Tento abrir os olhos, mas ainda estou com sono, não consigo nem ao menos falar. Mas tenho sede, muita sede.

- Ela já deve estar para acordar. – É a voz da mamãe.

Reúno todas as minhas forças para chamá-la.

- Mamãe. – Digo em um sussurro.

Ouço os passos dela em direção a mim e finalmente abro os olhos. Dou uma breve olhada no quarto de hospital.

- Mia. – Ela diz com lágrimas nos olhos. Papai está logo atrás dela. – Como se sente? – Mamãe pergunta.

- Com sede. – Falo. – O que aconteceu? – Pergunto para papai enquanto mamãe busca um copo d’água.

- Você não se lembra? – Ele pergunta.

Fecho os olhos e em um segundo todas as imagens de Jack Hyde e Elizabeth voltam a minha mente.

- Jack. – Falo. Papai está me olhando esperando que eu continue. – Elizabeth, ela estudava no mesmo ginásio que eu, ela levou Jack até mim. Ele me deixou amarrada. Eu acordei no carro. – Estou sendo desconexa.

Mamãe se aproxima com o copo de água. Bebo tudo, minha boca estava seca. Devolvo o copo para ela e volto a falar.

- Ele disse que ia... – Começo a chorar.

“Christian não esta aqui para me impedir de foder você agora mesmo se eu quiser e depois te matar.” As palavras de Jack me causam ódio.

- Mia você não precisa falar. – mamãe diz já começando a chorar também.

- Ele ameaçou me matar. – Continuo. Me lembro do telefonema. – Ana. Ele ligou para ela. O que aconteceu? – Pergunto.

A expressão de meus pais muda e fico preocupada.

- Jack pediu dinheiro para ela. Ela escapou do segurança e foi levar esse dinheiro para ele. – Papai explica e eu escuto com atenção. – Ele a agrediu.

- Ela está bem? – Pergunto me movendo na cama.

- Ela ainda está inconsciente, tem a costela machucada e uma fratura no crânio, mas vai ficar bem. – Mamãe conta. – Ela atirou em Jack Hyde. – Acrescenta.

Uau! Acho que Jack não tinha noção de como Ana podia ser mais rebelde do que ele pensava.

- Ana fez tudo isso para me salvar não foi? – Pergunto.

- Foi. – Papai diz sem jeito. – E ela fez. Provavelmente depois de agredir Ana aquele filho da puta iria embora com o dinheiro e faria algo com você;

- Então é minha culpa ela estar machucada. – Falo chorando. – Se eu não fosse tão teimosa.

Mamãe me abraça.

- Não se culpe. – Diz.

- Que horas são? – Pergunto. – E quando vou sair daqui?

- Daqui a pouco, só estávamos esperando você acordar. – Ela fala. – Passa da meia noite.

Nossa, por quanto tempo será que eu tinha dormido.

Peço para ver Ana, mas mamãe me diz que ainda estou fraca e que não adianta porque ela está inconsciente.

No começo da manhã mamãe diz que vai me levar para casa.

Kate, Elliot e Ethan estão na sala de espera. Elliot é o primeiro que me abraça. Kate o faz em seguida e vejo que está abalada, a preocupação com Ana é visível. As lágrimas insistem em vir de novo.

- Desculpe Kate, eu sinto tanto pela Ana. – Digo.

- Não é sua culpa. – Ela diz e me dá um beijo na bochecha. Sinto que ela não está magoada comigo.

Ethan está atrás dela e assim que Kate me deixa ele me envolve em seus braços. Isso me faz chorar como uma criança.

- Não chora. Ta tudo bem agora. – Ele diz limpando as minhas lágrimas. – Você só precisa ir descansar.

Não quero me desgrudar dele, o abraço de Ethan é o melhor lugar que estive desde ontem.

- Você vai comigo? – Pergunto.

- É melhor não. Depois vou te ver. – Ele diz.

Faço beicinho para ele e todos riem. Me sinto uma criancinha fazendo graça para a família.

- Vem se não essa menina não vai dar sossego. – Mamãe diz para Ethan.

E ele acaba aceitando.

Elliot e Kate também vão conosco, papai vai ficar para falar com Christian.

Ethan está me levando até meu quarto com a mamãe. Ela não desgrudou de mim a noite toda, deve estar exausta, além do mais ainda está preocupada.

- Você se importa de ficar com ela enquanto eu tomo um banho? – Mamãe pergunta a Ethan.

- Pode ir Grace. Fico com ela o tempo que for. Acho que você precisa descansar também. – Ele sugere e fico grata a ele por isso.

- Vou fazer isso então. – Mamãe diz. – Descanse. – Fala depois de me dar um beijo na testa.

Estou sentada na beira da cama vendo Ethan puxar a coberta e ajeitando o travesseiro.

- Agora vem deitar mocinha. – Ele diz.

Faço o que ele diz.

- Deita comigo. – Peço. Ele faz uma careta. – Mamãe não vai ficar brava.

Ele tira o sapato e deita comigo na cama. Eu deixo o travesseiro e encosto minha cabeça em Ethan, que começa a passar as mãos pelo meu cabelo e isso me deixam sonolenta.

- É tão bom estar assim. – Ethan diz. – Quando soube do que tinha acontecido fiquei louco. – Fala. – Aquele idiota não te fez nada não é? – Ele me pergunta.

Lembro-me das coisas que Jack disse e da boca dele na minha. Meu estomago fica nauseado por um instante.

- Ele não fez nada. – Falo. Ouço um suspiro de alivio de Ethan. – Ethan. Ontem as cartas... – Ele coloca a mão sobre a minha boca.

- Depois. – Ele fala. – Eu prometo que depois a gente conversa, mas agora tenta pelo menos uma vez ficar quietinha. Por favor.

Não toco mais no assunto. Eu não estava em condições de discutir isso agora. Eu precisava estar bem para escutar o quer que fosse que seria dito na nossa conversa.

Por enquanto, tudo que eu queria era esquecer tudo que havia acontecido.