Ad Limina Portis escrita por Karla Vieira


Capítulo 19
Âncora


Notas iniciais do capítulo

Boa noite! Tudo bem com vocês? Gostando da história? Me deixem saber!



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Narrador em 3ª Pessoa, Onisciente.

Ethan encostou-se à parede e tentou se lembrar das palavras usadas no feitiço de exorcismo, mas não vinham completas. Estava sinceramente apavorado.

- Quorum corpus mali spiritus in lacinia ultio, ad profundum inferni... – O garoto começou a pronunciar as palavras que lembrava, na esperança de que o feitiço funcionasse. Os olhos de Marie Jean começaram a tornar-se castanhos novamente, e seu corpo estremeceu por um segundo. O espírito de Allison sentiu o feitiço do rapaz, mas o repeliu. A íris castanha voltou a ser vermelha, e o sorriso macabro duplicou.

- Exorcismo não vai funcionar, Ethan querido. Você sabe disso. Sabe que enquanto os portões estão abertos, o poder de um espírito é aumentado e você não pode lidar sozinho... – Ela disse, virando a cabeça para o lado e passando o dedo na adaga, arranhando-o e fazendo um filete de sangue escorrer. – Eu esperei para que o dia da minha vingança chegasse, e olha... Chegou mais cedo do que eu imaginava. Pronto para morrer, Ethan Williams?

A garota possuída se aproximou perigosamente dele, praticamente prensando-o na parede. Ele queria fugir, mas não sabia como fazê-lo sem ferir a sua amada cuja alma ainda habitava aquele corpo, em algum lugar no fundo, bem no fundo.

Enquanto isso, a alma de Marie Jean lutava contra a influência de Allison.

“Nos deixe em paz, garota! Matá-lo não irá resolver nada!” protestava Marie. “Só trará mais dor e sofrimento!”

“E é isso que eu quero, Marie Jean” a voz de Allison respondeu. “Ou você acha que eu não sofri? Que a minha família não sofreu com a minha morte? Que eu não tive quem chorar por mim? Não é apenas sobre a minha morte, queridinha. É sobre a falsidade e a hipocrisia dele, e sobre o jeito que ele fez minha família sofrer!”

“Por favor, nos deixe em paz. Mate-me, mas não o mate, por favor!” pediu Marie, com a voz chorosa e em pânico.

“Você acha que eu sou idiota? Eu sei que se eu te matar primeiro, vou ser banida do seu corpo e Ethan fará aquele feitiço estúpido para te trazer de volta a vida. Caralho, garota, achei que você era um pouco mais inteligente. Mas pelo visto é só mais uma burra incapaz na lista dele.” Rosnou a voz de Allison.

Ethan observava a fisionomia da garota possuída, e sabia que dentro daquele corpo que tanto admirava a alma da sua amada lutava contra a alma de Allison. Aproveitou o momento rápido de trégua que teve e empurrou-a, fazendo-a cambalear, e se afastou, indo para o outro lado do cômodo.

- Marie, eu sei que você pode me ouvir. – Disse Ethan, em alto e bom som. – A única que pode resolver isso é você. E eu sei que você pode. Não dê ouvidos a Allison, meu anjo.

“Acho que você deve dar ouvidos a mim, queridinha. Ele só a está enganando como fez comigo e com muitas outras. Ele não quer seu poder, mas quer algo mais de você. Quer cumprir a profecia e conseguir o desejo que a Mortem oferece, para depois largá-la sozinha, ou pior, matá-la” rosnou Allison. Marie Jean estava à beira do desespero, tentando encontrar a solução para seu problema.

Você está errada, Allison. Ethan me ama, e ele provou isso!” Marie Jean praticamente gritou dentro da própria cabeça. A garota sentia o mundo girar enquanto discutia com a alma que tomava seu corpo, enquanto tentava retomar o controle e não matar o homem que amava. Mas estava em desvantagem – a alma de Allison era mais poderosa do que a dela.

