Only Unexpected escrita por Lenny Peters


Capítulo 2
Teste de Aptidão


Notas iniciais do capítulo

bem... sei que demorei, mas tive uns probleminhas.
Espero que curtam, e tenho uma little surprise *w*



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Minha irmã está ao meu lado, com a mochila em um dos ombros, e sinto algo quente e macio tocando minha bochecha. Não é exatamente um toque, são lábios, e seu calor me faz enrubescer, viro o rosto para o lado e encaro seus brilhantes olhos castanhos.

Ele ri.

Olho rapidamente para o outro lado e vejo minha irmã fazendo uma careta e logo indo falar com alguma amiga de nossa facção. Viro-me novamente para Adam e ele carrega um meio sorriso no rosto. Seguro seu queixo perto do meu e beijo sua testa, ele fecha os olhos e em seguida coloca seu braço esquerdo em torno de meu ombro.

–E aí, mocinha?

–Estou bem, ótima, na verdade. – meus ombros tornam-se mais tensos e meu pisar mais pesado, e ele franze a testa e passa a mão onde o beijei.

–Mentir é feio, Carlyn, e acho que já deve saber disso.

–Falar a verdade o tempo todo, também. - sua reação é comprimir a boca e um revirar de olhos. Ele é como Louise, como meu pai. Como todo o resto. E eu quase o odeio por isso. Quase.

–Está ansioso?- pergunto, tentando fazê-lo falar. Ele balança a cabeça.

–Não. Já sei o que fazer, não sei como ficaria nervoso sobre isso. Precisamos ser corajosos. E verdadeiros, acima de tudo. – ele levanta o indicador.

–Ah, está bem então. - eu dou de ombros. Arrumo meus cabelos ainda molhados, para não ouriçarem-se e toco em meu ombro. Atrapalho a mão de Adam, que acaba retirando-a. Continuo tateando, meus dois ombros, até perceber que não havia pego a minha mochila. Suspiro e olho para meu amigo que ri de minha antiga expressão, que deveria ser algo parecido com pânico.

–Cale a boca.- eu quase grito.

–Você é o ser mais esquecido e desastrado, desde sempre. –ele diz, rindo. Mas seu tom não é de deboche ou de censura. É amigável. Seu idiota, quase digo, eu sei o que está fazendo.

Percebe a minha irritação e encosta seus lábios nos meus rapidamente, isso não melhora em nada meu humor. Mas eu rio, e acho que devo estar com uma cara bem idiota.

–Vamos, acho que já está na hora. –digo puxando-o pelo braço. Nossa diferença de idade é mínima, o que significa que ambos realizaremos o teste de aptidão hoje. Isso mesmo, hoje é o dia do meu teste de aptidão. Passo levemente a mão em seus cabelos espetados e dirigimo -nos para dentro da sala, o sinal não demora a bater.

x-x-x-x-x

Após as duas primeiras aulas acabarem, vamos para o refeitório, onde nos sentamos junto com os membros de nossas respectivas facções. Cada um de nós possui códigos a seguir. Digo, cada uma das cinco facções tem um protocolo dizendo como comportar-se em cada situação, até quando não se deve fazer nada, até quando tudo o que se deve fazer é esperar.

Por exemplo, os garotos de vermelho e amarelo, da Amizade, devem rir e recitar cantigas infantis. Os de camisetas azuis, da Erudição, devem estar sempre concentrados, estudando, lendo, querendo saber. Procurando sempre um motivo para ser melhor que os outros.

Os cinzentos, da Abnegação, devem ficar quietos. O que reina é o bem-estar da maioria; preocupar-se com os outros sempre. Juro que quero desejo muito que meus pais entendam o porquê de querer tanto isto.

E, os que geralmente chamam mais atenção: a Audácia.

Ou como meus pais costumam chamá-los: arruaceiros. Arruaceiros, bagunceiros, vândalos, loucos, insanos, desprovidos de bom senso.

Corajosos, é isso que são.

