Na manhã seguinte a chuva já não caia mais. Eu saio da caverna bem cedo e começo a montar minhas estratégias para o resto do jogo. Sobraram eu, a garota do 5 e Katniss e Peeta.  Talvez eu matasse a garota do 5 e deixasse os dois do 12 ganharem.

Mas espere, se eu não pude ganhar com Clove, porque tenho que deixar que Katniss ganhe com Peeta? Isso não é justo. Eu sei que esse deve ser o pensamento mais egoísta do mundo, mas não é justo. Eu não tive a chance de ganhar com Clove, Marvel não teve a chance de ganhar com Glimmer, então Katniss não pode ganhar com Peeta. Eu aprendi da pior forma possível que o amor não vence em um jogo como esse.

Como eu nutria um certo ódio por Katniss desde o desfile de tributos, eu resolvi que iria afetá-la, não fisicamente, mas emocionalmente, como fizeram comigo, ou seja, matando Peeta. Dai os dois não venceriam juntos. Seria mais justo, eu acho. Além disso, renderia um espetáculo inesquecível para o público e faria com que eles não se esquecessem de mim, apesar de eu achar que se lembrariam apenas como “o garoto fracote que sofreu o resto do jogo inteiro pela morte da sua companheira de distrito”, mas não me importa. O que importa era manter os olhos deles grudados na televisão de agora até o fim do jogo.

Caminhei pela floresta em busca dos meus adversários, focando encontrar primeiro a garota do 5 e deixar a final para eu versus Distrito 12. Distrito 12 e o resto de Panem inteira ao que parece, porque todos deviam estar torcendo por eles agora, os amantes desafortunados, aqueles que, se dependessem de mim, não teriam um final tão feliz assim.

Há uma hora de caminhada, resolvo parar para me alimentar um pouco. Encosto minha mochila no pé de uma árvore e tiro de lá os restos de comida, um pato inteirinho e dois pães que Clove e eu tínhamos recebido há alguns dias, antes do banquete na cornucópia. Tiro também uma garrafa de água, mas que estava vazia. Vou até um riacho á uns dez metros, encho a garrafa e adiciono duas gotas de iodo, que tinha em um frasco no meu bolso, para purifica-la. Quando volto até a árvore, onde estavam as minhas coisas, noto que a comida sumiu completamente. O pato e os pãezinhos não estavam mais lá. Alguém passou por aqui em um reflexo e os roubou. E só pode ter sido a garota do 5. Lembro-me de Clove dizer que ela era muito esperta, rápida e dificilmente notada. Além disso, não podiam ter sido Katniss e Peeta porque provavelmente estavam andando juntos e eu com certeza notaria a presença de duas pessoas, principalmente pelo fato de que Peeta não é lá a pessoa mais silenciosa do mundo, sei disso pelos dias de aliança que passei com ele.

Concluo, então que, a garota do 5, que roubou meus suprimentos, não deve estar muito longe, talvez ainda esteja por ai, tentando conseguir mais alguma coisa.

Coloco a mochila nas costas, tiro a espada do cinto e começo a rodar o perímetro em busca da garota. Ando uns dez minutos, mas não encontro nada, talvez ela já tenha corrido pra longe. Queria saber por mais quanto tempo essa garota continuaria correndo e se escondendo. Bem se no final, Katniss acabar morrendo com Peeta e sobrarmos só eu e ela, parabéns, ela será a ganhadora da 74° edição dos Jogos Vorazes.

Mas minha teoria se desfaz quando escuto um barulho de canhão. Apesar de não passar do meio-dia, a noite chega, isso era com certeza um truque dos idealizadores dos jogos. O hino toca e no céu começa a brilhar a fotografia da garota do 5. Isso significava apenas uma coisa: Só restaram Katniss, Peeta e eu.

O grande show começa agora. Matar ou morrer. No meu caso, as duas coisas.