua vida, ou pelo menos á origem dela, foi uma mentira —isso tira completamente o chão de qualquer um. Eu não sabia nem mesmo o que eu era; eu não era humano, e sim um mestiço. E, como antecedente de tudo isso, não podia haver melhor coisa: uma quase morte em um mundo desconhecido, com figuras brutais, que denominamos de fadas. As pessoas, embora descrevamos isso á elas, não sabem como é —ficar tão confuso á ponto da loucura.

Ah, sim! loucura, sim. Aliás, só posso estar louco. Talvez tudo isso nada passe de um sonho louco e febril, e continuo naquele reino moribundo, com meu pai e minhas irmãs, passando fome —mas pelo menos tendo certeza do que eu sou. Uma coisa boa naquele reino, talvez a única, é que ele me moldou a ser o mais determinado possível, não desistir, não duvidar, não hesitar —pense como é perder todos os seus princípios, toda a certeza do que você é, do mundo que está a seu redor, todos os seus ideais voando pela janela como se fossem cinzas; e tudo isso de supetão, sem aviso prévio.

Por isso que chorei como um condenado; e então Rukia —Princesa Kuchiki, me desculpe— estava lá, e eu novamente fui inconsequente, caindo no meu sonho febril, mergulhando em algo que só podia ser insanidade. E, quando ela disse aquilo para mim, que isto era errado, eu finalmente tive meu momento de lucidez e finalmente caí em mim.

No dia seguinte, estava pronto para ouvir o resto da explicação. Cheguei de fininho, com vergonha de mim mesmo. E lá estava a Condessa Yoruichi, bebericando um chá, intocável e imortal pelo tempo, com um vestido de veludo vermelho. Sentei-me no chão, á baixo dela, e não a olhei no rosto. Tinha a difamado na frente de todos, e tudo isso porque ela me falara a verdade.

—Me desculpe. —eu falei, bem baixinho.

—Desculpe-me você também, Ichigo. —ela me disse. —Você não merecia esse tipo de vida, logo um rapaz tão bom. —ela fez uma pausa, engoliu em seco, e finalmente disse. —Gostaria de que eu falasse a você sobre sua mãe?

—Por favor, senhora. —eu implorei, mas não saiu mais que um suspiro. Eu estava tão exausto que nem energia para a minha voz restava. Os sons estavam tão longe, tão distantes; parecia que eu estava dentro d’água.

—Pois bem, —a Condessa disse. O galho de uma árvore batia no vidro, fazendo barulho de estalos. Lá fora estava ventando muito, e as árvores se curvavam, como se estivessem se rendendo ao vento. No exato momento que a voz de Yoruichi foi ouvida, como um eco distante, começou a chover —uma chuva forte varrendo tudo ao redor, fazendo tanto barulho no telhado que quase pensei que estávamos sendo atacados. —Vou te contar.

Yoruichi’s POV

Eu estava em casa naquele dia; na época, não era casada ainda com Kisuke, e morava em uma casa de classe média, mais que para mim era grande o suficiente. Estava de noite quando conheci sua mãe, e o céu estava muito conturbado. Raios e trovões retumbavam pelo céu, em uma fúria divina, e vi um astro caindo do céu. Lembro de achar aquilo incomum, sendo que o meu povo, envolvido com feitiçarias, trabalha e mapeia os astros; e aquilo definitivamente não havia sido planejado. Mas resolvi deixar para lá, talvez para outro amigo mapear, porque não estava em meus melhores dias: me sentia esgotada, e ficava muito em casa —há uma hora em que todos da minha espécie ficam assim, e eu temia por isso.

Ouvi batidas na porta, e fui abrir pensando que era uma amiga minha: Soi Fong, que em meses em meses, ás vezes anos, ia visitar-me. Pensei nisso porque sentia que ela estava perto, e sempre gostava de ver-me. Mas não; naquela noite não era Soi Fong que esperava-me na porta; era a sua mãe.

