O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 19
O Cervo


Notas iniciais do capítulo

Gente, cadê meus leitores?? Nesse capítulo, apenas Nephélibate e Gigi deixaram review (muito grata por eles, aliás. Muito obrigada, queridas). Se houver algo que não estejam gostando, ou que queiram sugerir, estou aqui e perfeitamente capaz de responder reviews e atender os seus pedidos!
Capítulo grandinho, e não atrasado, para vocês se animarem. Dedicado á Anna, que começou a ler a fic há pouco tempo.



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Neliel não ia junto com Rukia até o Hueco Mundo. Matsumoto a acompanharia. Kurosaki Ichigo, Tier Halibel, Byakuya Kuchiki e Hitsugaya Toushiro iriam embora também. Ela estava frustrada por não conhecer o noivo de sua senhora com ela, mas iria ter outras oportunidades, não? Certamente Byakuya não aprovaria um casamento que não tivesse os devidos cortejos, o que levava mais tempo do que um final de semana.

Meu deus, nem ela podia se auto-convencer, com a voz finíssima e insegura na própria mente. Era um fracasso total, e deixaria Rukia sozinha no seu primeiro contato com o noivo. A pequena já tivera dificuldade suficiente em aceitar, e seria muito difícil conhece-lo sem nenhum apoio.

Nell abraçou Rukia, e a levou pelo braço até a carruagem. Ela não se importava muito com os outros criados levando as malas até a carruagem, pois não era esse o seu objeto de atenção. Manteu a postura firme, olhando para frente, com o objetivo de não chorar. No entanto, o aperto era forte no braço de Rukia.

O motivo não era um simples final de semana separadas, e sim o que ele simbolizava o início. Rukia em breve se casaria, iria morar longe, e elas nunca mais se veriam. Duvidava que o noivo de Rukia a deixasse efetuar uma viagem apenas para visitar uma criada; que, pobrezinha, havia ficado solteira e morando na mesma casa que sempre trabalhara até envelhecer.

—Nell, vai ficar tudo bem. —tranqüilizou Rukia, olhando a empregada no rosto.

Neliel sentiu-se envergonhada por ser confortada por sua mestra, quando claramente esse era o dever dela. Por isso virou-se para Rukia, que tinha uma expressão serena e ao mesmo tempo dolorosa no rosto. Com a boca rija, fingiu que aquilo havia sido uma pergunta.

—Irá ficar sim, Princesa Rukia. —ela respondeu.

Sentiu-se um pouco melhor por pelo menos fingir que era a mais calma na situação.

.

Depois de um dia exaustivo emocionalmente, Neliel foi se deitar. Seu quarto de copeira era muito inferior ao de Rukia, de Byakuya ou até mesmo de um de visita; no entanto, era muito melhor do que qualquer quarto que ela já tivera.

Girou na cama sem conseguir dormir. Fechava os olhos várias vezes, mas estava terrivelmente consciente de tudo á sua volta, e um pouco mais. Ela começara a duvidar da capacidade de Rangiku de entender e ajudar Rukia, mesmo sabendo que a loira não era nada incompetente.

Ouviu um barulho forte no andar de baixo. Sons de passos na escada. Algo caindo. Era pesado, com certeza. Do tamanho de um boi pelo menos. Saiu da cama, em um movimento só, e pegou um candelabro para iluminar seu caminho.

Desceu as escadas com cuidado, portando o candelabro quase como se fosse uma arma. Aparentemente, ninguém mais havia ouvido o som —e isso a tornava a responsável. Chegou ao hall de entrada com certo alívio, no entanto perdeu-lhe ao ter a sensação de ser observada. Ela ouvia a respiração de algum ser, bufadas de ar quente, sombras passando onde a luz das velas não iluminava.

O vento soprava forte lá fora, em um som de uivo. Ela arrepiava-se completamente em sua camisola, tanto por medo quanto por frio. Aos poucos, percebeu que o que estava no castelo dos Kuchikis era um animal, pois via as sombras dos chifres, e as velas iluminavam rapidamente seus cascos.

