Era o que íamos fazer. – eu pensava enquanto descíamos de elevador até o salão de treinamento – Fugir prela floresta parecia o melhor jeito de sermos livres. Mas hoje eu descobri que é impossível ser livre em Panem.

Quando entramos no salão, automaticamente me lembrei do que Enobaria disse sobre não sermos mais nós mesmos, tínhamos que colocar medo nos outros tributos. Clove parece ter se lembrado disso também, porque começou a encara-los com um sorriso maligno.

Aos poucos, todos os 24 tributos foram chegando e se posicionando em dois semicírculos, organizados de acordo com os distritos. Do 1 ao 6 no primeiro semicírculo e do 7 ao 12 no segundo. O 12. A treinadora, Atala, nos dava orientações sobre esses próximos dias de treinamento enquanto eu olhava fixamente para Katniss planejando a sua morte, planejando fazer com que ela se arrependesse de ter roubado a atenção dos patrocinadores. Aqueles que estavam literalmente nos assistindo de camarote junto com Seneca Crane, o chefe dos Idealizadores dos Jogos.

Tinham várias estações de técnicas de sobrevivência, manuseio de armas e plantas venenosas. Quando Atala nos liberou, fui direto pegar uma espada e decapitar os bonecos que tinham por lá. Confesso que estava me exibindo um pouco, mas fazia parte. Os outros carreiristas faziam o mesmo. Olhei para um canto e vi a garota do 4 manuseando um tridente. Lembrei-me de que tínhamos sido orientados a nos aliar a ela porque também era carreirista.

- Oi, distrito 4. – eu disse me aproximando, ela parou de mexer com o tridente e me encarou sem nenhum medo – Qual o seu nome?

- Tara. – ela respondeu.

 - É boa com o tridente?

- Sim, a maioria de nós do distrito 4 somos bons com um tridente. Mas ele não. – ela disse olhando para o garoto do seu distrito, que estava na estação de frutas venenosas junto com a garota do 5. – Não acho uma boa ideia me aliar a ele.

- É. Ele é bem pequeno e parece fraco. Mas você pode se aliar a nós. Somos eu, a garota do meu distrito e os dois do 1.

- Fechado. – ela esticou a mão e eu a apertei como um sinal de nossa aliança.

- Vou voltar pras espadas. – ela assentiu com a cabeça e fui em direção aos bonecos decapitados. Parei no meio do caminho e vi, de longe, Clove abrir um estojo com todos os tipos de facas diferentes, como os que tínhamos lá no Distrito 2. Eu me aproximei.

- Olá, nerd das facas. – eu disse brincando.

- Oi. O que estava fazendo com a garota do 4?

- Aliança. Como Brutus e Enobaria aconselharam. Ela é muito boa com o tridente.  – ela assentiu com a cabeça enquanto olhava para as facas – Tem muitas facas diferentes ai, né?

- É. – ela analisava uma a uma com as mãos – Essa é uma Kukri, perfeita pra combate corpo a corpo, você tira uma dessas e seu adversário está morto.  Essa é uma Adaga, as melhores para arremesso e essas aqui são facas de sobrevivência, as mais comuns, servem pra tudo. As de caça são para abrir os corpos de animais mortos, serão muito úteis na arena. Tem também os canivetes. Esse é o simples, esse o utilitário e esse o canivete borboleta.  Não tem nenhuma machete por aqui então acredito que a arena não será uma mata muito alta e fechada.

- Consegue saber como vai ser a arena, só olhando as facas? – ela ri.

- Espera ai... – ela para a explicação e começa a contar as facas – Tá faltando uma das facas de caça. Eram três delas e só tem duas aqui. Cadê a outra? Você pegou?

- Não. Eu não.

- Mas estavam todas aqui. Então outra pessoa pegou.

Olho em volta e vejo o garoto do Distrito 6 me olhando e rindo, cochichando alguma coisa com o garoto do 8. Então parto com raiva pra cima dele.