Estava tão ferida, Ichigo, você nem podia imaginar como a sua mãe estava desgastada. Ela sempre foi tão bonita, com os cabelos claros, e o sorriso. Mas o fato é que os cabelos estavam chamuscados, e ela inteira parecia queimada. E eu vi que tinha um ou outro corte de espada, e ela vazava sangue, muito vermelho e brilhante. Mas o fato é que Masaki sorriu para mim, um sorriso fraco que exigiu muito esforço dela, e me disse, antes de desmaiar na minha porta:

—Yoruichi, ajude-me por favor.

Eu a ajudei; naquela época não o fiz por piedade; mas sim por curiosidade. Eu nunca tinha visto aquela mulher, Masaki, e não fazia a mínima ideia de como ela sabia o meu nome. Foi por isso que a ajudei: usei de minha magia para curar-lhe os ferimentos, e podia sentir a sua energia: era tão poderosa, Ichigo, tão pura e brilhante... Na época, não sabia que era energia angelical, a sua Graça, pois nunca tinha tocado um anjo. Mas a energia estava enfraquecida, muito fraca mesmo; pois Masaki havia abnegado parte de sua Graça para cair —geralmente outros anjos os derrubam, mas Masaki fez propositalmente porque queria voltar á Terra, ser o mais próximo de humano possível, e não encarcerada pelos seus companheiros, ou até mesmo morta, como ela dizia que seria.

Quando Masaki acordou, explicou-me tudo: em uma missão á Terra, Masaki havia conhecido um homem chamado Isshin, seu pai, e se apaixonado por ele. Mas isso era estritamente proibido, e quando voltou ao Céu, morrendo de saudades de seu amado, seus compatriotas anjos a descobriram. Alguns amigos tentaram alertá-la, mas logo os anjos do céu haviam se reunido para prendê-la e talvez depois executá-la. E então Masaki fugiu, não antes de levar uma ou duas espetadas de espadas, abnegando parte de sua Graça e caindo aqui na Terra. Sentiu a energia de uma feiticeira, e quando olhou para mim enxergou minha alma.

Ela foi muito gentil comigo enquanto recuperava-se... ficou dias lá, talvez semanas, e esse período nos fez amigas. Era muito bem-humorada todos os dias, diferente de mim que sempre acordava de mal-humor. Tratava-me como semelhante, como igual, diferente dos anjos, distantes e orgulhosos, que odeiam feiticeiros. Ela me mostrou o lado bom da vida, sabe. Um dia me disse:

—Yoruichi, você deve buscar ser feliz. Sei que é muito difícil; principalmente a feiticeiros como você, imortais, que vêem várias amados morrerem. Mas todo esse sofrimento vale a pena: compare todos os momentos felizes que você viveu; são maiores que os de sofrimento, não são?

Quando Masaki foi embora, a procura de seu amado, senti-me revigorada, vendo como o amor realmente existe, mesmo para seres como nós. Veja bem, meu caro Ichigo, sou uma feiticeira. Realizo certos tipos de magia. E não, por favor não me confunda com uma bruxa —elas são humanas, apesar de envolvidas com a magia —e eu não, não sou humana. Feiticeiros são frutos de demônios e humanos. Sou mestiça, como você —apesar de carregar uma impureza maligna nas veias. E sou imortal, todos feiticeiros são, como consequência do poder. E através dos séculos vividos e amores obtidos, sofri muito e vi de tudo, e agora a vida me era opressora. Não tinha mais objetivo. E a sua mãe, ao amar seu pai, me fez acreditar que a vida valia a pena. Me fez olhar para as estrelas do poço imenso da imortalidade de onde eu estava. Por causa dela eu tenho Kisuke, por causa dela eu tenho Ururu, e nunca poderei compensá-la por eles. Feiticeiros não podem ter filhos —outra consequência do nosso poder—, e Ururu não é minha filha de sangue, mas eu a amo como se fosse.

Em torno de uns 10 anos depois, Masaki apareceu na minha porta, desesperada, e tinha você debaixo dos braços. E você era um menino tão pequeno, mesmo para a sua idade, e tão tímido. Parecia uma coruja, com os olhos grandes arregalados. Masaki havia envelhecido, eu percebi; estava mais humana do que nunca; a parte da Graça que sua mãe havia abnegado continha a imortalidade também.