E é claro, nós, a Franqueza. Pelo o que manda a nossa “Bíblia” devemos discutir, debater, trocar ideias, essas coisas. Estaria mentindo se dissesse que gosto. Prefiro observar o que os outros fazem, ouvir o que dizem, não é atoa que a maioria de nós é conhecida como petulante, sempre que discute quer ter razão. Nisto, não muito diferentes da Erudição.

Adam está sentado à minha frente, com a testa franzida e olhando para as próprias mãos. Estranho. Ele é o membro não iniciado mais franco que conheço, incomum estar quieto.

Porém isso dura pouco tempo, logo olhou para mim, tocou minha mão e começou a discutir com Taylor algum assunto que me poupei de ouvir.

Vejo que alguns nomes já estão sendo chamados, dois de cada facção, são dez salas.

A prima de Taylor, Gail, é chamada e abana para mim antes de ir. Ela é uma garota doce, tomara que sua família não a atrapalhe na hora de tomar sua decisão.

Sorrio de lábios fechados e continuo com meus pensamentos. Preciso disfarçar isso, seja apenas por alguns segundos.

Finjo prestar atenção no assunto de Taylor e Adam, e eles viram pra mim uma ou duas vezes para perguntar minha opinião, e eu assinto quando preciso. A mão dele ainda segura a minha.

Conhecemo-nos há sete anos, e lembro do tom palha de seus cabelos. E lembro também, o quanto seu cabelo -antes loiro- vêm escurecendo à cada ano que passa.

Agora, adquiriram um tom estranho de castanho médio acinzentado. Gostaria estar com ele, pelo menos, até seu cabelo tornar-se negro por inteiro, só assim sentiria que não estou mais presa à ele.

Ou talvez isso não faça o mínimo sentido, nem deveria.

Aperto levemente sua mão,, e encaro por poucos instantes seus brilhantes olhos castanhos. É como uma chuva morna de verão, reconfortante. Ele confia em minha escolha.

–Adam Johnson!- ouvimos chamar, e de repente acordamos de nosso transe.

–Até mais, AJ!- diz Taylor, dando um tapinha no ombro de Adam. Apenas eu o chamo pelo seu primeiro nome. Mas Taylor é um cara legal, mesmo não o conhecendo muito bem, sei disso.

AJ move os lábios dizendo algo como "até" ou então "morra"*, mas não sou muito boa com este tipo de leitura.

Na mesa ficamos apenas eu, Taylor, e um casal. Todos encontram-se discutindo sobre algo -e eu até participaria- mas me sinto muito desgastada para isto.

Minha cabeça parece girar.

–Carlyn Morgan!- ouço meu nome sendo chamado, e aperto os olhos. Apoio minhas mãos na ponta da mesa procurando impulso para arrastar minha cadeira para trás e levantar. Isso feito , flexiono os joelhos e ergo-me sobre os dois pés, e dirijo-me para a sala indicada.

Esse ano os responsáveis pelo teste de aptidão dos membros da Franqueza são os voluntários da Abnegação, na verdade eles são voluntários em todas as facções, menos na deles, é claro. Isso não é permitido.

Chego na sala número 7 e fico um tempo parada. Ela está vazia, é toda revestida da cor branca o que a faz parecer maior do que realmente é. No centro da pequena saleta há uma cadeira branca meio reclina, muito parecida com a cadeira de dentista, e ao seu lado há uma cadeira com pequenas rodas em suas pernas.

Olho para a bancada, ela é metálica e pequena e vejo alguns instrumentos em cima dela, alguns fios e um frasco de vidro com um líquido incolor.

–Desculpe pela demora. - diz uma voz calma e melodiosa atrás de mim. Sinto um toque leve pegando em meu ombro. -Pode entrar, sinta-se a vontade.

E assim eu faço, e logo vejo o rosto da mulher que aplicará meu teste. Seus cabelos são loiros e compridos e estão presos em um rabo de cavalo e seus olhos verdes cintilam em contraste com as roupas cinzentas por debaixo do jaleco branco.