“Mentiras! Mentiras e mais mentiras! Como você pode acreditar em tudo o que ele te diz, sua estúpida? Vejo como é fácil enganá-la. Burra, incompetente e fraca que não consegue sequer se defender sozinha contra uma outra feiticeira. Não consegue tomar a decisão certa uma vez na vida! Burra!” Allison a difamava, enquanto Marie tentava encontrar um ponto de apoio, algo que pudesse fazê-la recuperar o controle do próprio corpo. Entretanto, a cada segundo que passava, ela ia ficando mais fraca e perdendo. Estaria morrendo?

Nesse momento, o caçador de lobisomens Harry entrou no cômodo. Havia saído para aliviar-se do lado de fora da casa abandonada antes de a garota possuída tentar matar Ethan, e ficou confuso ao vê-la aproximar-se do namorado, brandindo uma adaga.

- Marie? O que você está fazendo?

- Harry! Saia! – A voz de Marie gritou, em uma pequena trégua que ganhou, mas logo Allison tomou o controle novamente. A voz do espírito se misturou com a de Marie, grotescamente.  – Não se meta, caçador, antes que eu mate você também!

- Ethan, o que está acontecendo? – Perguntou o caçador, apenas para ter certeza de uma suspeita, avançando dois passos, e a garota possuída grunhiu para ele. Os olhos vermelhos, a voz bizarra e a raiva não lhe davam medo. Definitivamente, já havia visto coisas piores, e provavelmente, saberia resolver aquilo, já que Ethan obviamente não sabia. Caso contrário, Marie estaria doce e meiga como sempre fora. Estaria sendo aquela mulher adorável pela qual Harry se apaixonara.

- O espírito de uma garota que matei a possuiu. – Respondeu Ethan. – Agora sai daqui antes que algo te aconteça também.

- Eu não vou embora sem tentar te ajudar, otário. – Retrucou Harry.

- Se eu fosse você, otário, ouviria o Ethan querido. – Disse a garota possuída, aproximando-se de Harry, brandindo a adaga para ele. O rapaz só encarou os olhos vermelhos, sem se abalar. A garota tentou atacá-lo com a adaga, porém o rapaz – experiente quando se tratava de possessões e lobisomens – conseguiu segurar o braço que o atacava com a adaga, e com a outra mão, agarrou a cabeça da garota e bateu com força na parede, fazendo-a cair desacordada.

- Harry! – Berrou Ethan, desesperado. – Você pode machucá-la!

- Relaxa, Williams. Isso só vai dar uma grande dor de cabeça quando Marie retornar. – Disse ele, dando uma olhada ao redor do cômodo, vendo o resto dos seus amigos gemendo ou desacordados, e pensou rapidamente em como conseguiriam fechar os portões da Morte se sequer conseguiam lutar contra um espírito maligno. Sacudiu a cabeça, evitando ser pessimista. – Escuta. Ela só vai ficar inconsciente por alguns segundos. Mas, quando acordar, não será mais Marie em lugar algum dentro desse corpo, apenas o espírito. E eu sei como resolver isso, mas é você quem vai fazê-lo.

- O quê?! – Perguntou Ethan, confuso.

- Marie precisa de um ponto de apoio emocional para lhe dar forças e expulsar o espírito maligno do corpo dela. Quando fizer isso, o espírito vai ficar fraco e desorientado, e vai ser impulsionado a atravessar os portões, o que nós sabemos que não é muita coisa no estado atual. – Explicou Harry, falando o mais rápido possível. – Você vai ter que falar com ela, fazer que Marie consiga ter forças para lembrar-se de você e do que vocês passaram juntos, afinal, você é o maior apoio emocional que ela tem, com esse negócio de alma destinada e sei lá mais o quê. E, não importa o que aconteça, não importa se não pareça estar dando certo, não pare de falar.

- Tá, só isso?

- A sua parte, sim. À medida que a alma de Marie ganhar forças, vai ficar claro o que ela deve fazer, e não importa o que aconteça, não a impeça. Entendeu?