E então lá atrás estava seu marido e suas filhinhas. Seu pai estava confuso, como se tivesse descoberto o mundo mágico há pouco tempo.

Masaki contou á nós dois (Kisuke e eu já éramos casados) que os anjos haviam descoberto vocês três e vinham para caçá-los. Veja bem, os anjos odeiam os nephilim, eles e Deus criaram até mesmo um dilúvio para dizimá-los; vários anjos caíram, que na época viraram demônios, já que todos só vinham a Terra pelo desejo carnal —esse não era o caso de sua mãe, mas ninguém considerava isso.

Fizemos vários feitiços fortes para torná-los inrastreáveis. Kisuke não é feiticeiro, se é o que pensa, ele é um mago. Mago praticam magia também, mas ela é muito diferente das de feiticeiros. Não é demoníaca. É pura, e é necessário um cetro para praticá-la. O poder deles descende dos pais, sendo que todos são frutos de famílias de magos; e não são, de nenhuma forma, imortais.

Kisuke fugiu com Karin e você, enquanto eu ficava com Yuzu e seu pai. No entanto, não podíamos fugir para sempre, e os feitiços começaram a enfraquecer. Kisuke teve a ideia para forjar a morte de vocês, mas precisávamos de um feitiço para isso, um que imitava uma alma com sucesso, e precisávamos de tempo para isso. Sua mãe nos deu esse tempo. Ela fugiu sem seu pai saber, como isca para os anjos tentarem pegá-la, e assim distraí-los.

Acho que quase dois meses se passaram. E nesse dia chovia e fazia um frio insuportável na Inglaterra. Ventava muito, muito mesmo. Fui ensinada a esperar alguma desgraça com esse tempo. E então a campainha tocou. Não era Masaki; na verdade, soube imediatamente naquele dia que eles a haviam encontrado. Dessa vez era a minha amiga, Soi Fong.

Soi Fong é uma banshee. Banshee são mulheres, membros da Corte Unsellie; fadas, sim, mas elas nascem na Terra e ficam a maioria da vida aqui. Elas são as responsáveis pela colheita de almas, e também de avisar a vítima antes da morte. Quando você ouvir um canto de uma banshee, você vai morrer, e não há nada que possa fazer.

Mas lá estava minha amiga, Soi Fong, uma criaturinha miúda vestindo uma túnica negra. E foi ela que anunciou a morte de Masaki, ela que confirmou que os anjos a mataram.

Avisamos á seu pai a morte dela —aquilo foi horrível, sem dúvida —e o pior foi que a morte de sua mãe havia sido em vão: Kisuke e eu não havíamos desenvolvido uma alma para fingir a morte de vocês. O corpo, no entanto, conseguimos recriar perfeitamente. Chamava-se gigai, muito parecido com as “cascas” que os anjos usam para vir a Terra.

Felizmente, Soi Fong ainda estava hospedada em nossa casa. E então foi ela que fez o que precisávamos —uma alma artificial. Ela apresentou as três almas, e os três gigais aos anjos, que assentiram. Disse que haviam sido mortos por inimigos de Isshin, que jogava um pouco, como forma de pagamento pela sua dívida. Os anjos, que não subestimam a crueldade humana, aceitaram isso quase numa boa.

Não contamos á Isshin sobre a profecia, por vergonha e medo. Apagamos as memórias de vocês três sobre o mundo mágico, sobre nós, para que tivessem uma vida melhor, sem nenhum trauma. Simplesmente não sei que memória substituiu, a explicação dada por Isshin, da morte de sua mãe —mas com certeza foi melhor do que morta pelo próprio povo.


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Notas finais do capítulo

Para não disserem que não cumpro minhas promessas: aqui capítulo rápido, e que acaba com vários mistérios. Agora encham suas caxinhas de comentário de palavras, se possível também encham minha fic de recomendações, e me enviem!
Desafio do capítulo: Quem é o noivo de Rukia? *responda certo e eu respondo a pergunta que quiser*
O que acham de eu fazer capítulos especiais, talvez até uma short-fic, sobre a vida imortal da Yoruichi? Encham-me de sugestões, e sim's se querem!