Uma vez eu ouvi dizerem que são nos momentos mais importunos que abrimos os nossos sentimentos, que os confessamos. Nunca parei muito pra refletir sobre isso, mas agora, na prática, consigo entender o que queriam dizer. Cato e eu tivemos tantos anos pra dizer o que sentíamos um pelo outro e foi só agora, praticamente a beira da morte, que decidimos falar isso. Mas resolvemos que queríamos aproveitar esses últimos momentos juntos, antes de entrar pra a arena. Apesar de eu não ter concordado totalmente com isso, Cato decidiu que vai me manter segura o tempo todo na arena e no final quando sobrarmos só nos dois, ele se matara com algumas frutas venenosas. Eu não sei como eu irei aguentar ver isso, mas não está exatamente resolvido, vamos pensar melhor depois.

Eu estava abraçada com ele quando Brutus e Enobaria passaram pela porta. Nos soltamos do abraço imediatamente.

- Ok, nós vimos isso. –Brutus disse – O que está acontecendo entre vocês dois?

- Nada. – respondeu Cato – Não é nada.

- Venham aqui – chamou Enobaria. Nos sentamos na mesa de jantar. Cato e eu de um lado, Brutus e Enobaria do outro – Precisamos que sejam completamente honestos com a gente. Nós estamos aqui pra ajudar vocês, pra salvar a vida de vocês.

- Podem nos contar tudo – completou Brutus – Vocês já se conheciam antes da Colheita?

- Sim. – Cato respondeu – Éramos melhores amigos e apaixonados um pelo outro, mas só descobrimos isso agora. Foi por isso que eu me voluntariei. Pra protegê-la. Eu estou indo pra fazer ela ganhar, porque na verdade eu deveria ir só no ano que vem.

- Eu não concordo com isso – eu disse – Eu não quero ver ele morrer, não quero que ele morra por mim.

- Não existe nenhum jeito de nós dois ficarmos a salvo?

- Infelizmente não. – Enobaria respondeu – Só um de vocês pode sair vivo de lá. São as regras.

- Então vai ser ela. – Cato disse – Está resolvido.

- Não Cato, não tem nada resolvido. – eu disse firme.

- Talvez vocês pensem melhor e resolvam isso na arena. – Brutus disse com tranquilidade. Balancei a cabeça em concordância. – Então significa que se aliarão?

- Sim. – eu respondi – Pra protegermos um ao outro. – olho nos olhos dele e desvio no mesmo instante.

- Então, aconselho que se aliem ao Distrito 1. – ele continuou – E a mais algum de outro Distrito. Eu diria o 4, mas o garoto do 4 é muito pequeno e fraco, talvez a garota possa ser uma boa aliada. Ou talvez com o 3 também. Vamos chegar na Capital ainda esta noite, mas muito tarde. Mesmo assim, se tiverem oportunidade, já comecem a ganhar a confiança do 1. Eles também já estarão lá quando chegarmos.

- Você sabem para que servem os patrocinadores? – Enobaria perguntou. Cato e eu fizemos que sim com a cabeça, mesmo assim ela disse – Eles vão garantir a sobrevivência de vocês enquanto estiverem nos jogos, com a condição de que façam um bom show. E vocês, como carreiristas, são os grandes responsáveis por esse show. Matem sem dó.

- Quais são as habilidades de vocês? – perguntou Brutus.

- Facas. – respondi.

- Muito bem, me mostre. – ele disse pegando uma das facas de ponta de um jogo americano e me entregando – Acerta ali no centro da parede. – me levanto da cadeira, posiciono a faca entre os dedos e atiro na parede, acerto exatamente onde ele mandou – Ótimo, muito bom mesmo. E você Cato?

- Sou melhor nas espadas, mas também sei atirar flechas, lanças, um pouco de tudo, menos facas. – ele disse olhando pra mim e dando um meio sorriso – Mas eu não preciso delas, eu já tenho a minha pequena atiradora de facas que faz isso por mim.