O vento abriu a porta, e o animal —um cervo robusto de pelo negro— saiu correndo por ela. No entanto, ele primeiramente olhou para Neliel com seus olhos negros como tinta, e parecia suplicar para ela o seguir. Então ela o fez.

O vento soprava ainda mais forte lá fora, e a pobre garota era quase arrastada junto com ele. Os cabelos azuis claros a açoitavam de modo violento. Ela teve que lutar contra o vento para seguir o cervo, que entrou na Floresta Proibida. Sentia-se medrosa, mas não era covarde —aliás, apesar de ser facilmente amedrontada, nunca fora acovardada.

Seguia o cervo como quem seguia um velho amigo. Não sentia o mínimo medo por ele, mas sim pelo vento —ele uivava e balançava as árvores. Nell sentia-se no olho de um furacão; a única coisa que podia ver com clareza era o cervo negro, e o resto era mata fechada. Decidiu ignorar os sussurros que o vento trazia, mas as vozes pareciam estar dentro de sua cabeça.

Começou a chover. A primeira sensação foi de limpeza, mas logo a chuva borrou toda a sua visão, e ela via por riscos brancos e incompletos. No entanto, conseguiu chegar á uma clareira —até agora andava por uma espécie de trilha, mesmo não sabendo quem a havia feito. Ela era circular, e a mata á seu redor se fechava ainda mais, parecendo ser uma parede.

Seu cabelo estava grudado em sua cabeça, quase bloqueando sua visão, quando o cervo andou até uma grande pedra, e sumiu. Imaginou que ele estava atrás da pedra, e caminhou até lá. Apenas agora o peso da camisola se fazia presente, e a atrasava. Seus pés descalços começaram a doer, e, olhando para baixo, ela viu que eles estavam encharcados de sangue —por causa da chuva ele estava menos denso e mais claro, e parecia tinta rosa.

Quando Neliel chegou à grande rocha, não havia cervo algum.

Pois havia o corpo de um homem morto.

Estava ensangüentado, quase desfigurado. Dois buracos em vez de olhos chamavam atenção, e Nell conseguia sentir o vazio deles. Moscas zanzavam dentro de sua boca, escancarada e com o maxilar deslocado.

Ela levou um susto quando o maxilar do homem se corrigiu apenas o suficiente para fechar a boca. Os cantos dos lábios foram para baixo em uma expressão de desgosto.

—Eu irei morrer, e acharão meu corpo amanhã. —o cadáver disse, e a voz não vinha diretamente dele. Ela vinha do coração do homem, da cabeça de Neliel, de todo lugar e ao mesmo tempo lugar nenhum. —Eu não fiz nada para merecer isso. Então, menina, diga-me por quê?

Ela não respondeu, embora tenha gritado. Um grito potente que atravessou o reino inteiro, e rompeu com essa realidade. Quando deu por si, estava nos braços de Orihime, e o grito havia virado uma série de soluços agudos. Sentiu a cama sob ela, o olhar curioso ou preocupado dos outros habitantes da casa, as batidas do coração de Orihime; no entanto, só conseguia pensar na voz do homem morto: Eu irei morrer, e acharão meu corpo amanhã.

♠♣♠

Orihime se sentia tensa. Havia passado quase que a noite inteira tentando acalmar Neliel, e ouvido mais de uma vez os relatos de seu sonho. Todos descartaram o pesadelo de Neliel como apenas uma besteira inventada por sua mente; no entanto, Ulquiorra estava com um olhar que dizia que achava o contrário.

Sinceramente, Ulquiorra a dava medo. Ele se movia como um ser etéreo, e não costumava fazer som algum. Para alguém tão barulhenta quanto Orihime, ele parecia um fantasma. Sim, certamente o moreno era um fantasma: a pele branca e gelada como a de um morto, os olhos verdes que pareciam arder internamente com uma chama verde e fria de um outro mundo. No entanto, era muito indelicado dizer isso a ele; por isso, Orihime agia firmemente durante a sua presença, e o evitava de modo sutil. Ela duvidava que ele percebesse, pois era tão desligado dos outros a sua volta.

