Se Eu Morrer Jovem... escrita por Isabell Grace


Capítulo 3
Capítulo Dois - Cato




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Eu adorava aquele sorriso dela, poucas vezes eu a via sorrir assim, mas as vezes que vi me encantavam, como um garotinho de cinco anos que acabará de ganhar um enorme pote de doces. Pena ela ter poucos motivos pra isso.

Nós vivíamos no Distrito 2, um dos distritos mais privilegiados de Panem, se não o mais. Não sei bem, nunca tivemos qualquer tipo de grandes informações sobre os outros distritos. Só sabíamos que nós e o 1, éramos os únicos que tínhamos direito de treinar a vida toda para os Jogos Vorazes e que ganhávamos a maioria das vezes. Éramos chamados de carreiristas. Também recebíamos, vindo da Capital, comida e medicamentos necessários para nossa sobrevivência, coisa que quase não acontecia nos distritos mais pobres como 10, 11 e 12.

Clove e eu nos conhecemos há alguns anos no centro de treinamento para tributos, mas ela nunca quis isso, nunca quis ser um tributo. Mas seus pais sim, diziam que se caso ela morresse nos jogos seria uma honra, que todos a respeitariam se ela fosse para lá, voltasse morta ou viva. Ela tinha uma relação conturbada com os pais por isso, e odiava o modo como vivíamos dependentes da Capital, dependente dos jogos, dependente da pouca “generosidade” do Presidente Snow.

De certa forma, eu também não gostava totalmente disso. Queria que vivêssemos mais livres. Mas eu sempre quis ser um orgulho pro Distrito 2 e não há outra forma se não sendo ganhar os jogos. E o 3° Massacre Quaternário, que aconteceria no ano que vem, parecia a ocasião perfeita para mim.

Era o último dia de treinamento, antes da Colheita para a 74° edição anual dos Jogos Vorazes. Meu melhor amigo, Sinnel, que tinha completado dezoito anos a alguns meses, iria se voluntariar como tributo masculino na Colheita desse ano, era a última chance dele.

- Oi cara! – eu disse me aproximando. Ele estava treinando lanças, sua especialidade. – Ansioso? É amanhã, hein?

- É. – ele atira uma lança que acerta bem no centro do alvo, depois se vira pra mim. – Amanhã. Quem diria, passou tão rápido, né? Eu mal posso esperar pra me voluntariar na colheita.

- Já sabe quem vai ser o tributo feminino? – perguntei.

- Não. Parece que nenhuma garota quer ir pros jogos desse ano. Ou pretendem ir no próximo ano ou estão por ai se cagando de medo. Igual a sua namoradinha.

Naquele momento, eu me segurei firme para não agredi-lo fisicamente. Respirei fundo e lhe disse com firmeza:

- Ela não é minha namorada, ok? E você não a conhece, não sabe os motivos reais para ela não querer ir para os jogos. Então cale a boca.

Eu me afastei dele, peguei uma espada e comecei a decapitar alguns alvos com agressividade. Pensei que se não descontasse minha raiva nos bonecos acabaria fazendo isso com o próprio Sinnel e, com certeza, não renderiam coisas boas pra mim.

- Ei, vai com calma ai, garoto das espadas. Os bonecos não têm culpa, do que seja lá o que for que você esteja tão bravo. – Clove estava do meu lado me observando e afiando uma faca – O que houve?

- Sinnel. – eu parei por um momento meu ataque de agressividade. Aquele olhar mortífero de Clove pra mim me fazia ficar mais tranquilo, era como mágica e só ela tinha esse poder.

- O que tem Sinnel?

- Ele é um idiota.  É o meu melhor amigo, mas é um completo e perfeito idiota. Quer dizer, ele está um idiota porque não era assim. Só porque vai ser voluntário esse ano está se achando.

- E o que ele disse pra te deixar irritado?

- Ele disse que... – eu parei por um segundo, encarando-a. Não podia dizer a Clove o que Sinnel disse sobre ela. – Nada, esquece. Vamos ver. Como você está com as facas? Vai lá, acerta aquele alvo. – eu ordenei apontando para o boneco.

Ela parou de afiar a faca e a arremessou na cabeça do boneco, depois tirou mais duas do casaco e jogou uma no peito e a outra em um dos braços. Cabeça, peito, braço. Cabeça, peito, braço. Era sua sequência favorita.

- Como se fosse preciso perguntar. – eu disse rindo de leve – Você nunca erra.


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