Never Let Me Go escrita por patch


Capítulo 2
Vício




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Ela era uma completa estranha para mim. Eu passara quatro anos da minha vida preocupado e me sentindo culpado por causa dela. Nem sequer uma ligação, uma notícia, um e-mail... Nada. Ela havia me deixado no escuro e me machuquei muito, tentando religar as luzes que ela tinha roubado da minha vida.

Não permitiria que ela entrasse na nela novamente e fugisse como da última vez. Se quer saber, não deixaria ela entrar nem na minha casa. Não estava disposto à ouvir explicações esfarrapadas vindas de alguém que eu confiei e que no fim das contas, me apunhalou pelas costas.

— Alex, eu preciso que você me escute e tente entender...

E como se eu visse toda a cena fora do meu corpo e em câmera lenta, arrastei a porta, deixando-a deslizar em direção à surpresa de Izzie. Seus olhos brilharam em lágrimas, ameaçando desabar a qualquer momento.

— Alex, eu sinto... — Não conseguiu terminar, pois o som da batida abafou suas desculpas.

Eu já ouvira aquilo antes. Milhares de vezes. Eu não ia me deixar seduzir como antes. Andei de costas, cego pelo que eu havia visto. Sério, aquilo mesmo havia acontecido? Ou eu só estava num pesadelo daqueles que mesmo tentando acordar, você não consegue? Esbarrei em Cristina que voltava da cozinha.

— Ei, ei... Quem era a essa hora da manhã?

Fiz alguns zumbidos inintelígiveis, enquanto ainda encarava a porta. Então, ela percebeu que algo estava errado.

— Alex, olhe para mim. — Cristina pegou meu rosto com suas pequenas e ágeis mãos, fitando meus olhos. Tive a impressão de que ela conseguia ver atráves de mim. Isso me deixou desconfortável. — O. Que. Está. Acontecendo?

Dessa vez, a porta foi batida com força e Owen a atendeu.

 — Não — gritei, mas já era tarde demais.

Parece que a minha reação não tinha sido de longe tão dramática ou exagerada. Os dois paralizaram num período de tempo que pareceu uma eternidade.

— Izzie? — Cristina não era daquelas que demonstravam emoções com frequência, mas naquele momento, eu poderia dizer que ela estava chocada.

Izzie não foi convidada à entrar, mas mesmo assim ultrapassou a porta com malas em cada mão. Várias lembranças que eu pensava terem sido esquecidas, vieram a tona apenas para fazer daquele instante, o mais doloroso e tortuoso possível. Nós tínhamos vivido uma boa parte da nossa história naquela sala, naquela cozinha, naquele quarto que eu ocupava. Havíamos nascido e morrido como casal, naquela mesma casa. Agora cá estava ela, diante de mim, pedindo uma outra chance.

— Cristina... Owen... — Izzie sorriu e como um passe de mágica, a sala inteira irradiou Izzie. Eu só conseguia enxergá-la e nada mais. Ela não havia perdido aquela carisma que a faria ter o mundo ao seus pés... Mas foi idiota o bastante e abandonou tudo.

Owen sorriu, como sempre compreensivo e a abraçou. Permaneci imóvel.

Ei, eu que deveria ter a palavra aqui! Minha consciência gritou, tentando chamar atenção.

Cristina hesitou em abraçá-la. Como eu disse, ela não gostava de demonstrar, mesmo que fosse uma pessoa amiga e doce por dentro.

— E pra quê mandar notícias, não é? Então quer dizer que nos preocupamos à toa? Pelo visto você se divertiu — Cristina apontou o dedo indicador em direção ao ventre de Izzie —, e muito, enquanto esteve ausente.

— Eu posso explicar tudo, mas antes eu preciso falar com Alex... A sós, se não for incômodo. — Izzie tentou acalmar a situação.

Cristina surpreendeu à todos, falando:

— Eu não vou deixá-lo sozinho... Não com você aqui!