Ela arrumou um fio ruivo que saía de sua touca, e caminhou pelos corredores do castelo. Era muito complicado trabalhar ali, mesmo que não houvesse nenhum mestre no momento. O castelo era muito grande, e Byakuya insistia em manter uma política de tudo impecavelmente limpo — mesmo que não usassem muitas salas— e tudo era exageradamente grande para apenas três pessoas.

Lembrou-se que a sala de Ulquiorra não era limpa há algum tempo, e se encaminhou para lá, desejando que o moço não estivesse na sala no momento. No entanto, o universo conspirava contra Inoue, e Ulquiorra estava lá, escrevendo algo.

—Com licença, —ela disse, com uma voz reservada apenas para ele: fria e incapaz de gentileza —eu preciso limpar aqui.

—Eu estou trabalhando. —respondeu Ulquiorra, com a voz monótona de sempre. Ela não esperava que ele a respondesse com nada menos do que indiferença, uma vez que ela também lhe falava assim; embora desta vez a resposta do moreno tenha soado mais mal-educada.

—Eu também. —ela disse, sem rodeios. Pelo menos, isso fez com que Ulquiorra a olhasse no rosto. —Ou melhor, estou tentando.

Ulquiorra bufou, mas levantou da cadeira, ficando perto da janela. Ela olhou desgostosa para a papelada desarrumada na mesa. Ele também é empregado, ela pensou, deveria arrumar e não apenas bagunçar.

—O que faço com essa papelada? —ela perguntou.

Ele parou de olhar para a janela, dirigiu o olhar para ela, depois para mesa, e novamente para Orihime.

—Pode colocar na gaveta. Eu arrumo depois. —ele respondeu, e virou novamente para a janela. Isso fez com que Inoue ficasse vermelha de raiva, pois ele havia dito praticamente que a ruiva não tinha capacidade para arrumar alguns papéis.

Ela pensava, enquanto tirava o pó da mesa com o espanador.

—Mulher, você quer esmagar o espanador ou o quê? —perguntou Ulquiorra. Ela mal havia percebido que havia descontado a raiva no pobre espanador de pó. —Porque parece que você quer assassinar alguém.

Então não me motive. Ela pensou, embora não tenha dito isso em voz alta. Em vez disso, falou:

—Eu faço o meu trabalho e você faz o seu. Não me intrometo nos seus assuntos, e apreciaria se você não se metesse nos meus.

Ulquiorra ficou em silêncio e novamente virou-se para a janela, aparentemente envergonhado. Orihime gostou da sensação de um Ulquiorra sem palavras, e resolveu causar isso mais vezes. Foi com um sorriso no rosto que limpou aquela pequena sala.

♣♥♣

Pois como aquele reino era moribundo —quase mais do que o reino que vivia antigamente. No entanto, a perversão que Ichigo via na rua, enquanto passava com a carruagem, era o dobro que já havia visto em qualquer lugar. Bárbaros, prostitutas e pobres. Cada um tomando, vendendo ou comprando.

As casas eram precárias, o chão de terra seca. Nada crescia naquele lugar, tirando ervas daninhas. Na verdade, o Hueco Mundo em si era uma grande erva daninha. Tavernas eram os estabelecimentos mais abundantes. Ladrões corriam; bêbados os perseguiam. Bárbaros eram expulsos de bares, porém continuavam a brigar com a pessoa mais próxima —e rapidamente uma multidão se amontoava para ver. Meretrizes olhavam para todos com seus olhos devassos, portando um cigarro na mão. Crianças eram empurradas da rua, e passavam fome. Isso sem falar em tudo que Rukia lhe dissera sobre as guerrilhas bárbaras do Hueco Mundo: as invasões á outros reinos, os estupros ás mulheres, as torturas que ocorriam em praça pública, a cultura que cultuava a violência. Tudo era da forma mais horrorosa possível, e Ichigo não podia acreditar que Rukia se casaria com um homem de lá. Além de toda essa violência visível para os mundanos, Ichigo mal podia imaginar o que ocorria na parte sombria e sobrenatural do reino, escondida pelos feitiços ilusórios. Na verdade, nem queria.

