— O que foi que disse? — Indaguei, perplexo com aquela confissão que eu nunca havia imaginado ser possível... Até agora. — Não. Algo nisso aí está errado. Eu...

— Você se lembra que quando o estágio do meu câncer progrediu e me deixou sem saída, resolvemos juntos que tiraríamos alguns dos meus óvulos e os fecundaríamos com seus espermas? — Ela interrompeu-se. — Antes de ir embora, depois da nossa separação definitiva, resolvi fazer a transferência dos óvulos fecundados para outro hospital da minha preferência, pois sou a responsável legal sobre eles.

E eu, caramba? Izzie destruindo tudo o que via pela frente, desde sempre. Eu não estava acreditando. Como ela teve coragem?

— Eu não tive coragem de fazer uma tentativa sequer por muitos anos — Me assustei quando ela respondeu minha pergunta. —, até que algo dentro de mim começou a incomodar. Eu sentia saudades de você, mas não queria quebrar o juramento que fiz de que nunca mais voltaria. Ao mesmo tempo, queria ter um pedaço de você ao meu lado. As lembranças já não eram suficientes, pois elas eram sempre iguais e eu precisava de algo substancial... Algo novo. Precisava do seu olhar, sua proteção, seu carinho, seu amor... E o que significaria mais do que ter um filho seu? Nosso. — Ela sorriu sem graça e levantou a mão para passar no meu rosto, mas me esquivei antes que conseguisse. — Eu-Eu te amo, Alex Karev — ela disse, sem saber o que fazer com a mão que pairava no ar.

Desencostei do batente da porta — o que me ajudou à ficar de pé, após tantas notícias bombásticas — e fui me sentar no sofá da sala.

— Você ficou maluca? — Desabafei, enfim. — Você não pensou no que eu diria ou acharia disso tudo? Eu tinha me esquecido de como você pode ser irresponsável às vezes.

Eu não queria poupá-la. Ela merecia escutar aquelas verdades e ainda deveria ficar grata, pois eu estava sendo mais gentil do que uma pessoa sensata seria. Eu ainda não havia explodido num verdadeiro acesso de raiva. Izzie sentou-se ao meu lado. Não estava preparado para um contato físico, mas ela insistiu em pegar minha mão. Não soltei.

— Eu não desisti do meu sonho de ser cirurgiã, Alex. — Confessou. — Completei minha residência num hospital local com um mesmo programa que o Seattle Mercy oferecia e hoje sou a principal cirurgiã Oncologista de lá. — Suspirou. — Me vi tão ligada à minha doença, que senti a obrigação de tentar ajudar outras pessoas a passar por tudo o que eu passei. Uma palavra amiga ou uma notícia boa é o bastante para tornar meu dia gratificante.

Dei um sorriso de lado. Sinceramente, estava feliz por ela não ter desistido dos seus sonhos, mas logo lembrei que aquilo era uma discussão e ainda não estava satisfeito com aquela conclusão. Enegreci minha expressão mais uma vez.

— O que você fez, Iz, não tem perdão. — Disse com a voz trêmula, mas transparecendo indiferença.

Ela finalmente conseguiu tocar meu rosto e alisou a minha barba por fazer. Fechei os olhos para recordar aquela sensação, quando tudo acabasse... De novo.

— Eu não vou embora. E eu sei que não sou digna do seu perdão... Não agora. Por isso, vou conquistá-lo. Eu não vou desistir de você, Alex.

Abri os olhos e aquilo não era um sonho e tampouco um pesadelo. Ela estava ali. Era real. Virei meu rosto e a encarei. As maças do rosto dela estavam rosadas e o nariz vermelho, pois havia acabado de chorar. Seus olhos ofuscariam o sol, de tão brilhantes que eram. Meu rosto aproximou-se do dela e senti sua respiração ofegante. Eu sonhei com esse reencontro por quatro anos.

— Promete? — Murmurei.

— Prometo.

Aproximei-me mais e deixei que nossos lábios se tocassem. Um Déjà vu assolou meus pensamentos e então fechei meus olhos novamente. Minha boca abriu e senti o calor de Izzie passar por mim, eletrizando cada terminação nervosa do meu corpo e preenchendo minha corrente sanguínea, assim, inflamando meu coração com a sua presença.