Never Let Me Go escrita por patch


Capítulo 1
Surpresa, surpresa...




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Meus olhos se abriram. Eu não estava me sentindo muito bem. Passara a noite anterior revisando papeladas atrasadas da saída de alguns dos meus pacientes, em um plantão monótono que nunca chegava ao fim, e pra ajudar, cercado por internos preguiçosos que só queriam a chance de entrar numa cirurgia. Se dependesse da maioria, matariam para serem os escolhidos. Mas confesso, nem todos eles eram assim. Havia uma em especial e que me cativou instantaneamente... O nome dela era Jo Wilson e ela estava trabalhando no hospital há menos de um ano.

Acho que levantei pelo menos três vezes durante a manhã, pois o sono não acompanhava o meu ritmo. Quero dormir, tentei persuadir meu inconsciente. Que tal você parar de pensar um pouco e tentar descansar?  E apenas um nome vinha à mente, enquanto eu tentava entender o motivo da minha insônia: Jo. O que aquela garota tinha? Ela era tão... Normal. Baixinha e branca como a neve, com um sorriso encantador e olhos grandes e verdes, aparentava ter seus 20 e poucos anos. O que mais me impressionava nela era o fato de que eu nunca havia conhecido uma pessoa tão parecida comigo. Gostávamos das mesmas coisas. Nos dias de folga, a convidava para assistir futebol em casa e depois, jogar vídeo games até cansar. Havia outros dias, que íamos ao bar do Joe e ficávamos conversando, durante horas e horas sobre os mesmos assuntos bobos. De uma forma estranha, ela conseguia completar o vazio que se formara durante a minha vida inteira. Ela conseguia me completar. Eu gostava daquilo.

Embarelhei meus pensamentos para que fizesse algo mais útil, além de desejar uma garota que estava fora do meu alcance. Quero dizer, eu era o chefe dela. Isso não estava certo.

Quando me levantei pela quarta vez, saí do meu quarto e fui ao banheiro. Tive uma surpresa quando vi meu reflexo no espelho. O que havia acontecido? Eu só conseguia enxergar metade do homem que eu já fui um dia. Estava velho, com expressões profundas e o cenho de quem andava sempre preocupado. E pra falar a verdade, eu realmente estava. Trabalho, plantões, cirurgias, o olhar daquelas crianças que eu não queria desapontar de modo algum. Era muita pressão, mas resolvi me calar e encarar as consequências. E eu as estava vendo diante de mim. Em mim.

Tomei outro banho, para tentar relaxar o corpo, mas não adiantou nada. Então, resolvi fazer algo mais corajoso e que me dispusesse mais. Uma jogada arriscada, por assim dizer. Peguei meu celular que estava sobre a minha cama e disquei.

— Ei! — Falei, tentando parecer natural, mas sem sucesso.

— Alex? — Jo perguntou, preocupada. — O que você ainda está fazendo acordado, rapaz? Você saiu tão tarde do hospital, que eu pensei que só ouviria notícias suas ao anoitecer, quando voltasse para o seu plantão. — Sua voz soava surpresa e ao mesmo tempo, ocupada.

— É, não sei o que deu em mim. Talvez tenha sido essa vontade de dizer que...

Alguém me interrompeu. Uma voz masculina no fundo da ligação. Só assim pude perceber que o ocupada dela, queria dizer que não estava sozinha. Merda. Como eu fui idiota. É claro que ela estaria acompanhada daquele seu mais novo namorado esquisito. Imediatamente, fiquei mudo. O que eu fui fazer?

— Alex?

— Nos falamos depois. Se cuida. — E desliguei.

Joguei-me na cama e levei as mãos à cabeça.

Ainda bem que te interromperam à tempo, panaca, meu subconsciente zombou.

Cala a boca, retruquei.

Tentando esquecer a besteira que eu quase havia criado, desci à cozinha para comer alguma coisa. Senti como se carregasse o peso do mundo nas costas.

Encontrei Cristina preparando um café da manhã reforçado para ela e Owen, que estava sentado ao seu lado, na mesa. Tentei ignorá-los, para não abrir a boca e ser grosso, mas Cristina me conhece e logo aproveitou a oportunidade para me irritar.

— Hm... voto de silêncio novamente. Interessante. Espera um pouco, deixa eu adivinhar. É por causa daquela franguinha, não é? Como é mesmo o nome dela? Aquela interna com cara de morta e que sempre faz coisas erradas...

— Ignorando você — respondi, com ar despreocupado.

— Cristina — Owen advertiu —, deixe-o em paz!

— Ah, tenho o direito de saber, não acha? Aliás, somos quase irmãos. Moramos sob o mesmo teto, dividimos a mesma tv, a mesma cozinha e até o mesmo banheiro. É muita intimidade. Melhor, muita irmandade. — Ela mostrou um daqueles sorrisos ala Cristina: irônico e controverso, em minha direção.

Eu era obrigado a aturá-la, já que ela era a pessoa mais inconveniente que eu já convivi.

— Você tem direito sim... De ficar quieta e fora da minha vida.

Ela fez um gesto com as mãos como se estivesse representando ter medo de mim. Saí, pisando forte. Não daria o braço a torcer e ouvir mais piadinhas infâmes de Cristina. O pior é que não dera tempo de comer nada. E eu estava faminto.

À meio caminho do meio quarto, a campainha tocou. Uma, duas vezes. Olhei o relógio acima da porta e ele marcava plenas 7h30.

Quem, em sã consciência, incomodaria alguém à essa hora? Foi só o que eu pude pensar, antes de abrir a porta e entrar em choque.

Senti a cor fugindo da minha pele, quando reconheci quem estava na varanda de costas para mim. Os cabelos haviam crescido, ultrapassando a altura dos ombros. Usava uma blusa transparente verde, calça jeans e botas que a faziam ficar mais alta, mas não o suficiente para alcançar meu queixo.

Quando virou-se, seus olhos encontraram os meus: doçura com surpresa. Frieza com pânico. Olhei para a sua boca e senti uma vontade imediata de beijá-la, mas me controlei.

Não, aquilo não poderia estar acontecendo.

Meus olhos a percorreram de cima abaixo e foi nesse momento que meu coração praticamente parou. Ela estava grávida.

— Olá, Alex...

— Iz- Iz- Izzie?


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