Chegaram ao castelo do rei do Hueco Mundo. E, embora grande e robusto, o castelo mal podia se comparar ao dos Kuchikis, que tinha uma arquitetura muito superior. Em verdade, ele parecia uma pedra —uma pedra enorme —com nenhuma sutileza ou sofisticação. Era horrível, assim como o restante do reino.

Ichigo desembarcou da carruagem quando ela parou, na frente da porta do castelo. Sabia que deveria ajudar com as malas, porém seu dever principal era proteger Rukia, e ele não confiava nesse reino o suficiente para ela pisar nele. Correu de forma rápida até onde a Kuchiki desembarcava, Keigo a segurando pela mão para a pequena pular. Não haviam vindo pela mesma carruagem, sendo que os criados estavam embarcados em uma carruagem muito menos luxuosa.

A segurou pelo braço quando ela desceu. Observou os criados do Hueco Mundo virem correndo ajudar com as malas, a maioria homens parrudos que não tinham dificuldade para carregar peso. Sentiu o tecido do vestido de Rukia, porém não a sua pele macia característica. Ele sentia o cabelo dela fazendo cócegas em seu ombro.

—Como foi a viagem, Princesa Kuchuki? —ele perguntou, não olhando para ela. Não resistiria — sendo que estava tão pertinho dela e que seus lábios poderiam se encontrar tão facilmente — ver seus olhos violáceos.

—Um saco. —Rukia respondeu, com um palavreado impróprio para uma dama de sua categoria. Ele sentiu ela sorrir, e com isso sorriu também.

—Está pronta? —Ichigo perguntou.

Rukia estremeceu um pouquinho, mas seus pés estavam firmes no chão.

—Prontíssima.

Eles caminharam com cuidado, quase vagarosamente. Byakuya assumiu a frente deles, e Ichigo ficou distraído olhando as franjas do cachecol do rei, que balançavam constantemente com seu andar ensaiado.

Mal notou quando eles entraram no vestíbulo, e Matsumoto ajudou Rukia a tirar sua capa, enquanto Ichigo tirava seu chapéu. Algum criado pegou o casaco úmido de Byakuya, e Ichigo tinha uma leve consciência de Toushiro e Halibel nas suas costas.

Uma empregada os aguardava no hall de entrada, usando o uniforme típico e uma touca branca. Os olhos eram castanhos e o rosto era redondo. Lembrou-se da primeira vez que vira Orihime e Matsumoto, trabalhando no castelo.

—Mestre Barragan e Mestre Grimmjow já virão. —ela anunciou, e Ichigo notou que estes eram os nomes do rei e do príncipe —ou do futuro noivo de Rukia, para simplificar. —Enquanto isso, gostariam de um chá, um café, ou alguma coisa para...

A criada parou instantaneamente quando ouviu o som de passos descendo a escada. Ichigo direcionou o olhar para lá, observando dois homens. Um era muito velho, com a pele morena e enrugada, e usava um bigode farto e branco. O outro era um garoto um pouco mais velho do que Ichigo, com cabelos azuis escandalosos. Portava-se como uma pantera, com os passos calculados e olhar selvagem.

Rukia se enrijeceu toda, e Ichigo apertou levemente seu braço, para a menina saber que não precisava enfrentar essa situação sozinha e que Ichigo estaria com ela.

—Meu noivo. —ela sussurrou, respondendo ao aperto gentil de Ichigo com um enfencar de unhas que o fez gemer de dor.


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Notas finais do capítulo

Me desculpe qualquer erro de digitação. Procura-se beta, porque eu quero e não acho nenhuma disponível para long fics!

Neliel + Lydia + Will Graham = Nell na minha fic.

Bye Bye!