Ethan fez que sim com a cabeça.

- E se não der certo? – Perguntou, sentindo um calafrio na espinha.

- Mate-a. – Respondeu Harry, com o rosto sombrio e vestígios de dor em seu olhar. Os dois ficaram em silêncio repentinamente, e viram a garota possuída se levantar e sabiam, até pelo jeito que ela expirava o ar, que não havia mais Marie Jean habitando naquele corpo. Só muito, muito lá no fundo. A garota possuída sorriu macabramente e Harry tentou sair do cômodo, mas ela fora mais rápida: apunhalou o rapaz, fazendo um corte longo e de média profundidade nas costas do rapaz, que caiu no chão arfando de dor, quase chorando.

- Então, Ethan querido, agora realmente somos só nós dois... – A garota possuída virou a cabeça para o lado, sorrindo para o irlandês, que engoliu em seco.

- Marie, eu sei que você está aí. Ouça-me.

A garota possuída, com a mão livre, agarrou o pescoço do irlandês, prensando-o na parede. Ele tinha uma menor captação de ar para seus pulmões, mas continuou falando, mesmo com certa dificuldade.

- Lembra-se de quando nos conhecemos, pra valer? Você dormiu na biblioteca e eu te acordei, pois você estava tendo pesadelos. Começamos a conversar, e eu juro, no primeiro sorriso que me deste, você já havia me ganho. – O rapaz disse, sorrindo levemente com a lembrança. Mas nada nos olhos da garota faziam o rapaz crer que suas palavras tiveram efeito. Ela apertou mais seu pescoço, mas Ethan continuou falando. – E lembra o nosso primeiro beijo? De como você tentou fugir de mim, mas não conseguiu? De como o beijo pareceu a coisa mais certa do mundo?

- Oh, que comovente. – A voz bizarra da garota disse. Mas, no fundo daquele ser, Marie Jean começou a ouvir as palavras de Ethan.

- E quando nós fizemos amor pela primeira vez? Céus, o que nós estávamos pensando? No auditório do colégio?! – Ele riu fracamente, se divertindo com a memória, ignorando a falta de ar crescente. – Mas foi uma das melhores coisas que eu já fiz. Foi tão bom, tão certo... Parecia que seu corpo foi moldado para o meu. Assim como a sua alma foi destinada para a minha.

A garota possuída virou a cabeça para o outro lado. Allison, o espírito, se divertia com as palavras que o rapaz dizia, sem perceber que Marie Jean ficava mais forte. A garota ouvia as palavras do amado, e tentava ficar forte por ele. Estava quase desistindo de seu corpo quando ele começou a falar, e ela se lembrou do maior motivo que a fazia viver. Ele.

- Quando... Quando você foi sequestrada pelo meu antigo mestre, foi a pior sensação do mundo. Vê-la presa, e eu sem poder fazer nada, lá, impotente e incapaz. E de repente ficou claro o que eu tinha que fazer para salvá-la, mesmo que significasse que eu não pudesse mais te ter. E sabe de uma coisa? Eu morreria por você mais mil vezes, se necessário.

- Ah, cale-se, Williams. – O espírito maligno rosnou, apertando mais o pescoço do rapaz, tirando-o alguns centímetros do chão. Ethan tossiu, inspirou com força e continuou a falar, mesmo com a voz mais fraca e seus pulmões começando a reclamar. A força física de Marie Jean havia sido aumentada com a força do espírito, e isso fazia com que Ethan estivesse em mais desvantagem. Allison começou a sentir a alma de Marie retornando aos poucos, a cada milésimo de segundo mais forte. O espírito maligno começou a se preocupar.

- Sabe, cada vez que eu te abraço, eu sinto como se ali fosse o meu verdadeiro lar. Sentir o calor do teu corpo junto do meu não só acalma a minha alma, mas aquece o meu coração. – Ele continuou. – Eu te amo, Marie, como nunca eu imaginei que era possível amar alguém. Você me ensinou o que é amar. Ensinou-me como é ser feliz de verdade. Como é ter uma família, como é ter um coração.

