Se Eu Morrer Jovem... escrita por Isabell Grace


Capítulo 5
Capítulo Quatro - Clove




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Podia não parecer, mas eu estava mais nervosa e com ódio dos pais de Cato do que ele próprio. Isso me fazia lembrar-se dos meus, que só queriam e se importavam que eu fosse para os jogos. Além disso, eu amava Emily como se também fosse a minha irmã. Quando ela nasceu, Cato e eu tínhamos dez e nove anos respectivamente. Ele bateu na porta da minha casa entusiasmado com a notícia e fomos, juntos, correndo vê-la no hospital. Nunca o vi tão feliz como naquele dia.

Eu encarei, com raiva, os pais de Cato, peguei meu casaco e minha mochila e repeti as palavras dele:

– Não podem fazer isso com ela. – então sai pela porta atrás dele. – Cato! – gritei – Espera!

Ele parou e se virou para mim.

– Desculpe Clove, me esqueci de você. Eu acho melhor você ir pra casa descansar, amanhã é dia de Colheita. A gente janta em um outro dia.

– Não, nada disso. Eu vou te ajudar a procurar ela. Tenha alguma ideia de onde esteja?

– Não nenhuma. – ele dizia preocupado – Da última vez, ela estava na floresta, mas tá ficando escuro e eu acho que ela não tem coragem de ir lá sozinha a essa hora. De qualquer forma eu vou lá olhar. Será que você pode verificar na escola dela?

– É claro, eu vou lá.

– Grite para os gaios tagarelas se você a encontrar. – eu apenas fiz que sim com a cabeça. Ele sorriu novamente com aquele sorriso cativante para mim – Obrigado Clove. – ele me abraçou com aqueles braços grandes e fortes que podiam dar uma volta inteira em mim – Não deve existir uma pessoa no mundo que valha mais do que você. Obrigado mesmo. –

Aquilo me fez sorrir de novo, aquele momento me parecia ser um momento feliz se não estivéssemos nessas circunstancias e nesse lugar. Eu já tinha sorrido duas vezes no mesmo dia. E acho que só ele era capaz de fazer isso.

Soltei-me dos braços dele e fui andando a procura de Emily. Eu tinha que encontra-la, eu tinha que trazê-la de volta pra casa porque eu detestava ver Cato daquele jeito.

Fui até a escola dela, mas não tinha mais nenhuma criança por lá. Perguntei ao porteiro e ele confirmou minha teoria. Então me sentei embaixo de uma árvore e coloquei as mãos na cabeça pensando onde eu poderia encontra-la. Foi ai que me lembrei da última vez que conversamos e ela disse que um dia treinaria muito para ficar mais forte que as outras crianças e ir para os jogos, apesar de eu e Cato não concordarmos muito com a ideia.

– O centro de treinamento. – eu sussurrei pra mim mesma – É claro.

Levantei-me e fui correndo até lá com toda a esperança de que ia encontra-la. E eu estava certa. Emily estava lá, encolhida no chão perto da porta, chorando.

– Você está ai – eu disse pra mim mesma, respirando aliviada.

Olhei para o alto de uma árvore e então gritei para um gaio tagarela que a tinha encontrado no centro de treinamento. Gaios tagarelas eram aves geneticamente modificadas pela Capital que foram criadas na época dos Dias Escuros para levarem recados dos rebeldes para eles, mas ideia não deu muito certo, pois os rebeldes descobriram e começaram a dar gritos em falso.

Ele saiu voando, reproduzindo meus gritos. Cato iria escuta-lo logo e viria até nós.

Eu me agachei próximo a ela e segurei seus braços. Estavam lotados de marcas vermelhas. Ela levantou a cabeça assustada.

– Ei, sou eu, fique calma.

– Clove! – ela pulou em meu pescoço me abraçando – Eles me bateram Clove, os garotos maiores. – ela soluçava.

– Shh, não chora mais. – eu a acolhia em meus braços e passava a mão em seu cabelo – Seu irmão não vai deixar mais eles baterem em você, nunca mais.

– Eles também disseram que sou pequena e fraca e que nunca seria capaz de vencer os jogos. Que eu seria a primeira a morrer.

– Pois eu aposto que você ganharia de todos eles. Olha pra mim. – ela se solta de meus braços e me olha nos olhos – Também não sou muito grande, não é? – ela balança a cabeça como um sim – Mas quem é a melhor atiradora de facas que você conhece?

– Você. – ela disse levantando um pequeno sorriso.

– Isso mesmo. Então você tem que ser forte. Não liga para o que eles dizem não. Você pode ser melhor do que qualquer um deles. Sabia que não acreditavam em mim também? E agora eu poderia acertar uma faca em cada um que disse isso.

– Um dia você me ensina a jogar facas? – ela perguntou limpando as lágrimas.

– É claro, depois da Colheita eu ensino você.

Ela sorriu e me abraçou novamente.

– Então eu vou ter que lidar com duas garotas com facas? – Emily e eu nos viramos de imediato. Cato estava ali parado a poucos metros de distância, então se aproximou e agachou-se perto de nós.

– É, acho que sim. – eu disse.

– Acho que eu estou literalmente ferrado. – ele falou dando um meio sorriso – Ei mocinha, tem que ser forte, está bem? Deixe aqueles idiotas. Escute, quando eu ganhar os Jogos Vorazes no próximo ano, eles não vão incomodar você mais. Não vão ter coragem de mexer com a irmãzinha mais nova de um vitorioso.

Eu gostava da forma como ele fazia de tudo para protegê-la e torna-la mais forte, mas não queria que ele usa-se os jogos para isso. Não que eu não acreditasse que ele podia vencer. É claro que sim, eu sabia que ele sairia vitorioso de lá, eu acreditava nisso. Mas seriam vinte e três adolescentes tentando mata-lo. E ele não seria o único que treinara a vida toda pra isso.

E a última coisa que quero na vida e ter que perde-lo.


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