O terceiro dia na arena não foi de grandes acontecimentos. Continuamos a caminhada pela floresta, mas não encontramos nenhum outro tributo. Não houve mortos, não houve canhões, não houve retratos no céu. O máximo que encontramos foi uma armadilha preparada para capturar animais, feita por algum tributo. Peeta afirmava que era de Katniss. Ela não devia estar muito longe, mas não a encontramos.

Passamos a noite em um lugar qualquer na floresta, em meio às árvores, deitados no chão, enrolados em cobertores e sacos de dormir. A primeira parte da vigília foi de Peeta e Marvel. Depois seriam Tara e Glimmer. Então Cato e eu dormimos a noite toda.

Acordamos de manhã assustados, ingerindo fumaça, com Tara e Glimmer gritando. Foi só então que percebemos a enorme parede de fogo que vinha em nossa direção a mais ou menos uns cinquenta metros de distância. Saltei do chão em um impulso e tentei reunir o máximo de suprimentos possíveis. Cato puxou minha mão antes que eu pudesse pegar mais alguma coisa. Então começamos a correr de volta para o lago. Os outros quatro vinham atrás de nós com o resto dos suprimentos. Quando chego à beira, largo tudo no chão e pulo na água sem pensar duas vezes. Todos fizeram o mesmo.

- Conseguimos pegar tudo. – Glimmer anuncia. Cato parece respirar aliviado.

- Ei conquistador, sua namorada não estava para aquele lado? Será que a garota em chamas pegou fogo? – Marvel disse fazendo com que todos, exceto Peeta, ricemos.

- Pense pelo lado bom, conquistador. – Cato falou – Se ela tiver morrido queimada, você não vai ter que mata-la.

- Ela não está morta. Se estivesse, já teríamos escutado um canhão. – Peeta diz sério.

Saímos do lago e estávamos prontos pra entrarmos na floresta quando Marvel grita:

- Ai cara, ela tá ali. Ali olha! – ele diz apontando para Katniss que estava deitada na beira do lago, molhando a queimadura que tinha na panturrilha.

Ela se levanta assim que nos vê e corre novamente pra dentro da floresta, onde o incêndio já tinha terminado. Provavelmente, o fogo deve ter sido apenas uma ideia dos Idealizadores para nos reunir e dar um pouco de emoção para os jogos, já que ontem não houve nenhum combate, nenhuma morte.

- Não adianta correr não. – Cato grita para ela – Vou pegar, hein? Vou pegar.

Ele sai correndo atrás dela seguido de Glimmer, Marvel e Tara. Peeta e eu ficamos pra trás. Eu consigo ver a preocupação no rosto dele, o medo de que Cato a alcançasse.

- Você não tem coragem de mata-la, não é? – eu pergunto o desafiando – A sua namoradinha.

- É claro que tenho. – ele responde.

- Então prove.

- Vem ver. – ele disse, correndo atrás de Cato e os outros. Eu o sigo.

- Onde é que você pensa que vai, minha filha?- Cato gritava para Katniss – Não adianta correr não.

Ela começa a escalar uma árvore e já atingia uns seis metros de altura quando chegamos na base. Ela nos observa lá de cima.

- E ai, como é que vocês estão? –Katniss pergunta, despreocupada, entusiasmada em entreter os telespectadores.

- Estamos bem. E você? – Cato diz, devolvendo a pergunta.

- Está um pouco quente pro meu gosto. – ela responde – O ar é bem melhor aqui em cima. Por que vocês não sobem?

- Acho que eu vou. – Cato diz.

- Aqui, Cato, pegai isso. – Glimmer lhe oferece seu arco com flechas.

- Não. – ele diz empurrando o arco para o lado – Farei melhor com a minha espada.

Ele começa a escalar a árvore e Katniss sobe mais, tentando fugir dele. Ela já devia atingir uns nove metros quando ele quebra um galho, despencando no chão. Por um momento eu me preocupo, com medo de que ele pudesse ter quebrado algum membro, mas ele se levanta no mesmo instante, furioso. Glimmer também tenta escalar a árvore, mas não atinge nem dois metros porque os galhos começam a rachar. Então ela tenta dar uma flechada, mas acerta no tronco da árvore. Katniss pega a flecha e fica balançando no ar como forma de provocação. É então que Peeta diz:

- Ah, deixa ela ficar lá em cima mesmo. De lá ela não vai poder sair. A gente cuida dela amanhã de manhã.

Ele estava certo. Ficaríamos ali e ela não podia sair. Acabou que conseguiu me provar que podia sim mata-la. Diferente de Cato e eu, que não podíamos matar um ao outro. Talvez, psicologicamente, fossemos os mais fracos desse jogo.