Marie Jean começava a ocupar um espaço considerável dentro de seu corpo. Allison começou a bombardeá-la de pensamentos ruins, mas tudo o que Marie ouvia era as palavras de Ethan. Os olhos da garota possuída ficaram em um tom mais claro de vermelho, com leves indícios de castanho, e por um momento, tinham o brilho encantado e meigo do olhar de Marie. Mas logo, sumiu.

- Ethan... – A voz fraca de Marie sussurrou, e Ethan sorriu ao ver o primeiro vestígio de um resultado positivo.

- Olhar nos teus olhos, meu anjo, é meu passatempo preferido. Ver o reflexo das estrelas no teu olhar, ver a forma com que ele brilha quando eu digo que te amo, ver a maneira que seus olhos completam o teu sorriso. E o teu sorriso? – Ele começou a chorar. Allison fez com que a mão de Marie agarrasse um pouco mais forte o pescoço do rapaz. – É o mais belo do mundo! Dizem que uma mulher para ser bela precisa ter um corpo cheio de curvas... Eu pensava isso até ver seu sorriso. A curva mais bonita que alguém poderia ter. E cada vez que você sorri, é como se meu coração desse um mortal para trás de tão alegre que fica. E juro, mesmo depois desses meses todos, eu ainda sinto borboletas no estômago quando te vejo sorrindo. E eu faria qualquer coisa para vê-la sorrir feliz todos os dias.

Allison sentia seu poder no corpo de Marie diminuir. Suas tentativas de dizer que aquilo era mentira, de que ele estava enganando Marie, estavam sendo em vão. Afinal, que força seria maior do que a força do amor?

A garota possuída se afastou bruscamente do rapaz, indo para o meio do cômodo, por cima dos colchões. As mãos na cabeça, o mundo girando. A guerra acontecia dentro do corpo da garota. Apesar de estar cada vez mais forte, Marie ainda estava um pouco mais fraca do que Allison. Ambas gritavam uma com a outra. A dor de cabeça era quase insuportável. A garota possuída gritou, naquele guincho bizarro e macabro. Ethan prendeu a respiração. Não sabia se continuava a falar ou não.

A garota cambaleou, vendo o cômodo girar. Bateu de encontro à parede, fria e empoeirada. A luz baixa do fogo começou a agitar-se fortemente, aumentando sua intensidade. As janelas de madeira se abriram e começaram a bater, como se um vendaval estivesse atingindo a casa – o que de fato estava: os ventos sacudiam os pedaços soltos dos papéis de parede, as coisas dos jovens viajantes, os cabelos de todos eles. A garota gritou de novo. Os vidros se quebraram, e os estilhaços voaram em todas as direções.

- Saia do meu corpo, espírito! – A voz de Marie gritou, logo sendo abafada pela voz de Allison, que gritou em resposta.  - Só quando você morrer!

Mais um grito angustiante, macabro. Ethan tentava respirar. Marie Jean tentava não morrer.

- Amare. – Sussurrou Ethan. E, apesar do barulho ensurdecedor da casa tremendo, da guerra de vozes e de vontades dentro do corpo, Marie Jean ouviu. Tão claramente como um canto de pássaro na alvorada. – Eu te amo, Marie. 

E a garota soube o que fazer. Allison berrou de raiva quando percebeu que Marie havia encontrado a solução, e fez o corpo avançar para cima de Ethan, brandindo a adaga contra ele. No último segundo, quando já acabava o espaço entre os dois corpos, Marie tomou conta do corpo, e fincou a adaga no próprio coração, em vez de fincá-lo no coração do rapaz.

