- Cato! Cato! – eu a ouvia gritar desesperada. Alguma coisa tinha dado errado. Eu devo ter falhado e Thresh deve ter chegado lá.

- Clove! – grito em resposta e começo a correr na direção da cornucópia, na esperança de chegar a tempo para salvá-la – Clove!

Mas eu falhei de novo. Quando saio da floresta vejo Clove caída no chão, Katniss correndo para um lado, Thresh para o outro. Não me importa pega-los agora. O que me importa agora é Clove. Não, não e não, ela não pode estar morta. Não ela, tão pequena, minha Clove.

Ajoelho-me ao lado de seu corpo e a vejo lentamente perdendo a vida. Pego a em meus braços e digo:

- Por favor, fica comigo, por favor, eu preciso de você. – eu implorava – Vamos lá Clove, levante. Nós temos que ganhar.

- Cato... – ela falava com dificuldade e chorava – Ganha por mim, pela Emily.

- Não vou conseguir sem você. – eu também chorava – Eu preciso de você. Eu amo você Clove. – então toco seus lábios como um último beijo, não me importando mais que o público estivesse vendo. Na verdade eu queria que eles vissem. Vissem que por culpa deles a pessoa que eu mais amava no mundo estava morrendo e parte de mim também.

- Eu também te amo Cato.

Então lentamente seus olhos vão se fechando para não abrirem nunca mais. Eu nunca mais veria aqueles lindos olhos negros, mortíferos e sanguinários que me hipnotizavam, que me acalmavam, aqueles olhos dos quais eu não conseguia desviar o olhar.

Agora sei que ela está morta, confirmo isso com o tiro de canhão, mas não quero aceitar que ela se foi e me deixou. Deito sobre o corpo dela e choro implorando pra que ela não se vá. Imagino que todos devam estar vendo isso agora e pensando que eu sou o tributo mais fraco desse jogo e acredito que mais nenhum patrocinador deva estar querendo me bancar, mas eu não me importo, não me importo com mais nada. A única coisa que me importava foi destruída pela Capital e estava morta agora em meus braços. E eu não conseguia parar de chorar. Chorava de tristeza e de raiva. Raiva de todos os responsáveis pela morte dela, inclusive de mim mesmo porque permiti que ela se afastasse de mim. Eu a mantive do meu lado o tempo todo e a única vez que nos separamos resultou em sua morte.

Mas eu tinha mais raiva ainda da Capital e dos pais dela que, teoricamente, a obrigaram a vir pra cá, mesmo ela dizendo tantas vezes que não era o que queria fazer.

- É isso aqui que vocês queriam? - eu gritava para o céu, sabia que eles estavam assistindo. As lágrimas não paravam de descer dos meus olhos – Queriam vê-la morta? A filha de vocês morta? Eu a amava, sabiam? Mais do que vocês. – Novamente deito sobre o corpo de Clove e continuo chorando.

Imagino que os idealizadores dos jogos devem estar querendo que eu saia dali para recolherem o corpo, mas não quero sair, não quero deixa-la. Além disso, ficando ali é uma forma de enfrentar a Capital. Até que me lembro de que se eu decidisse por enfrenta-los, eles não iriam descontar em mim, iriam descontar nas pessoas que eu amava. Bem, em uma delas já tinham descontado. Mas eu não queria que fizessem nada com minha irmãzinha e nem com Brutus e Enobaria, porque eu o os amava também. Então dou um último beijo na testa de Clove e digo ainda chorando:

- Vai em paz meu amor, vai para um lugar melhor e não esqueça que eu amo você.

Então me levanto do chão, pego minha lança e caminho novamente para dentro da floresta. Dou uma última olhada pra Clove antes que o aerodeslizador baixasse para recolher seu corpo.

Nunca mais, nessa vida, eu veria a minha pequena atiradora de facas.