–Pode sentar, bem ali.- ela me indica a cadeira. E eu olho para a cadeira e para ela, ainda atordoada. Vou em passos quase pulados e sento nervosamente.

–Você... Poderia me explicar mais ou menos como isso funciona?- pergunto, a curiosidade é inegável.

–Claro. -ela ri, seu sorriso é lindo, e ainda sim terno. Pergunto-me se ela tem filhos, e como os auxiliaria no dia de seu teste de aptidão. Não parecia do tipo que julgava. -Irei ligar alguns fios na sua testa, e eles a conectaram à este computador- ela aponta o aparelho que não havia reparado antes, - e a mim. O teste será ativado quando beber o líquido, que começará a simulação.

–Parece bem simples.

–E é.- ela começa a conectar alguns fios em minha testa, sua voz me distrai.

–Você tem filhos?- não consigo me conter. Penso que talvez não tenha sido uma boa ideia, afinal, a curiosidade não é muito amiga dos abnegados.

Ela aperta um poucos olhos ao conectar outro fio em minha testa, e vejo rugas se formarem ao redor de suas pálpebras, orgulho.

–Sim. -penso que irá dizer mais que isso, mas é tudo. Eles não falam muito sobre a própria vida.

–Quantos? Quer dizer, se me permite perguntar.- pigarreio um pouco, minha voz falha.

–Dois. Um garoto e uma garota, eles são dois anos mais novos que você.

–Você teme muito por este dia? Quero dizer... Pensa muito no dia em que eles deverão escolher o lugar a que realmente pertencem. Sabe, se te decepcionassem ou coisa parecida. - sinto que soei confusa, mas ela me entendeu. As linhas reaparecem em seus olhos, e ela simplesmente responde:

–Mesmo que escolhessem outro lugar, não me decepcionariam, somos o que somos. Continuaríamos tendo o mesmo sangue, e os amaria da mesma forma. Não posso culpá-los por quererem ir ao lugar que realmente pertencem. Não é justo, não é sensato. Sou mãe é isto que fazemos.

Eu fico sem palavras.

–Queria que minha mãe fosse como você. -ela me alcança o frasco de vidro com o líquido incolor e indica para que eu beba.

–A simulação. - tomo o vidro calmamente de sua mão e começo a virá-lo. -Respire fundo. Vai ficar tudo bem, lembre-se: apenas uma simulação.

Então tudo apaga.

Abro os olhos, não é o mesmo local. Estou sozinha agora, e não sei onde estou.

Apenas vejo uma mesa à minha frente e aproximo-me dela. Em cima dela estão uma faca comprida e um queijo, cada um em um canto oposto.

–Escolha. - diz uma voz desconhecida.

Então chego mais perto da mesa ainda e olho bem para a faca. Ela parece ser tão grande quanto o meu antebraço; e para o queijo, e seu aroma desperta meu apetite. Mas isto não é real. Faço o que penso ser o melhor. Pego a faca com uma mão, e o queijo com a outra.


Vejo uma figura avançando em minha direção, ela é uma sombra negra de olhos vermelhos como sangue. Chegando mais perto percebo que se trata de um cão. Ele mostra os dentes e avança em minha direção. Meu primeiro impulso é jogar o queijo em seu rosto, para ver se acalmava-o. Detestaria ter de machucá-lo de verdade.

Ele balança o focinho e solta alguns grunhidos, talvez tenha jogado forte de mais.

–Coma!- aponto para o queijo e grito. Ele me olha de forma meio raivosa, e abre mais a boca para o outro lado, que é quando vejo que há um criança indo em direção ao cachorro.

Não posso correr rápido o suficiente para alcançá-lo, não é possível, então olho para a faca em minha mão e a distancio meu braço do corpo e impulsiono, largando a faca.

O chão incolor parece tingir-se de gotas vermelhas. E tudo ao redor dissolve-se.