- NÃO! – Ethan berrou. A garota possuída gritava com toda a força que seu corpo e as duas almas que o habitavam possuíam. O corpo arqueou para trás, com aquele grito gutural saindo da garganta. Um líquido preto começou a escorrer do ferimento, enquanto uma fumaça preta saía da boca da garota. Ela se convulsionava em pé, sem cair. Seus olhos giravam nas órbitas, mudando de cor: ora vermelhos, ora pretos, ora castanhos. O fogo da lareira apagou.  Ventania cada vez mais forte.

E de repente, parou.

As íris tornaram-se castanhas. O líquido preto que saía do ferimento tornou-se vermelho sangue. A ventania parou. Ethan correu até a amada, e a pegou nos braços antes que caísse no chão. Ele ficou de joelhos, sem forças para acreditar que a amada havia tentado cometer suicídio. O peito dela subia levemente, e a pulsação estava fraca. Logo, Marie Jean morreria.

Ethan tirou a adaga do peito dela com um puxão, e virou-a para si, tentando respirar fundo para repetir o feitiço que havia feito há alguns meses. Olhou mais uma vez para o rosto da amada, cujas pálpebras estavam fechadas, e ajeitou os dedos ao redor do cabo maciço. Respirou fundo e tentou baixar a arma para seu peito, mas uma mão o impediu.

Era a mão de Marie. Seus olhos castanhos estavam abertos.

- Não... – Ela sussurrou. – Não faça... Isso.

- Eu não posso deixá-la morrer, Marie. Eu te fiz uma promessa! Te fiz uma promessa que nada mais te machucaria! E eu falhei!

- Não é sua culpa. – Ela sorriu fracamente, tirando a adaga da mão dele e jogando-a longe. Em seguida, acariciou a face do irlandês molhada de lágrimas. – E você me protegeu, meu anjo. Você não tem ideia de como.

- Se eu não tivesse falhado, você não estaria morrendo!

- Eu nunca vou deixar você. Nunca. – Marie Jean sussurrou, fechando seus olhos. O rapaz sentiu a respiração dela parar. Ethan berrou de dor, apertando-a junto a seu corpo enquanto gritava aos céus sua dor, e escorriam pelos seus olhos a mágoa e a saudade já existente. Sentiu uma mão no seu ombro, e sem olhar, sabia que era Andrew, que havia acordado e se levantado. O rapaz não disse nada ao ver seu melhor amigo segurando o cadáver da mulher que amava nos braços. Apenas levantou-se e foi tentar demonstrar para ele que não estava sozinho.

Mas a verdade é que Ethan agora se sentia tão sozinho como nunca.

Kensi levantou-se, ignorando a dor no ombro e foi ao lado do namorado, abaixando-se e sussurrando palavras doces de condolência para Ethan, que não a escutava. O mundo do rapaz havia ruído: havia perdido sua amada para sempre. A dor no seu peito era insuportável, a maior que já sentira no mundo. Nada mais lhe fazia sentido. Não sentia mais vontade de viver sem ela.

Andrew, com um pouco de esforço, fez Ethan deitar o corpo de Marie no colchão. O rapaz irlandês tentou lutar contra o melhor amigo, tentando se livrar do aperto dos braços do rapaz moreno. Desvencilhou-se, e em vez de tomar Marie nos braços, pegou a adaga, e preparou-se para fincá-la no próprio peito.

- ETHAN! – Gritou uma voz feminina, que ele tanto conhecia. Que ele tanto amava. – NÃO!

Ele se virou bruscamente e encontrou Marie sentada, com a roupa suja de sangue, a pele pálida de fraqueza, mas viva. E apavorada com o que ele estava prestes a fazer.

- Marie? – Ele perguntou confuso, pensando se estava tendo uma alucinação devido à dor e o pesar. Andrew e Kensi estavam tão confusos quanto ele. Fred, que recobrou forças naquele instante, estava sem entender nada, absolutamente nada. E Harry estava à beira da inconsciência, e Fred arrastou-se para perto dele, sem saber o que fazer para conter o sangue do amigo. – Você... Você está viva?