Meu subconsciente — que procurava por respostas e que viu a chance sendo desperdiçada ali — respondeu por mim:

— Cristina, eu agradeço a sua preocupação... Estou falando sério. Mas, eu preciso disso. Eu preciso de um desfecho descente. Eu preciso disso para pelo menos, viver comigo mesmo... Sabendo que fui bom o suficiente pra ela e não o contrário.

Ela me mediu e quis dizer “Que merda você está pensando, Alex?”, mas atendeu ao meu pedido e deixou, em silêncio, o hall com Owen.

— Foi bom te ver, Izzie — ele conseguiu sussurrar antes que Cristina lhe esmurrasse a costa.

Agora, o que me separava de Izzie eram poucos passos. Se eu corresse em sua direção, em questão de segundos ela estaria em meus braços... Lugar de onde nunca deveria ter saído.

— Eu sei que você tem raiva de mim — ela começou. — Eu sei que eu fiz por merecer todo esse ódio, mas olha pelo meu lado, ok? Eu não podia suportar viver sabendo que eu seria um peso morto na sua vida. Sabendo que você não focaria no seu trabalho, pois estaria preocupado cuidando de mim. Isso não justifica os meios, mas... Eu ainda te amo. Aliás, sempre te amei. Não houve um dia em que eu estive fora, que não pensei em você, que não senti a sua falta, que não quis dormir abraçada com você ou escutar aquelas piadas idiotas que só você as deixavam engraçadas. Olha pelo meu lado, ok? Você acha que foi fácil tomar essa decisão? A decisão que viraria minha vida de cabeça para baixo? Eu fiz isso, Alex e faria novamente se fosse necessário. Eu faria tudo por você. Como eu disse, eu me importo com você. Você me ajudou quando eu mais precisei...

— E fugiu por eu ter me preocupado demais... — interrompi, zombando.

— Eu não fugi. Você me mandou embora, em primeiro lugar. Você não percebia, mas estava algemado à minha doença, Alex. Nós dois estavámos. Então priorizei o fator de mais importância da minha vida: você. Deixei você livre pra ser um bom médico, ter a sua carreira de sucesso, ser alguém na vida e ser lembrado como tal. Me desprender de você foi como um dependente químico precisa para se reabilitar: tomar uma decisão, focar nela, não olhar para trás, reviver como outra pessoa e deixar os vícios no passado, onde não haja espaço para isso na sua vida atual. — Explicou, com a voz trêmula. — Mas eu fui fraca... — Ela se interrompeu, dando um sorriso bobo em meio as lágrimas. — Eu voltei, por que eu não suportei te perder. Você é o meu vício, Alex. É tudo o que eu sempre vou querer. Se a vida não estiver boa? Não importa, pois terei você, vivendo comigo cada segundo como se fosse o último.

Não ousei olhar para ela. Estava muito magoado e aquelas palavras, só fizeram meu coração inchar de raiva.

— De quem é? — Minha voz saiu com mais indignação do que eu esperava.

— O quê? Alex, eu estou tentando fazer você entender. — Izzie continuou.

— De quem é essa criança? — Pausei. — Quer saber? Não importa de quem seja, apenas quero você fora da minha casa.

Fui em direção a porta, que continuava aberta desde o momento em que Izzie havia entrado. A brisa da manhã fez meus pelos do braço arrepiarem. Definitivamente, aquela manhã não entraria no ranking das minhas preferidas. Fiquei ao seu lado, mas em direção oposta. Foquei no movimento da rua e dos carros, enquanto ela tinha a visão completa da cozinha. Ela virou a cabeça para falar um pouco mais baixo e tentar me persuadir:

— Alex, eu digo e repito: eu fiz tudo isso por você. Apenas por você.

— O que quer dizer com isso? — Virei-me para encará-la, sabendo que me arrependeria por isso mais tarde.

— Esse bebê... É seu.


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