Agora estou em uma biblioteca, há uma mulher idosa sentada em uma mesa à minha frente e ela tem um livro pesado de capa de couro em mãos. Ela bate com suas mãos enrugadas na capa e pergunta:

–Você já leu?- ela me olha, fixa. Suas lentes grossas de grau fazem seus olhos parecerem assustadores, mas eu não recuo.

Reparo no livro e no autor. Eu conheço, claro. Já li este livro.

–Não, nunca vi este livro na minha vida.

O rosto dela contorce-se em uma careta estranha e quase assassina.


A biblioteca some.

Agora estou em uma ilha deserta, acabei de ser trazida pela água. Mas ainda sim, estou seca. Óbvio, isso não é real. O vento sopra em meus cabelos, e logo as ondas trazem uma garrafa, e eu a abro.

Dentro dela tem um bilhete, dizendo:

"Você nunca vai sair desta ilha. Você preferiria ter àgua fresca ou uma companhia?"

Eu vacilo. Adoraria estar em um lugar desses com Adam, ou Gail ou alguém para não me sentir sozinha. Isso seria um ato extremamente egoísta, a pessoa ficaria presa comigo e ainda nenhuma de nós teria água. Não poderia deixar algo do tipo acontecer.

–Eu iria preferir água.



A garrafa mentiu, agora estou em um auditório lotado. A Cerimônia de Escolha? Ainda não. Não é real. Estou misturada no meio de várias pessoas e há alguém no palco no qual todos prestam muita atenção. Até que a pessoa pega o microfone e começa a chamar um nome, meu nome. Todos entreolham-se e procuram alguém diabos que se chamaria Carlyn.

Levanto, limpo a garganta e caminho no meio da multidão.

–Sou eu, o que deseja?

Então tudo gira em luppings infinitos que parecem durar horas, até que eu abro os olhos.

A mulher da Abnegação apresenta um semblante preocupado.

–Você... - ela para no meio da frase.

–Eu? O que houve? Fiz algo errado?- sinto algo agitando-se dentro de mim. Algo que precisa sair.

–Seus resultados... Eles, foram inconclusivos.

Eu engasgo.

–Como assim inconclusivos?- eu quase berro.

–Shii, shii. -ela fala, calmamente. -Não grite. Provavelmente ninguém a ouviu, mas preste atenção: todos os testes possuem fases. Em cada uma, suas atitudes irão descartar ao menos uma facção, e ao final sobrará apenas uma. A qual você realmente pertence. Então, sua simulação e suas atitudes acabaram descartando apenas duas facções; a Franqueza e a Amizade. Ou seja, você não tem uma facção certa.

Eu tento assimilar as palavras.

–E isso quer dizer...

–Que você é uma Divergente. Seu cérebro reage de forma diferente, e consegue manipular as simulações- ela acrescenta, nervosamente. -Preste bastante atenção, isso é extremamente perigoso. Você não pode contar á ninguém, para a sua própria segurança.

Ela começa a tirar os fios de minha testa, e a mexer em algo no computador.

–Irei apagar os resultados. - ela sorri e vejo as linhas em seus olhos. -Você estará liberada por agora, mas lembre-se, ser Divergente é ainda mais difícil. Você possui duas escolhas a fazer. Três opções de facção. Abnegação, a Audácia ou a Erudição.

Eu levanto o pescoço, a escolha parece óbvia. Tento levantar da cadeira e minha pernas estão dormentes.

–Muito obrigada.

–Espero que faça uma boa decisão. - ela diz isso, mas não insinua nada;. É realmente o que quer dizer.

Dirijo-me á saída, ainda com minha cabeça girando. Até que lembro-me que esqueci de algo. Seguro na abertura da porta.

–Qual... Qual o seu nome? - ela ajeita o cabelo e lança-me um olhar compreensivo.

–Natalie, Natalie Prior.


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Notas finais do capítulo

As fases do teste foram retiradas do site: http://www.proprofs.com/quiz-school/personality/quizshow.php?title=teste-de-aptido_1&quesnum=2
O próximo capitulo é a noite dela e a cerimônia de escolha
Beijos ^-^