Ela assentiu, sorrindo, a beira de lágrimas. Ethan sorriu e começou a chorar mais forte – desta vez de genuína alegria. Foi até ela rapidamente e a abraçou com força, logo em seguida beijando-a.

- Eu pensei... Eu pensei que tivesse te perdido... – Disse ele.

- Galera, se vocês não fizerem nada, nós vamos perder Harry. – Disse Fred, preocupado. O casal de bruxos se virou, e Marie conteve um grito de horror. Ethan quis se bater de tanta raiva que sentia de si mesmo, por ter esquecido que o amigo que o ajudara a salvar Marie estava morrendo. Correu até o rapaz, escorregando um pouco no sangue do caçador de lobisomens que se espalhava pelo chão. Ajoelhou-se e começou a dizer o feitiço de cura rápida e repetidamente. Pouco a pouco o ferimento nas costas do rapaz começou a se fechar. Ethan se sentiu fraco e culpado, e para tentar se redimir para com os amigos e para consigo mesmo, começou a curar os ferimentos de todos.

Enquanto isso, Marie Jean estava encolhida em um canto, horrorizada com tudo o que acabara de acontecer. Kensi sentou-se ao seu lado.

- O que foi, Marie? – Perguntou baixinho.

- Eu... Eu fiz tudo isso. Eu feri todos vocês.

- Não foi você, e você sabe disso. Foi Allison, Marie. Você não teve culpa alguma. Não estamos bravos com você nem nada disso. Pelo contrário, estamos muito felizes porque você está viva.

- E eu não sei porque estou. Eu simplesmente soube que se me matasse, Allison sairia do meu corpo e tudo se resolveria. E eu quis... Eu quis morrer. Eu... Eu não entendo!

Kensi ficou em silêncio, também tentando entender o que acontecera. Afinal, Marie definitivamente parara de respirar, definitivamente morrera nos braços de Ethan. Por que estava viva?

- É por causa do amor. – Disse Harry, como se lesse os pensamentos das duas garotas.  – As palavras de Ethan trouxeram o apoio emocional que você precisava para enfrentar o espírito, Marie. Elas foram uma espécie de âncora para você. O amor dele por você, e seu por ele, manteve você lúcida e te deu a resposta.

- Me matar era a resposta?

- Não. Matar o espírito dentro do seu corpo era. Quando um espírito possui um corpo, este começa a dominá-lo, primeiro pelo cérebro, até chegar ao coração. E o coração vai enegrecendo pouco a pouco, praticamente virando pedra. – Explicou Harry, que já havia visto algumas possessões na vida. – E quando você o perfurou, estava eliminando a influência do espírito no seu corpo, fazendo a sua maldade e sua essência escorrerem para fora do seu corpo. E quando você parou de respirar, quando seu coração parou de bater, era seu corpo se regenerando dos estragos que o espírito causou, mas você não estava definitivamente morta. Entende?

Marie Jean assentiu positivamente, e abraçou Harry.

- Obrigada. – Sussurrou no ouvido do rapaz. – Se não fosse você, Ethan não poderia ter me ajudado. Obrigada.

- O que seria de vocês dois sem mim, não é? – Ele perguntou, risonho. Marie bagunçou os cabelos cacheados de Harry e se aproximou de Ethan, abrigando-se em seus braços.

- Eu quero sair daqui. Eu preciso sair daqui. – Disse ela. – Não consigo passar mais um minuto nessa casa, quem dirá o resto da noite. Muito menos conseguirei dormir.

- Tem certeza? – Perguntou Ethan. – Tens força suficiente para continuar?

Marie assentiu, e todos concordaram que era melhor deixarem aquela casa abandonada de uma vez por todas. Recolheram suas coisas, saíram da casa e Ethan a enfeitiçou, ateando fogo a casa e as suas memórias malignas. Assim, o grupo continuou a viagem durante a madrugada, atento a qualquer problema.

E uma pergunta retumbava no interior de cada um:

Seriam mesmo capazes de fechar os portões da Morte?


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?



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