Com a espada presa no cinto e a armadura no peito, já estou preparado para a batalha final. Apesar de eu estar decidido a morrer, não quero que Katniss me mate assim tão fácil, preciso fazer meu show primeiro.

Ando na floresta, olhando para os lados, procurando meus adversários. Sei que se não encontra-los, logo os idealizadores darão um jeito de nos juntar. Então antes que isso aconteça, olho para o céu e digo:

- Adeus Emily, adeus Brutus e adeus Enobaria. Eu amo vocês. Obrigado por tudo.

É então, que naquele mesmo instante, duas enormes criaturas surgem do chão. Eram bestantes, animais geneticamente modificados nos laboratórios da Capital, preparados para matar, que podiam assumir qualquer forma. Essas tinham formas de enormes cães selvagens, com a pelagem variando de cores negras até loiras e dentes ferozes.

Eu corria na direção da cornucópia, os bestantes me perseguiam. Permito-me olhar um segundo para trás e vejo que o número se multiplicou, agora não eram apenas dois, eram mais de cinco, uns maiores que os outros, mas todos com a mesma cara assustadora.

Continuo correndo, e cada vez mais, vou perdendo o fôlego. Não posso parar nem um segundo para não ser devorado. Quase na boca da floresta, avisto Katniss e Peeta. Ela tenta atirar uma flecha contra o meu corpo, mas não causa nenhum efeito por conta da armadura que estou usando. Quando eles tomam consciência do que está me perseguindo, eu já estou escalando o metal da cornucópia. Ao atingir o topo, deito-me e arrasto meu corpo até a ponta, onde havia um chifre dourado. Puxo o ar, a fim de recuperar o fôlego, enquanto Katniss e Peeta subiam na cornucópia ao meu encontro, tentando fugir dos bestantes.

Quando olho para o chão e vejo as criaturas novamente, elas já deviam somar cerca de vinte. Uma delas estava caída no chão, morta, provavelmente Katniss a acertou com uma flecha.  Começo a me preocupar com a possibilidade de que elas possam conseguir subir e alcançar a nós.

- Elas conseguem escalar? – pergunto. Minha voz está falha, mas Peeta me escuta e repete minhas palavras pra Katniss.

Depois os dois começam a discutir alguma coisa sobre os bestantes, alguma coisa sobre eles serem os tributos mortos. Olho novamente para as bestas e vejo que eles estão certos. Cada uma delas tem a aparência de um tributo morto. Glimmer, Marvel, Tara, Thresh, os dois menores são o garoto do 4 e a garota do 11. E no meio, um que também não era tão grande, os olhos negros e a pelagem escura, tinha um colar com o número 2, pendurado no pescoço, era Clove. Era a aparência dela, os olhos dela, mas não era ela porque eu sei que Clove não agiria daquele jeito, tentando escalar a cornucópia a fim de me matar. De qualquer forma aquilo me assustava. – Não Cato, não é ela, não é a sua Clove, ponha isso na cabeça. Foque agora apenas em seu objetivo. – eu pensava.

Com o ar já recuperado, junto todas as minhas forças e me levanto. Tomo um impulso e em um reflexo agarro Peeta pelo pescoço, prendendo-o em uma chave de braço, exatamente como ele fez com Clove na noite em que formamos aliança.

Pronto! Estávamos, novamente, todos sem saída. Meu plano funcionou. Assim que eu quebrasse o pescoço dele, ela me atiraria uma flecha e eu morreria. Katniss já estava com a flecha pronta no arco e apontava para a minha cabeça.

- Vai, atira. Ai nós dois caímos e você não ganha. – eu digo pra ela – Vai. Eu já estou morto, mesmo. Eu sempre estive, né? Eu só descobri isso agora. – De fato eu já estava morto, desde que vi Clove perder a vida em meus braços, a minha se foi junto com a dela. Mas eu nunca estive vivo de verdade, não se pode estar vivo sem se estar livre. Eu só demorei a perceber isso. – Então, é isso aqui que vocês querem, né não? – Eu gritava para o céu, a fim de atingir ao público. Sei que eles estavam gostando disso.

- Não, não. – Peeta implorava. Seu rosto ia perdendo a cor e ele estava quase sem ar. Se eu não o matasse, de qualquer forma ele morreria asfixiado em pouco tempo. Katniss mexia o arco apontado para mim, tentando achar um jeito de salvá-lo.

- Oh, oh. Eu ainda posso fazer isso. – ameacei – eu ainda posso matar mais um. É a única coisa que eu sei fazer, ser um orgulho pro meu distrito. – falo isso me referindo ao meu show, que sei que está sendo incrível. Sei que, nesse momento, nenhum cidadão de Panem terá a ousadia de tirar os olhos da televisão. Mas, realmente, era a única coisa que eu sabia fazer, já que falhei no meu outro objetivo. Já que não consegui proteger Clove, assim como pretendia desde que me voluntariei na Colheita há pouco mais de duas semanas.

Meu show termina no momento em que sinto Peeta traçar um X em minha mão, mas quando percebo o que isso significa já é tarde demais. A flecha de Katniss se aloja nela e em um reflexo libero Peeta e grito de dor.

Só tenho tempo de retirar a flecha da minha mão, antes que Peeta me empurre do alto da cornucópia, me fazendo cair no meio dos bestantes.